segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Joao de Sousa, o radialista que atravessou meio século de rádio


Luis NhachoteJoao de Sousa ile birlikte.
13s

Joao de Sousa, o radialista que atravessou meio século de rádio

Por Luis Nhachote

Na radiofusão há mais de cinco décadas – umas verdadeiras bodas de ouro – o nome de João de Sousa é uma referência incontornável na história deste país. Em 1964 entrou para a rádio e tornou-se no primeiro jornalista não-branco a impor-se no meio profissional glorificado pelo sistema colonial. O editor do Primeiro Mão foi entrevistá-lo (em 2017).

http://xn--1momz-bra.com/ João de Sousa é jornalista há mais de 50 anos. Como vê o jornalismo hoje?

João de Sousa: Eu vejo o jornalismo bem e mal. Bem porque em algum momento ainda temos meios de comunicação social que são capazes de denunciar o que de mal existe neste país. Esse é o lado bom das coisas porque as pessoas precisam de saber e de estar devidamente informadas. Isso leva-me à pensar naquilo que, eventualmente, seja uma outra pergunta: A liberdade de imprensa fica aonde? Penso que a liberdade de imprensa infelizmente ainda não existe. Então esse para mim é o grande problema. O mal é que queremos ver os acontecimentos deste país apenas com um olho. Não queremos ver com os dois. Então fazemos um pouco o papel de Camões. E isso fica muito mal porque há coisas que estão acontecer e que são más e que alguns não reportam não se sabe bem porquê. Presumo que seja, às vezes, por medo ou por inexperiência de alguns profissionais que não querem enveredar pelo campo da denúncia com receio de que possam ser conotados com alguma coisa. Lamentavelmente assim é no país. Enfim, é um pouco neste ambiente que eu vejo o jornalismo. Por isso as redes sociais criaram uma imprensa paralela que não tem nada a ver com o significado verdadeiro de imprensa, porque lamentavelmente nos órgãos públicos não há essa liberdade, mas sente-se a falta de liberdade de imprensa nesses órgãos públicos de comunicação social do nosso país. É assim que eu vejo essa informação. Não sei se poderia parafrasear um pouco o Luís Bernardo Homwana quando uma vez se reuniu connosco na sede daquilo que era o ONJ (Organização Nacional dos Jornalistas) em que ele definiu a Rádio como um meio de comunicação extremamente cinzento. E essa cor acho que define tudo. Faz a destrinça entre o bom e o mau. Nós não temos a capacidade de questionar, falta-nos muito no jornalismo uma coisa que eu acho que é importante e que tu, com o Primeira Mão, estás a querer incutir e caminhar por essa via que é o jornalismo investigativo. Nós não temos isso, tinhas a grande referência que era o Carlos Cardoso e de todos aqueles que gravitaram a sua volta. O Carlos Cardoso desapareceu e ficaram algumas sementes. Na maior parte dos órgãos de comunicação social é difícil ver um artigo que demostre que isso é trabalho de uma grande investigação. Há bocado, numa pré-conversa estamos a falar de uma unidade de investigação que eu conheço, porque vivi seis anos na África do Sul, que é o Amabhugani que estava ligado ao Mail & Guardian, que prática o verdadeiro jornalismo investigativo. Resumindo, eu acho que temos um jornalismo razoável para o bom de alguns meios da imprensa privada, contrariamente ao que acontece com os órgãos públicos…

1mão: nessa destrinça sabe-se que o meio de comunicação social mais abrangente é a rádio. Existem muitas rádios privadas e comunitárias, mas a Rádio Moçambique continua a ser o meio que chega a mais pessoas…

