Elisio Macamo
18 Ocak, 13:15 ·
A cultura da normalidade
Fiquei algo atónito quando vi imagens do Presidente a jogar golfe logo depois de ter assumido novo mandato com um discurso que terminava com uma exortação ao trabalho. Não percebi a ideia porque achei que pudesse ter feito mais sentido ir inaugurar alguma obra ou ser fotografado no seu gabinete de trabalho. Foi por isso que disse que ea difícil interpretar certas mensagens.
Reafirmo essa dificuldade ao mesmo tempo que começo também a perceber onde o problema reside. Apesar de ser sociólogo, por vezes esqueço que as coisas não se explicam apenas pelo lado do que nos parece racional. Há também o lado racional daqueles cujas acções queremos entender. Na verdade, o discurso inaugural dum Presidente de Moz não parece obedecer ao racional político normal. Não é um discurso à nação. É um discurso ao partido no poder, o que me parece explicar muitas das suas incongruências que por vezes são apenas registos misturados.
Por exemplo, o discurso poderia ter terminado onde ele exortou ao trabalho. Teria sido para a nação. Mas nada. Ele ainda acrescentou algo sobre reconciliação. Deve ter sido para as suas próprias hostes. Mesmo aquelas partes onde falou de críticos, etc. Acho que aquilo era para o partido. Isto deve explicar também porque o discurso não pareceu ter um fio condutor, nem procurou ser programático num sentido visionário. Reafirmou as mesmas ideias inócuas do manifesto, não procurou desenvolver uma ideia de Moz ou do Moze para a qual o programa do governo poderia ser um instrumento de viabilização. Insistiu naquele hábito irritante de prometer realizações concretas onde o mais importante é saber que tipo de instituições e instrumentos serão promovidos para lograr os objectivos. E, como sempre, os incautos caíram na cilada e começaram a discutir se de facto seria possível alcançar tais objectivos...
Esperei pela composição do governo para entender melhor o discurso. Percebi que, de facto, o discurso tem que ser visto como uma conversa privada, um pouco ao estilo daqueles monólogos que éramos obrigados a ir ouvir na praça da independência sem hipótese nenhuma de saída, nem mesmo para ir fazer necessidades menores lá nos tempos gloriosos. Acho curioso que se reduza a discussão do novo governo à questão da competência deste ou daquele ministro, à ausência deste ou daquele, etc. Há, por exemplo, um dado que me parece interessante. Foram abolidos ou criados novos ministérios. Seria tão importante saber o que norteou essa decisão. Mas não vamos saber. E sem sabermos isso não é possível avaliar nem a qualidade do governo, nem do programa. A minha suspeita é que se deve tratar de acomodação de interesses internos do partido.
Se isto for verdade, o nosso problema é bem pior do que suspeito há cinco anos. Não só temos na liderança de Moz um indivíduo que não parece capaz de se impor dentro do seu partido, talvez por também não fazer ideia de que é necessária alguma visão para ser chefe de estado, mesmo que seja em nome dum partido dominante, também temos um partido narciso a dirigir o País e que confunde o seu destino com o destino de todos nós. Vamos precisar de muita imaginação e discernimento para garantir que esta Frelimo não destrua completamente o sonho que ela própria criou. Ela disfarça as suas dificuldades internas procurando dar a ideia de que Moz é um País normal. Daí a partida de golfe logo depois. Daí também as quotas como critério de competência- tipo, agora Ronaldo não pode mais jogar, apesar de ser bom, porque temos que renovar... Daí também o silêncio, no discurso inaugural, em relação a Cabo Delgado, um câncro feio sobre o qual este Presidente não tem dito absolutamente nada apesar de ministros e comandantes por ele indicados terem prometido eliminar o problema em dias...
A imaginação que precisamos não é aquela que se preocupa com ninharias, tipo não disse nada de novo, aquele não é competente, etc. Temos que insistir numa visão programática, isto é para que ideia de Moz serve um governo com esta composição, como funciona o partido que responde por este governo, que pessoas tem a falar em seu nome, etc. Há quem acha que já dispõe de todos os elementos para saber se pode confiar ou não. Esse tipo de pessoa há de vir aqui com aquele discurso imbecil “vamos deixar eles trabalharem primeiro”, ou “vamos dar o benefício da dúvida”. O problema é que não estamos aqui a assistir a uma partida de futebol. Cada um de nós faz parte do jogo e a nossa interpelação crítica é fundamental para o sucesso desta empreitada. E isso não é porque alguém que no passado se mostrou averso à crítica hoje diz que a crítica enriquece. É na crítica que reafirmamos o nosso compromisso com o País, quer queiram, quer não.
O bom é que só são cinco anos. De normalidade forçada.
Sergio Matsinhe Tudo dito e mais dito,a ver vamos!!
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Stelio Simoes Caro Elisio Macamo, a sua opinião merece do meu lado alguma atenção, senão toda. Por vezes constitui para mim um desafio compreender o alcance das suas abordagens. Seja como for, gostaria de compreender melhor alguns aspectos:
1. A Nação não precisa de se reconciliar?
2. Sob seu ponto de vista, quais seriam as pessoas mais indicadas para ocupar os vários ministérios?
3. Pelo que percebi, os dois Ministérios, MITADER e ministério de Agricultura e segurança alimentar, mudaram apenas algumas competências, umas que eram do mitader passaram para agricultura e neste a segurança alimentar em destaque, foi removido. Pelo que fui acompanhando há uma organização, do observatório da agricultura e qual coisa, de Gaza, se a memória não me atraiçoa, que sugeriu essa alteração.
