domingo, 23 de dezembro de 2012

Joaquim Chissano mediador mais uma vez mesmo quando resultados seus não surgem

 

Por: Noé Nhantumbo
Malawi e Tanzânia escolheram adiar soluções ao escolherem este mediador?...
SADC deve reformular-se e credibilizar-se antes de mediar…
Para alguns não restam dúvidas de que a escolha de Joaquim Chissano ex-PR de Moçambique constitui uma daquelas que se deveriam evitar a todo o custo.
Um mediador tem de manter suas credenciais nacionais intactas e ser politicamente relevante.
Pode ter sido por distração, daquelas gaffes que se cometem na vida mas Chissano saiu-se mal quando apareceu a comentar sobre uma alegada “inconsciência” de Afonso Dhlakama. “No pano limpo e branco caiu uma nódoa-mancha” que nem o mais potente detergente vai a tempo de limpar.
Sua história como mediador da ONU ou União Africana está cheia de “buracos” e insucessos.
Como PR perdeu a oportunidade soberana de impulsionar um processo limpo e inclusivo que poderia ter afastado Moçambique de futuras crises cíclicas. Sentado num poder que aparentemente supunha perpétuo, se terá convencido de que era omnipotente.
Os tempos encarregaram-se de mostrar-lhe o logro em eu tinha caído. Seus subalternos minaram a sua base de poder e lhe ultrapassaram a devido tempo.
Hoje com seus negócios mais ou menos malparados ou sem evolução visível atrapalham-lhe e lhe recordam os “bons tempos”. Abandonado ou preterido por um partido que ajudou a fundar, contenta o ego com alguma intervenção fora de portas. Obviamente que paga ter contactos nos corredores diplomáticos internacionais. Este é o mediador que Malawi e Tanzânia escolheram? Convenhamos que é legítimo duvidar da utilidade prática de sua nova missão. Os factos falam por si. Guiné-Bissau foi um dos casos em que a escolha de Kofi Annan na altura Secretário-geral da ONU, de JC, como mediador foi liminarmente recusada pelos guineenses.
Madagáscar arrasta-se sem solução à vista. Sua passagem pelo Sudão do Sul ou pela RDC não deixam muitas saudades.
Êxito mesmo de negociação terá sido a que ele entanto que presidente de Moçambique manteve com a Renamo.
Na verdade Joaquim Chissano deveria estar agradecido a Afonso Dhlakama por ter contribuído para a construção de uma imagem de negociador paciente e de sucesso. O acordo Geral de Paz de Roma, entre o governo liderado por Joaquim
Chissano e Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, foi um dos únicos êxitos que se conhece e que é mediatizado.
Agora também é verdade que não esteja tudo claro sobre os méritos diplomáticos de JC atendendo a seus pronunciamentos recentes e passados, especialmente no quadro interno, Moçambique.
A última declaração de Joaquim Chissano pretendendo dar a entender que Afonso Dhlakama era “inconsciente” é como “vender a galinha dos ovos de ouro”. Parte da estatura e consideração internacional granjeada por Joaquim Chissano está estreitamente ligada ao sucesso do AGP e não faz sentido que quem aceitou uma série de “falcatruas” ou maquinações, arranjos de acomodação de interesses seja hoje seja simplesmente referido como “inconsciente”. Talvez grande parte dos defensores da intolerância governamental no tratamento do “Dossier Renamo” queira dizer que Dhlakama é “inconveniente”.
Agora que chegou a hora de disfrutar dos benefícios dos recursos minerais, pesqueiros e madeireiros aparece o mesmo “espinho inconveniente” do passado. Agora que face a incapacidade governamental de organizar a agricultura do país e que sabiamente os chineses trazidos pela cooperação estabelecida pelo governo da Frelimo e a China está promovendo aquela agricultura comercial desejada, aparece o mesmo estrovo de ontem a intrometer-se no que o queriam bem longe.
Mas voltando à mediação não é de duvidar que o papel apropriado que se deveria atribuir a Joaquim Chissano, pelo governo de Moçambique, seria de mediador ou conselheiro-chefe do governo em Moçambique, neste momento particular da história do país.
