Por: Armindo Chavana, jr
Aplicar 1% do PIB em infraestruturas, segundo o Fundo Monetário Internacional, resulta, grosso modo, num crescimento de 0.4% no primeiro ano, e 1.5% nos quatro anos subsequentes.
Entre 2005 e 2014, período de maior investimento em estradas e pontes no nosso país, o governo moçambicano construiu centenas de quilómetros de estradas e novas pontes, entre pequenas e de grande porte.
O que nos impede então de reflectir esse investimento no nosso crescimento sócio-económico, dinamizando novas cadeias de valor, multiplicando rendimentos e mais-valias?
Olhemos o exemplo da Macaneta. Hoje ela liga-se ao continente por estrada. Situa-se perto de um centro urbano com quase dois milhões de habitantes. Tem uma praia propícia à práctica da motonáutica e outros desportos radicais de alto rendimento, de nível internacional, mas o que é feito dela? Continuamos à espera de investidores estrangeiros para construírem hotéis e resorts, cobrando os bookings (de ocupação e transporte) a partir da África do Sul, e nós? (há iniciativas turísticas de muito valor na Macaneta, mas ainda insuficientes, considerando o potencial).
A última edição do programa “Moçambique em Progresso” do jornalista Augusto Levy, da TVM, mostra as capacidades do país e dos moçambicanos (embora em ponto menor), na área agrícola. Com a paz e uma gestão mais criteriosa dos impactos adversos das calamidades naturais cíclicas, Moçambique só pode depender de si próprio. Os nossos parceiros de cooperação são fundamentais, mas não os podemos, reiteradamente, encarar como uma questão de vida ou morte.
A essência da educação colonial, e do colonialismo, cujas sequelas continuam hoje (embora disfarçadas numa nova agência) foi precisamente incutir-nos a crença de que precisamos de ser salvos por alguém, nomeadamente europeu, e preferencialmente branco. Que sem esse alguém nós somos uma fatalidade per se, sem capacidade de livre arbítrio, ou de pensar e conceber um destino próprio. Todas as grandes iniciativas visando uma abordagem mais estrutural da nossa economia e do nosso desenvolvimento (pensadas por nós mesmos) são impiedosamente combatidas e apresentadas como desnecessárias: a circular e a ponte da Catembe, a proteção costeira, e o aeroporto de Nacala, (citando apenas exemplos mais mediáticos).
Argumenta-se que o problema é a dívida que as sustenta, que está muito acima do nosso PIB mas, foram factores conjunturais universais que provocaram esse grande desequilíbrio orçamental: veja-se os países produtores de petróleo (incluindo a Noruega) que saíram de quase 112 dólares o barril para menos de 48. As economias com uma estrutura de reservas mais robusta também sofreram (a libra esterlina que estava na proporção de 1 para 2 em relação ao dólar norte-americano, está neste momento em quase paridade, e com tendência de queda). A Espanha e a Itália também ultrapassaram a fasquia psicológica dos 100% de dívida pública vis-à-vis o PIB, mas nem por isso acabaram ou faliram como projectos sócio-politicos, configurados em estados. Moçambique pode transformar a presente crise em oportunidades, desde que se livre do evangelho da maldição, aposte no amor-próprio, combatendo a perspectiva que lhe impõe uma equação do seu destino só com factores fora do seu domínio, e isso a começar pelo governo, e identifique mais claramente os seus principais desafios. Fica difícil perceber como não consideramos a guerra imposta pela Renamo e as calamidades naturais que vêm assolando o nosso país, como os nossos maiores problemas neste momento. Não podemos crer que o Estado ruiu só porque o FMI retirou a sua ajuda ao orçamento. Na província de Manica já são cinco os distritos que precisam de coluna militar. Na verdade o nosso problema principal é esse Estado “hobbesiano” que determinados segmentos fomentam no nosso seio. No século XVII o filósofo Thomas Hobbes descrevia uma sociedade que evita qualquer tipo de governo, vivendo numa selva bruta e perigosa, e com rendimentos muito baixos. Se percebermos que a paz é a nossa grande salvação, vamos perceber que dossiers, na verdade, só nos distraem e atrasam. A África do Sul (e não se confunda isso com uma apologia ao apartheid) desenvolveu-se e manteve-se como uma grande potencia económica numa situação de grande isolamento internacional porque soube definir os seus caminhos, contando, em primeiro lugar, consigo própria.(x)
Entre 2005 e 2014, período de maior investimento em estradas e pontes no nosso país, o governo moçambicano construiu centenas de quilómetros de estradas e novas pontes, entre pequenas e de grande porte.
