sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Comportamento de Nyusi segundo Manuel de Araújo


Ele pisca à Esquerda enquanto vai à Direita

Revista de Imprensa | Moçambique -De: "Savana"
Manuel de Araújo questiona a autoridade do PR
"NYUSI AINDA NÃO ASSUMIU O PODER"
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----->> Nyusi ainda é aspirante a Presidente da República
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----->> O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, disse, em entrevista ao SAVANA, que o Presidente da República (PR),
Filipe Nyusi, ainda é aspirante à Ponta Vermelha, pois ainda não assumiu as rédeas do poder..
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De: Savana [*] | Por: Raul Senda
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Beira (Magazine CRV) -- O entrevistado diz que, para que comece a dirigir como PR, Nyusi deverá ter controlo do partido e das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Nas linhas abaixo segue a entrevista onde o edil avalia a actual situação política e económica do país, o silêncio do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, bem como o seu desempenho no município de Quelimane.
SAVANA (S): No mês de Janeiro, Filipe Nyusi tomou posse como Presidente da República (PR). Qual é a sua avaliação partindo das expectativas criadas a partir do discurso inaugural comparado com os discursos subsequentes?
MANUEL DE ARAÚJO (MA): Tirando os gastos que faz nas visitas
presidenciais, do ponto de vista realista o Presidente Nyusi ainda é aspirante à Ponta Vermelha, pois ainda não assumiu as rédeas do poder.
Penso que foram os piores 10 meses de governação que um Chefe de Estado alguma vez teve desde a proclamação da Independência Nacional. Encontrou os cofres vazios, o país endividado, uma desvalorização acentuada do metical, foram-lhe impostos ministros, não dirige o partido, nem o Estado e muito
menos as Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Se pegarmos naquilo que são os poderes do Chefe de Estado estatuídos na Constituição da República veremos que, quando Nyusi assumiu o poder, metade deles já estavam esvaziados
como nomear PGR, nomear o Presidente do Tribunal Supremo,
do Tribunal Administrativo e do Conselho Constitucional entre
outros.
S: ...Quando diz que o Chefe de Estado ainda é aspirante à presidência, quer dizer que ainda não temos um PR de
facto?
MA: Na perspectiva idealista podemos afirmar que o discurso do Chefe de Estado na tomada de posse pode ter sido um dos melhores discursos alguma vez feitos por um PR desde 1975.
Foi um discurso onde cabiam todos os moçambicanos! Mas a sua materialização está sendo testada a cada segundo que passa e invariavelmente tem-se provado que a distância entre a teoria e a prática é muito grande.
S: Porquê?
MA: Para que comece a dirigir como PR, Nyusi deverá ter controlo da Comissão Política da Frelimo, do Secretariado do Comité Central, dos Primeiros Secretários Provinciais, dos Secretários Gerais da OMM, da OJM, e isso só poderá acontecer no próximo Congresso da Frelimo.
Nas FDS seria necessário tomar o comando efectivo nomeando um novo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e um Novo Comandante-geral da Polícia.
O grande dilema que Nyusi tem é que ele não tinha um projecto pessoal ou de grupo para chegar à presidência! Foi surpreendido com a sua vitória e teve de formar às pressas uma equipa de trabalho.
Sei disso porque já passei por uma experiência dessas e sei o quão é difícil montar uma equipa coerente e sintonizada.
S: Ainda não respondeu à minha questão. Se Nyusi é aspirante, então ainda não temos um PR de facto?
MA: Chamando as coisas como elas são, posso dizer categoricamente que ainda não temos presidente. Apenas temos
um estagiário que ainda não assumiu suas responsabilidades, ele ainda não exerce com propriedade aqueles poderes que estão estatuídos na Constituição da República. Ainda não sabe qual é o seu papel como estadista.
