Não vou comentar
Imaginemos que você vive na Malhangalene e está a braços com problemas como criminalidade, alcoolismo, poluição sonora, desemprego juvenil, altos índices de mortalidade por causa de doenças infecciosas e endémicas, etc. Você acha que as autoridades são indiferentes e não fazem o que deviam fazer para melhorar a qualidade de vida no bairro. Por isso mesmo, você candidata-se como chefe do bairro. Para ganhar votos, você promete que vai reduzir cada um dos problemas por uma taxa porcentual qualquer. Os moradores aplaudem ruidosamente, manifestam a sua confiança em si, elegem-no e você instala-se para começar a trabalhar. O que é que você faz? Você pede a cada um dos vereadores para lhe apresentar resultados, custe o que custar, ou você pede uma avaliação do problema de base que precisa de ser abordado? Se optar pela segunda coisa, o que seria mais acertado, o que é que ela deve conter? Num contexto inteligente de gestão, a avaliação do problema deve conter duas coisas. A primeira seria o tipo de condições que precisam de ser criadas para que esse problema seja abordado. Por exemplo, pode se regular a actividade do “Pulmão” partindo do princípio de que o local é o foco para muita coisa má (pode ser que o crime, imundície, etc.) partam de lá. A segunda coisa seria criar condições para controlar a eficácia das medidas tomadas. Isso pode ser feito de várias maneiras no caso do “Pulmão”, incluindo maior presença policial, campanhas de prevenção de alcoolismo, alternativas de diversão, cursos de motivação para os vereadores, etc.
A vantagem desta abordagem é que quando você avaliar o seu próprio desempenho, você só tem que verificar se a medida está a funcionar, ou não, e porquê. Se você contar apenas os níveis de consumo de “tentação” no “Pulmão” você não vai saber que os jovens mudaram para outro local, onde continuam a beber mais ainda, ou não vai perceber que, se calhar, a queda na venda desse líquido precioso se deve a outros factores que não têm nada a ver com as suas medidas. Se calhar o dono do “Pulmão” juntou-se à igreja de TB Johnson e decidiu, por razões religiosas, limitar a venda de bebidas alcoólicas. O resultado continuaria a ser bom, claro, mas não seria sustentável.
A política fica pobre quando ela é reduzida à discussão de resultados. Ela tem que ser a discussão dos meios que nos levarão aos resultados. Qualquer desgraçado pode anunciar objectivos nobres. Mas saber como chegar lá é o que importa. O hábito de discutir meios faz bem a uma sociedade. A discussão de resultados polariza a sociedade e promove fanatismo. A discussão de meios promove a reflexão e a inclusão. Uma interpelação que é feita a meios é fonte de aprendizagem e correcção. Uma interpelação feita a resultados é água derramada na areia. Discutir se lá no “Pulmão” agora se vendem menos garrafas de “tentação”, se é possível reduzir tão drasticamente os níveis de consumo quando se sabe que o Júlio Mutisse e o Vicente Manjate são clientes assíduos, etc. faz, naturalmente, algum sentido, mas não aborda o problema central. E o problema central é não saber que avaliação do problema foi feita. Pode ser que não se saiba que isso é importante. Ou pode ser aquela coisa lá da Malhangalene de pensar que quem pergunta pela avaliação do problema odeia, não gosta, acha que todos são burros, etc. Ser sensível- ou estar rodeado de gente sensível - e querer governar Malhangalene não combina.
É por isso que não dá para comentar.
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