sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Manifestantes de palmo e meio (o testemunho de um tipo que quase viu a sua viatura ser carbonizada)...

 

Manifestantes de palmo e meio (o testemunho de um tipo que quase viu a sua viatura ser carbonizada)...
Por questões que dispensam quaisquer justificação, parti de Lichinga em direcção à Cabo Delgado, minha amada terra.
Obviamente que estava de sobre aviso em relação ao que eventualmente podia encontrar pelas vias de acesso de um ponto ao outro, e são cerca de 700 kms que separam de Lichinga a Pemba.
Até Nungo, zona limítrofe entre Marrupa (Niassa) e Balama (Cabo Delgado) a viagem parecia estar a correr na perfeição.
Depois do limite de Niassa e Cabo Delgado, a primeira aldeia de Balama em Cabo Delgado chama - se JAMIRA. Em Jamira a minha paz e a paz dos que comigo estavam na viatura viu - se abalada. Eram por volta das 19 horas quando começamos a notar movimentos estranhos na estrada: barricadas, sinais de fumaça recente e uma motorizada incendiada.
Em Jamira fui obrigado a abrandar a marcha e estacionar o veículo por agentes reguladores de trânsito de ocasião. Não me questionaram sobre livrete, seguro e carta de condução, mas em uníssono obrigaram que entoasse em sol bastante audível o nome do Candidato Presidencial suportado pelo partido PODEMOS. Entre a minha vida, a dos por mim transportados incluindo do meu filho Juninho preferi ceder e entoar o nome do filho do Senhor Bila Mondlane. Pensei que fosse tudo. Impuseram como condição para remoção das barricadas e transição do meu Lobo Solitário (o meu carro) o pagamento de uma taxa que eles denominaram por pneu. 500 meticais, se não não passas apesar dos gritos em nome de Venâncio. Nisto tudo algo despertou a minha atenção. Os "manifestantes" eram miúdos de palmo e meio, com idades variadas entre os 15 a 18 anos na sua maioria, os adultos não chegavam a duas dezenas, mas estes de palmo e meio chegavam aos cem munidos de catanas. Uns dez tinham a fita vermelha enrolada na cabeça, sinal de que ou eram naparamas ou simpatizantes.
Vontade não me faltou de recordar os velhos tempos em que fui praticante de Karaté, mostrar os tipos de que madeira sou feito. Mas debalde, de nada valeria, estava em causa a integridade física dos meus irmãos e filho. Obedeci, entreguei os 500 paus e bazei sem antes ter sido constituído como um emissário portador de uma mensagem clara: "chegue a sede de Balama, informe - os que amanhã estaremos aí para invadir e incendiar o Comando Distrital, a residência do Administrador e a sede do Partido Frelimo."
Sai, e só as 20 horas cheguei a BALAMA, soltei uma lágrima no cant do olho quando vi a minha mãe, talvez não pudesse mais ver a minha rainha mas voltei a ver, por um milagre voltei a ver a Cota Maria Matilde Luciano. Evitei contar - lhe por aquilo que passei naquela noite. Preferi contar apenas pela manhã. Contei também a quem de direito a nível do Distrito sobre a mensagem pela qual fui dado a transmitir. Bazei dia seguinte de Balama a Pemba.
Mas como um cidadão minimamente informado e precavido, tentei cruzar informações em relação a via de Balama, Montepuez a Pemba. Disseram - me que Namanhumbir estava em polvorosa na noite anterior. Com fé em Deus segui. Mas em Namanhumbir voltei a viver o mesmo cenário de JAMIRA. Eram quase duas centenas de homens que vieram ao meu encontro exigindo o mesmo que me foi exigido em Jamira. Mas aqui o tom subiu de voz, duas dezenas deles pretendiam incendiar o meu Lobo Solitário. Salvou - me o macua fluente que falo aliado ao bom samaritanismo que me caracteriza, mas também mais uma vez os 500 meticais que deixei com eles.
Foi assim que salvei a minha pele e a dos meus e aportei finalmente a Pemba. Deus esteve comigo mais uma vez e conseguiu salvar - me.
A continuar assim isto, não sei o que nos espera pela frente. A situação não está boa, definitivamente, NÃO ESTÁ!
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