Qualquer Chefe de Estado teria preferido ir à reunião mundial sobre mudanças climáticas onde estavam Barack Obama, Vladmir Putin, Angela Merkel do que ir à Cimeira da Commonwealth, onde somos membros de segunda categoria. Nyusi trocou bugalhos por alhos. O mesmo aconteceu quando foi
a Angola.
S: Se Filipe Nyusi não é o verdadeiro PR, quem o é?
MA: O presidente Nyusi é que tem de nos dizer quem é essa pessoa que lhe dá ordens, porque o que está a acontecer equivale a um golpe de Estado na medida em que a pessoa que nós elegemos não está a comandar.
Em democracia quem dirige é quem foi eleito. Agora, quando existem outros que estão a dirigir sem terem sido eleitos isso é golpe de Estado e como moçambicanos não podemos admitir.
Perante este cenário o presidente tem duas opções, ou assume o poder ou entrega o poder.
S: Diz que que foram os piores 10 meses de governação que um Chefe de Estado alguma vez teve desde a proclamação da Independência Nacional. Também refere que encontrou os cofres vazios e um país endividado. Não será isso que está a contribuir para um desempenho negativo?
MA: Nyusi é que disse que o povo era seu patrão. Assim sendo, tem obrigação de vir explicar ao seu patrão a real situação do país. Explicar ao seu patrão que aquilo que prometeu não vai cumprir porque as condições não estão lá.
S: Como é que analisa a evolução dos discursos de Nyusi partindo do inaugural até ao momento.
MA: Incongruentes. Ele pisca para direita e vira para esquerda.
Na tomada de posse disse que a paz era sua prioridade. Tentou exprimir aquilo que lhe vinha na alma. Agora, o mal é que ele não está a ser honesto. Não está a cumprir com as suas promessas e nem diz nada aos seus patrões.
S: Na carta aberta que escreveu ao PR diz na componente inclusão que Nyusi disse que o povo era seu patrão e que no seu coração cabiam todos os moçambicanos! hoje vemos que afinal
de contas o seu coração é tão pequeno que só cabem os seus amigos, filhos e filhas deles, os amigos e familiares da sua estimada esposa, os amigos dos CFM, para além dos amigos do velho Chipande! Tem evidências desses factos?
MA: Se me trazer a lista dos membros do Governo vou lhe mostrar quem foi imposto por Chipande, por Guebuza, o
grupo de familiares da esposa e das suas amizades nos Caminhos de Ferro.
Aqui não estou a julgar o mérito ou demérito. Estou a questionar a forma de indicação para os cargos governamentais.
S: Como é que analisa a actual situação económica, sobretudo no que concerne ao comportamento da moeda nacional.
MA: Esta crise não é passageira, é uma crise estrutural porque o metical começou há muito tempo a desvalorizar-se só que
hoje exteriorizou-se.
O problema é que se nós tivéssemos reservas poderíamos artificialmente manter a taxa de câmbio que convinha aos cidadãos ou ao governo, mas o que está a acontecer é que não temos reservas.
Todas as nossas reservas foram desviadas para pagar dívidas da EMATUM, ponte de Maputo-Katembe, estrada circular de Maputo e tantas outras coisas que não trazem ganhos palpáveis
para o país.
Como levámos as nossas reservas para o pagamento das dívidas tivemos de recorrer ao Fundo Monetário e, nestas questões, o FMI tem regras claras e que condicionam a entrada de dinheiro.
O dinheiro do FMI tem muitos condicionalismos que até poderão pôr em causa a nossa soberania e auto-estima. Muita coisa que o governo gostaria de fazer de livre vontade já não poderá fazer
porque o FMI não permite.
S: Para dizer que a nossa auto-estima está hipotecada...
MA: Está hipotecada, o país está vendido porque perdemos parte da nossa autonomia/soberania.
S: Se fosse PR o que faria para reverter o actual cenário?
