segunda-feira, 10 de abril de 2017

19 individualidades, potencialmente, envolvidos no nebuloso negócio da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM)

A solicitação, semana finda, pela Procuradoria- -Geral da República (PGR), da quebra de sigilo bancário a uma empresa e 19 individualidades, potencialmente, envolvidos no nebuloso negócio da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), abriu um novo capítulo sobre o escândalo da dívida pública moçambicana e a grande questão agora é se será desta vez que a PGR, que já no ano passado havia reconhecido ter havido violação da Lei Or- çamental, pegará ou não “os bois pelos chifres”. Depois de ter anunciado, em Julho de 2016, a violação da Lei Orçamental na contratação da dívida pública moçambicana, a PGR solicitou, quarta-feira passada, a quebra de sigilo bancário a um total de 19 individualidades e uma empresa. As figuras em causa incluem o antigo Presidente da República, Armando Guebuza, e alguns dos seus colaboradores mais próximos, para além de dois dos seus filhos, Ndambi e Mussumbuluco. Os colaboradores do antigo Presidente constantes da lista incluem o seu conselheiro e porta-voz, Edson Macuácua, o conselheiro político, Renato Matusse, a assessora de imprensa Marlene Magaia, o assessor económico Carlos Simango, a assessora jurídica Neusa Matos e o conselheiro para os assuntos gerais, Carlos Pessane. Fazem ainda parte da lista Francisco Cigarro, antigo chefe do protocolo na Presidência da República e actualmente embaixador de Moçambique nos Emiratos Árabes Unidos, e José Maneia, cônsul de Moçambique em Dubai. É nos Emiratos Árabes Unidos onde se situa a empresa com que o Governo realizou o negócio da EMATUM, a Abdhu Dabi Mar. Estão também em rastreio as contas da falecida Izidora Faztudo, antiga deputada na Assembleia da República pela Frelimo; da falecida Lizete Chang, esposa de Manuel Chang, ministro das Finanças à data da contratação das dívidas e de Ângela Leão, esposa de Gregório Leão, recentemente, exonerado do cargo de director- -geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE). A lista, que integra também Guilhermina Langa, do ramo empresarial, Maria Gamito, Riduan Adamo, Salvador Mula e Teófilo Nhangumele, completa-se com a empresa Jociro Internacional Limitada, igualmente, suspeita de PGR faz primeiro ataque e despoleta… ser peça importante no escândalo da dívida pública de cerca de USD 2 mil milhões avalizada, secretamente, pelo Estado moçambicano, a favor da EMATUM, Proindicus e Mozambique Asset Managment (MAM). Trata-se das três empresas, teoricamente, privadas, mas criadas com fundos públicos, no final de reinado de Armando Guebuza e de cujas dívidas, descobertas ano passado, irritaram a comunidade internacional que, em bloco, suspendeu apoios financeiros a Mo- çambique, precipitando o país à actual crise económica. Este é apenas o G20 cujo anúncio acaba de ser tornado público. Mas há outros intervenientes, também próximos de Guebuza que, ao que consta, também já foram visados, dentre eles o então ministro das Finanças, Manuel Chang. Ao que o SAVANA, um mês antes desta operação, a PGR na lavra do procurador Armando Paulo, já tinha pedido autorização do juiz da instrução, para o mesmo efeito, nas contas de António Agostinho de Rosário, ex-PCA das três empresas envolvidas nas manobras que culminaram com o endividamento do país. O pedido da PGR refere-se aos movimentos efectuados nas referidas contas entre 1 de Janeiro de 2012 e 31 de Dezembro de 2016. No documento intitulado “Quebra do Sigilo Bancário”, a PGR refere que, “por se mostrar necessário, para o esclarecimento do objecto dos Autos em referência (n° 1/PGR/2015 com o apenso n° 15/PGR/2016), vimos, por este meio, solicitar a V. Excia, nos termos do disposto no artigo 49 da Lei n° 15/55, de 1 de Novembro, com atenção às alterações introduzidas pela Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, a quebra de sigilo bancário, fornecendo a esta Procuradoria, a relação de todas as contas, em moeda nacional e moedas estrangeiras tituladas pela empresa e individualidades (retromencionadas)”. E o SAVANA foi vasculhar a Lei n° 15/99, de 1 de Novembro, que regula o estabelecimento e o exercício da actividade das institui- ções de crédito e das sociedades financeiras, bem como a Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, que introduz alterações na primeira. No seu artigo 49, referente às excepções ao dever de segredo, a Lei n° 15/99 estabelece, no n°1, que os factos ou elementos das rela- ções do cliente com a instituição podem ser revelados, mediante autorização do cliente, transmitida por escrito à instituição. É no n°2 que o legislador preconiza que, fora do caso previsto no número anterior, os factos e elementos cobertos pelo dever de segredo só podem ser revelados: a) ao Banco de Moçambique, no âmbito das suas atribuições; b) nos termos previstos na Lei Penal e no Processo Penal e; c) quando exista outra disposição legal que, expressamente, limite o dever do segredo. Por sua vez, a Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, que altera um total de 47 artigos da Lei n° 15/99, de 1 de Novembro, acrescenta, ao artigo 49, duas alíneas e um número. É nessas duas alíneas que a Lei refere que os factos e elementos cobertos pelo dever de segredo de podem ainda ser revelados: d) ao Fundo de Garantia de Depósitos, no âmbito das respectivas atribuições e; e) quando haja ordem judicial, assinada por um juiz de direito. Mas a solicitação da PGR é assinada (de forma ilegível) por Armando Pedro magistrado do Ministério Público, mas no verso superior do documento consta o visto do juiz da instrução. O documento explicita que informação solicitada deverá ser remetida, em atenção à escrivã do processo, de nome Guilhermina Macuácua. A autenticidade do documento foi confirmada ao SAVANA pelas instituições bancárias contactadas pela PGR. Por outro lado, a PGR nega falar, oficialmente, do assunto alegando tratar-se de um caso sob segredo de justiça. A este semanário, Georgina Zandamela, assessora de imprensa do órgão guardião da legalidade, disse que “sobre um processo em curso, a PGR não comenta”. Face às nossas insistências, Zandamela reiterou que a PGR não vai comentar sobre um processo ainda em instrução preparatória para a salvaguarda do segredo de justiça. Fez notar que se o documento está em circulação ele não terá sa- ído da PGR, sugerindo, em alternativa, que tenha saído do circuito oficial através do sector bancário. “Esse documento não saiu daqui da procuradoria” disse, reiterando que “não somos a fonte dessa informação”. Estratégia de distracção? O que é certo é que o documento abriu um novo capítulo sobre o escândalo da dívida pública moçambicana e a grande questão agora é se será desta vez que a PGR, conhecida por ser ociosa face à grande corrupção, ousará prosseguir com o assunto. Reagindo sobre o documento em circulação, o deputado Venâncio Mondlane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), manteve o seu cepticismo quanto à acção sobre as dívidas ocultas, afirmando que neste processo já viu tanta “invencionice”. Mondlane foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) às dívidas ocultas. Na sequência da apresentação em plenário do relatório desta comissão, Mondlane pôs a circular um relatório adverso, em nome do MDM, denunciando manobras que incluí- ram o seu afastamento tácito do papel de relator. Ele foi também o único deputado da oposição que participou na comissão, depois da Renamo ter se recusado a fazer parte. Para Mondlane, a PGR está numa fase embrionária e quase infantil, ao pedir, neste momento, os extractos das contas bancárias dessas personalidades, depois de dois anos de instauração do processo. “Parece mais uma estratégia de distracção que uma vontade efectiva de se responsabilizar os verdadeiros culpados”, diz o deputado, para quem, técnicas de manipula- ção e distracção já não vão mudar o curso das coisas, avisando que os que querem empurrar com a barriga este processo podem, futuramente, ver o sol aos quadradinhos por cumplicidade e cobertura criminosa do que chama de barões da EMATUNGATE. Vale recordar que, em Julho de 2016, a PGR disse que, após ouvir os representantes das empresas EMATUM, Mozambique Asset Managment e ProIndicus, para além de outras entidades envolvidas no processo, apurou-se que houve um crime na contratação da dívida pública, sem a observância da legalidade. “Houve violação da lei orçamental no caso dívida pública”, disse o procurador-geral-adjunto e porta-voz da PGR,  Por ATaibo Mucobora.

Quando faltam 13 anos para a data definida (2030), como sendo meta para a promoção da igualdade de género e empoderamento da mulher, a Ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaúque, considera que Moçambique “caminha para níveis satisfatórios” nesta matéria, tendo em conta o seu nível de envolvimento em todas as esferas sociais. A cobertura sanitária da mulher (70%), o envolvimento desta na política (37%) e o nível de ingresso da rapariga na educação (48%) são algumas das realizações que deixam a titular deste pelouro satisfeita e optimista num futuro risonho. Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, com duração de 53 minutos, Cidália Chaúque não passou ao lado da violência doméstica protagonizada por mulheres, tendo lamentado a situação, mas explicado que a mesma verifica- -se “devido à degradação dos valores morais”; mostrou-se ainda preocupada com o aumento de casos de violência doméstica, assegurando que a sua equipa aposta nos trabalhos de sensibilização, no sentido das famílias pautarem pelo diálogo que pela violência. Acompanhe, nos próximos pará- grafos, os excertos desta conversa, onde, entre outras questões, aborda-se a situação da mendicidade e o estágio de implementação do Programa de Assistência Social, no país. Celebra-se, esta sexta-feira, 07 de Abril, o Dia da Mulher Moçambicana. O que se oferece a dizer, em relação a esta data? -07 de Abril é uma data muito importante para o país porque rendemos homenagem a todas as mulheres moçambicanas que deram as suas vidas em prol da equidade e igualdade do género, assim como para todas as mulheres que trabalham para a estabilidade económica deste país. Neste ano, o mês da mulher iniciou a 24 de Fevereiro e criamos um programa nacional (lançado em Pemba, Cabo Delgado), em que estão inclusas as mulheres de todo o mundo (por ocasião do 08 de Março), na Beira. Também tivemos as comemorações dos 50 anos do Destacamento Feminino (04 de Abril), em que homenageamos as mulheres que participaram na Luta de Libertação Nacional; e vai culminar com as celebrações do Dia da Mulher Moçambicana (hoje). Durante este período tivemos palestras de sensibiliza- ção (divulgação das Leis sobre a Promoção e Equidade de Género, “Caminhamos para níveis satisfatórios de igualdade de género” -Considera Ministra do Género, Criança e Acção Social, em entrevista ao SAVANA, por ocasião do 07 de Abril Prevenção da violência e Lei da Família); tivemos feiras da saúde, em vários segmentos; marchas de sensibilização, para que as mulheres pudessem participar como motivação de participarem no movimento feminista; e actividades desportivas. Qual foi o nível de envolvimento das mulheres nessas actividades? -A participação foi boa porque as actividades decorreram em todo o país (até às localidades). Houve um envolvimento massivo não só das mulheres, mas também das crianças e dos homens, pois, temos estado lado-a-lado com o homem para perceber que a luta só tem sentido, quando estivermos juntos. Começamos a perceber que a sensibilização sobre a equidade de género, da promoção do empoderamento e estabilização da mulher conseguiu encontrar espaço. Quase que, diariamente, as mulheres clamam pela igualdade de oportunidades. Neste momento, em que situação estamos? -Ainda não atingimos o desejado. Sentimos que é um desafio que o país tem, mas há que destacar o sector da saúde, que atingiu níveis consideráveis, no que concerne à cobertura no tratamento da mulher. Atingimos a taxa de cobertura em 70% e 90% das mulheres seropositivas com tratamento hospitalar, o que é muito bom porque as mulheres grávidas conseguem ter partos institucionais. Na educação, conseguimos atingir o nível de ingresso da rapariga em 48%, tanto no ensino primário, assim como secundário. Mas, o nosso desafio é que tenhamos o nível de retenção da rapariga para a conclusão dos ciclos, de modo a atingirmos estes números. Muitas abandonam por muitos objectivos, com destaque para gravidezes precoces. No sector político estamos com uma cifra de 37% (temos sete ministras, oito vice- -ministras e 97 deputadas, na Assembleia da República). Ainda é um desafio, mas estamos num bom caminho. Na componente económica, é onde trabalhamos mais para que tenhamos estabilidade económica das mulheres. É um desafio que temos, no sentido de que as mulheres tenham acesso a todos os recursos (acesso ao financiamento e à terra). Estamos com uma Política de indicação de quotas para que as mulheres recebam o DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra), para que consigam, por si só, negociar o acesso à terra. O nosso objectivo é que tenhamos 50-50, mas caminhamos para níveis muito bons de igualdade e equidade de género. A retenção da rapariga na escola é o maior problema que o sector enfrenta, na área da educação e o mesmo não constitui uma novidade. O que está a falhar para que até hoje o problema prevaleça? -Em alguns casos, são questões sócio-culturais. O nosso país tem níveis muito elevados de casamentos prematuros (estamos entre os 10 países com maior índice de casamentos prematuros no mundo) e gravidezes precoces. Quando esta menina entra na escola começa a atingir a idade, em que, precocemente, é atentada para os casamentos prematuros e, nesta linha, o país tem várias políticas, como a Estratégia de Prevenção e Eliminação de Casamentos Prematuros, aprovada em 2015. Temos estado a trabalhar com as comunidades e a sociedade para que percebam que o nível de oportunidade, tanto do rapaz, assim como da rapariga deve ser igual. Em alguns casos, as famí- lias dão oportunidade aos homens para que ingressem à escola e as mulheres são reservadas para cuidarem das suas famílias. Temos também os casos de pobreza, em