A MORTE DOS NEGROS NÃO CONTA, NEM ASSUSTA
Historicamente, há uma luta hercúlea que tem estado a ser levada a cabo, em diversas partes do mundo, com vista a fazer crer que os negros são iguais aos não negros.
Como um propósito da humanidade, tem sido de salutar mas, como relidade, tal ainda não passa de utopia, de uma quimera.
Uso o termo "negro/negros" apenas para que a mensagem tenha a carga psicológica que merece e que eu quero que tenha pois, aqueles que morrem na Palestina, "em toneladas" não são negros. É uma outra estirpe de pessoas que, pelo que tudo indica e a história não me desmente é que "não merece muita atenção, nem protecção da comunidade internacional", mas voltemos ao solo pátrio, Moçambique, para nos não espalharmos.
Se o número de vítimas mortais às mãos da polícia estivesse a afectar algumas pessoas distintas dos negros ou se estivessem a ter lugar num pais europeu, por estas alturas, as Nações Unidas ter-se-ião reunido para debater a situação prevalecente em Moçambique, entre outro tipo de cruzadas que estaria a ter lugar.
De contrário, o Mundo não estaria indiferente e a olhar para o lado, perante os massacres que estão a ter lugar no meu, no nosso Moçambique.
É tanta gente que está a sucumbir às mãos de instituições que deveriam ser elas a defender os cidadãos.
Pelo Mundo fora já vimos tanto barulho de países e instituições internacionais a levantarem-se em protesto contra as mortes, à facada ou com recurso a armas de fogo, perpetradas por frustrados e bandidos vulgares, já vimos tanto barulho mundial só porque uma viatura despistou e matou algmas pessoas, já vimos estados inteiros e instituições internacionais a levantarem-se em apoio à encenações de massacres, só para se pôr em causa os adversários de índole ideológico.
De contrário, não se perceberia porque motivos a comunidade internacional está totalmente indiferente ao que está a acontecer em Moçambique, onde a morte de pessoas às mãos das autoridades do "Estado" virou uma vulgaridade, uma banalidade.
Matar pessoas e enterra-las em valas comuns, já não arrepia a ninguém, matar pessoas e incinerá-las virou cultura, matar pessoas e fazer desaparecer os respectivos corpos já é cultura do Estado, balear pessoas transformou-se numa das actividade recreativas mais concorridas por agentes das Forças de Defesa e Segurança.
Afinal, qual é a medida ou a tabela que é usada, para se avaliar o admissível, do não admissível?
Quais são as mortes que indignam e quais as mortes que não indignam a Comunidade Internacional?
Por qual motivo se admite, na indiferença total, que um povo inteiro viva totalmente sequestrado e a ser morto, todos os dias, perante a indiferença de instituições internas e internacionais que deveriam travar, senão tentar afrouxar as loucuras que estão a ter lugar nesta parcela chamada Moçambique?
Qual é a meta ou o número de mortos que cada agente das Forças de Defesa e Segurança tem alcançar ou de liquidar, para que o Estado se sinta realizado?
Porque é que as instituições internas e internacionais estão a fazer vista grossa ao que está a acontecer neste nosso Moçambique?
A título exemplificativo, não há médicos ou enfermeiros que não saibam ou não tenham algo a dizer sobre o número e tipo de vítimas que dão entrada nos hospitais e unidades sanitários, de pessoas vítimas, dentre mortos e feridos de baleamentos entretanto, nunca ouvi nenhum pronunciamento dessas duas classes. Dirão que isso não é da conta deles entretanto, quem tem de lidar com vítimas de mortes a bala, não pode não ficar indignado.
Ora, se assiste ou não aos agentes de saúde indignarem-se pelas vítimas que todos os dias recebem ou atendem, dentre mortos e feridos, não, não me culpem pela ignorância. Bem sabem que o processo de procura de agulha num palheiro é tão complicado quanto o processo de procurar perceber a indiferença com a qual as diferentes instituições de um país como o nosso lidam com situações de banalização da morte dos seus cidadãos, perpetrada por agentes que deveriam ser os protectores.
Nesse desfile de instituições que agem na indiferença e na cumplicidade, que o diga a nossa Procuradoria Geral da República que, sem ter lutado, atirou a toalha ao chão e, neste preciso momento, ela está sentada na bancada, da qual entre a incompetência (não se zanguem), o aliciamento (não me cobre provas, sem meios, é difícil provar crime organizado), o sequestro, a rendição dos seus agentes, está assistindo de forma parva, serena e indiferente ao desfile de atrocidades contra as pessoas, que deveriam merecer outro tipo de tratamento ou as suas atenções.
