Não, Dércio
Dércio, vi um fragmento da tua participação num programa liderado pelo Orlando Macuácua, e fiquei – mais uma vez – estarrecido com as tuas declarações.
Não, Dércio, não é a sociedade civil que celebra o caos. Essa visão reducionista desvia o foco das verdadeiras causas da crise que o país atravessa. A maioria das organizações da sociedade civil trabalha em condições extremamente adversas, com recursos limitados e sob constante vigilância governamental. Não, Dércio, elas não são oportunistas que se alimentam do sofrimento da população como agora defendes. Elas têm lutado pela promoção de direitos humanos, pela observação eleitoral e pela melhoria das liberdades e garantias dos moçambicanos. Reduzir esse trabalho sério e necessário a um suposto interesse no caos não só é injusto, mas profundamente desonesto.
Sim, Dércio, é importante condenar os actos de violência, como a vandalização de bens públicos e privados, e o uso de crianças em manifestações. Mas não podemos ignorar o contexto que levou a essas situações. Não, Dércio, as crianças não estão nas ruas porque alguém as colocou ali de forma oportunista. Elas estão lá porque vivem num ambiente de pobreza extrema, de exclusão e abandono. Culpar apenas os manifestantes sem olhar para as causas profundas dessa realidade – pobreza, desemprego, falta de acesso a serviços básicos – é simplista.
Não, Dércio, as fragilidades das organizações da sociedade civil não são o problema central da crise moçambicana. Elas são apenas um grão de areia no deserto de atropelos e omissões do lado que defendes. Não podemos desviar o foco das responsabilidades estruturais que recaem sobre quem deveria garantir políticas públicas eficazes. A precariedade urbana, que mencionas, é um exemplo claro disso. Não, Dércio, os bairros informais e os becos que hoje são usados como quartéis da desordem pública não surgiram do nada. Foram gerados por décadas de descaso governamental e políticas públicas ineficazes. Esses becos, Dércio, são as cicatrizes de um Estado que negligenciou o seu povo.
Não, Dércio, reduzir Venâncio Mondlane a uma “janela de oportunidade” para interesses oportunistas também não faz justiça ao momento actual. Venâncio se tornou uma referência para muitos moçambicanos não porque manipulou a situação, mas porque representa uma esperança diante de um sistema político desgastado e desacreditado. Não, Dércio, ele não é o problema, e focar nele apenas desvia o olhar das falhas estruturais do Governo e das condições que levaram a população às ruas.
Você diz que certos segmentos da sociedade civil celebram o caos para obter financiamentos. Não, Dércio, essa é uma acusação grave e sem fundamento, que descredibiliza todo um sector que tem se esforçado para preencher as lacunas do Executivo. Se há problemas na sociedade civil – e certamente os há – eles não podem ser usados para justificar o silêncio sobre questões muito mais graves, como a repressão a direitos fundamentais, o agravamento da pobreza e a corrupção.
Não, Dércio, essa crise não é sobre quem está a lucrar com o sofrimento. É sobre como políticas públicas falharam em oferecer soluções reais para problemas de exclusão, desigualdade e urbanização. Não, Dércio, o caos que você aponta como produto de oportunismo é, na verdade, o reflexo de um sistema político que ignora o povo e perpetua ciclos de violência e abandono.
Em vez de desviar o debate para questões periféricas, como você faz, seria mais útil perguntar: por que chegamos a este ponto? Por que o Governo reprime manifestações em vez de dialogar com a população e organizar as marchas, indicando locais para o exercício da cidadania? Por que o Estado não investiu em infraestrutura, educação e saúde, preferindo alimentar a corrupção que enriquece poucos e empobrece muitos?
Não, Dércio, não é o caos que devemos temer, mas a perpetuação de um sistema que transforma o sofrimento em rotina e o desespero em norma. O verdadeiro perigo, Dércio, não está em quem denuncia, mas naquele que se cala. Não está na sociedade civil que grita por mudanças, mas em quem desvia o olhar enquanto a população é esmagada pela pobreza e pela repressão. Não, Dércio, o problema não é a crítica; é o conformismo que sustenta o poder dos que se alimentam do desespero alheio, enquanto acusam outros de celebrar o caos que eles próprios criaram.
Esse, Dércio, é o verdadeiro caos – um ciclo vicioso de miséria, abuso e silêncio cúmplice que transforma o sofrimento em paisagem e a indiferença em política de Estado. Não, Dércio, isso não pode continuar.
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Zélio Taveira
Eu não sei porquê que as Tvs ainda insistentemente convidam estes controversos é verdade que estão capturadas , mas isso já não dá . As pessoas pela defesa do seu estômago tornou se insensível . Fogoooo
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Jessemusse Cacinda ·
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Não duvido que tenha recebido pauta do grande escritor Mia Couto. Agora que diz ser vítima de ataques de grupos ligados a extrema direita em Moçambique. Mas sabe.
