sábado, 4 de janeiro de 2025

Em nome do povo

 

Em nome do povo
Nos últimos dez anos, Moçambique perdeu uma excelente oportunidade de demonstrar aquilo de que a democracia é capaz: não importa se o líder está à altura do cargo, se quem o colocou lá assume a sua responsabilidade como membro dum partido e cidadão, tudo termina bem. Isto corresponde a um princípio democrático básico: é preciso controlar quem governa. E esse controlo começa no interior do partido, continua nas instituições que garantem a separação de poderes e culmina lá onde o cidadão assume a sua obrigação de interpelar criticamente. É mais fácil dito do que feito. Interesses, medos e, acima de tudo, a dificuldade que nós os humanos temos de ouvir opiniões diferentes das nossas, sempre podem interferir e inviabilizar esse princípio.
É o que aconteceu connosco. Passámos momentos embaraçosos a tentar explicar a pessoas conhecidas fora do país que os moçambicanos são pessoas normais e que o presidente que tinham reflectia o seu respeito pelo princípio segundo o qual qualquer pessoa pode ser presidente. Dizíamos isto na esperança de que não fosse levado ao pé da letra. Sempre critiquei a governação destes últimos dez anos – no exercício da minha cidadania – mas depois de inicialmente ter concentrado a atenção no seu líder apercebi-me que ele não era o problema. O problema era o seu partido, principalmente os muitos membros decentes que tem nas suas fileiras e que em nome duma misteriosa coesão estavam dispostos a ver os princípios e valores que a Frelimo representava serem arrastados na lama.
Ainda hoje, no meio do caos que praticamente se instalou, muitos continuam calados à espera que o líder faça alguma coisa. Nenhum deles se lembrou, por exemplo, de “organizar” a população para a protecção da ordem pública nos bairros com recurso às células do partido que me parecem em maior número do que instituições do Estado. Só existem para organizar marchas de saudação. Quando a história de 2024 for escrita, alguns capítulos terão que ser dedicados a analisar uma característica curiosa da nossa forma de estar na política: nós seguimos até ao abismo para culparmos o líder. Depois, ao invés de questionarmos o nosso seguidismo, procuramos por um novo líder até que ele também nos leve ao abismo.
Isto pode ter a ver com a enorme dificuldade que temos de separar princípios e preferências. A nossa acção política não é a negociação entre aquilo que só dificilmente pode ser violado (princípios) e os nossos afectos (preferências). Entre defender o meu partido (preferências) e defender a integridade física do cidadão (princípio), se o meu partido me disser para violar a integridade física, eu vou fazer isso. Não é que seja fácil decidir. Mas é isso que torna a vida política excitante. E o que nos ajuda a negociar essas duas coisas é o sentido crítico. Não é prudente fazer política sem sentido crítico. Se quero fazer política tenho que saber até onde estou disposto a ir. Se o critério for a defesa de preferências, eu não sou parte da solução, mas sim do problema.
O que talvez dificulte esta negociação é uma narrativa básica da nossa política. Consiste na ideia de que tudo o que for feito em nome do povo é bom. Apesar de sabermos que todos os partidos fazem o que fazem em nome do povo, nunca nos veio à cabeça procurar saber em que sentido é que cada um de nós valoriza realmente o povo. Quem ganha é normalmente aquele que marca pontos do ponto de vista material ou que consegue emocionalizar os assuntos. Até aqui, dominava o “em nome do povo” da Frelimo pela via material. Mas como o bolo disponível para a partilha diminuiu consideravelmente, quem está de fora – e são muitos – torna-se presa fácil para o “em nome do povo” emocional.
É este “em nome do povo” emocional que está por detrás do caos instalado. Tudo o que se faz ou se propõe fazer, seja destruição, obstrução, agressão, saque, incêndio, insultos, etc. justifica-se “em nome do povo”. Acrescenta-se a isto, e infelizmente, um fervor característico de certas formas evangélicas radicais que reduzem todo o mal ao “diabo” que precisa de ser expurgado e exorcitado.
