UM COMPROMISSO DE DIÁLOGO A SER TRANSFORMADO EM LEI? Ó DANIEL!...
1. ONDE ESTÁ O TAL DOCUMENTO?
No seu discurso o Daniel Chapo enumerou muitas coisas que diz que vão ser tratadas na base do tal compromisso que assinaram hoje. Mas estranhamente esse tal documento nem sequer foi lido na cerimónia. Muito estranho! Será que esse documento é mais longo que aquela aldrabice que foi lida pelo Bispo e pela Lúcia? E aquelas pessoas todas que estavam ali a bater palmas estavam a saudar o quê se o documento nem lhes foi lido?
Com todo o respeito, mas não entendo como pessoas adultas e responsáveis podem ser feitas de marionetes e ainda baterem palmas. Eu não o iria fazer! Embora eu saiba que muitos dos que alí estavam o fizerem por simples cortesia ou mesmo obrigação, achei demasiado grosso elas serem submetidas a tal manipulação e vexame.
Há uns jornalistas que me vêm assediando toda a semana para eu debater o tal documento que vinha ser assinado hoje. Eu sempre disse: mostrem-me o tal documento, pois eu não o conheço, e não falo de coisas que não conheço. Mas ainda até agora, horas depois de ter sido assinado, eu diria a mesma coisa.
Por isso não me perguntem qual é a minha opinião sobre esse documento. Não o conheço. O que eu vi e ouvi foi esse espetáculo vergonhoso, testemunhado por pessoas adultas, alguns chefes de estado sem vergonha na cara de irem apadrinhar tanta falta de seriedade no tratamento de assuntos sérios de um povo martirizado pela sua própria má governação e egoísmo.
2. AGORA JÁ ACREDITO NAQUELES PASSARINHOS QUE VÊM TODOS OS DIA À JANELA DO MEU QUARTO
Sim. Toos os dias há um passarinho que dá bicadas barulhentas no vidro da minha janela. Algumas vezes vêm como casal. Uma grande chatice sobretudo nos dias em que quero ficar um pouco mais na cama. Algumas vezes me trazem mensagem interessantes, que eu descarto, mas que depois se revelam verdadeiras.
Por exemplo, uma vez me disseram que o Daniel Chapo dizia que não podia chamar o Venâncio pada o diálogo porque este não lhe reconhece como presidente da república. Pensei que é fantasia de passarinhos. Mas dias depois ouvi o Chapo a dizer: “ Aqui há só um presidente… eu sou o presidente da república… “ (coisa assim, quando estava em Pemba). Aí eu disse ahaaa!... esse tem mesmo problemas de reconhecimento, esse ai!
E agora, desde a semana passada que eles me trazem essa mensagem de que aquele documento que os juniores da Coligação dos Sem Povo viram como versão final foi depois levado para a direcção colegial máxima do partido sénior, que depois de o analisar deu instruções a um quadro superior para lhe fazer mais uns “retoques”. Achei isso muito estranho. Se havia assuntos a rever, porquê não voltar a falar com os outros, em vez de editar unilateralmente. Perguntei ao passarinho se os Juniores viram a versão final após que o sénior lhe editou. O passarinho disse que não sabia, mas que eu esperasse para ver o espetáculo de hoje para concluir por mim próprio.
E agora, depois de ter visto o que vi, começo a desconfiar que aqueles alí assinaram um documento cuja versão final se calhar desconhecem. O facto de o documento não ter sido lido alí, adensa as minhas desconfianças. Ou se viram, terá sido na última hora sem poder julgar e contrapor onde necessário. E para não haver escândalo público, melhor não ler naquele momento.
Compatriotas: tal é a gravidade do embuste em que aqueles se deixaram meter, apesar de todos os nossos conselhos.
Eu diria que problema é deles, se não fosse que essa irresponsabilidade toda significa adiar a solução de um imbróglio que afecta a todos nós.
3. MAS…AINDA … PORQUÊ QUE ISSO QUE FOI ASSINADO TEM QUE IR À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PARA SER LEI?
O Daniel Chapo diz no seu discurso que o tal documento ainda tem que ir à Assembleia da República para ser transformado em Lei.
Como assim? Um documento de compromisso de diálogo cujo conteúdo ninguém mais conhece senão esses partidos que não representam a maioria dos moçambicanos, vai à Assembleia da República para ser transformado em Lei? Antes de o próprio diálogo inclusivo iniciar? Querem legislar o quê? Legislar compromisso de diálogo? Mas que vergonha é esta?!
Dizem que ele é jurista, mas será que o Daniel Chapo sabe o que é uma Lei? Quer dizer, os partidos políticos chegam a um compromisso sobre agenda e formato de diálogo político que dizem que ainda vai acontecer e vai envolver a todos, mas antes desse diálogo eles já querem transformar isso em Lei? Que brincadeira é essa? Querem nos obrigar a cumprir a sua agenda? E se não concordarmos com essa agenda? E se quisermos mais pontos nessa agenda? E se quisermos outros métodos nessa agenda? Quais vão ser as sanções? Vão nos balear? Vai jorrar sangue se um dia a gente sair à rua dizer quer não concorda com aquela coisa?
E depois isto: se são partidos que estão na Assembleia da República, e se no fim a coisa que assinaram tem que ser decidida na Assembleia da República antes de nos envolverem a todos nós “outros”, porquê que não ficaram logo lá na Assembleia da República a discutir e aprovar isso? Porquê vir fazer este espetáculo todo cá fora?
Mas que parvoíce é esta a que chegamos neste país?
Só se for mesmo para fazer jorrar sangue. Isso sim, ele terá isso garantido. Como fizeram hoje mais uma vez em Hulene quando balearam pessoas somente por terem saído à rua para ver passar o Venâncio Mondlane. Da mesma maneira que balearam pessoas por terem ido ao aeroporto e saído às ruas para receber o Venâncio Mondlane quando regressou ao país frustrando a expectativa que tinham de que ele se iria exilar de vez, o que lhe daria a desculpa de lhe excluírem da solução do problema político de Moçambique.
Ver as 2 respostas
Sem comentários:
Enviar um comentário