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Hélio Norberto Passe
Neste momento, o nosso Dércio, infelizmente, olha para as coisas que sempre repudiou de modo contrário. Quero imaginar que onde o Rui diz, "Não, Dércio", ele entende "Sim, Dércio".
Um dia, teremos o nosso Dércio de volta - Não, Dércio.
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Fernando Boco
Dércio Alfazema official sabe disso, ele só está a prestar o seu serviço que lhe confiaram e achando que com sua vida melhorada em detrimento do sofrimento da maioria o torna Dércio mais próspero.
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Adelson Rafael ·
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Surpreendente que ele faça tais afirmações sobre as OSC se foi Director de Programas do IMD (Instituto para a Democracia Multipartidária) por vários anos. Amigo Dércio Alfazema peço seu contraditório se faça favor!
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Tirso Sitoe respondeu
·
1 resposta
37 min
Há 37 minutos
Naldo Duvane
Oque se pode esperar de um Dercio como ministro de qualquer coisa? Uma postura muito perigosa pra um Moçambique e pra os moçambicanos..... Vejo que as aulas de Gil Aníbal e Egídio Vaz foram extremamente importantes pra uma rápida assimilação das matérias.
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Celso Mugabe
Bravo
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Helder Condjo
Falou tudo, obrigado por responder ao Dercio.
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Cristiano Matsinhe
Rui Miguel Lamarques, Obrigado por esta nota. Como já analisaste a parte que exige sobriedade, deixa-me comentar a parte caricata da coisa e. para isso, começo por perguntar: Mas o que se passa com os nossos comentaristas?
Ontem vi esse Senhor na TV Sucesso a cuspir fogo porque “..:Venâncio imita Samora Machel, Eduardo Mondlane, Afonso Dhlakama, André Matsangaissa” e que até lhes “copia os gestos”, mas que as famílias de alguns dos referidos “se distanciam”… ora porque “vamos voltar a amar o Venâncio quando vier pedir-nos desculpas”, ora porque até Mia Couto escreveu uma carta a “zangar de Venâncio” mas “ninguém lhe ouve”, ora porque os panelaços não são dele, “roubou dos estudantes universitários”, ora porque quer “estancar a hemorragia” para depois tratar das causas, ora porque os Mambas ganharam, ora porque… ora porque… Mas afinal, perdoem-me a ignorância, é obrigatório ir comentar na TV? É verdade que as sociedades precisam de entretenimento, mesmo nos tempos mais tenebrosos, nem que seja só para ajudar a “puxar ar”, como diz o outro, mas de usurpador de funçǒes da corte já basta o Rei!
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Miller Matine
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Cristiano Matsinhe se tiver roubado dos universitários, e daí, onde lhe dói?
Francamente. Feliz ou infelizmente não tenho tido a paciência de ver debates do género. Sofro de “NERVO” e não quero correr o risco de partir meu laptop.
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Xavier Dimbane
Em Moçambique temos uma vasta gama de comentadores Televisivos que tem defendido ideias e agendas que a dado momento se confundem com curandeiros quando tentam satisfazer o cliente que busca um culpado para o seu infortúnio momentâneo.
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Belarmino A. Lovane
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Tirando a generalização, há ou não elementos que nos levam à crer que algumas organizações da sociedade civil se alimentam do Caos ? Ou que se revestem deste título para vender uma falsa ideia de imparcialidade enquanto, no fundo, são actores políticos com alguma parcialidade. Repito, tirando a generalização, como olhar para o posicionamento do Dércio ? Aproveitando, quantos actores temos hoje, em Moçambique, que poderiam servir como representantes da sociedade civil, com dignidade e nível acrescido de imparcialidade ? Tenho dificuldades em comprar narrativas de um activista social que é, ao mesmo tempo, um actor político activo (associado a um partido). Tirando a generalização, há aspectos por reter tanto na locução de Dércio assim como na argumentação aqui apresentada pelo Rui Miguel. Enfim, é um debate para o futuro - agora temos que sair disto, para o bem colectivo.
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Kudumba Bazofo Root
Rui continuas perspicaz como sempre. Mas vou tomar a liberdade de te sugerir que contactes alguns amigos que temos em comum: o Duma e o Matine, só para não te cansar ou te mandar numa cansativa pesquisa. Esses vão te narrar como a cada 5 anos contávamos os amigos que perdíamos por conta destas quinquenais alvíssaras. O que mudava mesmo era o momento em que faziam a conversão e o quão ferrenhos ficavam depois dela. O resto ficava mesmo no gozo e no seguimento daquele velho conselho da terra da minha avó: "Se estiveres a tomar banho no rio, e um maluco chegar e roubar as tuas roupas; não o persigas. A consequência pode ser fatal"
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Paulo Jossias
Concordo
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Quitéria Juízo
Parabéns pela mensagem ao Dércio, espero que ele leia como eu li e senti no fundo do coração tudo que escreveu Rui.
Também digo, não Dércio….
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