O diabo podia ser um pobre coitado, mas na narrativa de quem fala “em nome do povo” ele ganha proporções malignas astronómicas. Isso acontece porque o próprio discurso político consiste em construir esse diabo. As várias referências à “Lucifer Ribeiro” (do Tribunal Constitucional), ao “demônio Matsinhe” (o Bispo chefe da CNE), as “fake-news” que circulam por aí sobre petições ao tribunal penal internacional para a proibição da Frelimo, a forma pouco respeitosa como políticos falam sobre os seus adversários políticos, tudo isto faz parte da demonização como instrumento político.
Mas o que interessa nem é tanto o estado mental dos políticos que fazem isto. É o abandono paulatino e consciente da razão por parte dos seus seguidores. É, numa versão mais radical e intolerante, o mesmo filme que foi protagonizado pelos membros da Frelimo.
Quando alguém, por exemplo, “decreta” novas eleições ou, já agora, a substituição da bandeira nacional o que quem o segue devia reflectir não é se isso faz sentido. É se é democrático alguém simplesmente decretar aquilo que veio à sua cabeça sem nenhum processo deliberativo entre os seus seguidores. Quem luta pela democracia no país devia ter esse princípio mais em mente do que a preferência pelo seu líder. Que, pelo contrário, os seguidores apareçam a aplaudir, racionalizar ou simplesmente que não mantenham um silêncio discreto diz muito sobre a encruzilhada em que nos encontramos como nação. Continuamos a ser os nossos piores inimigos e tudo isto por medo da cidadania.
Veio-me à cabeça a rebelião de Muenster, uma cidade alemã, no século XVI. Foi liderada por uma seita protestante chamada “Anabaptista” – que, entre outras coisas, baptizava adultos. Consumida pelo ódio que nutria pelo Catolicismo e tudo que se parecesse com compromisso com ele, a seita ocupou a cidade durante um ano e instalou um reino de terror. Uma das suas crenças consistia na ideia de que a violência contra quem não pertencesse à seita era legítima. José Saramago tem uma peça de teatro “In Nomini Dei” que retrata esta rebelião de forma ficcionalizada. Encontrei uma citação na internet, cuja fonte é atribuída ao Diário de Notícias de 9 de Outubro de 1998 – a peça é de 1993 – que reproduzo aqui por dizer tudo:
”Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida?” Não faz sentido? “Se os cães tivessem inventado um Deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d’Alsácia? E no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado do seu canino Deus?“ Estas considerações podiam ser tomadas como ofensivas, mas José Saramago trata de se defender: “Não é culpa minha nem do meu discreto ateísmo se em Münster, no século XVI, como em tantos outros tempos e lugares, católicos e protestantes andaram a trucidar-se uns aos outros em nome de Deus – “In Nomine Dei” – para virem a alcançar, na eternidade, o mesmo Paraíso.” “Os acontecimentos descritos nesta peça representam, tão só, um trágico capítulo da longa e, pelos vistos, irremediável história da intolerância humana”, explica o autor. “Que o leiam assim, e assim o entendam, crentes e não crentes, e farão, talvez, um favor a si próprios. Os animais, claro está, não precisam.”
O silêncio cúmplice dos membros decentes da Frelimo trouxe-nos até aqui. Talvez fosse o seu medo de não só perder oportunidades como também perder o que já tinham acumulado. Não sei. A nova tirania que se anuncia “em nome do povo” tem, talvez, uma tarefa mais fácil. É só reconhecer que por causa da sua preocupação genuína por um país melhor se deixou enganar por uma pessoa que cada vez mais se revela um charlatão. Isso é menos doloroso do que um dia vir a admitir que pela sua cumplicidade deixou que aquilo pelo qual achava lutar se desmoronasse.