R: Eu acho que a Rádio Moçambique ainda vai continuar a ser o órgão prioritário do país, pelo menos aquele que é o mais ouvido. Mais há aqui um contrassenso em relação aquilo que é a Rádio Moçambique no que diz respeito a área do jornalismo. A área da produção radiofónica não evoluiu da mesma forma como evoluiu tecnicamente. Hoje em qualquer canto recôndito deste país nós conseguimos ouvir a antena nacional com melhor qualidade possível em estereofónia, contrariamente aos passos lentos que foram dados na progressão que devia haver nos programas que a rádio faz. Parece-me que a Rádio Moçambique ainda esta muito agarrada ao poder. Digamos que é difícil fazer a destrinça entre as informações que são veiculadas pela RM porque obedece a regra do poder. Eu raramente vejo na RM, ou sinto na RM, uma crónica criticando seja lá o que for. Parece que é impensável produzir-se uma coisa dessas na RM pois parece que ela obedece a um parâmetro que a rádio fixou para ela ou que o executivo fixou para ela. Por isso este contraponto ao nível de programas que produz e a informação com o lado técnico. O lado técnico evoluiu mais com as questões que eu chamaria mesmo de liberdade de imprensa no que diz respeito a área da informação da RM. O que eu sinto também na RM e uma falta de qualidade e falta de cuidado na realização das coisas. Há pouco dei uma entrevista ao programa compasso par falar dos programas culturais que a RM tem neste momento e de alguns que teve e inexplicavelmente já não tem e que constituem digamos uma alavanca importante para meter na cabeça destas pessoas de que a educação é tudo, a cultura é tudo. Eu vou te dar dois exemplos: nós ao tempo de 1975 de Rafael Maguni (NE: primeiro diretor da RM pós independência) tínhamos o sentido das palavras. Parecendo que não, isso tocava nas pessoas. As pessoas aprendiam a falar correctamente a nossa língua oficial. Esse programa acabou. Tínhamos a poesia e contos de todo o mundo. Onde havia contos e poesia de moçambicanos, africanos e de outras partes do mundo. Esse programa acabou. E um terceiro caso que é das maiores referencias que nós temos, ou tínhamos e que vem do celebre teatro em sua casa da Rádio Clube de Moçambique, que depois, julgo no mandado do Leite de Vasconcelos e se transforma o título em Cena Aberta e que era uma referência do teatro radiofónico deste país. Já não existe. Há anos que já não existe o Cena Aberta. E era uma referência, quer dizer a rádio deixou perder uma série de programas que são extremamente importantes para o desenvolvimento das pessoas e para o desenvolvimento do país.
Por força de natureza comercial, por exemplo, já não existe o Sabadar. O Sabadar foi uma grande referência por onde passaram grandes figuras, que neste país, neste momento assumem cargos de direcção em vários lados. Mas não é só por ai, é que o Sabadar criou inclusivamente um grupo de pessoas, um grupo de amigos do Sabadar, onde se discutiam as expressões da língua portuguesa, da cultura, da política, etc, etc. Hoje com a inexistência do programa, digamos esse fórum desapareceu.

P- Mas existe essa sensibilidade de programas como o Sabadar, indo um bocado também mais, eu sei que João de Sousa fez também com Leite Vasconcelos o Volta a Moçambique...

R- Que é digamos a transposição do Sabadar para a televisão.

P- Exactamente. Será que existe essa sensibilidade de voltar-se a puxar isso?

R- Luís, há dois anos eu fui convidado a ir conversar com alguém na televisão para retomarmos o Volta Moçambique. Já se passaram dois anos e eu continuo sentado, há vontade ou não há vontade para se fazer?

P- Estou a pensar assim, que se calhar um pouco dessas grandes companhias publicitárias, a telefonia móvel por exemplo, penso que elas devem ter um mínimo de sensibilidade de financiar esse tipo de programas, porque também, para além de que vão participar de um programa extremamente educativo, extremamente cultural, para a mente das pessoas eles também iam conseguir colocar as suas marcas, porque a gente vê muitas dessas companhias a fazer publicidades de várias coisas e outras delas dizem muito pouco para a formação do Homem.

R- Exactamente, era aí onde eu queria chegar. Nós por exemplo, quer no Sabadar, quer no Volta a Moçambique, nós tivemos sempre o cuidado de ter o lado publicitário, não como sendo o prioritário do programa, porque o prioritário era o aspecto educativo que o programa transmitia. Caminhávamos nessa linha, a necessidade de saber fazer as coisas associando a algumas instituições da natureza comercial, alguns empresários que sentiam no programa, essa necessidade de colocarem ali os seus produtos e as suas marcas, porque fazendo isso eles também estariam contribuindo com a divulgação da cultura, do conhecimento e do saber. Eu acho que existe sensibilidade para fazer isso, o grande problema que me parece que existe, é um certo receio de fazer isso, porque lembro-me que Anabela teve um programa ai em tempos na televisão que acabou, porque as respostas eram das mais disparatadas possíveis e, isso só denuncia a qualidade do nosso ensino. Quando hoje se vem dizendo e é o próprio ministro que vem dizendo e reconhece que, a qualidade do ensino superior está no nível em que está num programa desta natureza. Eu ouvi universitários a não saber quantos distritos temos no país, quer dizer, depois fica assim uma imagem muito confusa e quando isso, lembro-me que quando Anabela fez esse programa algumas das referencias e respostas que eram dadas neste programa pela via das redes sociais iam parar lá para fora, então o nosso nível de desconhecimento era conhecido por toda gente.