A nossa PGR deveria ser ela quem mais voz deveria dar para dizer "isto sim, isto não " ou, no mínimo dar a entender que está a lutar ou lutou até à exaustão, até onde as suas prerrogativas legais e constitucionais permitiram mas nada conseguiu porque o ímpeto contrário é imparável.
Não é o que está à acontecer. A nossa PGR está completamente perdida no tempo, talvez porque por lá também se está a travar uma luta pela "Independência Financeira", os procuradores, como instituição, ainda estão entretidos na luta deles, depois disso virão cuidar da luta do povo.
De contrário, estariam em curso inúmeras investigações, inquéritos para se apurar as circunstâncias, por exemplo, em que se deu a "soltura, dissimulada em fuga, de reclusos da BO e Cadeia Central, seguida de matança de dezenas deles, perante a indiferença colectiva.
Aparentemente dos reclusos recuperados, alguns ainda conseguiram gravar que são públicos, nos quais se mostra que estão em posse das autoridades reclusórias, entretanto mais tarde viriam a aparecer mortos, às mãos das autoridades prisionais.
Uma Procuradoria séria, ter-se-ia interessado em saber como é que isso foi.
De uma Procuradoria da República séria, teria nascido uma dúvida sobre, se aquela suposta fuga de reclusos não teria sido um esquema premeditado para a soltura intencional de raptores/sequestradores, terroristas e outros motores do crime organizado.
No meio desse total abandono do povo pelas instituições, a minha grande vénia vai para a Ordem dos Advogados de Moçambique.... sim... A Ordem dos Advogados de Moçambique.
Desde há meses, que tem estado à frente da luta pela defesa dos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos. Do Rovuma ao Maputo assiste-se a um redobrar de eventos nos quais Advogados, sem troca de nenhum centavo, correndo riscos, eles próprios de serem vítimas dos mesmos matadores do povo, se têm entregue de corpo e alma em acções com vista a salvaguarda dos direitos das pessoas, de contrário, de Outubro para cá, estariamos com milhares de detidos a apodrecerem nas esquadras e cadeias e, como pouco se julga, devido à situação, é só se imaginar qual seria o cenário actual.
Os advogados, sem poderes mágicos para ressuscitarem os mortos, nem curar os feridos, têm feitos o que deles se exige, perante detenções arbitrárias, acusações de procuradores comprometidos com cores partidárias.
Não estaria a ser justo se eu descurasse o papel que, de igual forma, tem estado a ser levado à cabo por algumas Organizações da Sociedade Civil que, substituindo-se, por exemplo, à PGR, se têm feito mais presente nos locais onde os direitos dos cidadãos se mostram estar a ser postos em causa, fazendo denúncias directas e oferendo os seus activistas ao papel que deveria ser da PGR.
Em matéria de direito à informação, muitas Organizações da Sociedade Civil assumem o papel de reportar os eventos que estão a ter lugar, enquanto os órgãos de comunicação social públicos e privados, continuam perdidos nas órgias das relações que têm com quem deveria ser chamado atenção, ser denunciado ou mesmo ser condenado.
Os órgãos de Comunicação Social, no lugar de reportarem verdades, limitam-se a branquear informações, fazendo passar imagens, entrevistas, debates nos quais pela incidência dos jornalistas e moderadores envolvidos, nota-se o que é que cada um deles quer que seja dito, como resposta ou ponto de vista.
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149Antonio A. S. Kawaria, Munguambe Nietzsche e a 147 outras pessoas33 comentários
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José Majasse Dombe DG
Enfim estamos nesse país
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Sergio Chisseve
Não suavize oh, Damiao Cumbane não é negro é Preto...
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Aneves da Paz
O povo moçambicano do bem, aquele que despido de cores partidárias anseia por justiça e decência no país, esse está entregue ã sua sorte perante as garras da fera insanciavel de sangue
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Euclídes Sacane
Permita-me que lhe corrija, Damiao Cumbane, em Moçambique não existe PGR, polícia de proteção do povo, comunicação social credível... Com a FRELIMO vive-se a lei da savana: é cada um que cuide da sua barriga e Deus para os oligarcas da FRELIMO.
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Joe Far Man respondeu
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Paulo Bento
Um grande dilema que está a enfrentar o actual timoneiro. Queiramos ou não, devemos admitir que foi está postura violenta da polícia que ao longo destes meses "trabalhou" e permitiu que ele tomasse posse. E agora, como escangalhar esta mesma postura?