É o meu desejo para 2025 porque apesar de tudo acredito no bom senso das pessoas.
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Lyndo A. Mondlane
Interesante prof
O penúltimo parragrafo...
Aquí chamám encantadores de serpentes ou "cantamañanas" ou o contó da Leitera
Ha pessoas adultas que ainda nao captarán isso
Outras ja estao a perceber
Bom 2025
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Pascoal Bié
É muita lucidez para um “dia 31”!!
Muito obrigado, professor.
Votos de um feliz 2025.
Reginaldo Ernesto Massango
A demonização como instrumento político. Sai um paper aqui Prof. Muito obrigado. Boa transição de ano.
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Adérito Mariano
Infelizmente, muitos temos o princípio de que virá um "Messias" para resolver os nossos problemas. O mais difícil continua a ser a dificuldade de identificar o problema. Que alternativa credível e melhor existe para a actual situação em Moçambique é a principal pergunta que levo para 2025, em relação aos meus irmãos do Índico?
Manuel Matola
Texto interessante mas peca, sobretudo, pelo seguinte: a insistência do Professor Elisio Macamo na ideia de existência de "membros decentes na FRELIMO". Essa figura já não existe. É como a convicção da utilidade e importância da chamada classe média. A actual classe média é inútil para o modelo de sociedade que se pretende construir. Tal como os putativos "membros decentes", a apelidada classe média tem sido utilizada para manutenção de um grupo que sabemos que está a destruir a democracia. Sejamos honestos: não há uma só figura na FRELIMO que se tem oposto a essa situação de forma sincera, tirando Hélder Martins. Alguém acredita que haverá deste pretenso grupo de "membros decentes" quem irá se desvincular da FRELIMO por discordar do roubo de votos e assassinatos?
É essa classe média que queremos? Não. Há decência nisso? Negativo.
Dir-me-ão: Há muitos que não se venderam na FRELIMO. Eu desafio que me apontem nomes de dois. Apenas dois. Há decência nisso? Não.O nosso erro colectivo está na crença de que vivemos num lugar normal. Não, não vivemos. Há uma pergunta que se impõe sempre que debato a situação do país: como é que um pai ou uma mãe (já agora decente) explica, de forma honesta, a um filho ou uma filha menor de 10 anos o que se passa em Moçambique?
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Paula Martins respondeu
 
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Tony Domingos Bulacho Bulacho
Infelizmente, o " diabo tem poucos crimes que o santo Bernadino Rafael, talvez estejamos errado porque não temos a possibilidade de ver Moçambique de fora, mas ca dentro vemos e sentimos na pele.
As manobras políticas que a Lúcia Ribeiro tentou fazer com os representantes políticos( o que é incostitucional), a sua decisão ilegal estatítica e constitucionalmente (descrêpancia de números e tirar votos a um partido pra o outro) .
As mentiras simuladas de Nyunsi sobre o diálogo na busca de soluções no conflito pós-eleitoral, a ausência da PGR, a inexistência da assembleia da república no conflito da-nos a entender cá em moz que temos mais mil diabos a frente do outro diabo. Aliás, nesta posição que o diabo está de combater o regime, merecem mais adjectivos sujos do que este que estamos a usat aqui " diabo", pos, pela experiência chamamos Dhlakama de diabo, depois hoje pregamos ser democráticos, sistema este que um diabo obrigou-nos usar depois de 16 anos, nós negando. Será que nós somos democratico?
Antes de considerar o actual adversário de diabo, analisemos, o Dhlakama. Ele é ate hoje diabo!? Ou deixou de ser no dia que aceitamos o que ele propunha (sistema denocrático!?) ou ele deixou de ser diabo porque morreu?
Se ele é/foi diabo, será que nós somos democraticos? o que seriamos sem a luta daquele diabo? Será que é verdade que a partidão está sempre certo a culpa da desgraça é o diabo? Estamos a ser cepticos de mais não acha prof.?