P- Já estamos na montra?.

R- É verdade.

P– Mas que saídas o João vê para se ultrapassar essa crise? Porque um dos grandes reflexos disso é que a sociedade esta com uma grave crise de valores que começa fundamentalmente com os problemas de educação…

R- É verdade. Eu não sei que saídas podemos visualizar para estas coisas, mas parece-me que temos que apostar grandemente na formação das pessoas, na educação das pessoas, o Jorge Ferrão caminhou nesse sentido, mas alguém o fez descaminhar, com todo aquele sentido de fazer com que o conhecimento, a ciência, o saber são importantes, porque muitos destes conflitos que nós temos hoje, se tivéssemos um nível de educação eles não ocorriam. Esses fenómenos de superstição que agora vamos atacar os carecas todos, isto não acontecia se nós tivéssemos ciência, conhecimento e saber. Parece-me que há uma tentativa no país de fundamentar isto. Não sei, se é por proliferação de muitas pequeninas associações, quer dizer, as vezes nascem coisas como cogumelos não é. E cada um vai dizendo as coisas a sua maneira, quer dizer o lado cientifico fica aonde? Quando nos meios de comunicação social, em vários momentos veiculamos a ideia de que o Ningore não sei de onde, veio resolver os nossos problemas de saúde, que se eu for com uma garrafa de água para um determinado local, as minhas mazelas vão passar todas, vão acabar de ter tremeliques e chiliques e outras coisas mais, quer dizer entramos numa paranoia de tal ordem que vai influenciar e, lamentavelmente isto já esta a começar a influenciar as nossas crianças, na nossa juventude.

P- João, parece paradoxal nos primeiros anos sobretudo, na primeira República onde havia um regime de partido único, haviam pontos cardeais, passamos para segunda republica multipartidária e parece que estamos a regredir, mas como e que vê isso?

R- Eu vejo com muita apreensão, porque nós estamos a dar valores a juventude que não são os valores que nós aprendemos na tal primeira República, se calhar também não aprendemos muito na segunda República, eu sinto que as coisas começaram a degradar a tal ponto que agora não sei sinceramente por onde vamos pegar para reverter essa situação. É um pouco como o futebol mas hoje enfim, para andarmos aos quatro ventos por essa magnifica e importante vitoria frente aos zambianos depois de 42 anos não vencemos essa equipa mas acho que estamos a embandeirar o calcanhar vamos lá ver se o nosso futebol é aquilo? O nosso futebol é aquela vitória que sentes primor para a vitoria, para a importancia que seleccionador nacional teve, para a importancia que os jogadores tiveram, para importancia do trabalho que a federação fez, do trabalho para preparação para esse jogo, mas aquela vitória reflete o que e o futebol moçambicano? Hoje as pessoas dizem assim ‘voce gosta mais do Real Madrid ou do Juventus ou do Benfica’ e o nosso futebol? E eu pergunto e o nosso futebol porque caiu? Caiu como estão a cair todas as coisas, lamentavelmente e aquilo que tu dizias na pergunta que formulaste, estamos a perder valores de minuto a minuto e assim não sei onde vamos parar nem tão pouco, qual é a solução para isso. Eu hoje fico um bocadinho atrapalhado quando estou a almoçar ou jantar, e la em casa aparecem os sobrinhos netos , etc, etc e estão a ver que o pai degolou o filho e, o filho degolou o pai, que os nossos canais de televisão apresentam isso e, entao isto fica na imagem das crianças.cEstamos a caminhar para onde? Para que lado? Estamos a acreditar nestes apostólos, já nós chamaram apostólos da desgraça, mas a esses que desgraçam as pessoas com esses tipos de coisas se oferecem isso, se oferecem aquilo, a dor que eu tenho vai desaparecer, quer dizer , nao sei, sinceramente nao sei por onde pegar e como pegar, quer acho que há pessoas muito mais atualizadas do que eu, os sociologos que podem discutir estas questões, os formados, porque o que eu sinto é que isto e uma propagação da tal ordem que esta degradação de valores já esta atingir alguma camada que fez parte da tal primeira República, porque é o filho que já vai influenciar o pai, o avo e por ai fora. Quando a nossa base cultural começa a tremer, a esvair-se o resultado é esse. Eu sinto que muitos poucos pais se importam pela educação dos filhos, eu quero me refugiar num exemplo que é um exemplo que acontece muito errado, as pessoas ouvem errado, ouvem o locutor a falar mal, chegam a casa o pai enventualente diz ao filho ‘não é assim que se diz’ o filho ‘não eu ouvi na rádio’, entao aquele Sr. que disse isso é a grande referencia para ele. Não é a escola.
A escola onde ele aprendeu o bê-á-ba, a conjugar a verbo, a escrever correctamente aquilo que é a nossa lingua oficial, quando ele se confronta com o que ele ouviu na rádio ou que leu no jornal, acha que é assim que tem que ser dito.