que as famílias também dão oportunidade aos rapazes; o mesmo se verifica, quando as famílias se encontram numa situação de instabilidade nutricional preferem entregar as filhas para que melhor sejam protegidas no casamento e é aqui, onde sensibilizamos as pessoas para perceberem que as raparigas devem ter igual prioridade no ingresso à escola. Encontramos também situações em que são submetidas aos casamentos, depois de ingressarem na escola e o rapaz, independentemente, de ter engravidado consegue fazer o seu ciclo. Portanto, estamos a trabalhar no sentido de ter a menina na escola, independentemente de estar ou não grávida. Mas, há indicações de redução. Como tem sido a articulação com o Ministério da Educação, uma vez que, algumas escolas expulsam alunas, quando engravidam... -A articulação é boa. Já existe sensibilidade em todos os sectores. Muitas vezes, é a própria família que prefere que a menina continue os estudos, mas no curso nocturno e começa a perder a protecção dos próprios pais e professores. Em alguns casos, é uma maneira de punição porque acha- -se que é um mau exemplo para as outras meninas; ou que pode infestar aquele meio de meninas. Mas, estamos a trabalhar para que ela seja considerada naquele local e que continue a frequentar a escola. Porém, já há uma aceitação. O que queremos é que seja decretado que as meninas, apesar de estarem em situação de gravidez, continuem a estudar até que terminem o ciclo. Assiste-se, nos últimos tempos, ao recrudescimento da violência, baseada no género, um pouco por todo o País, mas com maior incidência nas zonas urbanas. O que estará a falhar e que medidas estão em curso para estancar o fenômeno? -É uma preocupação do Ministé- rio também. De facto, os índices de violência têm estado a aumentar. Em 2016, foram registados 25356 casos, dos quais 14289 foram criminais, nove mil civis e dois mil de outra natureza. Nós olhamos a questão da violência de duas maneiras. No primeiro ano, tínhamos índices baixos de registo porque as pessoas não denunciavam e agora conseguimos encontrar casos registados e, a partir do momento em que a violência tornou-se num crime público, nós conseguimos ter os casos terminais (que vão até aos tribunais). Até houve altura em que as pessoas apresentavam os seus casos, mas sofriam ameaças, ao nível da família. Mas, agora o crime é público e desde o momento em que é identificado, vamos com o caso até ao julgamento. O nosso desafio é que tenhamos as pessoas condenadas, exemplarmente, para que percebam que a violência não é a melhor forma de resolver os problemas. Ficamos felizes, quando foram os casos dos raptos e das mortes de pessoas albinas porque encontramos pessoas que formam, exemplarmente, “Ainda não atingimos o desejado, mas caminhamos para níveis muito bons de igualdade e equidade de género” Savana 07-04-2017 17 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE punidas. Mas, paralelamente, vamos fazer o trabalho de sensibilização nas famílias para que pautem pelo diálogo porque encontramos famílias violentadas por vários factores. Quase que a sociedade vê a violência como um crime praticado por famílias carenciadas, mas, actualmente, vê-se que é um crime que afecta também as famí- lias economicamente estáveis e influentes do país. Alguns casos terminam em mortes (caso da Valentina Guebuza). Até que ponto este facto pode influenciar a sociedade? -Nós avaliamos a violência de igual maneira, em todos os seguimentos, porque ela não só ocorre em famílias de renda baixa. Onde não existe diálogo, todas as situações terminam em casos de violência. O nosso trabalho é no sentido de sensibilizar as famílias para que não pautem pela violência, independentemente da sua condição social. A família pode ser estável, mas quando não há diálogo, a violência sempre vai prevalecer. Podemos encontrar uma família com situação econó- mica muito baixa, mas com muita harmonia devido ao diálogo. Portanto, trabalhamos no sentido de sensibilizar as pessoas sobre as consequências da violência doméstica. Temos casos, ao nível das comunidades, de filhos que ficam sem os progenitores, devido a violência. Uma das coisas que temos observado depois dos nossos trabalhos é que temos de trabalhar mais com a criança para que perceba que a harmonia familiar é muito importante porque, quando ela cresce num ambiente de violência, independentemente da situação financeira, ela por si só vai ser uma criança violenta. Tivemos caso de crianças de 11 anos que mataram o irmão de quatro anos, quando brincavam e isso é resultado de alguns hábitos. Há pais que acham que a melhor maneira de chamar atenção as crianças é usando palavrões (vou-te matar, etc) e encaram aquilo como uma coisa normal. Sobre a educação das crianças, há quem defende que os actuais níveis de violência doméstica devem-se à educação virada a uma vida independente, esquecendo- -se que um dia a pessoa irá se casar. Partilha dessa opinião? -Claramente que a independência das pessoas é muito importante. Nós trabalhamos para não dependência económica, assim como social das pessoas. Mas, isto não dita que haja desrespeito. O casal pode ser independente economicamente, mas o respeito deve prevalecer. Por isso o nosso trabalho é no sentido de que as famílias percebam que deve haver respeito. O homem deve respeitar a mulher e a mulher deve respeitar o homem, mas ninguém deve ser submisso. A perca de respeito é que levanta os ânimos em alguns casos e, em algumas situações, é a falta de percepção. As pessoas não aceitam que esta pessoa seja independente. Ninguém deve submeter o outro. Aliás, a independência é boa para as duas famílias porque, quando o casal tem capacidade de desenvolver as suas actividades, isto estabiliza a família e não sofre necessidades. Mas, não deve haver falta de respeito. Os valores morais são muito importantes. Nas famílias africanas diz-se, claramente, que o homem é o chefe da família e a mulher é a chefe da casa. Ou seja, estão divididas as tarefas e não pode haver troca de posições porque as pessoas estão economicamente estáveis. Nos últimos dias, a mulher tem sido a maior protagonista dos actos de violência doméstica e, a maior parte, terminam em mortes. Que significado estes actos têm e até que ponto constituem uma contradição na luta contra a violência baseada no género? -Olhamos para estes casos com muita preocupação. Temos estado a perceber que os casos têm estado a subir e temos feito o trabalho em todos os seguimentos para que não aumentem. Os casos mediatizados são os protagonizados pelas mulheres, mas temos percebido que é por falta de valores morais. Temos feito trabalho nas comunidades para que não pautem pela violência e não optem por esta via porque não só mancha a componente que a mulher tem de ser mãe, estabilizadora da famí- lia, como também cria problemas porque, quando não tem marido ou a criança não tem a mãe, cria- -se um desconforto. Pode haver muito barulho, mas a mulher tem um papel definido, que é de baixar os ânimos e estabilizar. Mas, não temos encontrado esta situação. No mandato anterior, o Ministério designava-se da Mulher e hoje é do Género. Que estraté- gias tem usado para a integração do homem nesta casa, até porque defende-se que o Ministério continua sendo da mulher, apenas mudou de designação... -Nós temos como missão promover a equidade do género, ou seja, criar oportunidades para que o homem e a mulher estejam no mesmo patamar. Nesta altura, o que fazemos é criar oportunidades para que as mulheres consigam atingir os níveis em que os homens já atingiram, daí esta percepção. O trabalho está virado à mulher, mas precisamos do homem para que traga esta aproximação entre as mulheres e os homens. Que nos traga políticas que promovem a equidade e estabilidade do género. Por exemplo, temos estado a trabalhar no sentido de identificarmos que actividades e formações devem ser feitas para a própria mulher. Tínhamos, há pouco tempo, situações em que, quando a mulher quisesse aceder ao financiamento bancário, era questionada se era casada, mas não se olhava para a capacidade que ela pudesse ter para aceder aos recursos. É preciso criar políticas para que a mulher possa ter as mesmas oportunidades porque esta pergunta não era feita ao homem para aceder ao financiamento. O acesso à terra é outro recurso importante para o desenvolvimento económico do país, mas há situações em que as mulheres não tinham acesso ao DUAT e até havia situações em que era atribuído ao filho. Nas escolas de formação, estamos a promover cursos que outrora eram considerados dos homens, mas que hoje mostram outra realidade. Temos tido boas surpresas porque temos encontrado mulheres com mais capacidades de fazerem esse trabalho que os homens. A outra componente que faz parte deste Ministério é da Acção Social. Em estágio está o Programa de Assistência Social? -Temos vários programas de assistência social e, no geral, temos cerca de 372 mil beneficiários no Programa de Acção Social Produtiva, onde assistimos beneficiários em situação de vulnerabilidade (famílias chefiadas por crianças, idosos e deficientes). Há casos em que a assistência é feita por transferências monetárias (pessoas idosas), mas também por transferência alimentar. Há outros casos, em que temos famílias compostas por raparigas e aqui a assistência é no sentido de protegê-las para que possam continuar a estudar. Mas, até então, só conseguimos cobrir 30% dos beneficiários. É muito reduzido, mas pensamos que à medida que nós vamos encontrando os recursos vamos melhorar os trabalhos ao nível do país. Que razões ditam este nível de assistência? -Falta de recursos financeiros para podermos assistir a todas as pessoas em situação de vulnerabilidade. Anualmente, vamos encontrando mecanismos para colmatar este déficit, não só através do Orçamento do Estado, mas também através dos parceiros que apoiam vários programas. A nossa meta é até ao final do mandato termos atingido acima dos 70% e pensamos que, gradualmente, vamos conseguir. A inflação também contribuiu porque começamos a perceber que os valores que transferimos, em algum momento, são muito reduzidos e as pessoas não conseguem responder às suas necessidades e isso constitui um desafio, pois, ficamos entre o incremento de beneficiários ou fazer o ajustamento dos recursos transferidos. No que diz respeito à pessoa idosa já atingimos a cifra dos 50%. Temos 727 mil idosos e cobrimos 367 mil beneficiários. Nas pessoas com deficiência, temos 286 mil em situação de vulnerabilidade e 20 mil estão sendo assistidas. É um desafio e o nosso trabalho é no sentido de não se proliferar a mendicidade, ao nível das comunidades. Temos centros abertos e fechados que assistem essas pessoas e sentimos que estamos num bom caminho. A nossa vontade é que pudéssemos assistir todas as pessoas nesta situação. Não se pode falar da assistência social sem se tocar da mendicidade, que continua a crescer nas zonas urbanas. Será resultado destes dados ou há outros factores... -O combate à mendicidade é uma prioridade para o Ministério porque as pessoas que praticam a mesma são susceptíveis a vários riscos (exposição e acidentes) e nós temos centros, onde assistimos estas pessoas. Nos centros abertos é onde acolhemos toda a pessoa idosa, que pratica mendicidade e toda a pessoa de boa-fé pode ir a estes centros. Mas, nestes centros, os idosos podem fazer actividades ocupacionais, dependendo da experiência de cada um para evitar a mendicidade. Temos 13 centros públicos e 15 privados, onde criamos condições para que a pessoa idosa esteja numa situa- ção estável e, ao nível da Cidade de Maputo, 90% das pessoas que praticam mendicidade são beneficiárias dos nossos programas (têm direito ao subsídio e à cesta básica), mas pensam que praticando a mendicidade podem melhorar a sua condição social. O trabalho que fazemos é no sentido de conversar com as pessoas para que não dêem nada a estas pessoas porque não só as expõem, mas também criam problemas, como acidentes de viação. Também estamos a trabalhar no sentido de criminalizar esta prática para que as pessoas não estejam na rua porque existem centros, onde elas podem ser acolhidas. Temos casos positivos de práticas de mendicidade, nas províncias de Inhambane, Gaza e Cabo Delgado, em que as pessoas encontram-se nestes centros para distribuir o que têm. Completou, em Janeiro deste ano, dois anos em frente deste ministério. Que balanço faz a este período? -O balanço é positivo porque conseguimos aprovar políticas de protecção social, de combate e prevenção dos casamentos prematuros, estratégias de promoção da mulher e, neste momento, estamos a fazer a monitoria destas políticas. Somos signatários de várias convecções mundiais e quando fazemos avaliação das mesmas, encontramos um meio termo da participação do nosso país. A avaliação é positiva porque conseguimos reduzir o número de pessoas em situação de vulnerabilidade que tínhamos, em 2015, em cerca de 26%, que é muito bom e tudo indica que vamos conseguir atingir as metas. A título de exemplo, no ano 2014 tínhamos 431.720 benificiários e em 2016 passamos para 549.465 benifici- ários.Preocupa-nos a questão dos casamentos prematuros e uma das coisas que vamos fazer é levar à Assembleia da República uma proposta para que tenhamos uma Lei de Idade Núbil, de 18 anos de idade, porque, neste momento, temos uma situação excepcional de 16 de idade, o que não é muito bom. Do trabalho que estamos a fazer é consensual que a idade núbil seja 18 anos. Estamos satisfeitos com nível de cobertura do tratamento da mulher e vamos continuar a trabalhar para que os níveis de retenção da rapariga continuem a crescer. Que programas estão agendados para este ano? Aumento da cobertura dos programas de segurança social básica nomeadamente, subsídio social básico, apoio social directo, acção social produtiva e serviços sociais da acção social. Vamos rever a politíca da acção social, contamos também rever os programas de segurança social básica em função da nova estratégica que inclui o subsídio para crianças e incrementar acções ao combate aos casamentos prematuros e empoderamento da mulher. Pretendemos aumentar nossas acções no âmbito da prevenção, combate e assistências das vítimas de violência através do mecanismo de atendimento entregado.