Em Moçambique há motivos mais que suficientes para se tratar com seriedade assuntos com potencial de provocar uma guerra real. Malawi e Tanzânia constituem um teatro em que as partes sabem de antemão que não é uma vitória militar que permitiria a exploração das reservas de petróleo encontradas no Lago Niassa, também chamado Lago Malawi. A urgência mora em Moçambique.
No diferendo Tanzânia e Malawi o mais provável será vermos “os cordelinhos” sendo puxados de Londres com condescendência de Washington.
Nomear um mediador que também é uma das partes interessadas no assunto em questão não parece ser muito inteligente.
Afinal uma parte do Lago Niassa também pertence a Moçambique e Joaquim Chissano é moçambicano. Ou isso não é verdade? As fronteiras herdadas naquilo que antes eram colónias estão se transformando em demónios que ressurgem quando menos se espera.
Há uma química que não cola nem joga entre os governos que fazem parte da SADC. Líderes de alguns países, com uma história de luta armada pela libertação de seus países, julgam-se alguns pontos acima dos outros que alcançaram a independência sem tiros. A Tanzânia neste contexto considera-se legitimamente a mãe de todos os movimentos de libertação da região. Angola, Moçambique, Zimbabwe, África do Sul, Namíbia, Uganda, Ruanda, Etiópia, Eritreia, quase todos estes países, devem a sua existência ou parte recente de sua história a estadia de alguns de seus mais proeminentes políticos nalgum campo de treinos de guerrilha na Tanzânia ou nos corredores de embaixadas e hotéis na capital tanzaniana.
Olhando para a proposta de mediação sob esse prisma Chissano não se pode qualificar como mediador porque tem influência activa recente dos tanzanianos, pois foi albergado, alimentado e apoiado pelos tanzanianos enquanto um dos dirigentes da guerrilha da Frelimo.
Se o governo do Malawi durante a guerra civil estava ligado a África do Sul do apartheid e eventualmente a Renamo, então temos um mediador sem aquela confiança que o Malawi necessita numa conversação com a Tanzânia sempre aliada de Moçambique dirigido pela Frelimo de Joaquim Chissano.
Com estes dados na mesa entende-se porque se deveria apostar em Joaquim Chissano em Moçambique para limpar as suas “fintas” no âmbito de um AGP que jamais foi integralmente cumprido.
Não estamos pessoalmente contra o cidadão mas estamos contra uma política de “fintas” que transbordou para a manipulação eleitoral, para a fraude, para a selvajaria institucional e o nepotismo.
Estamos contra “fintas” maquiavélicas transformadas em política activa pois disso o povo não colhe benefícios.
Esperemos clarividência e esclarecimento de quem se diz diplomata e que com humildade se entregue a tarefa de mediador entre dois países vizinhos que pode “atear o fogo” que já se faz sentir intermitentemente na República Democrática do Congo.
É possível acalmar ânimos e colocar a diplomacia em funcionamento de tal modo os cidadãos dos países da região sintam que seus governos estão realmente interessados em defender agendas centradas neles.
Os recursos minerais existentes e por descobrir devem ser utilizados em benefício dos cidadãos da SADC e não de equipas governantes, oligarcas e manipuladoras.
Não é tempo de falsos nacionalismos nem de defesa de agendas que podem atirar países para conflitos. As fronteiras coloniais devem ser respeitadas mas não são estáticas nem inamovíveis. Há que respeitar as dinâmicas geoestratégicas, políticas e económicas actuais sem esquecer que com guerra ninguém colhera benefícios. Os “incentivos” individualmente entregues, que podem ser acenados pela Surestream, companhia um acordo de prospecção e exploração de petróleo no Lago Niassa, significarão tudo?
Os limites actuais em termos fronteiriços quando respeitados podem servir para o desenvolvimento de todos os países.
Quem tem petróleo precisa de colocá-lo no mercado e nesse sentido precisa de estabelecer corredores de transporte que passam por vários países vizinhos. Ou não é?
É possível ganhar de várias maneiras, em paz e sem guerra...
Canal de Moçambique – 19.12.2012
 
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1 comentário:

Anónimo disse...

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