terça-feira, 11 de abril de 2017

E a Nossa Agenda?


Por: Armindo Chavana, jr
Aplicar 1% do PIB em infraestruturas, segundo o Fundo Monetário Internacional, resulta, grosso modo, num crescimento de 0.4% no primeiro ano, e 1.5% nos quatro anos subsequentes.
Entre 2005 e 2014, período de maior investimento em estradas e pontes no nosso país, o governo moçambicano construiu centenas de quilómetros de estradas e novas pontes, entre pequenas e de grande porte.
O que nos impede então de reflectir esse investimento no nosso crescimento sócio-económico, dinamizando novas cadeias de valor, multiplicando rendimentos e mais-valias?
Olhemos o exemplo da Macaneta. Hoje ela liga-se ao continente por estrada. Situa-se perto de um centro urbano com quase dois milhões de habitantes. Tem uma praia propícia à práctica da motonáutica e outros desportos radicais de alto rendimento, de nível internacional, mas o que é feito dela? Continuamos à espera de investidores estrangeiros para construírem hotéis e resorts, cobrando os bookings (de ocupação e transporte) a partir da África do Sul, e nós? (há iniciativas turísticas de muito valor na Macaneta, mas ainda insuficientes, considerando o potencial).
A última edição do programa “Moçambique em Progresso” do jornalista Augusto Levy, da TVM, mostra as capacidades do país e dos moçambicanos (embora em ponto menor), na área agrícola. Com a paz e uma gestão mais criteriosa dos impactos adversos das calamidades naturais cíclicas, Moçambique só pode depender de si próprio. Os nossos parceiros de cooperação são fundamentais, mas não os podemos, reiteradamente, encarar como uma questão de vida ou morte.
A essência da educação colonial, e do colonialismo, cujas sequelas continuam hoje (embora disfarçadas numa nova agência) foi precisamente incutir-nos a crença de que precisamos de ser salvos por alguém, nomeadamente europeu, e preferencialmente branco. Que sem esse alguém nós somos uma fatalidade per se, sem capacidade de livre arbítrio, ou de pensar e conceber um destino próprio. Todas as grandes iniciativas visando uma abordagem mais estrutural da nossa economia e do nosso desenvolvimento (pensadas por nós mesmos) são impiedosamente combatidas e apresentadas como desnecessárias: a circular e a ponte da Catembe, a proteção costeira, e o aeroporto de Nacala, (citando apenas exemplos mais mediáticos).
Argumenta-se que o problema é a dívida que as sustenta, que está muito acima do nosso PIB mas, foram factores conjunturais universais que provocaram esse grande desequilíbrio orçamental: veja-se os países produtores de petróleo (incluindo a Noruega) que saíram de quase 112 dólares o barril para menos de 48. As economias com uma estrutura de reservas mais robusta também sofreram (a libra esterlina que estava na proporção de 1 para 2 em relação ao dólar norte-americano, está neste momento em quase paridade, e com tendência de queda). A Espanha e a Itália também ultrapassaram a fasquia psicológica dos 100% de dívida pública vis-à-vis o PIB, mas nem por isso acabaram ou faliram como projectos sócio-politicos, configurados em estados. Moçambique pode transformar a presente crise em oportunidades, desde que se livre do evangelho da maldição, aposte no amor-próprio, combatendo a perspectiva que lhe impõe uma equação do seu destino só com factores fora do seu domínio, e isso a começar pelo governo, e identifique mais claramente os seus principais desafios. Fica difícil perceber como não consideramos a guerra imposta pela Renamo e as calamidades naturais que vêm assolando o nosso país, como os nossos maiores problemas neste momento. Não podemos crer que o Estado ruiu só porque o FMI retirou a sua ajuda ao orçamento. Na província de Manica já são cinco os distritos que precisam de coluna militar. Na verdade o nosso problema principal é esse Estado “hobbesiano” que determinados segmentos fomentam no nosso seio. No século XVII o filósofo Thomas Hobbes descrevia uma sociedade que evita qualquer tipo de governo, vivendo numa selva bruta e perigosa, e com rendimentos muito baixos. Se percebermos que a paz é a nossa grande salvação, vamos perceber que dossiers, na verdade, só nos distraem e atrasam. A África do Sul (e não se confunda isso com uma apologia ao apartheid) desenvolveu-se e manteve-se como uma grande potencia económica numa situação de grande isolamento internacional porque soube definir os seus caminhos, contando, em primeiro lugar, consigo própria.(x)
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6 comentários
Comentários