TEMA DA SEMANA 2 Savana 07-04-2017 Está instalado o clima de tensão entre o Governo, representado pelo Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) e os madeireiros nacionais. Em causa está a decisão do Governo de prorrogar o período de defeso no corte de madeira por mais três meses, alegando que quer disciplinar o sector. Os madeireiros nacionais dizem que estão a ser sacrificados por erros de operadores chineses que delapidaram as florestas nacionais e justificam o seu descontentamento com a medida, alegando que as empresas vão somar prejuízos financeiros, porque já haviam acordos de fornecimento celebrados para além de que não terão como pagar salários aos trabalhadores durante os três meses. O Governo moçambicano acaba de tomar medidas cirúrgicas com vista a conter o saque e corte desfreado de madeira nas florestas nacionais. A decisão tomada em sede do Conselho de Ministros, nesta terça-feira, visa reorganizar o sector que durante muitos anos era gerido de forma anárquica e numa situação em que operadores ilegais controlavam todos os processos, defraudando o Estado em milhões de dólares. Um estudo levado a cabo pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) revelou que, entre 2003 e 2013, o país perdeu mais de 500 milhões de meticais, devido à exploração ilegal de madeira. A decisão do executivo surge um mês depois do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) ter desencadeado uma mega operação em todo o país, com vista a inteirar-se do real cená- rio sobre a exploração da madeira. Porém, no quadro dessa fiscalização, foi descoberto que mais de 75% dos operadores madeireiros, oficialmente registados em Moçambique, operam no meio de muitas ilegalidades, sobre um olhar impávido de quem de direito. O grosso das irregularidades foi desvendado em estaleiros cujos proprietários são cidadãos de nacionalidade chinesa. Por várias vezes, organizações não governamentais queixaram-se do facto de milhares de metros cúbicos de madeira estarem a sair ilegalmente do país para China. Aplausos e contestações O anúncio da suspensão por três meses do corte de madeira, numa altura em que os madeireiros já se preparavam para iniciar actividades, depois de cumprido o período normal de defeso, está sendo aplaudido por uns e contestado por outros. A falta de consenso verifica-se também no seio dos próprios madeireiros, em que uns defendem que a medida visa purificar o sector onde reina a impunidade, enquanto outros lamentam pelos prejuízos económicos que vão ter de arcar. Enormes expectativas tinham os madeireiros de arrancarem legalmente com as actividades a 01 de Abril, depois de cumpridos os três meses de defeso estabelecidos por lei. Só que, quando os madeireiros pensavam que Governo prorroga período de defeso no corte de madeira e... )UXVWUDRSHUDGRUHVÁRUHVWDLV bastava passar o dia para o Governo emitir as licenças, eis que uma medida de vulto é anunciada no fim da tarde desta terça-feira. “O Governo aprovou um período de defeso especial. É suspenso o corte de madeira por mais três meses”, disse Celso Correia, ministro da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural, no final de 10ª sessão de Conselho de Ministros. A medida é justificada com a necessidade de redefinir o processo de exploração de madeira que tem pressionado as florestas nacionais, sendo que o Governo compromete-se em tudo fazer para que o novo modelo que deverá nortear a exploração seja aprovado durante a vigência do defeso especial. Segundo Correia, 500 mil metros cúbicos é meta de abate estabelecida por lei, mas a realidade mostra o contrário, que há muita madeira a ser tirada do país. Informou que as províncias do sul do país, nomeadamente Maputo, Gaza e Inhambane já não têm madeira, facto que levanta outras questões, se seria ou não ideal paralisar de uma vez por todas o corte de madeira. O dirigente refere que reconhece que o adiamento da campanha por três meses tem impactos económicos significativos na vida dos madeireiros, mas a realidade mostra que há necessidade de rever toda a cadeia de exploração da madeira para resolver esta situação a médio prazo. Infracções graves em 75% dos operadores A decisão governamental surge como corolário da “operação tronco” que teve o seu arranque no princípio de Março e que deverá continuar por tempo indeterminado. A “operação tronco” que abrangeu as províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e Manica, por serem zonas com potencial madeireiro por explorar, visava fiscalizar as operações, fazer o levantamento da situação real da exploração e aferir o grau de aplicabilidade das reformas em curso neste sector. Como resultado, constatou-se que, dos cerca de 120 estaleiros de madeira fiscalizados, 75% tiveram infracções graves, das quais se destaca a exploração sem autorização; armazenamento, transporte e comercialização também sem autorização e, por fim, a recepção daqueles recursos faunísticos sem documentos comprovativos. Foram apreendidos, no decurso da “operação tronco”, 150 mil metros cúbicos contra 120 mil planificados e aplicadas multas no valor de 157 milhões de meticais, dos quais 40% do valor já foi pago. A maior cifra da madeira apreendida, segundo deu a conhecer Correia, foi cortada em zonas de protecção e estava fresca, o que mostra que o período de defeso não foi observado, o que é sancionável. O Governo diz que vai aplicar a madeira apreendida na confecção de carteiras escolares para suprir o défice de mais de 800 mil carteiras. A remanescente será comercializada e o valor usado para reforçar a capacidade de fiscalização e intervenção bem como financiar projectos nas comunidades. Até ao momento foram instaurados 10 processos administrativos em face de algum comportamento desviante por parte de alguns chefes dos servi- ços distritais de florestas. Segundo Correia, enquanto se prepara a revisão da Lei de Florestas que deverá ser submetida à Assembleia da República ainda este ano, há processos acessórios em curso com vista a acabar com a impunidade, como é o caso da reavaliação das licenças de exportação, por considerar que há um aproveitamento muito grande que faz com que o Governo perca em média anual cerca de USD 200 milhões. Esclareceu o dirigente que as comunidades vendem um metro cúbico de madeira por 350 meticais, que depois é revendido pelos madeireiros a terceiros por USD 300. A mesma quantidade é de seguida exportada a outro preço. Assim, entende o Governo que é preciso criar um ambiente sustentável de exploração da madeira para que contrarie esta tendência dos operadores amealharem lucros astró- nimos enquanto as populações continuam sem benefícios. Responde aos nossos anseios O primeiro a aplaudir a medida de prorrogação do defeso no corte da madeira é a Associação Moçambicana dos Madeireiros (AMOMA). Jorge Chacate, presidente da AMOMA, diz que a medida é louvável e pertinente, porque responde aos anseios dos operadores com vista à organização daquele sector. Entende que é preferível parar por mais três meses do que o sector continuar como está. Chacate exorta aos seus colegas a saberem lidar com o momento, pois, em última instância, as medidas do Governo vão beneficiar as próprias empresas madeireiras. Governo ganhou consciência O presidente da Associação de Desenvolvimento Local (ADEL) de Sofala, Rodolfo Hassane, diz que isto mostra que finalmente o Governo ganhou consciência sobre a importância de uma exploração saudável dos recursos naturais de que o país dispõe, pois vezes sem conta já havia sido advertido. Aponta que para o sucesso deste anseio governamental é preciso tornar a fiscalização mais inclusiva, fazer com que as comunidades se sintam também parte integrante do processo, porque é da zona do corte onde deve partir a fiscalização e não nas estradas ou estaleiros apenas. Para tal, Hassane diz ser preciso partilhar uma percentagem das multas ou madeira já transformada com comunidades, pois só assim elas podem contribuir progressivamente, mas também porque a lei estabelece este postulado que não é cumprido. Outra situação que arrolou é a formação permanente dos técnicos e fiscais a nível local, isto porque houve muitas reformas no sector cujas informações não chegam a nível da base. Tomou como exemplo a “operação tronco” e disse que há multas passadas por fiscais provenientes de Maputo que os locais diziam desconhecer a cobertura legal. Hassane vai longe ao sugerir ao Governo para aproveitar o momento e fazer o inventário dos recursos florestais que o país possui, pois pode se dar o caso de estar a fazer um grande trabalho que já não se mostre necessário devido ao grau avançado da devastação das florestas. Descentralização à ÀVFDOL]DomR Por sua vez, o Coordenador do Programa de Florestas do WWF em Moçambique, Rito Mabunda, também congratulou a medida, evocando que, depois da “operação tronco”, havia pouco espaço de manobra para o Governo reorganizar as actividades. Deste modo, o alastramento do período do defeso para contribuir para que a próxima campanha comece em melhores condições e promova uma exploração sustentável dos recursos. Mabunda diz estar satisfeito porque o Governo garantiu que a “Operação Tronco” deverá continuar, facto que fará com o que operadores redobrem os esforços no sentido de melhorar a sua forma de actuação. Entende ser imperioso fortalecer a capacidade de fiscalização para que neste defeso os furtivos não assaltem as florestas, mas para que durante o ano não se verifiquem prevaricações. Para o Coordenador do Programa de Florestas da WWF, é preciso que o Governo descentralize a fiscalização para que a nível local haja acções constantes. Abaixo assinado Quem não saúda a decisão governamental é Paulo Correia, madeireiro da EDN de Sofala. Justifica o seu descontentamento com a medida, alegando que a empresa vai somar prejuízos financeiros, porque já havia acordos de fornecimento celebrados, mas, por outro lado, a sua empresa não terá como pagar salários aos trabalhadores durante os três meses. O representante da EDN diz que numa altura de crise como esta os trabalhadores serão os mais sacrificados juntamente com as suas famílias e avança que o Governo lhes teria informado com antecedência para negociar os melhores termos com os trabalhadores. Não conformado, diz que vai procurar outros operadores para fazerem um abaixo assinado para remetê-lo ao Governo, a não ser que este assuma o pagamento dos salários. Apesar da sua insatisfação, é de opinião que há que apertar o cerco aos fiscais por considerá-los os principais culpados pela saída ilegal da madeira das florestas. Madereiros contestam decisão do ministro Por Argunaldo Nhampossa Celso Correia TEMA DA SEMANA Savana 07-04-2017 3 contact-mz@socgen.com | +258 21 481 900 UM BANCO, UM PARCEIRO UM ESPÍRITO DE EQUIPA SOCIETEGENERALE.CO.MZ SOMOS O BANCO GLOBAL QUE SERVE ÁFRICA HÁ MAIS DE 100 ANOS 152 ANOS DE EXISTÊNCIA PRESENTE EM 76 PAÍSES 30 MILHÕES DE CLIENTES 148.300 COLABORADORES Com olhos postos na troca de experiências para que o país obtenha mais benefícios resultantes da exploração dos hidrocarbonetos, o Governo de Moçambique rubricou, esta quarta-feira, como o da Guiné Equatorial três acordos de cooperação que também vão contribuir para a dinamização das relações de amizade e cooperação. Trata-se do acordo de cooperação económica, cultural, científica e técnica; acordo de estabelecimento de uma comissão conjunta de cooperação e, por fim, um memorando de entendimento sobre consultas políticas e diplomáticas. A assinatura daqueles instrumentos surge como corolário das conservas mantidas no decurso da visita de Estado que o presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, efectuou esta semana ao seu homólogo moçambicano Filipe Nyusi. Na comunicação com a imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, referiu que as conversações entre os dois estadistas incidiram na cooperação económica, com destaque para agricultura, transportes e comunicações, recursos minerais no domínio dos hidrocarbonetos e energia, sendo que a saúde e educação também não ficaram de fora. Segundo Baloi, ficou claro que do lado moçambicano pretende-se que a cooperação traga resultados o mais rápido possível e, para tal, era necessário criar um quadro adequado que resultou na assinatura dos três documentos. Um dos sectores em que Moçambique espera tirar maiores benefícios, de acordo com o dirigente moçambicano, é o da exploração dos hidrocarbonetos, visto que a Guiné Equatorial tem uma experiência acumulada de 26 anos. “Estamos em fases diferentes de exploração dos hidrocarbonetos. A Guiné está em velocidade de cruzeiro e nós ainda estamos a rolar na pista, por isso mostrou abertura em nos ajudar em todas as fases de exploração dos hidrocarbonetos; desde a celebração dos contratos, exploração, comercialização, cuidados a ter nas negociações dos preços de venda e como obter máximos benefícios para o país detentor dos recursos”, disse Baloi. Tendo de seguida acrescentado que a sua contraparte manifestou total abertura pelo que o passo a seguir é criação de condições para visitas específicas e acções de formação sobre a matéria. Por sua vez, o ministro dos Assuntos Exteriores e Cooperação da Guiné Equatorial, Agapito Mba Mokuy, disse que os acordos assinados visam fortalecer a coopera- ção entre os países que para além de serem amigos, ambos são membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), facto que justifica a necessidade de ter relações mais fortes. Neste sentido, espera aquele dirigente que os acordos abram espaço para mais diálogo, negócios e intercâmbio político. Sobre a integração da Guiné na 0RoDPELTXHEXVFDH[SHULrQFLDVGHJHVWmRGHKLGURFDUERQHWRV CPLP, Baloi defendeu que aquele bloco deve abrir-se à globalização e actualizar-se sempre que necessário, o que passa pela entrada de novos países membros, tal como aconteceu com a Guiné em 2014. Sublinhou ainda que aquele país acrescenta valor à CPLP e não deve ser subestimado. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo de seu nome completo é presidente da Guiné Equatorial desde 1979, o que faz dele o presidente que está há mais tempo no poder. Em 2016 foi reeleito para mais um mandato de sete anos e o seu país é o terceiro maior produtor de petróleo da África subsaariana. Por Argunaldo Nhampossa TEMA DA SEMANA 4 Savana 07-04-2017 Asolicitação, semana finda, pela Procuradoria- -Geral da República (PGR), da quebra de sigilo bancário a uma empresa e 19 individualidades, potencialmente, envolvidos no nebuloso negócio da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), abriu um novo capítulo sobre o escândalo da dívida pública moçambicana e a grande questão agora é se será desta vez que a PGR, que já no ano passado havia reconhecido ter havido violação da Lei Or- çamental, pegará ou não “os bois pelos chifres”. Depois de ter anunciado, em Julho de 2016, a violação da Lei Orçamental na contratação da dívida pública moçambicana, a PGR solicitou, quarta-feira passada, a quebra de sigilo bancário a um total de 19 individualidades e uma empresa. As figuras em causa incluem o antigo Presidente da República, Armando Guebuza, e alguns dos seus colaboradores mais próximos, para além de dois dos seus filhos, Ndambi e Mussumbuluco. Os colaboradores do antigo Presidente constantes da lista incluem o seu conselheiro e porta-voz, Edson Macuácua, o conselheiro polí- tico, Renato Matusse, a assessora de imprensa Marlene Magaia, o assessor económico Carlos Simango, a assessora jurídica Neusa Matos e o conselheiro para os assuntos gerais, Carlos Pessane. Fazem ainda parte da lista Francisco Cigarro, antigo chefe do protocolo na Presidência da República e actualmente embaixador de Moçambique nos Emiratos Árabes Unidos, e José Maneia, cônsul de Moçambique em Dubai. É nos Emiratos Árabes Unidos onde se situa a empresa com que o Governo realizou o negócio da EMATUM, a Abdhu Dabi Mar. Estão também em rastreio as contas da falecida Izidora Faztudo, antiga deputada na Assembleia da República pela Frelimo; da falecida Lizete Chang, esposa de Manuel Chang, ministro das Finanças à data da contratação das dívidas e de Ângela Leão, esposa de Gregório Leão, recentemente, exonerado do cargo de director- -geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE). A lista, que integra também Guilhermina Langa, do ramo empresarial, Maria Gamito, Riduan Adamo, Salvador Mula e Teófilo Nhangumele, completa-se com a empresa Jociro Internacional Limitada, igualmente, suspeita de PGR faz primeiro ataque e despoleta…  ser peça importante no escândalo da dívida pública de cerca de USD 2 mil milhões avalizada, secretamente, pelo Estado moçambicano, a favor da EMATUM, Proindicus e Mozambique Asset Managment (MAM). Trata-se das três empresas, teoricamente, privadas, mas criadas com fundos públicos, no final de reinado de Armando Guebuza e de cujas dívidas, descobertas ano passado, irritaram a comunidade internacional que, em bloco, suspendeu apoios financeiros a Mo- çambique, precipitando o país à actual crise económica. Este é apenas o G20 cujo anúncio acaba de ser tornado público. Mas há outros intervenientes, também próximos de Guebuza que, ao que consta, também já foram visados, dentre eles o então ministro das Finanças, Manuel Chang. Ao que o SAVANA, um mês antes desta operação, a PGR na lavra do procurador Armando Paulo, já tinha pedido autorização do juiz da instrução, para o mesmo efeito, nas contas de António Agostinho de Rosário, ex-PCA das três empresas envolvidas nas manobras que culminaram com o endividamento do país. O pedido da PGR refere-se aos movimentos efectuados nas referidas contas entre 1 de Janeiro de 2012 e 31 de Dezembro de 2016. No documento intitulado “Quebra do Sigilo Bancário”, a PGR refere que, “por se mostrar necessário, para o esclarecimento do objecto dos Autos em referência (n° 1/PGR/2015 com o apenso n° 15/PGR/2016), vimos, por este meio, solicitar a V. Excia, nos termos do disposto no artigo 49 da Lei n° 15/55, de 1 de Novembro, com atenção às alterações introduzidas pela Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, a quebra de sigilo bancário, fornecendo a esta Procuradoria, a relação de todas as contas, em moeda nacional e moedas estrangeiras tituladas pela empresa e individualidades (retromencionadas)”. E o SAVANA foi vasculhar a Lei n° 15/99, de 1 de Novembro, que regula o estabelecimento e o exercício da actividade das institui- ções de crédito e das sociedades financeiras, bem como a Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, que introduz alterações na primeira. No seu artigo 49, referente às excepções ao dever de segredo, a Lei n° 15/99 estabelece, no n°1, que os factos ou elementos das rela- ções do cliente com a instituição podem ser revelados, mediante autorização do cliente, transmitida por escrito à instituição. É no n°2 que o legislador preconiza que, fora do caso previsto no número anterior, os factos e elementos cobertos pelo dever de segredo só podem ser revelados: a) ao Banco de Moçambique, no âmbito das suas atribuições; b) nos termos previstos na Lei Penal e no Processo Penal e; c) quando exista outra disposição legal que, expressamente, limite o dever do segredo. Por sua vez, a Lei n° 9/2004, de 21 de Julho, que altera um total de 47 artigos da Lei n° 15/99, de 1 de Novembro, acrescenta, ao artigo 49, duas alíneas e um número. É nessas duas alíneas que a Lei refere que os factos e elementos cobertos pelo dever de segredo de podem ainda ser revelados: d) ao Fundo de Garantia de Depósitos, no âmbito das respectivas atribuições e; e) quando haja ordem judicial, assinada por um juiz de direito. Mas a solicitação da PGR é assinada (de forma ilegível) por Armando Pedro magistrado do Ministério Público, mas no verso superior do documento consta o visto do juiz da instrução. O documento explicita que informação solicitada deverá ser remetida, em atenção à escrivã do processo, de nome Guilhermina Macuácua. A autenticidade do documento foi confirmada ao SAVANA pelas instituições bancárias contactadas pela PGR. Por outro lado, a PGR nega falar, oficialmente, do assunto alegando tratar-se de um caso sob segredo de justiça. A este semanário, Georgina Zandamela, assessora de imprensa do órgão guardião da legalidade, disse que “sobre um processo em curso, a PGR não comenta”. Face às nossas insistências, Zandamela reiterou que a PGR não vai comentar sobre um processo ainda em instrução preparatória para a salvaguarda do segredo de justiça. Fez notar que se o documento está em circulação ele não terá sa- ído da PGR, sugerindo, em alternativa, que tenha saído do circuito oficial através do sector bancário. “Esse documento não saiu daqui da procuradoria” disse, reiterando que “não somos a fonte dessa informação”. Estratégia de distracção? O que é certo é que o documento abriu um novo capítulo sobre o escândalo da dívida pública moçambicana e a grande questão agora é se será desta vez que a PGR, conhecida por ser ociosa face à grande corrupção, ousará prosseguir com o assunto. Reagindo sobre o documento em circulação, o deputado Venâncio Mondlane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), manteve o seu cepticismo quanto à acção sobre as dívidas ocultas, afirmando que neste processo já viu tanta “invencionice”. Mondlane foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) às dívidas ocultas. Na sequência da apresentação em plenário do relatório desta comissão, Mondlane pôs a circular um relatório adverso, em nome do MDM, denunciando manobras que incluí- ram o seu afastamento tácito do papel de relator. Ele foi também o único deputado da oposição que participou na comissão, depois da Renamo ter se recusado a fazer parte. Para Mondlane, a PGR está numa fase embrionária e quase infantil, ao pedir, neste momento, os extractos das contas bancárias dessas personalidades, depois de dois anos de instauração do processo. “Parece mais uma estratégia de distracção que uma vontade efectiva de se responsabilizar os verdadeiros culpados”, diz o deputado, para quem, técnicas de manipula- ção e distracção já não vão mudar o curso das coisas, avisando que os que querem empurrar com a barriga este processo podem, futuramente, ver o sol aos quadradinhos por cumplicidade e cobertura criminosa do que chama de barões da EMATUNGATE. Vale recordar que, em Julho de 2016, a PGR disse que, após ouvir os representantes das empresas EMATUM, Mozambique Asset Managment e ProIndicus, para além de outras entidades envolvidas no processo, apurou-se que houve um crime na contratação da dívida pública, sem a observância da legalidade. “Houve violação da lei orçamental no caso dívida pública”, disse o procurador-geral-adjunto e porta-voz da PGR, Taibo Mucobora. Por Armando Nhantumbo Armando Guebuza Mussumbuluco Guebuza Ndambi Guebuza Renato Matusse Marlene Magaia Edson Macuácua TEMA DA SEMANA Savana 07-04-2017 5 PUBLICIDADE TEMA DA SEMANA 6 Savana 07-04-2017 SOCIEDADE Acrise por que passa a única companhia aérea nacional, Linhas Aé- reas de Moçambique (LAM), não se limita apenas às avarias, cancelamento e atraso de vôos e mau atendimento de passageiros. Pela segunda vez em três meses, trabalhadores da LAM elaboraram uma extensa missiva dirigida ao Primeiro-Ministro (PM) Carlos Agostinho do Rosário, com o conhecimento da Presidência da República bem como do Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, lançando um grito de socorro por causa daquilo que apelidam de gestão danosa da empresa. Os trabalhadores apelam ao PM para que cumpra as promessas feitas aquando da sua visita às instalações da empresa no dia 23 de Setembro de 2015. Pedem ainda que tome medidas urgentes com vista a pôr termo a diversas irregularidades protagonizadas pela actual Comissão Executiva liderada por António Pinto. Ao SAVANA, a direcção da LAM recusou falar sobre o assunto. Nesta terça-feira, contactamos o porta-voz da empresa, Norberto Mucopa, que nos prometeu contactar, facto que não se verificou até ao fecho da edição. O SAVANA entrou também em contacto com Hélder Fumo, administrador do pelouro Financeiro, mas este limitou-se a dizer que as acusações não passavam de uma calúnia sem fundamento. Por seu turno, Carlos Mesquita disse que ainda não estava a par do documento. Na missiva, que deu entrada no gabinete do PM no dia 3 de Abril, os queixosos falam de arrogância e abuso de poder por parte da direc- ção executiva. Segundo as fontes, a LAM é uma empresa tecnicamente deficitária há alguns anos, porém, a situação torna-se muito mais complicada com a actual direcção que pouco ou nada faz para racionalizar os poucos fundos de que a companhia dispõe. Sublinham que uma das formas encontradas pelas anteriores direc- ções foi a concentração de departamentos com vista a reduzir custos com viaturas, salários e mordomias aos respectivos dirigentes. Porém, com a chegada do executivo de António Pinto esses departamentos foram novamente fraccionados, aumentando as despesas da empresa. Referem que o ambiente tenso vivido na empresa neste momento também tem efeitos no seu funcionamento, actualmente caracterizado por avarias constantes das aeronaves, atrasos, cancelamento de vôos, atendimento desumano aos clientes e agravamentos insustentáveis de preços dos bilhetes de passagem. Todos os dias, funcionários seniores e nucleares no funcionamento da companhia estão a abandonar os seus postos de trabalho, dizem os queixosos. É o caso de pilotos e mecânicos com vários anos de experiência e conhecimentos elevados da realidade da companhia. Dizem as fontes que, em 2015, a LAM somou prejuízos na ordem de 1,8 milhões de meticais, tendo em 2016 o défice subido para seis milhões de meticais. A empresa tem dívidas avultadas com fornecedores e credores, há anos que não canaliza à empresa Aeroportos de Moçambique o valor proveniente das taxas de embarque dos passageiros, contudo, a direcção da empresa deu-se ao luxo de contratar serviços de uma consultoria que trabalhou na empresa por 15 dias. Sublinham que foi uma consultoria que, em termos de resultados, ninguém conhece os ganhos, porém, a empresa despendeu cerca de 7,5 milhões de meticais. A folha salarial da LAM também é preocupante. Há trabalhadores reformados que auferem mensalmente mais de 500 mil meticais, mas, em contrapartida, há os que estão no activo que recebem mensalmente cerca de 10 mil meticais. Segurança privada para membros da CE Os estatutos da LAM rogam que os membros da Comissão Executiva têm direito à residência, viatura protocolar, segurança e assistência domiciliar. Porém, ignorando o regulamento interno, a direcção da LAM decidiu duplicar o efectivo da segurança privada para os membros da direcção, o que elevou os custos mensais das despesas da empresa com o pessoal de segurança de 120 mil para 240 mil meticais. Obras subfacturadas Outra situação que preocupa os trabalhadores da LAM prende-se com as obras que são executadas na empresa que não obedecem os critérios legais. Ignorando normas de Procurement, Mariano do Rosário dirigiu a aquisição do equipamento. Estas operações foram efectuadas sob um olhar impávido do presidente da comissão executiva, António Pinto, bem como do administrador financeiro, Hélder Fumo. A montagem de câmaras de segurança nas lojas da LAM custou cerca de 6.600 mil meticais. Mariano do Rosário foi substitu- ído na direcção de segurança interna, pelo seu cunhado Mussagy Faquirá. A outra grande farra para os gestores da LAM foi a colocação da cauda do Boing 737-200 no jardim do largo Deta, defronte do edifício sede da LAM. Inicialmente a obra foi adjudicada à empresa CCPE-Construção, Consultoria e Projectos de Engenharia. Inicialmente a obra estava avaliada em 950 mil meticais. Para o início da obra, o empreiteiro teve um adiantamento de 50% do valor, porém, antes de terminar a obra, pediu o adiantamento dos restantes 50%, facto que não agradou a direcção da LAM e rescindiu o contrato sem apresentar razões convincentes. O corte da relação jurídica contratual entre a LAM e o empreiteiro responsável pela edificação da obra levou o lesado a recorrer às instâncias judiciárias. Isto é, a LAM foi processada e o expediente está a correr seus trâmites legais no tribunal da cidade de Maputo. Após a rescisão do contrato com a CCPE, a direcção da LAM contratou empreiteiros artesanais para concluir a obra e, pela empreitada, a companhia gastou cerca de 2.500 mil meticais, isto é, mais de 100% do planificado, sem contar com os 475 mil meticais despendidos inicialmente com a CCPE. Recorde-se que, em Setembro do ano passado, o Tribunal Municipal KaMpfumo condenou o antigo administrador financeiro da LAM, Jeremias Tchamo, a uma pena suspensa de dois anos por prática de crimes de abuso de função. Na qualidade de administrador fi- nanceiro, Jeremias Tchamo aceitou e anuiu, entre 2008 e 2014, que a LAM celebrasse com a empresa de construção civil pertencente ao seu irmão, igualmente trabalhador da empresa, 25 contratos de presta- ção de serviços para a reabilitação e construção de várias infra-estruturas da empresa, o que defraudou a empresa em mais de 5,3 milhões de meticais. Segundo as fontes, a empresa mandou montar câmaras de segurança nas lojas da empresa em todo o país. O processo foi dirigido por Mariano do Rosário, então director de segurança interna e actual director de Aprovisionamento e Serviços Gerais. A fonte arrola ainda um conjunto de factos que se consubstanciam no instituto do conflito de interesses e aponta vários casos de delegados na LAM nas províncias que criaram empresas de prestação de serviços nas próprias delegações a preços acima do normal. Aponta-se os casos das delegações de Sofala e Cabo Delgado onde os respectivos delegados criaram Situação sombria na companhia de bandeira leva trabalhadores a pedir socorro ao PM LAM a saque empresas de prestação de serviços, tendo sacado da empresa, até ao momento, cerca de 8.5 milhões de meticais. Mesquita à margem Esta quarta-feira, o SAVANA contactou o Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, para se pronunciar sobre as queixas dos trabalhadores, bem como dos motivos que o levaram a ignorar a primeira versão da missiva a ele enviada em Janeiro último. Mesquita disse que desconhecia o documento e levantou a possibilidade do mesmo ter entrado no seu gabinete, esta terça-feira, dia em que esteve na reunião do Conselho de Ministros. Informamos o dirigente que a primeira versão do documento deu entrada no seu gabinete a 3 de Janeiro do corrente ano e assinado por uma recepcionista chamada Isabel, ao que ele respondeu que nesse período estava de férias e somente a 23 de Janeiro começou a trabalhar. Em mais uma insistência, questionamos ao ministro se A