P- Pegou num exemplo para ilustrar esta situação que é real, que esta mesmo no terreno, mas vou voltar outra vez para primeira República, porque uma das coisas que houve na primeira republica foi da massificação desportiva como algo saudavél pelas camadas de formação. Durante muitos anos a gente teve selecções que se sabia de onde estavam a vir os produtos. Muitos destes campos onde nascem muitos destes craques, eu vou dar exemplo do Tico-Tico, comecou por jogar onde tem um prédio aqui na avenida Guerra Popular, esses campos desapareceram inclusive na Universidade Pedagógica, viraram salas de aulas ou garragens ou parques de certa forma, isto acabou por…?

R- Ou habitação. Os grandes prédios, as grandes estruturas habitacionais foram ocupadas, os poucos campos que nos tinhamos.

P- Exacto, assim nao é possivel fazer desporto, não é possivel criar…

R- É dificil, é muito dificil. Eu as vezes pergunto-me a mim mesmo onde estão hoje comparativamente com a tal primeira república, aqueles que sairam dos jogos escolares foram para onde? Os que sairam hoje dos jogos escolares, as grandes referencias dos jogos escolares vão para onde? E se eu me refugiar na primeira república, muitos dos que participaram em grandes equipas de futebol, de basquetebol, de andebol e de voleibol vinham dos jogos escolares e um pouco como perguntar assim as televisoes fazem esta coisa de Fama Show, não sei o que… Ganhou o fulano, o tal onde esta? Já desapareceu. Eu lembro-me que ouve um primeiro Fama Show que foi ganho por um jovem de Tete, se não me estou em erro…

P- Nao. Acho que é um jovem de Maputo, Nelson Nhachungue...

R- Eu não sei onde é que ele está, eu não ouço a música dele pelo menos, não e… esse de Tete tambem que me estou a referir, também não ouço a música dele, porque bom, lamentavelmente hoje quando a gente liga as diferentes rádios, as vozes da primeira republica foram silenciadas? Da mesma forma como estao silenciados aqueles que vinham dos jogos escolares e que fizeram os grandes jogos, porque quando se fala hoje de futebol que esse nosso futebol é isso, é aquilo, não tem comparação nenhuma com aquilo que foi o futebol que nos deram o Gil, Calton, Chababe, o falecido Ze Luis, Nuno Americano… sei la, tantos e tantos dessa geração. Se calhar alguém que ler isto vai dizer que eu sou saudosista, mas as vezes tem que se chegar ao extremo de ser saudosista para poder fundamentar os meus exemplos. Hoje não fazemos nada disso o que o Luis caminhou um pouco pela vertente do desporto, eu pergunto assim, atingamente, nao sei se ainda hoje essa regra existe, os clubes não podiam escrever as suas equipas em determinadas provas, se não tivessem escalões concetrados chamados tecnicamente escaloes inferiores, juvenis, juniores. Voce hoje vai para um clube da chamada liga mocambicana de futebol e eu pergunto assim esse clube tem equipas de juniores? tem equipas de juvenis? há campeonatos de juniores? há campeonatos de juvenis? Feitos pelas respectivas associações? Não há. Onde estão os Bebeques e os Sobeques que aconteceram por aqui?
Das grandes edicções dirigidas pelo falecido Luis Brito estão ai muitos que jogaram naqueles torneiros. Hoje estamos a fazer as mesmas edicções, hoje estamos a fazer os jogos escolares e não temos resultados praticos. Os jogos escolares são de facto o embrião para o lançamento de alguém para alta competição. Da mesma maneira que não temos tanta coisa no país, também no desporto a actividade desportiva se ressente dos grandes problemas que nos temos se calhar, provavemente, não sei…

P- Estamos a precisar de uma revolução cultural?

