A Frelimo a pela a uma maior vigilância em Manica face ao recrudescimento em Cabo Delgado. Já a Organização Internacional para as Migrações ajuda os deslocados com 1,2 milhões de dólares.
A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, alertou esta sexta-feira para a possibilidade de formação de “células” no país pelos grupos de insurgentes que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado, apelando a maior vigilância.
Temos de saber de onde vêm e quem são as pessoas que vão para as nossas casas. É possível, inclusive, falar com as estruturas do local de onde vieram porque esses terroristas podem estar a criar as células em diferentes pontos do nosso país”, disse Filipe Paúnde, membro da comissão política da Frelimo.
O responsável, que foi também secretário-geral do partido, falava esta sexta-feira em Manica, no centro de Moçambique, à margem do acompanhamento do processo de reabilitação das bases do partido. Paúnde apelou a maior vigilância da população em Manica face ao recrudescimento de ataques de grupos armados em Cabo Delgado, no norte do país, pedindo também apoio às vítimas.
“Quando começaram em Cabo Delgado, não começaram com combate, chegaram como pessoas que iam rezar. Depois de estar dentro do nosso círculo de convivência, começam a recrutar e a treinar pessoas”, referiu. “Nós tivemos aqui dificuldade com o [ciclone] Idai, enormes dificuldades com vários ciclones e também tivemos apoio, agora é a nossa vez de apoiarmos os nossos irmãos”, concluiu, num apelo à solidariedade para com Cabo Delgado.
Grupos armados aterrorizam aquela província moçambicana desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
OIM apoia deslocados com 1,2 milhões de dólares, afirma Vitorino
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) contribuiu com 1,2 milhões de dólares (993 mil euros) para apoiar os deslocados internos que fogem dos ataques em Cabo Delgado, norte de Moçambique, anunciou esta sexta-feira o diretor-geral, António Vitorino.
Numa mensagem na rede social Twitter, António Vitorino referiu que a verba do Mecanismo de Financiamento de Emergência da OIM destina-se a “apoiar milhares de pessoas que estão a fugir da violência em Cabo Delgado”.
Mais apoio é necessário para garantir soluções duradouras para centenas de famílias deslocadas internamente”, acrescentou o ex-ministro português.
Em comunicado, a OIM divulgou ainda que quase 4.000 pessoas fugiram de Palma, no norte de Moçambique, na última semana, elevando o número total de deslocados para quase 25.000. “Centenas de pessoas com necessidades humanitárias urgentes chegam diariamente a pé, de autocarro e barco devido à instabilidade em Palma”, disse a chefe da missão da OIM em Moçambique, Laura Tomm-Bonde.
“Continuamos a prestar assistência para salvar vidas, mas precisamos de mais apoio para ajudar a fomentar soluções duradouras para milhares de famílias deslocadas internamente para que possam começar a construir um novo futuro para si e para as suas famílias”, reiterou a responsável.
Segundo a OIM, mais de metade dos deslocados encontram-se nos distritos de Mueda (6.970) e Nangade (6.733), na fronteira norte com a Tanzânia. Outros deslocaram-se mais para sul na província de Cabo Delgado e 5.000 pessoas chegaram à cidade de Pemba, e outras 3.795 ao distrito de Montepuez.
A organização continua a prestar assistência psicossocial e de proteção a centenas de pessoas deslocadas de Palma, incluindo primeiros socorros psicossociais, aconselhamento de grupo, e assistência individual. A OIM prestou assistência direta a mais de 40.000 pessoas afetadas pela insegurança em Cabo Delgado desde o início do ano.
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