O Partidãi perdeu confiança do povo, ponto final, as causas são invontaves, não há argumentos suficientes que possam covencer a maioria dos moçambicanos que a culpa da desgovernação, corrupção, desgraça, indemocratização, partdarização de tudo (não so do estado) que um outro que não seja o partidão.
O actual diabo, é o político mais democrático, mais aberto, que acolhe todas as sensibilidades da sociedade Moçambicana. Desde os tempos como deputado, candidato as munincipais ate hoje como candidato a presidência da república, porém ele como o jogador em acção está propenso a muitos erros pela pressão social que sofre, e claro, temos muitos académicos na claque a espera de algumas falhas do diabo pra fazer estudos sociológico como coisas inexplicaves, enquantos nas instituições do estado a serviço do partidão pode sair mil estudos por semana que podem ate ser considerado sociologicamente como casos inexplicaves mas os proprios sociológos por razão fora da ciência, provavelmente a mando do partidão ou por algum interesse pelo partidão esperam, falhas do diabo.
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Ricardo Xavier respondeu
 
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Gerson Mechisso
Não deixeis cair em charlatães!
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Ntumbuluka Mucavele
"Enquanto não me afectar de forma directa, o problema ainda não é meu."
Os mesmos membros decentes, no dia que se sentirem em perigo, deixarão de ser "decentes" se assumirmos que a decência deles deriva da capacidade de abster-se de promiscuidades e outras atrocidades.
Sobre o assunto da bandeira e tudo a volta, voltamos aquele pensamento "..qualquer coisa/um serve, menos eles."
Num outro post, o Prof fala de falta de respeito com um dos maiores problemas que temos, me parece que a este, acrescenta‐ se o elevado nível de intolerância da nossa sociedade. Este problema galgou os muros da academia, agora é generalizado, por isso, todos os que questionam a legitimidade das novas eleições (06 e 07/01), alteração da Bandeira, entre outras medidas anunciadas, não servem para a causa, e sem entender, desvirtuam a CAUSA de uma luta que começou democrática mas hoje "pariu" sinais de total anarquia e extremismo.
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Dereck Mulatinho
Interessante e votos de um bom ano Professor.
Alcídes André de Amaral
Eu também ainda no bom senso das pessoas, até com a possibilidade de serem lembradas da sensatez quando a "realidade" se impõe. Bom final de ano um próspero 2025... Com condições melhores para o nosso país.
Armistício Mulande
Excelente abordagem, como sempre, Professor Elisio Macamo. Eu, particularmente, estou numa encruzilhada: não compreendo como é que a Frelimo chegou até aqui...e muito menos como é que a um sujeito que, claramente, não tem nada para oferecer, é lhe dado uma importância sem limites, por muitos dos nossos compatritotas.
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Elisio Macamo respondeu
 
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Raul Junior
Professor Elísio Macamo ainda paga quotas dentro do Partido? Tem participado nas sessões das células? Uma excelente transição para 2025. Nada de queimar pneus.
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Joaquim Nhampoca
Caro Professor, achei bastante interessante a reflexão que faz e as questões que levanta. Quer de cidadania quer em relação aos membros considerados íntegros do Partido FRELIMO. Já questionei-me sobre o silêncio, em vários momentos, e algumas aparições destes membros algo extemporâneo (depois do burro morto). Não será que alguns ainda continuam reservas morais apenas no nosso imaginário enquanto no seio já perderam a voz e o respeito? Ou então, como diz, alguns devem estar mais interessados na defesa de interesses particulares e mordomias (basta comer). Outrossim, fiquei muito indignado ao longo destes anos com os acadêmicos (analistas) capturados que de tudo fizeram para defender o diabo (tudo quanto não esteve bem no país) até no inferno. Isso me fez lembrar o Sermão de Santo Antônio aos Peixes do Padre Antônio Vieira.