crise que a LAM vive é agudizada pela gestão danosa da parte dos seus gestores segundo os trabalhadores Por Raul Senda desde Janeiro a esta parte não teve acesso ao primeiro documento e novamente nos respondeu que não teve acesso, sendo que vai procurar saber junto dos seus colaboradores e depois haveria de nos responder. Recorde-se que esta é a segunda carta a ser dirigida ao Governo em protesto contra a forma como é gerida a companhia área de bandeira. Há pouco mais de um ano, o PM visitou a LAM e testemunhou a situação calamitosa que a empresa vive. Na altura recomendou que se fizesse uma avaliação económico- -financeira mais profunda e se apresentassem opções a curto, médio e longo prazos, para levar a empresa a níveis de rentabilidade aceitáveis. Para o efeito, a LAM lançou um concurso para a contratação de serviços de consultoria para a reestruturação da companhia cujo resultado nunca se soube. A LAM é uma empresa privada detida maioritariamente pelo Estado com 96% e pelos Gestores Técnicos e Trabalhadores (GTT) António Pinto, o CEO contestado com 4%. Carlos Mesquita acusado de ignorar as queixas dos trabalhadores SOCIEDADE Savana 07-04-2017 7 PUBLICIDADE TEMA DA SEMANA 8 Savana 07-04-2017 SOCIEDADE S ob pretexto de assegurar a prossecução dos objectivos da política da defesa nacional, no que concerne à defesa militar e à defesa civil, o Governo submeteu à Assembleia da República (AR) uma proposta de Lei da Mobilização e Requisição. Com este dispositivo legal, o Governo quer, em caso de conflito armado ou calamidades naturais, requisitar cidadãos nacionais e seus bens quer em cumprimento de serviço militar ou não, para a defesa dos interesses nacionais. O documento deverá ser aprovado nos próximos dias pela AR. Entretanto, não obstante o proponente defender que a mesma irá salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos, algumas correntes questionam o tempo em que o Governo quer dispor desta lei. Sublinham que numa altura em que a situação da paz ainda é uma incógnita, o executivo de Filipe Nyusi pode aproveitar-se da lei para fazer recrutamento compulsivo de cidadãos para o campo de guerra para além de se aproveitar do seus bens. Lamenta-se o facto de a referida lei não acautelar devidamente a questão das indemnizações aos cidadãos em caso da perda dos seus bens, o que deixa claro que dificilmente o Governo pagará indeminizações aos lesados por força desta lei. Analistas ouvidos pelo SAVANA são da opinião de que, apesar da lei ser comum em países do primeiro mundo, a mesma é inoportuna para o país, para além de que há tantas outras situações prioritárias, mas que estão a ser relegadas para o plano secundário a favor de normas que podem trazer uma espécie de suspeição do processo. O parlamento Juvenil (PJ), um movimento de advocacia às causas dos jovens, diz que não restam dúvidas que estamos perante um paradoxo, pois a proposta de lei dá uma impressão de que as negociações entre o Governo e a Renamo são um assobio ao lado, servem, sim, para distrair o povo enquanto se prepara uma epopeia militar. Salomão Muchanga, que dá sua voz e alma pela causa da agremiação, lembra a AR que a oportunidade dá sentido aos actos legislativos e esta proposta de lei parece estar a denunciar uma sinuosa caminhada para um estado de sítio e de emergência que pode ser provocado a qualquer momento. Deste modo, considera que se trata de uma lei sem sentido de oportunidade e de estado. Por estas alturas, Muchanga diz que o povo esperava o aprofundamento das liberdades democráticas e não sevícias legislativas. “Não estamos à espera de leis que requisitem pessoas e bens, estamos perante uma lei estranha às circunstâncias nacionais, estamos perante uma lei estranha às prioridades nacionais, num momento em que falamos do diálogo para paz devemos esperar leis que acarinhem o processo e que não intimidem o ambiente”, disse. Entende Muchanga que o diálogo para paz deve afastar o potencial de incertezas quanto ao futuro e, num momento como este, a juventude que é parte abrangida por esta lei espera uma legislação favorável ao ensino, emprego, habitação e participação social e política e, acima de tudo, na tomada de decisões. Deste modo, considera que, sendo os deputados representantes do povo, estes deviam ter um mínimo de sensatez e não investir o seu tempo na produção deste pacote por enquanto. Pelo que, a proposta de lei devia ser reduzida à usa insignificância contemporânea. Diz que em países normais este tipo de leis servem para prepara- ção preventiva e foi justamente por isso que o Estado moçambicano fez uma cópia fiel da legislação portuguesa, mas sucede que no nosso caso é diferente estarmos diante de um momento atípico e deve ser mimoseado. Teme ainda que esta lei seja recessiva ao investimento, porque os investidores podem sentir-se intimidados com a componente de requisição de bens e meios de privados plasmada na lei. Toma o exemplo da guerra que criou uma recessão à economia nacional e avança que é preciso transmitir confiança aos investidores quer nacionais como estrangeiros para se devolver a estabilidade à economia nacional e minimizar o impacto do alto custo de vida. Para Ivan Mazanga, membro da liga juvenil da Renamo e deputado da AR pelo mesmo partido, a grande preocupação face à lei é o contexto em que será implementada. Mazanga argumenta que para a produção de uma lei não basta o mérito do conteúdo, é preciso ter em conta o contexto da sua aplica- ção. Segundo o parlamentar, num momento como este em que o presidente da República (PR) e o líder da Renamo estão a trabalhar arduamente na busca de entendimentos rumo a uma paz efectiva não se devia debater uma lei que em última instância visa questões militares. Isto porque, apesar da proposta da lei trazer a parte sobre a mobiliza- ção civil para casos de epidemias ou de emergência e situações de emergências, se no mesmo indiví- duo recaem as duas mobilizações prevalece a militar. Outra inquietação do jovem da Renamo tem a ver com as indemnizações no que diz respeito à requisição de propriedade privada e de singulares para questões militares. Refere Mazanga que a proposta de lei não acautela devidamente a atribuição de uma indemnização justa, alegando que o cálculo da compensação não pode deixar de considerar o estado da economia nacional. Ou seja, se o Governo decidir requisitar bens e serviços de uma entidade ou particular na presente conjuntura económica dificilmente será indemnizado. Diz que, neste momento, o debate daquela proposta de lei não tem enquadramento, pois há muita coisa que falta por resolver, ainda não estamos em paz efectiva, mas sim em tréguas, sendo que o debate de questões militares pode trazer uma espécie de suspeição do processo. Mazanga sublinhou que não está a defender que a lei não seja necessária e ou não é oportuna, mas mostra-se desarticulada com o momento. O presidente da liga juvenil da Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Sande Carmona, entende que o Governo está a inverter a ordem das prioridades do momento. Aponta que a proposta de lei sobre a requisição e mobilização surge numa altura em que o discurso oficial recomenda produção para inverter a situação económica do país, mas também persistem desconfianças entre o Governo e a Renamo, o que mostra que o ambiente não é favorável. Segundo Carmona, o Governo deve empenhar-se na busca de uma paz efectiva e duradoura e que transmita confiança aos moçambicanos bem como aos investidores para que invistam mais no país. De Mobilização e Requisição submetida ao parlamento pelo Governo Proposta de Lei gera medo e incerteza Diz que isto é o que o Governo habituou ao seu povo, falar de paz enquanto se potência para guerra através de actos legislados. Não descarta o presidente do bra- ço juvenil do MDM a hipótese do Governo apropriar-se dos bens de entidades privadas ou singulares em nome desta lei, sem com isso dar- -lhes a devida indemnização. Prossegue referindo que, em tempo de guerra, as atrocidades nunca faltam e pode ser normal usurpar-se meios de alheios em nome da mobilização e deixar os donos ao deus dará. Defende que por enquanto esta lei não devia ter pernas para andar, porque há sérios riscos de se distorcer as conquistas do povo em termos de infra-estruturas, relações humanas e outras conjunturas para o desenvolvimento do país. Em representação da Confedera- ção das Associações Económicas (CTA), Pedro Baltazar entende que a lei é bem vinda porque estabelece balizas para sua prossecução. Segundo Baltazar, o pior seria o Governo avançar para a mobilização e requisição de bens e meios privados em regras claras. Nas actuais condições e sem aquela proposta de lei, o também jurista diz que o Estado pode, à luz da Constituição e da lei de Defesa Nacional, levar avante este processo e depois não indemnizar a ninguém o que seria nefasto ao empresariado. Ao legislar, o Estado abre uma nova página para a indemnização, depois de cumprida a missão, pelo que à CTA não interessa o momento do debate ou aplicação se é oportuno ou não, mas sim a clareza nas indemnizações que o Estado fará aos atingidos. Diz estar ciente que o processo da indemnização pode levar o seu tempo e foi por isso que aquando do debate da proposta na CTA, os empresários insistiram que a indemnização deve ocorrer nos termos gerais da lei e não nos termos negociais que o Estado pretendia. “Isto tira o poderio de Estado de puxar a sardinha para sua brasa. O Estado ainda pode dizer que como se tratou de uma causa patriótica não te pode indemnizar e não tens nada com que te defenda, mas com a lei é praticamente o contrário. As leis são bem feitas e execução é outra coisa que não quero debater neste espaço”, disse. (RS e AN) Cidadãos temem que a Lei de Requisição abra espaço para a reintrodução do recrutamento compulsivo Salomão Muchanga Pedro Baltazar Savana 07-04-2017 9 PUBLICIDADE SOCIEDADE 10 Savana 07-04-2017 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE Savana 07-04-2017 11 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE 12 Savana 07-04-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE Savana 07-04-2017 13 SOCIEDADE SOCIEDADE T ransparência, inclusão e sustentabilidade na gestão dos recursos naturais é o que, diariamente, as organizações da sociedade civil pedem ao governo moçambicano, de modo a que os resultados destas operações beneficiem o povo, em particular, as comunidades locais. Para que o objectivo seja alcan- çado, o parlamento, na qualidade de “casa do povo”, é chamado a exercer, com rigor e isenção, o seu papel, de legislar e fiscalizar a acção governativa. Entretanto, o desejo parece estar longe de ser alcançado na Indústria Extractiva (IE). Um estudo, encomendado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), constatou que os deputados da Assembleia da República (AR) e das Assembleias Provinciais (AP’s) têm fraco conhecimento da legislação deste sector. A constatação surge pelo facto dos instrumentos regulatórios do sector não serem da autoria dos parlamentares, mas sim do executivo. “Todos os instrumentos legais foram propostos pelo Governo e aprovados pela AR”, refere o Estudo, realçando que as únicas leis de domínios dos mandatários do povo é a de Minas e de Petróleo e Gás. Os dados foram apresentados esta semana, em Maputo, durante o lançamento do Projecto “Fortalecendo o Papel do Parlamentar e das Assembleias Provinciais na Supervisão da Área da Indústria Extractiva em Moçambique”, a ser implementado pelo IMD, em parceria com o Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária e Demo Finland. O projecto, a ser financiado pela Finlândia, orçado em 1.500 mil euros, tem como objectivo fortalecer as capacidades da AR e AP’s na fiscalização de iniciativas ligadas a IE, de modo a contribuir num sistema forte de governação neste sector, apoiado na transparência, inclusão e prestação de contas. O estudo, realizado em Novembro passado, em seis províncias (Maputo, Inhambane, Tete, Zambézia, Niassa e Cabo Delgado), acrescenta que a AR apresenta uma defici- ência na gestão do conhecimento, visto que “dos actuais 17 membros legislativos da Comissão para Agricultura, Economia e Ambiente, apenas dois foram membros desta durante a última legislatura (2009-2014)”. O sector extractivo tem se revelado muito importante no desenvolvimento do país, tendo contribuído, em 2013 e 2014, com 18% e 13%, respectivamente, no Produto Interno Bruto. Entretanto, os resultados dos recursos já em exploração (gás natural de Inhambane e carvão mineral de Tete) são considerados negativos. O Centro de Integridade Pública (CIP) revelou, em 2013, que nos primeiros anos (2004-2012), o país arrecadou USD 50 milhões, contra os mais de USD 800 milhões anuais colectados pela África do Sul, na venda do gás de Pande-Temane. A remoção da cláusula de partilha de produção do acordo, inicialmente estabelecido, e a aceitação, pela parte moçambicana, de uma forma de preços abusivos são apontadas, pelo CIP, como causas principais que levaram o país aos resultados insatisfatórios. A falta de conhecimento técnico é também apontada como responsá- vel pela “má negociação” dos contratos. A pesquisa, que tinha o objectivo de analisar a capacidade actual da AR e das AP’s de legislar e fiscalizar o sector que pode catapultar a economia do país, envolveu também as Organizações da Sociedade Civil (OSC), de modo a perceber o seu nível de envolvimento nos processos legislativos deste sector. Tal como os deputados, o estudo concluiu que, apesar de a maioria dos membros da OSC terem demostrado um entendimento alto sobre a Lei de Minas, há necessidade de capacitação sobre leis, regimes e decretos específicos, como são os casos das Leis Fiscal de Minas; Regime Fiscal de Petróleo e Decreto sobre a Bacia do Rovuma. Sem revelar a amostra usada para chegar a estes números, tanto para os deputados, assim como para as OSC, o estudo revela que 25% das organizações consideram-se envolvidas nos processos legislativos, enquanto 50% sentem-se parcialmente envolvidas e os restantes afirmam não ter sido envolvidas. Como sempre, a maior reclamação de envolvimento nestes processos vem das províncias, que consideram-se excluídas, pois, no seu entender, o Governo envolve apenas as organizações baseadas na capital do país. A fraca comunicação com o Governo; o difícil acesso aos contratos de exploração dos recursos naturais; e a fraca responsabilização (seja do Governo, assim como da AR), perante os seus cidadãos, são apontados como problemas comuns neste sector. Falando a uma plateia constituí- da, maioritariamente, por deputados da 1ª e 5ª Comissões da AR e pelos presidentes das AP’s envolvidas, Delton Muianga, um dos pesquisadores, realçou a necessidade de se apostar na capacitação dos representantes do povo, de modo Legisladores desconhecem leis sobre Indústria Extractiva Estudo do IMD revela que deputados são “caixas de ressonância” dos interesses do executivo Por Abílio Maolela a garantir transparência na gestão dos recursos. Deputados negam ser “caixas de ressonância” Apesar de reconhecerem pouco domínio nesta matéria, os “representantes do povo”, presentes no evento, negaram ser “caixas de ressonâncias” nesta matéria, justificando-se que é também competência do executivo propor leis. Para Isequiel Gusse, deputado da Renamo, os desmandos que se verificam