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Os rebeldes sírios se escondem por trás de crianças, como se estes fossem escudos humanos, colocam-nas em emboscadas e usam-nas como infiltrados e informadores. Nos bandos de piratas somalis, adolescentes fazem abordagens a navios e realizam tomadas de reféns. Tudo isso são elementos de uma tendência generalizada, na qual se criam hábitos de violência desde a infância.
Os psicólogos investigadores da Universidade de Bahcesehir prepararam um relatório baseado no estudo da mente de crianças refugiadas sírias. O relatório inclui a chocante informação que, durante a guerra civil síria, as crianças e adolescentes participam cada vez mais ativamente nos combates. Por vezes sob pressão dos adultos, outras vezes voluntariamente. Anteriormente, a organização humanitária Save the Children tinha apresentado dados que confirmaram cerca de vinte casos de morte de adolescentes diretamente em combate.
Mas enquanto na Síria as crianças são sobretudo forçadas a entrar nas formações militarizadas, os adolescentes somalis se tornam piratas de livre vontade. Se estima que 25-30% dos membros dos bandos de piratas são constituídos por adolescentes menores de idade. A participação no "negócio" resulta para esses jovens não só num rendimento bastante razoável (ainda recentemente os resgates rendiam aos piratas até duzentos milhões de dólares por ano), mas igualmente um estatuto social invejável nestas paragens.
Na base da combatividade infantil e juvenil, com a qual agora nos deparamos, está a ideia natural de proteção da sua casa, de proteção do seu lar, considera Andrei Tokarev, diretor do Centro de Estudos da África Austral do Instituto de África da Academia Russa de Ciências. Em todas as épocas os rapazes eram educados para serem viris e ensinados a usar as armas. Também na nossa infância nós brincávamos sobretudo às guerras, aos soldadinhos, ofereciam-nos espingardas de brincar. O principal é dar por terminado esse período atempadamente, não desenvolver nem estimular a violência, não passar das brincadeiras à realidade, referiu Andrei Tokarev à Voz da Rússia:
"O mais importante nisso é o papel dos pais, da escola e da sociedade no seu todo. Quando falta isso, especialmente naqueles países onde decorrem combates, onde as crianças presenciam violência não condenada pelos mais velhos, esta entra nos seus hábitos. A partir daí, na minha opinião, a pirataria infantil tem lugar de uma forma clara precisamente nos países de que toda a gente ouve falar. Pois nesses países os adultos são as crianças de ontem que já sentiram o poder que dá a força das armas. Se tu tens uma arma, vai e toma aquilo que precisas, não esperes que alguém te dê ou te traga. As leis da selva, ou as leis do deserto, estimulam as crianças a obter aquilo que elas não têm".
A tendência para o crescimento da chamada pirataria infantil se está a transformar realmente num problema sério. As crianças são recrutadas para os bandos de piratas no Niger, no Iémen, na Costa do Marfim e na Guiné. Pode-se destruir ou neutralizar os grupos de piratas, o mais difícil é elaborar um mecanismo de combate a esse fenômeno no seu todo e, em particular, à participação das crianças no mesmo, constata o perito em Direito Marítimo do Instituto do Estado e do Direito da ARC Vassili Gutsulyak.
"Muito frequentemente os próprios cabecilhas dos piratas, percebendo que as crianças não poderão ser responsabilizadas na prática devido à sua idade, utilizam os adolescentes nesse tipo de atividade. É fácil perceber que os países realmente civilizados, onde funcionam leis civilizadas, neste caso são impotentes porque a legislação penal de qualquer estado civilizado prevê a desresponsabilização desses criminosos menores de idade. Os piratas na realidade se escondem por trás deles".
Mas, até agora, a prática jurídica internacional nem sequer ainda prevê um mecanismo definido para penalizar os piratas adultos. Por isso, geralmente, na esmagadora maioria dos casos, todos os bandidos do mar capturados são devolvidos à Somália, onde eles regressam à sua atividade anterior. É muito raro eles serem entregues à justiça do Quénia ou de outros estados africanos e ainda é mais raro eles serem julgados na Europa.
As crianças foram usadas em todo o tipo de conflitos, rebeliões e revoluções de todos os tempos. Esse fenômeno adquiriu uma escala especialmente grande no século vinte. O exemplo mais monstruoso disso foram os "khmers vermelhos" no Camboja que incutiam nas crianças o ódio aos inimigos do regime de Pol Pot. As crianças serviam no exército, eram carcereiros dos trabalhadores das plantações, torturavam e fuzilavam presos. Ninguém sabe como se poderá evitar que tal volte acontecer. Porque as crianças dependem totalmente dos adultos, os quais frequentemente não estão em condições de resolver os problemas entre si. Só nos resta constatar que cada vez mais crianças vêm o mundo à sua volta com as cores do camuflado.
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