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Joaquim Nhampoca respondeu
 
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Marcos Sinate
Professor Elisio Macamo, bem bem quem são esses "membros decentes" que são silenciosamente cúmplices? Parece haver contradição. Penso que a partir do momento em que alguém se torna cúmplice de algum acto ou de alguém, automaticamente perde a decência no sentido de que já não respeita os princípios éticos da política e nem da sociedade, embora tenha conhecimento dos mesmos. Um indivíduo que se diz decente, mas exerce a política com base em preferências e não princípios não merece esse adjectivo (decente). Há polícias "decentes" que assistem os outros a violar os direitos dos cidadãos e nada fazem para o impedir. Onde está a sua decência?
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N'tini Kwango Baule respondeu
 
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Tony Domingos Bulacho Bulacho
Veja a tarefa do seu partido prof. Mentir.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, telefone e a texto
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Quinito Júnior De Sousa
Muito lúcido mais velho
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Rui Costa
.....tudo começa no interior do partido, como se os aros das "lindas janelas" nada tivessem a ver com os alicerces.
Feliz Ano Professor , keep going e obrigado pelo esforço.
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Chacate Joaquim
Simpre bati-me com os apelos ao Muti!
Ficou anormal dentro da FRELIMO apontar o erro e propor ideias além do Partido como se todo o membro da fizesse parte de algum órgão.
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José Pinhão
É preciso rever os conceitos para reconhecer quem tem enganado a população durante quase meio seculo:
Charlatanismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
PT.M.WIKIPEDIA.ORG
Charlatanismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
Charlatanismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
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José Pinhão
Imaginem se os militares em Portugal não tivessem desrespeitado as instituições em 25 de Abril de 1974! Ou se o regime se tivesse oposto à revolução, até hoje talvez estivessemos à espera de reformas...
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Ruby Kandinsky
Professor, quais membros decentes !? Os famigerados que tem “ impérios “, como conseguiram tais bens!? Não existem instituições precárias como defendem… não temos nada Professor. Por favor, conheça o Moçambique real, para não cair nestas peripécias, dois anos no terreno é suficiente, província por província, Distritos, localidades, postos administrativos… usando a via terrestre. Estamos a dizer que moçambicanos estão a morrer diariamente pela fome, só a realidade drástica que existe na n1 já elucida qualquer um. O professor anda a usar poesia para descrever Moçambique, como se o mesmo fosse um país em acessão, este país regrediu conforme estudos feitos, a pobreza aumentou. Vamos parar de romantizar as coisas…
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Armistício Mulande respondeu
 
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Xavier Uamba
Sol Macie boa leitura. Um abraço
Manuel Macia
Certo Proff.,
Mas agora, nesse raciocinio da responsabilidade do lider ou da a organizacao que o suporta, e a possibilidade de questionar se o lider, dentro da ideia de que o lider sabe melhor e quer fazer o bem (e so quer fazer o Bem), levantares a pissibilidade de o lider "preparar o terreno" colocando gente (militantes) doceis... claro, a ele?...
Elisio Macamo
Manuel Macia, esse problema não se coloca em minha opinião. a co-optação é sempre de alguns, logo, todos os,outros que não foram co-optados têm a responsabilidade de assumir as suas obrigações como militantes.
Manuel Macia
Elisio Macamo, sendo menor o problema de arregimentacao (aquele acto intencional de colocar/mandar "eleger" membros que nao vao se opor a nada, senao fazer o coro favoravel as decisoes do chefe e, claro esta, afastando outros potencialmente criticos) so me resta concordar contigo no argumento de que vemos, como sociedade, que o chefe so esta bem intencionado ele so pode fazer o bem...portanto, demetimo-nos da nosso exercicio pleno de cidadania que consiste, entre outras coisas, interpelar o chefe incluindo os circulo dos que o cerca.