neste sector não são resultantes da falta de conhecimento dos seus pares, mas da capacidade de fiscalização. Gusse afirma que há zonas onde os deputados não conseguem trabalhar devido à exiguidade de fundos, como é o caso do distrito de Palma, província de Cabo Delgado, onde a vida é cara, pelo que são obrigados a hospedarem-se em Mocímboa da Praia, que dista a uma média de 80 quilômetros . Por sua vez, Esmeralda Muthemba, deputada da Frelimo, afirma que as leis estão ligadas às dinâmicas da sociedade, pelo que a legislação da IE constitui uma novidade, visto que “o fenómeno também é novo”. “É preciso que se crie condições para que possamos ter capacidade de abordar estas questões”, anotou, sublinhando que o facto da legisla- ção mineira ter sido proposta pelo Governo não significa que o parlamento apenas tenha chancelado. “A primeira Comissão tem tido muito trabalho porque a maior parte das propostas chegam mal feitas e temos de refazê-las”, revelou. Por seu turno, o deputado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Armando Artur, aponta a configuração do parlamento, dominado pela Frelimo, como responsável pelo fraco aproveitamento dos recursos naturais. Para aquele deputado, é preciso que se adopte o modelo ganês, em que cada partido político com assento parlamentar faz uma proposta sobre a gestão dos recursos naturais que culmina com a elaboração de uma Política Nacional. Juristas pedem harmonização das leis O evento contou também com a participação de juristas, com destaque para o Bastonário da Ordem dos Advogados, Flávio Menete, que realçou a necessidade de capacitação dos deputados para que se garanta uma gestão criteriosa e sustentável dos recursos naturais, tendo em conta a importância do sector no país. Por sua vez, o advogado João Nhampossa entende que para haver transparência é necessário que a legislação deste sector seja harmonizada com as Leis do Direito à Informação, do Procedimento Administrativo e da Terra e do Ambiente. Aliás, Nhampossa propõe a realização de briefings quinzenais do Ministério dos Recursos Minerais e Energia para trazer à tona o decurso das actividades mineiras, assim como revelar quanto e quando o Estado transfer(iu) e a percentagem (2,75%) destinada às comunidades envolvidas pelos projectos de mineração. Sobre o projecto O Director Executivo do IMD, Hermenegildo Mulhovo, diz que o projecto visa colocar o nosso país no lugar dos países que olham os recursos naturais como uma “bên- ção”. “Os recursos naturais não constituem uma bênção e nem uma maldição, mas depende da nossa capacidade de gestão”, comentou, sublinhando que “juntamo-nos à AR e AP’s como instituições democráticas, que têm o papel de representar os nossos interesses”. Por sua vez, a Embaixadora da Finlândia, Laura Torvinen, afirma que a indústria extractiva tem um papel importante para o desenvolvimento de Moçambique e a AR e as AP’s têm responsabilidade de assegurar que os recursos naturais sejam utilizados de forma sustentável. A diplomata entende que, para que os recursos minerais não sejam uma maldição, é preciso que haja transparência na gestão dos recursos; criar-se um mecanismo de monitoria à acção das empresas; e garantir que as receitas sejam inclusivas. AInspecção Geral das Actividades Económicas (INAE) acaba de lançar uma nova frente no seu trabalho inspectivo. Trata-se da inspecção sobre a violação exclusiva do desenho industrial. Com efeito, uma equipa de inspectores da INAE apreendeu, esta terça-feira, um total de 46 mil grades de cerveja na empresa Cervejas de Moçambique (CDM), em Maputo. Segundo explicou esta quarta- -feira, em declarações à imprensa, a temível inspectora da INAE, Rita Freitas, a razão da apreensão das referidas grades (sem garrafas) se relaciona ao   facto de a CDM ter adquirido as mesmas (grades) numa entidade industrial denominada ARKAY, que para o efeito violou o desenho industrial da TOPAC – uma companhia industrial que fornece grades à CDM. “No âmbito dos trabalhos inspectivos, a INAE levou a cabo a inspecção sobre o desenho industrial, neste caso, trabalhamos na terça- -feira na ARKAY, uma empresa de produção de grades de cervejas e constatou-se que estão a fabricar grades para cervejas violando os direitos exclusivos do desenho industrial, neste caso das grades da TOPAC”, afirmou Freitas. Segundo reza a legislação, explicou a inspectora-chefe da INAE, a exploração de um determinado desenho industrial registado requer o consentimento do dono do registo, uma medida que não foi observada para o caso em apreço. Portanto, a ARKAY violou os direitos autorais da Topac. Nisto, a empresa CDM incorre ao pagamento de uma multa equivalente a 112 salários mínimos, ao ter adquirido, mesmo sabendo da violação que estava a cometer, grades para acondicionamento de cervejas numa entidade que simplesmente estava a violar os direitos do seu principal fornecedor das grades, neste caso a Topac. “A penalização são 112 salários mínimos, estamos a trabalhar no processo, já notificamos a CDM e ARKAY para trabalharmos em conjunto. À 2M pedimos que nos traga o consumo diário, semanal, mensal e anual e a TOPAC para trazer as capacidades de produção diária, anual e mensal, para vermos questões de capacidade, mas, mesmo assim, não podemos permitir a violação de direitos por falta de capacidade”, descreveu Maria Freitas. Contudo, a fonte disse que existe uma colaboração por parte da CDM, uma vez que ainda nesta terça-feira, esta entidade garantiu que iria parar de comprar grades junto da ARKAY. Sobre o produto apreendido, a inspectora-geral da INAE disse que a própria CDM foi constituída como fiel depositá- rio das grades até ao desfecho do processo. (Benedito Luís) INAE ataca cervejas de Moçambique Combate à pirataria 14 Savana 07-04-2017 Savana 07-04-2017 15 NO CENTRO DO FURACÃO Asua mão dura contra gritantes desmandos na restaura- ção e panificação tornaram- -na a mulher do momento. Rita Maria Fernandes Freitas, de seu nome completo, abriu as portas do seu gabinete, há dias, para 1 hora e 16 minutos de entrevista ao SAVANA. Igual a si mesma, a directora-geral da Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE) revela que tem vindo a sofrer tentativas de suborno por parte de agentes económicos, mas avisa que não vale a pena tentarem suborná-la porque não vão corrompê-la. Sublinha a destemida inspectora-geral que, encontrar ratos, gatos e fossas entupidas nas cozinhas, é de tamanha falta de respeito e consideração pelo consumidor e inevitável o encerramento do estabelecimento. Quando questionada sobre o que nos é servido nos restaurantes, em Mo- çambique, Freitas, a mulher que já mandou encerrar históricos restaurantes como o Continental e o Cristal, diz que nos dão de comer muita sujidade. Lamenta que não possa fazer mais por falta de recursos humanos e materiais, informando que, neste momento, por exemplo, a INAE possui apenas uma viatura, justamente a da inspectora-geral, pelo que, “o que estamos a fazer é tentar trabalhar nos sítios onde podemos ir a pé para não parar”. Siga os excertos editados da entrevista com furacão Rita. Durante a sua investidura, em Julho de 2016, disse que, numa primeira fase, iria conhecer a casa que iria dirigir para, em função disso, ver quais são as prioridades. Que INAE é que encontrou e que prioridades traçou? As áreas operativas têm problemas sé- rios de falta de pessoal. Por exemplo, temos uma área operativa que contempla a indústria, comércio e transporte, que é uma área grande, mas tem apenas quatro inspectores e um director. Nós podíamos fazer muito mais, se tivéssemos recursos humanos. Agora nem conseguimos fazer 0,01% daquilo que é a nossa responsabilidade. A área dos transportes, por exemplo, é uma das áreas que não está operativa, tal como a área da educação, cultura e desporto. A título de exemplo, na área da cultura, em que há muito trabalho, quando cheguei só tinha o director (de opera- ções) sozinho, hoje já temos mais dois inspectores nesta área, mas dois inspectores não são suficientes, para fazer uma inspecção, uma brigada necessita no mínimo de dois inspectores. A área operativa de recursos minerais e energia, praticamente, não existe porque não tem nenhum director, não tem inspector. O quadro pessoal da INAE aprovado é de 102 pessoas que seria já um número razoável para podermos fazer o nosso trabalho, devidamente, mas quando cheguei aqui eram apenas 15 pessoas. Neste momento, com alguns quadros que já integrei, somos 26, mas este número ainda está muito aquém do desejado para fazer o trabalho da responsabilidade da INAE que não é só a inspecção de estabelecimentos económicos, mas também garantir a fortificação de alimentos; garantir que, no caso dos pré-medidos (como pão), o peso declarado seja o peso que o cidadão está a adquirir; a questão da contrafacção e falsificação de marcas e patentes, que só esta área de contrafac- ção é muito grande e com muitos problemas porque hoje, em Moçambique, grande parte dos produtos que aqui entram são contrafeitos porque descobriu-se um mercado em que é possível introduzir facilmente os produtos falsificados. Porquê tantas limitações? Quando chegou, sentiu que em algum momento a INAE terá sido marginalizada? Não digo que terá sido marginalizada. O que aconteceu é que o Governo criou a INAE em 2009 com o principal objectivo de concentrar as várias actividades económicas na INAE, que é a indústria, comércio, turismo, transporte, educação, cultura, desporto, recursos minerais, energia, saúde, ambiente, serviços. Só que deveria se ter transferido recursos humanos e materiais porque existiam nesses ministérios que deixaram de ter responsabilidade de fazer inspecção. Alguns mandaram recursos humanos, mas o número que veio é muito ínfimo. Mas deveriam ter enviado todos porque eles já não fazem inspecção, só fazem vistoria, como pedidos de licenciamento. Faltou um comando para a transferência dos inspectores e meios de trabalho desses ministérios para a INAE. Além de recursos humanos, temos de ter materiais, como máquinas fotográficas, de filmar, porque o agente económico depois pode ir ao tribunal dizer que não encontramos nada, então, temos de ter suporte documentado no processo para amanhã nos defendermos. “Acabei comprando luvas, tocas e máscaras para a INAE” Está a dizer que nem condições materiais a INAE tem? As condições não são as ideais. Não temos, por exemplo, nenhuma viatura. Temos locais que fechamos e que deví- amos monitorar, mas não temos como ir a esses locais. E, então, como é que as brigadas se têm deslocado? Estamos a usar o único carro que é meu, que vai deixar uma brigada no sítio e depois vai se buscar, mas um carro dá para uma brigada. O que estamos a fazer é tentar trabalhar nos sítios onde podemos ir a pé para não parar. Precisamos de ir àqueles sítios mais recônditos, aqueles sítios escondidos, às praias, aos distritos e localidades, mas de urinar sobre os sacos de farinha de trigo e destruímos aqueles sacos, mas e os sacos que não estávamos lá para ver? E porquê tem gato lá? É porque tem ratos, mas que arranje outra forma de eliminar os ratos, não através de gatos. Chegamos a uma padaria - que foi a que mais me marcou – em que apanhou-se baratas, ratos, gatos e cães dentro de uma padaria que confecciona pão para nós comermos. É triste porque o primeiro inspector devia ser o agente económico. Nós não exigimos edifícios novos, não. Uma coisa é um edifício velho, degradado, uma coisa é um edifício imune, sujo e com problemas sérios de higiene e limpeza. Entupiu a fossa? Pára de fazer alimentos, não serve nada, informe ao público que não pode servir refeições por causa de um problema interno. Fossa entupida, mas a confeccionar alimentos ali mesmo?! Não é possível! Não é possível! O odor das fossas, as bactérias, são tão ínfimas que com o vento acabam sendo incorporados, é involuntário, não é que ele levou e foi incorporar (...) entre salvar milhares de vidas humanas e salvar o agente económico, tenho de salvar milhares de vidas humanas. Os pecados do Governo A gravidade dos problemas que encontram nesses estabelecimentos sugerem que não são apenas os agentes económicos que estavam relaxados como disse a inspectora. Sugerem também que alguém vinha fazendo vista grossa perante esses desmandos. Ou não? Acaba estando tudo associado porque se eu vou abrir um estabelecimento, há procedimentos. Tenho de tratar de NUIT, registo da empresa, licenciamento de alvará, quando se trata de perigo a saúde ou ambiente, é obrigatória a vistoria que envolve vários sectores. Se for a restauração, tem de estar lá o turismo, a saúde, os bombeiros, o comércio, então, é uma equipa multissectorial que faz vistoria. O que eu noto na maioria dos estabelecimentos por onde nós passamos e que encontramos infracções graves, é que a vistoria acabou sendo aprovada sem que houvesse as condições apropriadas para o exercício da actividade económica. Eu não vou dar vistoria a um local que não tem condições de ser uma padaria. Temos várias aqui que encerramos. Dissemos aqui não pode continuar a funcionar como padaria. É preciso criar condi- ções de funcionamento, não é só pegar um espaço como aquela padaria que fechamos em Nampula que não tinha condições nenhumas de funcionamento. A padaria do Niassa, que foi o primeiro choque para mim, quando passei dali peguei as mãos e disse não, não e não. É muito triste aquilo que estamos a encontrar. Então, realmente, estamos a pecar, eu digo estamos porque somos nós o Governo que fazemos as vistorias. “Não aceito subornos” No acto da investidura da actual direcção, o primeiro-ministro dizia que acções que combatam práticas de corrupção, por partes dos funcionários da INAE, podem contribuir para o melhoramento das actividades na instituição. Sentiu haver sinais de corrupção na INAE que encontrou? Esta é uma questão preocupante e gritante. O agente económico reclama que é obrigado a subornar os funcionários para a inspecção passar e para não ser penalizado, mas também eu culpo o agente económico porque se ele tem tudo em ordem porquê teme? Já conversei com vários agentes económicos que diziam que a nossa inspecção quando chegam ao estabelecimento os agentes temem porque os inspectores começam por dizer qual a é infracção, qual é a multa. Ora, o inspector não tem de dizer qual é a infracção. O trabalho do inspector quando chega a um estabelecimento é fazer o levantamento das constatações e preencher uma ficha em que escreve o que encontrou e o agente económico confirma, assinando, sendo que a original fica com a agente económico e a cópia connosco. Depois, há um trabalho em que se confronta com a legislação, aí é que a legislação vai dizer qual é a penalização. Se o inspector chega ao terreno e diz qual é a penalização e a multa, o agente económico tem de dizer “faça o seu trabalho”. Não tem de entrar em esquemas, não tem de subornar a ninguém. Encontrou inspectores corruptos? Dizem que existem inspectores corruptos, não tenho provas, a não ser aquele caso que foi encontrado recentemente. Mas também há muitos que se fazem passar por inspectores, pelo que o agente económico tem de conhecer a legislação para se defender. Pessoalmente já sofreu tentativas de suborno por agentes económicos? Já. E várias. Mas eu digo mesmo na hora que isso é falta de respeito e consideração com o consumidor. Não vale a pena. Por