MA: Primeiro explicaria aos moçambicanos a situação real da nossa economia e pedir compreensão. Dizia ao povo que encontrei o país numa situação defeituosa, as reservas são estas e todos nós temos de apertar o cinto.
Depois procurava renegociar os empréstimos. Para tal é preciso ser honesto e corajoso.
S: E se o povo perguntasse o paradeiro das pessoas que levaram o país ao abismo...
MA: Esse é o primeiro passo. Se Nyusi fosse sério devia reconhecer o problema e procurar responsabilizar os possíveis
autores.
É bom lembrar que alguns dos empréstimos podiam ter sido feitos noutros bancos com juros menores. Agora, a minha questão é: porque foram pedir créditos em bancos com taxas de juro maiores. A resposta só pode ser uma: comissões.
S: O que é que Nyusi tem de fazer para mostrar que efectivamente está a exercer o poder?
MA: Um dirigente quando faz um discurso não é para o inglês ver. Os discursos são as suas linhas programáticas. Então aquele discurso tem de ser estudado e implementado a todos os níveis.
A decisão de um chefe de Estado é uma palavra de ordem, é para ser cumprida. Quando o presidente diz que quer paz é para que na mente dos Ministros do Interior e da Defesa, do Comandante-geral da Polícia, do Chefe de Estado Maior General, no partido Frelimo reine esta ordem e trabalhem para haver paz, porque ele é Comandante em Chefe das FDS, é o mais alto magistrado da nação.
O exército não se pode confundir com o parlamento onde há discussões e várias opiniões; no exército há um comando
que manda cumprir ordens.
Agora, quando um Comandante em Chefe toma decisões e não são cumpridas, há sanções claras e concretas. Se um presidente dá ordens e não são cumpridas e depois não há sanções temos
de procurar um outro líder porque não é aquele.
NYUSI NÃO ESTÁ COMPROMETIDO COM A PAZ
S: Qual é a avaliação que faz da actual situação política e militar e as possíveis consequências futuras?
MA: A situação político-militar é bastante tensa! Em Quelimane, diferentemente de Maputo, sente-se o cheiro nauseabundo e putrefacto dos corpos abandonados nas matas, vítimas dos recentes confrontos entre o exército e os homens armados da Renamo.
Em Tete, Tsangano e outras áreas, as crianças já não vão à escola! Temos já refugiados no Malawi e os bispos na sua carta descrevem bem o sentimento do povo, ao contrário daqueles que elegemos para nos representar!
S: Nyusi está comprometido com a paz ou não?
MA: O PR não está comprometido com a paz porque, caso contrário, já teríamos a paz efectiva. Ele é Comandante em
Chefe das FDS e estas é que se envolvem sempre em confrontos.
S: Manuel de Araújo foi uma das pessoas que acompanhou o assalto à residência do líder da Renamo na cidade da Beira, no dia 09 de Outubro. Também testemunhou o desarmamento da
guarda de Dhlakama. Explica-nos o que aconteceu fora do que foi tornado público.
MA: No dia 09 de Outubro estava na cidade da Beira a participar na reunião nacional sobre a terra. Por causa do problema dos voos tive de sair de Quelimane para Maputo e depois para Beira. No voo de Maputo à Beira viajei com os mediadores do dialogo político quando iam resgatar o líder da Renamo das matas. Durante o voo conversámos sobre muita coisa incluindo a paz.
No dia 09, a meio da reunião, recebi uma sms a dar conta do assalto à casa de Dhlakama. Cruzei a informação e concluí que era verídica. Tendo em conta a gravidade da situação já que podia desaguar num banho de sangue, abandonei a reunião e fui até ao local. Quando cheguei ao local encontrei a casa ainda cercada, os mediadores em telefonemas intermináveis. Explicaram sobre o sucedido e juntos procurámos opções possíveis para apaziguar o ambiente porque resolver não seria possível.