Elisio Macamo
Manuel Macia, é isso. há aqui um problema de carácter que a filosofia moçambicana precisa de estudar. noto uma certa tendência entre nós para não assumirmos responsabilidade pelo que fazemos. tudo o que está mal é sempre culpa dos outros, os outros fizeram-nos fazer o que não se deve fazer, etc. aposto que na perspectiva de cada moçambicana e moçambicano o país estaria bem melhor se todos fossem como ela ou ele. mas somos os mesmos que violamos regras, tratamos outros mal, etc. temos um longo caminho a percorrer.
Manuel Macia
Pois...
A cultura de culpar o outro esta bastante enraizada...uma vez, tu proprio, ja exploraste o fenomeno das "desculpas"... Eu, ate, tenho vindo a pensar de o habito de culpar tudo ao "feiticeiro" nao tem sido o prolongamento dos nossos compirtamentos...Nos somos sempre vitimas...
Chrisler Assane
Aprendi (mais) do professor saber valorizar a vida e respeitar a dignidade humana. Porém, fico estarrecido ao ver (salvo equívoco), nos últimos dias, as suas abordagens ignorando na totalidade esta realidade. Muitos moçambicanos foram vítimas de baleamentos durante as manifestações e, em contraste disso, fala das destruições de bens materiais. Triste!.
Elisio Macamo
Chrisler Assane, obrigado por me recordar isso. de facto, gosto de pensar que quando faço comentário político encontro coerência na defesa da dignidade humana. por causa disso, o seu comentário deixa-me intrigado. a minha ideia de dignidade humana está alicerçada na rejeição do princípio segundo o qual os fins justificam os meios. isso vale para quem eu apoio e para quem não apoio. é nesse ponto que as minhas preferências têm que ceder o lugar aos princípios. desde que começaram os protestos condenei a violência policial desproporcional. cheguei mesmo, e de forma repetida, a exigir a demissão do comandante geral d polícia e do ministro do interior. fiz isso aqui no facebook, na televisão e em todos os outros lugares onde me pronuncio sobre esta matéria. mas quando me apercebi que a destruição (para reconstruir) é também um dos objectivos dos protestos, incluíndo a coartação dos direitos e liberdades fundamentais dos demais, comecei a criticar isso também. nos três últimos posts aqui publicados a minha preocupação tem sido de mostrar que nenhuma luta pela democracia ou por seja o que for se justifica se ela implica fazer mal aos outros. e estes protestos estão a fazer mal a todos nós, incluindo a quem neles participa. da mesma maneira que não fico em silêncio quando vejo o governo a violar a dignidade humana, falo quando são os outros. e o que me assusta nisto é a desumanização que este modo de fazer política implica assim como o recurso à demonização do adversário político. portanto, o seu comentário intriga-me bastante e gostava de entender como chegou à essa conclusão. dignidade humana não é apenas não ser baleado ilegalmente pela polícia. é não ter os seus direitos de circulação, expressão, atendimento médico, trabalho, etc. sacrificados por quem acha que a sua luta vale mais do que os outros pensam. talvez à diferença de algumas pessoas por aqui, não vejo as coisas de forma polarizada. até porque os “mavenâncio” estão cada vez mais parecidos - senão mesmo piores - que a frelimo que tanto diabolizam. essa não é a minha luta. não luto contra ninguém, luto por um moçambique melhor e isso só vem do respeito pela dignidade humana.
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Chrisler Assane
Professor, entendo. É na base do seu entendimento sobre a dignidade humana (e aqui bem explicado) que eu sempre aprecio nas linhas dos teus textos e nutro. Contudo, parece-me pouco (in)coerente na medida em que o prof. procura chamar mais atenção (nesta situação) para as destruições do que para as mortes. Isso preocupa-me muito! É verdade que as manifestações violentas são condenáveis em qualquer quadrante do mundo, mas, destruir a vida humana é um acto mais condenável do que qualquer um. Prontos. Obrigado prof. pela aula.
Elisio Macamo
Chrisler Assane, acho que não entende, mas não é grave.

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