exemplo, ainda hoje (24 e Março), estava aqui alguém, logo de manhã, porque eu encerrei, ontem, o estabelecimento. Então, hoje veio ficar, às 7 horas. Para fazer o quê? Vieram me dizer que ela queria que eu a recebesse e eu disse que não recebo ninguém. Cumpra o que deixamos, quando cumprir escreve para irmos reinspeccionar. Chora, implora, nós temos de pensar naquilo que é o objectivo do nosso trabalho, e temos de ser implacáveis, a legislação diz assim, nós vamos cumprir. Aquelas questões que não periguem a saúde, nós não encerramos. Encerramos quando são aspectos críticos: casas de banho e cozinha em péssimas condições, os congeladores arrumados de qualquer maneira, no balcão está tudo misturado - comida e papeis – é preciso um pouco de respeito para com as pessoas e nós aí não vamos tolerar. E eu enquanto estiver aqui, não vale a pena tentarem subornar porque não me vão corromper, eu não aceito este tipo de situações. Já me disseram que, às vezes, montam esquemas de depositar dinheiro para depois dizerem que recebeu dinheiro, mas eu estou sempre atenta à minha conta. Se entra dinheiro, pergunto ao DAF é de quê, eles vão me dizer, porque o meu salário não entra inteiro, entra por partes, então, tenho de perguntar senão posso correr riscos. Eu sou humano como qualquer um e o erro é humano, mas dizer que eu recebi dinheiro, nunca há-de ouvir dizer que recebi dinheiro. Eu quero ser justa e correcta. Não é que o meu salário chegue, mas quando aceitei esta posição eu sabia que estava no Estado e sabia qual era o trabalho, então, não tenho de trocar salvar vidas humanas, garantir a saúde pública, o bom serviço dos agentes económicos ao consumidor, em troca de dinheiros que vão me satisfazer a mim, mas a prejudicar milhares de pessoas. Eu não posso prejudicar a vida das pessoas, não. É a saúde pública que nós temos de sempre pensar. Não posso pôr o meu lado emocional em primeiro lugar, mas sim a minha vida profissional. Quando vou aos estabelecimentos, muitas vezes, os agentes económicos imploram, choram, a dizerem “faça qualquer coisa”. Até houve um que disse “dou um refresco” e eu disse “desculpa lá, a senhora sabe com que está a falar?” Dar refresco para matar pessoas a dar de comer comida com mordidelas de ratos? Desculpa-la. Não vamos brincar. Se, por um lado, a inspectora é aplaudida pelos consumidores, há quem não vê de bons olhos o trabalho que vem desempenhando. Alguma vez isso lhe pesou a cabeça ou não? Não. Eu fico satisfeita mesmo com as críticas porque é nas críticas onde vemos onde podemos melhorar. Eu sinto-me feliz com as mensagens de elogio e o trabalho que temos feito, dão-nos mais força e ânimo para cumprirmos com o nosso trabalho e sermos implacáveis naquilo que periga a saúde. Dá-nos mais vontade e gosto no trabalho que fazemos porque a saúde pública das pessoas está nas mãos da INAE a nível nacional. Mas digo mais: todos devemos ser inspectores. O primeiro inspector deve ser o consumidor (…) e denunciem porque nunca vamos mencionar o nome do denunciante. Muitas vezes, as críticas que são feitas é para tentar distrair o consumidor com especulações para denegrir o nosso trabalho e para enfraquecer a INAE. Mas a INAE não vai enfraquecer. A INAE vai continuar a trabalhar no sentido de cumprir com as legislações vigentes nas vá- rias áreas de actividade económica e garantir um serviço condigno aos cidadãos a nível nacional, até ao distrito e à localidade. Não se sente isolada nessa luta? Não. Não me sinto isolada, sinto-me com mais força porque são os colegas, é sua excelência o ministro (da Indústria e Comércio), primeiro-ministro e presidente da República (…) e sentimo-nos acarinhado com o trabalho que estamos a fazer, quer por parte do Governo, quer do público em geral, até lá nos bairros. Há um caso de um estabelecimento que quando encerramos a população bateu palmas como se fosse um jogo de futebol, tivemos claque, mas claque a dizerem que estamos de parabéns e que estavam a gostar do nosso trabalho. A população a dizer que estava há anos a comer porcarias e não imaginava. Nunca sofreu ameaças? Graças a Deus ainda não. Talvez porque as pessoas estão satisfeitas porque verem que estavam durante anos a comer muita imundície e não tinham onde se queixar. É um trabalho árduo, mas bonito e todos temos de nos unir para fazermos diferença. Que legado pretende deixar na INAE? Que continue com esta dinâmica, esta garra, este trabalho que estamos a levar. Este ano foi noticiado que a inspectora-geral terá mandado encerrar uma casa de banho num avião da LAM. Verdade? Eu não fiz nenhuma inspecção. Primeiro o vôo não atrasou por causa da casa de banho, atrasou por chuva torrencial naquele dia em que não havia transporte para tirar os passageiros do avião para a terra. E eu era passageira como os outros, estive no avião com vários passageiros. O que aconteceu, sim, foi que a casa de banho não estava em condições e eu aconselhei, na qualidade de cidadão e não como inspectora-geral, ao jovem da tripulação a dizer os passageiros para não usarem a casa de banho porque estava entupida. Não foi nenhuma inspecção, só que isso foi deturpado e cada um diz o que diz. A partir da altura em que entramos no avião, estamos sob a responsabilidade do comandante, ele faz e decide o que deve fazer de acordo com as regras de avião. Então, eu não tinha autoridade para dar ordens a um avião. “Dão-nos de comer muita sujidade” Furacão Rita em exclusivo ao SAVANA Por Armando Nhantumbo como sabem que não temos condições, a tendência é relaxarem. Nós deveríamos ter e temos de ter no futuro piquetes. Se recebemos denúncias depois das 15:30 não temos ninguém para ir ao estabelecimento, e a partir daí o estabelecimento faz e desfaz no atendimento ao cidadão. Mas só o facto de o agente económico saber que existem piquetes na INAE e que trabalham a 24 horas por dia, vai mudar a forma de ser do agente económico. Se fecho um estabelecimento, tenho de ter piquete que anda para verificar se realmente fechou. Numa quinta-feira fechamos, fruto de uma denúncia popular, um estabelecimento com prateleiras cheias de produtos roídos e fezes de ratos - isto é falta de respeito e consideração porque não seria justo deixar este estabelecimento aberto - mas dia seguinte recebemos novamente denúncia de que o estabelecimento estava aberto. Para irmos a uma inspecção, temos de ter luvas, tocas, máscaras, capas para entrar nas câmaras frigoríficas e muitas vezes não entramos porque eles não nos cedem o equipamento. Muitas vezes temos de pisar excrementos, imundícies, acabamos estragando os nossos sapatos, mas tínhamos de ter botas. Cada vez que se vai a um estabelecimento usa-se um par de luvas, uma toca e uma máscara e depois daquele estabelecimento tínhamos de deitar fora, mas nós acabamos usando os mesmos porque não temos e, como nós queremos trabalhar, eu vou ser sincera, eu acabei comprando, eu comprei para a instituição, uma caixa de luvas, uma caixa de tocas, uma caixa máscaras. Temos de informatizar os serviços para nos ajudar, para perdemos menos tempo. Sabemos que a sua primeira aposta foram as áreas operativas. Ora, dos diagnósticos que já fez no terreno, qual é a saúde do ramo das actividades económicas em Moçambique? É triste. É muito triste o estado em que se encontram os estabelecimentos, principalmente, na área de restauração, hotelaria e panificação, que são as áreas mais críticas porque perigam a saúde pública quando não obedecidas as exigências mínimas do seu funcionamento e sinto que, durante anos, houve um relaxamento por parte dos agentes económicos porque aquilo que nós encontramos não são situações de ontem, do mês passado, de três a seis meses, são situações de anos e eu pergunto como é que um estabelecimento arrancou há 19 anos com problemas, por exemplo, de fossas, de infiltração, com ratos e gatos. É mesmo triste o estado lastimável em que estamos a encontrar os estabelecimentos. “Dão-nos de comer muita sujidade” A medir por aquilo que têm encontrado em estabelecimentos até histó- ricos como o Continental e o Cristal, o que efectivamente está a ser servido aos consumidores nos restaurantes deste país? Dão-nos de comer muita sujidade e muita sujidade que nós nem imaginamos. Chegar a uma padaria que não tem ventilação nenhuma, um espaço pequenino, baixinho, encontrar trabalhadores a transpirarem, a suar e o suor a cair nas massas e aquele bolo, aquele pão, nós estamos a comer. Chegar a uma cozinha, idem, apanhar uma cozinha sem ventilação, ele transpirou, não tem nenhum lavatório para lavar as mãos, mas depois está a pegar nos alimentos. Há estabelecimentos que lidam com alimentos, sem local para lavar as mãos, sem desinfectante, sabão e secador para secar as mãos. Então, o trabalhador sai da casa de banho e claro que vai continuar a fazer o trabalho e transportou bactérias e é tão fácil depois ter diarreias, dores de barriga, as intoxicações. Nós verificamos que, ultimamente, temos muitas viroses, donde é que vêm? Como é que a inspectora fica, pessoalmente, quando encontra ratos, gatos e fossas em cozinhas? Eu fico muito triste. Eu chegar a um estabelecimento, encontrar ratos, gatos, bancas entupidas, casas de banho avariadas, não tenho como não encerrar. Não encerramos por mero prazer, encerramos para proteger a saúde pública porque se há um rato a urina e as fezes do rato são perigosos, o gato está lá dentro e urina sobre os sacos de comida: nós já encontramos estabelecimentos em que o gato tinha urinado em cima da farinha de trigo e aquela farinha de trigo eles não deitam fora, fazem o pão. Calhou chegarmos ao local e acabavam Não encerramos por mero prazer, encerramos para proteger a saúde pública, Rita Freitas Naíta Ussene Ilec Vilanculo ‡,QVSHFWRUD JHUDOGD,1$(GL]TXHPXLWRVHVWDEHOHFLPHQWRVGHUHVWDXUDomR KRWHODULDHSDQLÀFDomRVmRXPSHULJRjVD~GHS~EOLFD Foram estas condições deploráveis que forçaram a INAE a encerrar o emblemático Restaurante Cristal 16 Savana 07-04-2017 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE Q uando faltam 13 anos para a data definida (2030), como sendo meta para a promoção da igualdade de género e empoderamento da mulher, a Ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaúque, considera que Moçambique “caminha para níveis satisfatórios” nesta matéria, tendo em conta o seu nível de envolvimento em todas as esferas sociais. A cobertura sanitária da mulher (70%), o envolvimento desta na política (37%) e o nível de ingresso da rapariga na educação (48%) são algumas das realizações que deixam a titular deste pelouro satisfeita e optimista num futuro risonho. Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, com duração de 53 minutos, Cidália Chaúque não passou ao lado da violência doméstica protagonizada por mulheres, tendo lamentado a situação, mas explicado que a mesma verifica- -se “devido à degradação dos valores morais”; mostrou-se ainda preocupada com o aumento de casos de violência doméstica, assegurando que a sua equipa aposta nos trabalhos de sensibilização, no sentido das famílias pautarem pelo diálogo que pela violência. Acompanhe, nos próximos pará- grafos, os excertos desta conversa, onde, entre outras questões, aborda-se a situação da mendicidade e o estágio de implementação do Programa de Assistência Social, no país. Celebra-se, esta sexta-feira, 07 de Abril, o Dia da Mulher Moçambicana. O que se oferece a dizer, em relação a esta data? -07 de Abril é uma data muito importante para o país porque rendemos homenagem a todas as mulheres moçambicanas que deram as suas vidas em prol da equidade e igualdade do género, assim como para todas as mulheres que trabalham para a estabilidade económica deste país. Neste ano, o mês da mulher iniciou a 24 de Fevereiro e criamos um programa nacional (lançado em Pemba, Cabo Delgado), em que estão inclusas as mulheres de todo o mundo (por ocasião do 08 de Março), na Beira. Também tivemos as comemorações dos 50 anos do Destacamento Feminino (04 de Abril), em que homenageamos as mulheres que participaram na Luta de Libertação Nacional; e vai culminar com as celebrações do Dia da Mulher Moçambicana (hoje). Durante este período tivemos palestras de sensibiliza- ção (divulgação das Leis sobre a Promoção e Equidade de Género, “Caminhamos para níveis satisfatórios de igualdade de género” -Considera Ministra do Género, Criança e Acção Social, em entrevista ao SAVANA, por ocasião do 07 de Abril Prevenção da violência e Lei da Família); tivemos feiras da saúde, em vários segmentos; marchas de sensibilização, para que as mulheres pudessem participar como motivação de participarem no movimento feminista; e actividades desportivas. Qual foi o nível de envolvimento das mulheres nessas actividades? -A participação foi boa porque as actividades decorreram em todo o país (até às localidades). Houve um envolvimento massivo não só das mulheres, mas também das crianças e dos homens, pois, temos estado lado-a-lado com o homem para perceber que a luta só tem sentido, quando estivermos juntos. Começamos a perceber que a sensibilização sobre a equidade de género, da promoção do empoderamento e estabilização da mulher conseguiu encontrar espaço. Quase que, diariamente, as mulheres clamam pela igualdade de oportunidades. Neste momento, em que situação estamos? -Ainda não atingimos o desejado. Sentimos que é um desafio que o país tem, mas há que destacar o sector da saúde, que atingiu níveis consideráveis, no que concerne à cobertura no tratamento da mulher. Atingimos a taxa de cobertura em 70% e 90% das mulheres seropositivas com tratamento hospitalar, o que é muito bom porque as mulheres grávidas conseguem ter partos institucionais. Na educação, conseguimos atingir o nível de ingresso da rapariga em 48%, tanto no ensino primário, assim como secundário. Mas, o nosso desafio é que tenhamos o nível de retenção da rapariga para a conclusão dos ciclos, de modo a atingirmos estes números. Muitas abandonam por muitos objectivos, com destaque para gravidezes precoces. No sector político estamos com uma cifra de 37% (temos sete ministras, oito vice- -ministras e 97 deputadas, na Assembleia da República). Ainda é um desafio, mas estamos num bom caminho. Na componente económica, é onde trabalhamos mais para que tenhamos estabilidade económica das mulheres. É um desafio que temos, no sentido de que as mulheres tenham acesso a todos os recursos (acesso ao financiamento e à terra). Estamos com uma Política de indicação de quotas para que as mulheres recebam o DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra), para que consigam, por si só, negociar o acesso à terra. O nosso objectivo é que tenhamos 50-50, mas caminhamos para níveis muito bons de igualdade e equidade de género. A retenção da rapariga na escola é o maior problema que o sector enfrenta, na área da educação e o mesmo não constitui uma novidade. O que está a falhar para que até hoje o problema prevaleça? -Em alguns casos, são questões sócio-culturais. O nosso país tem níveis muito elevados de casamentos prematuros (estamos entre os 10 países com maior índice de casamentos prematuros no mundo) e gravidezes precoces. Quando esta menina entra na escola começa a atingir a idade, em que, precocemente, é atentada para os casamentos prematuros e, nesta linha, o país tem várias políticas, como a Estratégia de Prevenção e Eliminação de Casamentos