O grande problema que eles tinham é que não conseguiam falar com o Presidente Nyusi. Juntámos os esforços e conseguimos falar com uma pessoa próxima dele que nos disse que ele estava
num comício em Pemba –Cabo Delgado com o ex-presidente Tanzaniano, Jakaya Kikwete.
A pessoa próxima de Nyusi recomendou-nos a falar com o ministro Pacheco. Explicámos que não estava a atender as nossas chamadas e a pessoa disse: agora vai vos atender.
De facto ele atendeu a chamada e pedimos no sentido de intervir para desanuviar a situação para evitar-se o pior.
As negociações continuaram até que encontrássemos uma fórmula para desanuviar a situação.
De outro lado falou-se com o presidente Dhlakama no sentido deste fazer certas cedências. Ele aceitou, mas queria uma pessoa credível ao nível do governo testemunhar a entrega de armas à polícia.
Falou-se com a governadora Helena Taipo, aceitou a missão, mas condicionou a autorização superior. Entrou-se em contacto com o sistema e este autorizou que a governadora Taipo testemunhasse a entrega de armas.
S: Algumas correntes dizem que os mediadores sabiam da armadilha, outras não. Pelo que viu e testemunhou qual é o seu posicionamento?
MA: Não conheço muito todos os mediadores, mas aqueles que conheço, naquele caso pareciam surpreendidos, decepcionados,
tensos e preocupados. Se bem que sabiam então são bons actores.
Notei que havia um sentimento de que fomos usados.
S: Se o sentimento era esse, porque é que não apareceram a distanciar-se dos factos até hoje?
MA: Enquanto forem mediadores há coisas que não podem falar. Ser mediador é assim mesmo, tem de estar preparado para todo o tipo de coisas.
O SILÊNCIO DE DHLAKAMA É ESTRATÉGICO
S: Que comentários faz sobre a ausência e silêncio do presidente da Renamo?
MA: Como estratégia também podia ter feito o mesmo. Numa situação daquelas é extremamente importante o silêncio. Concordo plenamente com o silêncio dele.
S: Porquê e para quê?
MA: É uma questão de estratégia de luta porque ainda não terminou.
S: O silêncio dele não representa perigo para o país?
MA: Quem representa perigo são aqueles que o foram atacar, em sua casa. Imagine se tivesse respondido ao ataque; hoje estaríamos em guerra.
O silêncio dele não constitui nenhum perigo. Quem constitui perigo são aqueles que andam a perseguir.
S: Algumas correntes dizem que o presidente da Renamo esticou muito a corda. Recusou o encontro com o PR, mandou capturar o administrador e o comandante da polícia num distrito entre outros factos que levaram o Estado a fazer valer a sua autoridade.
MA: O jogo político tem uma premissa; enfraquecer o adversário e usar os meios disponíveis, mas em princípio deveriam ser meios legais em democracia para poder somar pontos.
A Renamo usou as armas que tinha. É verdade que há coisas que devem ser feitas com ponderação, como é caso de dar ordens para prender um administrador. Quando mandas prender um administrador o que é que isso significa? Será que o administrador cometeu um crime e depois como vais libertá-lo?
Isso poderia ser chamado de cárcere privado. Isso tem outras lógicas, mas o que quero dizer é que houve provocações de ambos os lados e o resultado foi aquilo que vimos, mas que não é isso que Moçambique precisa.
O que estamos a ver é que, dos dois lados, há alas duras que estão a tomar decisões e, quando as alas duras tomam decisões, a lógica que prevalece é a militar. Temos de desactivar o conflito, deixar que as alas duras descansem e potenciemos as alas da paz e da reconciliação nacional para que possam ser elas a tomar as decisões para o bem de Moçambique. Temos de olhar para o interesse nacional de Moçambique e não para o interesse de um lado ou de outro lado.
S: As regiões do centro e norte sentem o cheiro da pólvora, o que quer dizer com isto?