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Felix Vicente
Infelizmente, este País já foi capturado pelos mafiosos há muito tempo. Há muitos mafiosos a dirigirem o país e eles só estão preocupados com os seus lucros. Há uma série de narcotráficos, que retrata o mafioso El Chapo, que mostra como o México ficou refém de mafiosos. Não se difere do que acontece no nosso País.
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Cristóvão Aída Maria Pires
A morte do negro é uma espécie de vantagens, se a colunista europeia tem usado doenças para abate do negro. O jogo de interesses passa por destruição do negro.
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Mauro Fondo
Muito triste mesmo, mas pena de nós que estamos perante um lugar obscuro no meio das trevas não posso chamar de um país isto, o k eu saiba um estado ou país no mínimo uma das instituições deveria estar a funcionar devidamente não se explica k tudo esteja a acontecer como nada e do nada alguém apenas assistindo sem tomar atenção no mínimo........ Estou com nojo de dizer que sou Moçambicano, meu corpo sempre é banhado de lágrimas dia e noite... Nhadayeiaoooooo...
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José Pinhão
Depende da localização deles, se for nos EUA ou Europa o caso muda de figura, mas é em África e aí qualquer intervenção é acusada de colonialismo, mas os negócios podem continuar...
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Yanina.writer
Boa tarde! Agradeço que visualize este vídeo feito por médicos em repúdio as mortes e a violência.
Atenciosamente
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Helena Buque ·
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Caríssimo Damiao Cumbane , vou desculpar-me primeiro por aceder ao seu post, mas permita-me descordar quando o senhor diz que os medicos não se pronunciaram até o momento em relação as vitimas mortais! A classe médica ja realizou nos últimos 3 meses 2 marchas reivindicando a posição do governo perante a violação dos direitos humanos! A ultima foi no dia 29 de Dezembro , que os medicos ( a minha classe profissional) saíram a rua para reivindicar os assassinatos perpetuados pela PRM! A ordem dos Medicos e a Associação Médica esteve lá representados pelos seus respectivos lideres superiores, o Bastonário da OrMM e o presidente da AMM N Henriques Viola ! A mídia teve acesso, só não publicou quem realmente não lhe interessa esta luta!
Sim, vivemos mortes e feridos a cada dia! Até o momento em que todos tomarmos a consciência de que cada vida que tomba , vale mais que tamanhas somas de riquezas pelos quais muitos por ai lutam, é que daremos valor a VIDA E DIGNIDADE HUMANA!
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Maida Omar
Carrísimo Damião Cumbane, peço que reveja bem os acontecimentos todos durante esse tempo das manifestações.. os médicos fizeram a primeira marcha em repúdio as assassinatos no dia 05.11.24.. No dia 29.12.24 os médicos voltaram a sair as ruas gritando BASTA DE MORTES, momento esse que esteve presente o bastonário da OrMM e o presidente da AMM.. em nenhum momento a classe médica ficou alheia ao sofrimento da população, até porque nós somos o povo. Então peço que se informe melhor antes de fazer alguma publicação
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Nelson Tchamo
Estimado Damião Cumbane. Tanto a AMM (Associação Médica de Moçambique) como a OrMM (Ordem dos Médicos de Moçambique) se pronunciaram, publicamente, ao ponto de o próprio VM7 os arrolar como testemunhas no processo que move no Tribunal Penal Internacional.
Ademais, pelo que me vem à memória, somos única classe profissional que marchou no contexto desse assunto.
Para além disso, todos os dias, colegas nossos, assistirem as vítimas, e reportam junto a comunicação social, essas situações. Me custa acreditar que não tenha acompanhado todas nenhuma dessas reportagens.
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Patricia Ramgi
Prezado Damiao Cumbane, menciona que os médicos ficaram alheios! Convido-o a rever os factos. Os médicos têm sido dos poucos grupos de profissionais que abertamente têm manifestado o seu profundo desgosto pela morte de inocentes! Exemplo disso foram as suas marchas em Novembro e Dezembro de 2024.
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Suneila Cassamo
Sem falar das marchas, mensagens de indignação entre outras, já esteve no terreno para ver o quanto os profissionais de saúde se sacrificam? A fazer turnos de até 72 horas por não ter rendição? Ter de ver dezenas de doentes seguidos sem descanso com falta de tudo até de sangue, e mesmo assim não desistir de assistir porque dói ver um irmão ferido, e não só dos feridos ele tratam, daqueles que dependem do hospital para ter um pouco de saúde, então por favor, não queremos ser glorificados, porém não diminuiu o trabalho árduo dos profissionais de saúde. Não temos tempo de tirar fotos e postar para mostrar nosso trabalho, empatia, sofrimento, exaustão e burnout.