Enfim, um abraço.
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Elisio Macamo Stelio Simoes, não entendi as suas questões. o meu texto não é sobre o que pergunta/comenta.
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Huwana Rubi Obrigada Professor, concordo plenamente. Se queremos um país sério tornemo-nos sérios no verdadeiro sentido , não ouvi todo o discurso até mesmo para preservar a minha sanidade mental. Infelizmente ou não a batata ainda está difícil de de digerir e para mais 5 anos de silêncio....
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Elisio Macamo Huwana Rubi, é preciso ouvir. eu li-o.
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Gitandra Valoyi "... Não é um discurso à nação. É um discurso ao partido no poder...". Acho muito verdade.
Ontem, em apoio ao pensamento de Marcelo Mosse, que advoga o mesmo, escrevi:
"Recados à Comissão Política da Frelimo
1. 2020: Sou imune a pressões. A única pressão aceitável é a do interesse nacional.
2. 2015: O povo é o meu único e exclusivo patrão (implicitamente: não a comissão política)."
A acção do Presidente Nyusi tem sido mais contra algumas forças que se lhe impõem dentro do partido do que a favor da promoção do Bem-comum.
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Elisio Macamo Gitandra Valoyi, a minha questão é ligeiramente diferente. o debate interno é inevitável e faz parte da política. o que deploro é a dupla ausência de visão (do presidente e do partido) que torna a conversa partidária nociva ao país. não vejo nos pronunciamentos e acção do presidente qualquer indicação de que ele tenha consciência do problema. isso preocupa-me.
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Jemusse Abel Show off. Precisamos de gostar o país para pensarmos e analisar as coisas dessa forma... Ha quem insista que estamos mesmo num jogo de futebol!
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Ricardo Santos Pela parte que me toca, ainda aguardo mais informacao. Nao é a história de dar tempo nem do benefício da dúvida. Aguardo para perceber todos os detalhes da nova equipe e da remodelação da estrutura governamental. Quanto ao resto acho normal que o discurso presidencial seja mais para dentro do partido do que para a sociedade em geral. Nao é fácil gerir esta quadratura do círculo que é a persistência do monopartidarismo por ausência de oposição efectiva. É possível que as verdadeiras oposiçoes ainda estejam dentro dentro da Frelimo. Nada disto se destina a reduzir a importância da crítica serena e severa.
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Armistício Mulande É o que penso, também, Ricardo Santos, que a verdadeira oposição está no Partido Frelimo. Entretanto, depois do último congresso de unanimidade na mediocridade, suspendo, por vezes, esse pensamento (que é ao mesmo tempo desejo). Concordo plenamente com o Professor Elisio Macamo quando diz que corremos o risco de a Frelimo destruir o sonho que ela mesma ajudou a criar se não haver discernimento. A ver vamos.
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Elisio Macamo Ricardo, devemos ficar preocupados com isto. sabes que não morro de amores pela frelimo gloriosa, mas tinha visão e fazia política de acordo com essa visão. parece que isto se perdeu e estamos mergulhados numa grande perplexidade. para que visão de moçambique é este governo uma resposta ou veículo? não percebo e não é porque considere as pessoas incompetentes. ninguém diz nada e é tudo incongruente.
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Elisio Macamo Armistício Mulande, pois. sem democracia na frelimo não haverá democracia real no país. sem qualidade no partido não haverá qualidade no governo.
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Geraldo Angelo Mutuque Bem observado
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Belunga Tembe Touché!!!...
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· Çevirisine Bak
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Manuel Bila Cabo Delgado so corajosos prunuciam esta palavra
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Benedito Mamidji E nem mais!!!
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Nelson Chaúque Eish! Tenho de ir buscar emprestado àquela máxima de que cada país com os seus líderes...
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Lenine Daniel Não podia estar mais de acordo! Está claro que o PR está perplexo desde o 1o mandato, aqui culpo o PR Guebuza por o ter trazido a ribalta, foi um grande erro de casting. Para piorar o partido está a se comportar de forma medíocre e nociva ao país. Onde é que andam os históricos e pensadores do país? Foram engolidos pelos jogos de interesse? Neste país, o que é que preocupa a Frelimo e ao PR? Isso é que deveria nortear a constituição do novo governo, ministérios e ministros que visam responder aos objectivos previamente estabelecidos. Mas, estamos numa situação de divisão de quotas, o resto vai se ver lá a frente, que mediocridade!
Infelizmente, como sociedade e cidadãos dependemos do bem estar do Partido para que os problemas sejam identificados e debelados, mas do partido não se vê nem se ouve nada proveitoso se não "é contigo que dá certo", que situação!
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Elisio Macamo Lenine Daniel, a culpa não é de guebuza. a culpa, se culpa houver, é da forma como a frelimo funciona. o líder não é alguém que é escolhido por ter apresentado uma visão abraçada pelo partido, mas sim uma pessoa escolhida pelo partido para representar a visão do partido. isto funciona bem quando o partido tem visão. quando não tem e se equivocou na escolha do líder, arranja problema...
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Raul Junior Há um exercício difícil aliás se calhar intencional de se elaborar discursos virados para dentro do partido. Até se formos pela análise extrema do discurso, podemos afirmar que é para um grupo de pessoas do partido que tem certo Poder. O povo foi importante no momento de deposição de voto.
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George Mabuza Stutta Batistutt
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