O que nos impede então de reflectir esse investimento no nosso crescimento sócio-económico, dinamizando novas cadeias de valor, multiplicando rendimentos e mais-valias?
Olhemos o exemplo da Macaneta. Hoje ela liga-se ao continente por estrada. Situa-se perto de um centro urbano com quase dois milhões de habitantes. Tem uma praia propícia à práctica da motonáutica e outros desportos radicais de alto rendimento, de nível internacional, mas o que é feito dela? Continuamos à espera de investidores estrangeiros para construírem hotéis e resorts, cobrando os bookings (de ocupação e transporte) a partir da África do Sul, e nós? (há iniciativas turísticas de muito valor na Macaneta, mas ainda insuficientes, considerando o potencial).
A última edição do programa “Moçambique em Progresso” do jornalista Augusto Levy, da TVM, mostra as capacidades do país e dos moçambicanos (embora em ponto menor), na área agrícola. Com a paz e uma gestão mais criteriosa dos impactos adversos das calamidades naturais cíclicas, Moçambique só pode depender de si próprio. Os nossos parceiros de cooperação são fundamentais, mas não os podemos, reiteradamente, encarar como uma questão de vida ou morte.
A essência da educação colonial, e do colonialismo, cujas sequelas continuam hoje (embora disfarçadas numa nova agência) foi precisamente incutir-nos a crença de que precisamos de ser salvos por alguém, nomeadamente europeu, e preferencialmente branco. Que sem esse alguém nós somos uma fatalidade per se, sem capacidade de livre arbítrio, ou de pensar e conceber um destino próprio. Todas as grandes iniciativas visando uma abordagem mais estrutural da nossa economia e do nosso desenvolvimento (pensadas por nós mesmos) são impiedosamente combatidas e apresentadas como desnecessárias: a circular e a ponte da Catembe, a proteção costeira, e o aeroporto de Nacala, (citando apenas exemplos mais mediáticos).
Argumenta-se que o problema é a dívida que as sustenta, que está muito acima do nosso PIB mas, foram factores conjunturais universais que provocaram esse grande desequilíbrio orçamental: veja-se os países produtores de petróleo (incluindo a Noruega) que saíram de quase 112 dólares o barril para menos de 48. As economias com uma estrutura de reservas mais robusta também sofreram (a libra esterlina que estava na proporção de 1 para 2 em relação ao dólar norte-americano, está neste momento em quase paridade, e com tendência de queda). A Espanha e a Itália também ultrapassaram a fasquia psicológica dos 100% de dívida pública vis-à-vis o PIB, mas nem por isso acabaram ou faliram como projectos sócio-politicos, configurados em estados. Moçambique pode transformar a presente crise em oportunidades, desde que se livre do evangelho da maldição, aposte no amor-próprio, combatendo a perspectiva que lhe impõe uma equação do seu destino só com factores fora do seu domínio, e isso a começar pelo governo, e identifique mais claramente os seus principais desafios. Fica difícil perceber como não consideramos a guerra imposta pela Renamo e as calamidades naturais que vêm assolando o nosso país, como os nossos maiores problemas neste momento. Não podemos crer que o Estado ruiu só porque o FMI retirou a sua ajuda ao orçamento. Na província de Manica já são cinco os distritos que precisam de coluna militar. Na verdade o nosso problema principal é esse Estado “hobbesiano” que determinados segmentos fomentam no nosso seio. No século XVII o filósofo Thomas Hobbes descrevia uma sociedade que evita qualquer tipo de governo, vivendo numa selva bruta e perigosa, e com rendimentos muito baixos. Se percebermos que a paz é a nossa grande salvação, vamos perceber que dossiers, na verdade, só nos distraem e atrasam. A África do Sul (e não se confunda isso com uma apologia ao apartheid) desenvolveu-se e manteve-se como uma grande potencia económica numa situação de grande isolamento internacional porque soube definir os seus caminhos, contando, em primeiro lugar, consigo própria.(x)
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