MA: Quando alguém está no 10º andar com ar condicionado e outro vive no primeiro andar ou rés do chão e há um caixote de lixo em frente quem sente o cheiro do lixo? Claro que é quem está próximo e nós como residentes de Quelimane estamos lá. Quelimane está próximo de Morrumbala. A produção de caixões e cruzes feitas nas carpintarias em Quelimane subiu e quem está em Maputo não sente isso.
Sabemos quando é que as câmaras da morgue estão cheias e isso são sinais desse conflito. Mas também temos familiares que são funcionários públicos (professores, enfermeiros, médicos e
entre outros) que trabalham nesses lugares e tivemos de recebê-los ou mesmo os seus filhos porque tiveram de fugir das zonas de combate para Quelimane. Quando tu estás próximo sentes o cheiro putrificado das carnes e as respectivas consequências.
Morrumbala é uma das fontes de abastecimento de Quelimane e com os tiros em voga os produtos começaram a escassear e consequentemente os preços sobem. As crianças pararam de ir à escola.
S: O jornalista Ericino de Salema escreveu um artigo dizendo que Nyusi não está interessado na guerra. As incursões militares têm por objectivo desviar os moçambicanos dos reais problemas do país. Comunga da mesma ideia?
MA: Acho que isso é uma teoria de conspiração. O que eu acho é que a economia não está bem, não está saudável. Porém, julgo ser estupidez começar uma guerra com cofres vazios.
É fácil começar uma guerra e difícil terminá-la porque pode chegar a um nível em que ao invés de esconder os grandes problemas como o da EMATUM pode agravar. Isto porque vai ser necessário alimentar militares, comprar armamentos e quando se prolongar a guerra os juros também vão subindo, porque até alguns podem te oferecer as armas mas não estão te a oferecer ou é como dizem os ingleses “não há almoços gratuitos”. Eles oferecem-te hoje mas amanhã vêm te cobrar quer a médio e longo prazo.
NÃO SOU AUSENTE, ANDO À PROCURA DE PARCERIAS
S: Manuel de Araújo tomou posse como edil de Quelimane em 2014 e, dentro em breve, vai completar dois anos. Como vai o cumprimento do programa?
MA: Estamos a 85 e 90% de cumprimento na medida em que conseguimos realizar algumas acções, mas continuamos com a consolidação das receitas e com as obras de construção de infra-estruturas. Tivemos alguns reveses devido à queda de algumas pontes como consequência das chuvas que caíram no
princípio do ano. Trata se de pontes metálicas colocadas durante o período de emergência que o orçamento municipal não tem capacidade de reposição. Estamos a negociar com a ANE, com o Fundo de Estradas e com o governo provincial para reposição.
S: Qual tem sido o grau de receptividade?
MA: Não constitui novidade para ninguém que a receptividade do Governador Adbul Razak tem sido boa. Discutimos a vários níveis sobre os percalços ou problemas que há e sempre temos
tentado procurar soluções consensuais. Quando há recurso há, quando não há, não há e neste momento o que nos falta é que nós ainda não efectuamos o pagamento do fundo do Programa de Redução de Pobreza Urbana (PERPU) porque este ano recebemos apenas metade do valor.
Anualmente recebemos cerca de 11 milhões de meticais para PERPU e, este ano, a direcção provincial das finanças disse que não tinha dinheiro e só nos deu metade. Nós não podíamos distribuir metade, vamos esperar até que se desembolse o valor na globalidade. Fiz uma carta às entidades competentes e continuo à espera da resposta do Governador, porque o adjunto do director provincial das finanças mentiu-me por três vezes.
Eu falei com ele pessoalmente e garantiu me que já havia feito a transferência dos valores, mas até ontem a transferência não havia sido feita. Temos dificuldades de trabalhar com dirigentes
que mentem.
S: Como vai a questão do lixo em Quelimane?
MA: Hoje a cidade de Quelimane é uma da mais limpas do país.