R- Eu acho que sim. Agora não sei como fazer isso com um nivel de degradação de valores que nós temos, estou a ver que é muito dificil reverter as coisas porque há dirigentes do nosso pais que pactuam com este tipo de situações. Eu por exemplo, constrajo-me bastante e as vezes sou criticado porque falo demais sobre isso, mas a mim pouco me importa. A gente ve um locutor de radio a falar mal e ninguém particularmente o responsavel deste sr. que falou mal é capaz de chegar a ele dizer ‘meu amigo, voce lembra, porque é que disse isto?, sobre isto ontem, hoje, a bocado. A gente ve. Eu vi no outro dia estava a almoçar e ouvi uma moca da televisao, nao importa dizer quem e, nem de que canal a dizer, irraci….
Eu fico assim, essa Sra. não aprendeu na escola a conjugar verbo. Estou convicto do que o telespectador ira se divertir bastante com este artista. Então a uma falta tremenda de autoridade, perdemos autoridade em muitas coisas. Hoje Luis, pegar num papel igual a este de um foca, acho que as pessoas vão saber o que é um foca em jornalismo, rasgar a frente dele e por no caixote de lixo e dizer vai fazer outra vez, não é possivel, você fica conectado como sei lá o que, como Hitler, hoje não se pode fazer isso sobre o risco de sei lá, de colocar-nos nas mais viradas cognomes possiveis imaginarios. Mas no nosso tempo, o nosso chefe fazia isso sem maldade e aprendiamos, hoje não é possível.

P- Ok….

R- Estamos com valores invertidos hoje e ninguém… eu gostava de dizer o seguinte׃ Porque que os nossos responsavéis quando vê que algumas coisas esta mal não actuam? Por medo? Porque vou me refugiar na rádio, televisao, jornal que a gente vê por exemplo escreveu-se alguma coisa muito mal escrito aquilo não é portugues, não é nada. O chefe dele não chama atenção. Porque é que não chama atenção? Já me disseram quando eu perguntei, mas porque que o chefe não chama atenção? Não tem lá o chefe? Não tem lá o revisor? Se calhar o chefe também não sabe e, como não quer que os outros saibam que ele não sabe, ele fica caldo, fica quieto. Agora onde estão os patrões dessas empresas jornalisticas que deviam filtrar as coisas e dizer aqui só entra quem sabe.
Eu não estou a dizer que tudo é mau, mas infelizmente os nossos valores estão completamente invertidos.

P- Bom uma das funções, podia dizer assim, de uma pessoa como o João de Sousa que tem decádas de profissão é deixar legado. Já publicou um livro׃ Fio da Memória. Podemos esperar mais alguma coisa de João de Sousa?

R- Eu estou em contacto com uma instituição no sentido de ver em que medida é que um outro livro pode ser publicado. Eu tenho a noção exacta, de que não tenho muito propensão por escrever um livro. A minha vida toda foi basicamente por escrever para rádio. Escrever para rádio e bem diferente de escrever para um jornal, uma revista, mas enfim . Fui fazendo algumas crónicas e este livro será das crónicas que eu fiz, mas reconheço que não é facil, porque não temos abertura do mercado para fazer isto, temos que ter patrocinio, o livro é caro, a producao do livro é cara, alguém tem que suportar isso, etc, etc. Eu tenho já um conjunto de cronicas que fui escrevendo depois de 2014 quando regressei da África do Sul, eu gostava de compilar estas crónicas.

P- As que escrevia no Correio da Manhã?

R- Exactamente… escrevia no Correio da Manhã e depois por razões óbvias dos problemas financeiros que estamos todos a passar, tive que interromper a minha colaboração com o Correio da Manhã compreensivamente claro. Mas continuou escrevendo para as redes socias, etc.
Não com tanta assiduidade como fazia e penso que enventualmente, podera acontecer agora quando? Eu não quero arriscar a fazer futurugia.

Entrevista publicada no website 1mao de que fui editor

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