Ivo Neto Costa Eventualmente o FMI so deve ter sugerido....a construcao d infra estruturas sem dinheiro tem sido feita em concordancia com os parceiros. Essa e realidade. A minha opiniao , a boa governacao sugere transparencia, credibiliddade nos accionistas do estado ( nos os mocanbicanos) e fundamentalmente fim das desconfiancas dos credores. A nossa agenda so pode ser execuivel se for AO encontro dos reais interesses dos mocanbicanos , assente no desenvolvimento e promocao d bem estar. Nao ha FMI nem Banco Mundial q decidam em detrimento dos mocanbicanos e Mocambique
Armindo Chavana as prioridades säo o nosso próprio plano, e as nossas próprias forças, num ambiente de paz!
Ivo Neto Costa A O trabalho arduo associado a planificacao criteriosa e embalada pelo rigor Sao instumentos d sucesso Chavana so os Mocambicanos e q podem arrumar a casa os amigos e outros so e so podem ser consultados
Yolanda Arcelina "Todas as grandes iniciativas visando uma abordagem mais estrutural da nossa economia e do nosso desenvolvimento (pensadas por nós mesmos) são impiedosamente combatidas e apresentadas como desnecessárias: a circular e a ponte da Catembe, a proteção costeira, e o aeroporto de Nacala, (citando apenas exemplos mais mediáticos)"....sera ?? parece-me que uma grande parte das criticas advem principalmente por essas grandes iniciativas terem caido de certa forma de "paraquedas" por exemplo em relacao a circular a falta inicial de um estudo de impacto ambiental e tambem os valores envolvidos comparados com outros investimentos (ja agora nao tenho em mente se alguma vez se investiu 1.3 billios num projecto estruturante no sector de agricultura ). Nao me lembro tambem de criticas sobre a construcao da ponde sobre o rio Zambeze vital em todos os sentidos . Hoje pode-se ate "desconfiar" das posicoes do FMI e outros parceiros mas nas ultimas decadas foi principalmente com os recursos provinientes dessas instituicoes que " , o governo moçambicano construiu centenas de quilómetros de estradas e novas pontes, entre pequenas e de grande porte" e normalmente tendo em conta os programas do Governo e suas prioridades. Nao sendo tambem opologista, tenho as minhas duvidas se "orgulhosamente sos" como diziam ja em desespero os fascistas portugueses nos ultimos anos de colonizacao, seja a solucao....
Armindo Chavana Concordo consigo. Penso, porém que devemos problematizar as nossas questöes mais construtivamente, sem obviamente deixarmos de criticar desvios, ou exigir responsabilizaçäo.Chegamos onde chegamos com a ajuda dos nossos parceiros mas precisamos de fazer muito mais por nós próprios. Näo é orgulhosamente sós, é aprendermos a contar com as nossas proprias forças, criativamente, numa situaçäo de isolamento que näo sabemos quanto tempo pode durar. Quanto a tudo o resto, prefiro acreditar que as heresias de hoje, podem ser o evangelho de amanhä.
Hermes Sueia Amigo Chavana concordo contigo. O nosso principal problema é a guerra. Para além da guerra outro grande problema nosso é a corrupção que engole grande parte dos recursos que deviam ser canalizados para investimentos produtivos. Não se pode falar de combater a fome quando considerável parte dos milhões de produtores rurais não podem produzir devido à insegurança que afecta as zonas mais produtivas do país e corta as ligações de mercado. Não se pode fazer (re) ajustamentos estruturais ou planificar atracção e crescimento de investimentos quando é a Kalashinikov que dita as leis.É urgente parar a guerra para que logo-logo os mercados voltem a reconquistar confiança............parando a guerra tudo voltará paulatina e seguramente à normalidade. Nessa altura a principal guerra será o combate efectivo à corrupção. O recente caso de desvios de fundos no FUNDO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO é por demais elucidativo da gravidade da situação........um fundo que devia ser o principal instrumento financeiro de apoio à agricultura em condições bonificadas foi dilapidado ao longo de vários anos e ninguém viu.....................é impossível crescer neste contexto.
Armindo Chavana Perfeito. Este país pode ser todo ele igual, nas mais diversas frentes, à foto que hoje postaste retratando uma paisagem agrícola da alta zambézia.
Hermes Sueia Sem dúvidas mano Armindo........a curto prazo. Repito a curto prazo...................
Elisio Macamo reflectir a crise é um pouco isto. mas os que usam palavras que pensam por si não dão trégua.

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