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Liyah Paulino
Caro cidadão Damiao Cumbane , nós médicos lidamos com a vida e morte todos os dias e de forma directa! Não em textos romantizados ou de opinião sem conhecimento! Podemos dizer que o mais próximo de Deus, no que se refere à vida estão os profissionais de saúde, de onde fazemos parte como médicos!
Nossa batalha é de todos dias independente de nada, repito, de nada! Damos nossas próprias vidas, para salvar a dos outros, trabalhando mesmo em condições adversas e até desumanas e sem meios para tal..
E sobre as mortes..não são só mortes, feridos ou pacientes atendidos..não são só números, somos nós, o povo! ...são pedaços de nossas almas que se perdem dada vez que atenta contra a vida!
Sr., o senhor foi bastante infeliz na sua referência à nossa classe, e o mínimo seria um pedido de desculpa público, como foi o seu post!
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Maria Augusta Taimo Taimo
A afirmação do Sr. Damião de que os médicos moçambicanos foram indiferentes às mortes ocorridas durante as manifestações é um grave equívoco. Ao contrário do que ele sugere, a classe médica, como um todo, manifestou-se veementemente contra essas fatalidades. Marchas pacíficas, petições públicas e declarações oficiais demonstram o compromisso dos profissionais da saúde com a defesa da vida e dos direitos humanos. É importante ressaltar que os médicos, por sua formação e prática profissional, têm uma sensibilidade especial para com o sofrimento humano e são os primeiros a se mobilizar em defesa da vida, independentemente de suas convicções políticas ou ideológicas
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Neto Selemane Ruparupa
Boa noite sr Damiao Cumbane . Antes peço desculpas por invadir a tua publicação.
Arisco me a falar que nós Médicos somos a Única Classe Profissional que na sua Representação máxima falo do Bastonário da Ordem dos Médicos e do Presidente da Associação Médica de Moçambique em comunicado conjunto reportaram até com detalhe Médico Legal e ainda preocupado com as mortes. De seguida saímos à rua e Marchamos em repúdio às matanças. O senhor ou não vive em Moçambique ou ao menos não se informa só especula. Tire da lista dos incompetentes a Classe Médica. E a Classe Médica desde lutou para o bem da Saúde dos Moçambicanos é a razão de todas aquelas greves que vocês sempre ridicularizaram.
Só para lembrar. Até o Candidato Venâncio Mondlane constituiu a Associação Médica e a Ordem dos Médicos com testemunhas de suas queixas ou petições ao TPI.
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Jaime Jacob Bebana
Da comunicação social só se ouve comentário banais sobre perspectivas futuras de um governo que vem de eleições fraudulentas, que lhoje é legal, lícito , verdadeiro...triste...a C. Social esqueceu rapidamente ida ilicitude donde provém este governo que toma posse amanha
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Baumane Selemane Kalembo
Afirmativo!! A morte de 1 000000 Africanos é igual a morte de 1 amarelo (branco). Os ocidentais interviram no Zimbábue porque grande parte das vítimas eram os ditos brancos
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Antonio A. S. Kawaria
O problema começa da maneira que nós próprios negros nos tratamos e daí a comunidade internacional não tem por onde pegar. Ora vejamos de tantas mortes em Moçambique há muitos moçambicanos indiferentes para além daqueles que acham que ainda são poucas. Dentre os indiferentes nos massacres em Moçambique há os que reagem fortemente se uma única pessoa é morta nos Estados Unidos da América ou na Europa. Quanta falsidade! Temos milhares de compatriotas que estudaram o direito mas são indiferentes perante centenas de mortos e desaparecidos pelas mãos das forças de defesa e segurança. Esses compatriotas até zombam do Wilker Dias, Quitéria Guirengane e ou Adriano Nuvunga entre outros que se indignam e usam tudo o que podem para as chacinas parem.
A PGR é uma célula do partido Frelimo.
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Carlos da Fonseca respondeu
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Aziza Throne
Muita verdade Damião . Não precisei de ler tudo para te dar razão . Obrigada por me dizer que não estou errada
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Asperina Pura
As nossas instituições servem para proporcionar carreiras e não para servir a sociedade!
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Paulino Goma
Lamentável oque vivemos aqui
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