S: Qual foi o segredo depois de tanto tempo?
MA: Nos meses de Janeiro e de Fevereiro por causa das chuvas o lixo torna-se mais pesado e o local onde deitamos o lixo não é apropriado. Não há uma estrada para facilitar o acesso e os carros fazem muito esforço para lá chegar. Por causa desse esforço acabamos ficando com poucos meios, mas a grande batalha que tínhamos era de conseguir um lugar para o deposito de lixo.
S: A quantas anda o pagamento da taxa de lixo?
MA: A taxa de lixo é cobrada via parceria com a EDM e não temos nenhum problema até aqui, eles fazem transferências
adequadas.
A nossa maior preocupação é que falta um pouco de transparência porque a EDM não partilha connosco o número dos clientes cobrados, mas esse é um assunto que ainda estamos a discutir com a empresa.
O grande problema que temos é com o FIPAG, porque ficou cerca de um ano e meio sem fazer transferências e tivemos de meter o caso no CRA que é o Conselho de Regulação de Águas. Nós os três discutimos e conseguimos resolver. Assinamos um acordo, mas mesmo com o acordo o FIPAG não estava a transferir e tivemos de recorrer ao CRA novamente e nos últimos três meses a situação está a solucionar se.
S: Algumas correntes dizem que o edil de Quelimane passa mais tempo fora da autarquia. Pode comentar?
MA: Eu estou em Quelimane e faço meus trabalhos e as minhas planificações. Eu fiz uma promessa aos munícipes que é de tirar Quelimane do buraco onde está e, se eu ficar no município sentado, não vou materializar esta promessa.
O meu antecessor, Pio Matos, não conseguiu tirar o município da lama porque não saia de lá. Ficava todo o tempo na autarquia. Preciso de fazer parcerias para colocar Quelimane no mapa de
Moçambique, da região e do mundo para podermos atrair mais investimentos.
Quem é o cidadão que está disponível a colocar empresas em Quelimane ou nos dar dinheiro para investir e atrair as pessoas para poderem ir para lá.
Esta quarta-feira estive a almoçar com a embaixadora da Suécia onde falei dos problemas da cidade de Quelimane. Ela estava com o representante especial do primeiro-ministro Sueco e acredito que quando estiver a falar com homens de negócios vai mencionar o nome da cidade e um dia pode nos ajudar em alguns assuntos, não vinha passear, vinha tratar de assuntos da cidade. Antes Quelimane era conhecido pelos buracos e lixo, aliás, por vender ratos e não quero que o meu município seja conhecido por isso.
Quero que seja conhecido pela boa gestão e resolução dos problemas dos que nos elegeram. Posso dizer que em 2016 não saio de Quelimane, vou receber todos os munícipes, mas quando vêm querem ajuda e onde é que vou tirar o referido dinheiro? do meu bolso? Posso ir à bancarrota. Preciso de ir buscar empresários, ONG e empresas para investir na nossa cidade porque capacidade local não há.
Já criei uma equipa, temos meios e trabalhamos por isso sei o que está a acontecer mesmo longe. Esta quinta-feira todo Moçambique, África austral e Portugal vão ouvir falar do município de Quelimane porque o presidente do município de Quelimane foi convidado para participar de um fórum em Maputo.
São poucos os edis que são convidados para esses fóruns como oradores e vamos dar a nossa visão e nossa experiência de gestão, quando terminar a minha apresentação vou a Paris participar da conferencia mundial de mudanças climáticas e, mais uma vez, vou apresentar o caso de Quelimane, a sua experiência na gestão das mudanças climáticas. Vamos partilhar a nossa experiência e colher as dos outros. Se as pessoas não estão satisfeitas com isso só posso dizer que é inveja, mas se os
munícipes disserem para eu parar, vou cumprir. (Redacção)
[*] Semanário SAVANA-1143.pdf, 4/12/15

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