Prematuros, aprovada em 2015. Temos estado a trabalhar com as comunidades e a sociedade para que percebam que o nível de oportunidade, tanto do rapaz, assim como da rapariga deve ser igual. Em alguns casos, as famí- lias dão oportunidade aos homens para que ingressem à escola e as mulheres são reservadas para cuidarem das suas famílias. Temos também os casos de pobreza, em que as famílias também dão oportunidade aos rapazes; o mesmo se verifica, quando as famílias se encontram numa situação de instabilidade nutricional preferem entregar as filhas para que melhor sejam protegidas no casamento e é aqui, onde sensibilizamos as pessoas para perceberem que as raparigas devem ter igual prioridade no ingresso à escola. Encontramos também situações em que são submetidas aos casamentos, depois de ingressarem na escola e o rapaz, independentemente, de ter engravidado consegue fazer o seu ciclo. Portanto, estamos a trabalhar no sentido de ter a menina na escola, independentemente de estar ou não grávida. Mas, há indicações de redução. Como tem sido a articulação com o Ministério da Educação, uma vez que, algumas escolas expulsam alunas, quando engravidam... -A articulação é boa. Já existe sensibilidade em todos os sectores. Muitas vezes, é a própria família que prefere que a menina continue os estudos, mas no curso nocturno e começa a perder a protecção dos próprios pais e professores. Em alguns casos, é uma maneira de punição porque acha- -se que é um mau exemplo para as outras meninas; ou que pode infestar aquele meio de meninas. Mas, estamos a trabalhar para que ela seja considerada naquele local e que continue a frequentar a escola. Porém, já há uma aceitação. O que queremos é que seja decretado que as meninas, apesar de estarem em situação de gravidez, continuem a estudar até que terminem o ciclo. Assiste-se, nos últimos tempos, ao recrudescimento da violência, baseada no género, um pouco por todo o País, mas com maior incidência nas zonas urbanas. O que estará a falhar e que medidas estão em curso para estancar o fenômeno? -É uma preocupação do Ministé- rio também. De facto, os índices de violência têm estado a aumentar. Em 2016, foram registados 25356 casos, dos quais 14289 foram criminais, nove mil civis e dois mil de outra natureza. Nós olhamos a questão da violência de duas maneiras. No primeiro ano, tínhamos índices baixos de registo porque as pessoas não denunciavam e agora conseguimos encontrar casos registados e, a partir do momento em que a violência tornou-se num crime público, nós conseguimos ter os casos terminais (que vão até aos tribunais). Até houve altura em que as pessoas apresentavam os seus casos, mas sofriam ameaças, ao nível da família. Mas, agora o crime é público e desde o momento em que é identificado, vamos com o caso até ao julgamento. O nosso desafio é que tenhamos as pessoas condenadas, exemplarmente, para que percebam que a violência não é a melhor forma de resolver os problemas. Ficamos felizes, quando foram os casos dos raptos e das mortes de pessoas albinas porque encontramos pessoas que formam, exemplarmente, “Ainda não atingimos o desejado, mas caminhamos para níveis muito bons de igualdade e equidade de género” Savana 07-04-2017 17 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE punidas. Mas, paralelamente, vamos fazer o trabalho de sensibilização nas famílias para que pautem pelo diálogo porque encontramos famílias violentadas por vários factores. Quase que a sociedade vê a violência como um crime praticado por famílias carenciadas, mas, actualmente, vê-se que é um crime que afecta também as famí- lias economicamente estáveis e influentes do país. Alguns casos terminam em mortes (caso da Valentina Guebuza). Até que ponto este facto pode influenciar a sociedade? -Nós avaliamos a violência de igual maneira, em todos os seguimentos, porque ela não só ocorre em famílias de renda baixa. Onde não existe diálogo, todas as situações terminam em casos de violência. O nosso trabalho é no sentido de sensibilizar as famílias para que não pautem pela violência, independentemente da sua condição social. A família pode ser estável, mas quando não há diálogo, a violência sempre vai prevalecer. Podemos encontrar uma família com situação econó- mica muito baixa, mas com muita harmonia devido ao diálogo. Portanto, trabalhamos no sentido de sensibilizar as pessoas sobre as consequências da violência doméstica. Temos casos, ao nível das comunidades, de filhos que ficam sem os progenitores, devido a violência. Uma das coisas que temos observado depois dos nossos trabalhos é que temos de trabalhar mais com a criança para que perceba que a harmonia familiar é muito importante porque, quando ela cresce num ambiente de violência, independentemente da situação financeira, ela por si só vai ser uma criança violenta. Tivemos caso de crianças de 11 anos que mataram o irmão de quatro anos, quando brincavam e isso é resultado de alguns hábitos. Há pais que acham que a melhor maneira de chamar atenção as crianças é usando palavrões (vou-te matar, etc) e encaram aquilo como uma coisa normal. Sobre a educação das crianças, há quem defende que os actuais níveis de violência doméstica devem-se à educação virada a uma vida independente, esquecendo- -se que um dia a pessoa irá se casar. Partilha dessa opinião? -Claramente que a independência das pessoas é muito importante. Nós trabalhamos para não dependência económica, assim como social das pessoas. Mas, isto não dita que haja desrespeito. O casal pode ser independente economicamente, mas o respeito deve prevalecer. Por isso o nosso trabalho é no sentido de que as famílias percebam que deve haver respeito. O homem deve respeitar a mulher e a mulher deve respeitar o homem, mas ninguém deve ser submisso. A perca de respeito é que levanta os ânimos em alguns casos e, em algumas situações, é a falta de percepção. As pessoas não aceitam que esta pessoa seja independente. Ninguém deve submeter o outro. Aliás, a independência é boa para as duas famílias porque, quando o casal tem capacidade de desenvolver as suas actividades, isto estabiliza a família e não sofre necessidades. Mas, não deve haver falta de respeito. Os valores morais são muito importantes. Nas famílias africanas diz-se, claramente, que o homem é o chefe da família e a mulher é a chefe da casa. Ou seja, estão divididas as tarefas e não pode haver troca de posições porque as pessoas estão economicamente estáveis. Nos últimos dias, a mulher tem sido a maior protagonista dos actos de violência doméstica e, a maior parte, terminam em mortes. Que significado estes actos têm e até que ponto constituem uma contradição na luta contra a violência baseada no género? -Olhamos para estes casos com muita preocupação. Temos estado a perceber que os casos têm estado a subir e temos feito o trabalho em todos os seguimentos para que não aumentem. Os casos mediatizados são os protagonizados pelas mulheres, mas temos percebido que é por falta de valores morais. Temos feito trabalho nas comunidades para que não pautem pela violência e não optem por esta via porque não só mancha a componente que a mulher tem de ser mãe, estabilizadora da famí- lia, como também cria problemas porque, quando não tem marido ou a criança não tem a mãe, cria- -se um desconforto. Pode haver muito barulho, mas a mulher tem um papel definido, que é de baixar os ânimos e estabilizar. Mas, não temos encontrado esta situação. No mandato anterior, o Ministério designava-se da Mulher e hoje é do Género. Que estraté- gias tem usado para a integração do homem nesta casa, até porque defende-se que o Ministério continua sendo da mulher, apenas mudou de designação... -Nós temos como missão promover a equidade do género, ou seja, criar oportunidades para que o homem e a mulher estejam no mesmo patamar. Nesta altura, o que fazemos é criar oportunidades para que as mulheres consigam atingir os níveis em que os homens já atingiram, daí esta percepção. O trabalho está virado à mulher, mas precisamos do homem para que traga esta aproximação entre as mulheres e os homens. Que nos traga políticas que promovem a equidade e estabilidade do género. Por exemplo, temos estado a trabalhar no sentido de identificarmos que actividades e formações devem ser feitas para a própria mulher. Tínhamos, há pouco tempo, situações em que, quando a mulher quisesse aceder ao financiamento bancário, era questionada se era casada, mas não se olhava para a capacidade que ela pudesse ter para aceder aos recursos. É preciso criar políticas para que a mulher possa ter as mesmas oportunidades porque esta pergunta não era feita ao homem para aceder ao financiamento. O acesso à terra é outro recurso importante para o desenvolvimento económico do país, mas há situações em que as mulheres não tinham acesso ao DUAT e até havia situações em que era atribuído ao filho. Nas escolas de formação, estamos a promover cursos que outrora eram considerados dos homens, mas que hoje mostram outra realidade. Temos tido boas surpresas porque temos encontrado mulheres com mais capacidades de fazerem esse trabalho que os homens. A outra componente que faz parte deste Ministério é da Acção Social. Em estágio está o Programa de Assistência Social? -Temos vários programas de assistência social e, no geral, temos cerca de 372 mil beneficiários no Programa de Acção Social Produtiva, onde assistimos beneficiários em situação de vulnerabilidade (famílias chefiadas por crianças, idosos e deficientes). Há casos em que a assistência é feita por transferências monetárias (pessoas idosas), mas também por transferência alimentar. Há outros casos, em que temos famílias compostas por raparigas e aqui a assistência é no sentido de protegê-las para que possam continuar a estudar. Mas, até então, só conseguimos cobrir 30% dos beneficiários. É muito reduzido, mas pensamos que à medida que nós vamos encontrando os recursos vamos melhorar os trabalhos ao nível do país. Que razões ditam este nível de assistência? -Falta de recursos financeiros para podermos assistir a todas as pessoas em situação de vulnerabilidade. Anualmente, vamos encontrando mecanismos para colmatar este déficit, não só através do Orçamento do Estado, mas também através dos parceiros que apoiam vários programas. A nossa meta é até ao final do mandato termos atingido acima dos 70% e pensamos que, gradualmente, vamos conseguir. A inflação também contribuiu porque começamos a perceber que os valores que transferimos, em algum momento, são muito reduzidos e as pessoas não conseguem responder às suas necessidades e isso constitui um desafio, pois, ficamos entre o incremento de beneficiários ou fazer o ajustamento dos recursos transferidos. No que diz respeito à pessoa idosa já atingimos a cifra dos 50%. Temos 727 mil idosos e cobrimos 367 mil beneficiários. Nas pessoas com deficiência, temos 286 mil em situação de vulnerabilidade e 20 mil estão sendo assistidas. É um desafio e o nosso trabalho é no sentido de não se proliferar a mendicidade, ao nível das comunidades. Temos centros abertos e fechados que assistem essas pessoas e sentimos que estamos num bom caminho. A nossa vontade é que pudéssemos assistir todas as pessoas nesta situação. Não se pode falar da assistência social sem se tocar da mendicidade, que continua a crescer nas zonas urbanas. Será resultado destes dados ou há outros factores... -O combate à mendicidade é uma prioridade para o Ministério porque as pessoas que praticam a mesma são susceptíveis a vários riscos (exposição e acidentes) e nós temos centros, onde assistimos estas pessoas. Nos centros abertos é onde acolhemos toda a pessoa idosa, que pratica mendicidade e toda a pessoa de boa-fé pode ir a estes centros. Mas, nestes centros, os idosos podem fazer actividades ocupacionais, dependendo da experiência de cada um para evitar a mendicidade. Temos 13 centros públicos e 15 privados, onde criamos condições para que a pessoa idosa esteja numa situa- ção estável e, ao nível da Cidade de Maputo, 90% das pessoas que praticam mendicidade são beneficiárias dos nossos programas (têm direito ao subsídio e à cesta básica), mas pensam que praticando a mendicidade podem melhorar a sua condição social. O trabalho que fazemos é no sentido de conversar com as pessoas para que não dêem nada a estas pessoas porque não só as expõem, mas também criam problemas, como acidentes de viação. Também estamos a trabalhar no sentido de criminalizar esta prática para que as pessoas não estejam na rua porque existem centros, onde elas podem ser acolhidas. Temos casos positivos de práticas de mendicidade, nas províncias de Inhambane, Gaza e Cabo Delgado, em que as pessoas encontram-se nestes centros para distribuir o que têm. Completou, em Janeiro deste ano, dois anos em frente deste ministério. Que balanço faz a este período? -O balanço é positivo porque conseguimos aprovar políticas de protecção social, de combate e prevenção dos casamentos prematuros, estratégias de promoção da mulher e, neste momento, estamos a fazer a monitoria destas políticas. Somos signatários de várias convecções mundiais e quando fazemos avaliação das mesmas, encontramos um meio termo da participação do nosso país. A avaliação é positiva porque conseguimos reduzir o número de pessoas em situação de vulnerabilidade que tínhamos, em 2015, em cerca de 26%, que é muito bom e tudo indica que vamos conseguir atingir as metas. A título de exemplo, no ano 2014 tínhamos 431.720 benificiários e em 2016 passamos para 549.465 benifici- ários.Preocupa-nos a questão dos casamentos prematuros e uma das coisas que vamos fazer é levar à Assembleia da República uma proposta para que tenhamos uma Lei de Idade Núbil, de 18 anos de idade, porque, neste momento, temos uma situação excepcional de 16 de idade, o que não é muito bom. Do trabalho que estamos a fazer é consensual que a idade núbil seja 18 anos. Estamos satisfeitos com nível de cobertura do tratamento da mulher e vamos continuar a trabalhar para que os níveis de retenção da rapariga continuem a crescer. Que programas estão agendados para este ano? Aumento da cobertura dos programas de segurança social básica nomeadamente, subsídio social básico, apoio social directo, acção social produtiva e serviços sociais da acção social. Vamos rever a politíca da acção social, contamos também rever os programas de segurança social básica em função da nova estratégica que inclui o subsídio para crianças e incrementar acções ao combate aos casamentos prematuros e empoderamento da mulher. Pretendemos aumentar nossas acções no âmbito da prevenção, combate e assistências das vítimas de violência através do mecanismo de atendimento entregado. “Apostamos na sensibilização das famílias para que não pautem pela violência, independentemente da sua condição social” 18 Savana 31-03-2017 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73 Telefones: (+258)21301737,823171100, 843171100 Editor: Fernando Gonçalves editorsav@mediacoop.co.mz Editor Executivo: Franscisco Carmona (francisco.carmona@mediacoop.co.mz) Redacção: Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo Nhampossa, Armando Nhantumbo e Abílio Maolela )RWRJUDÀD Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos Colaboradores Permanentes: Fernando Manuel, Fernando Lima, António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca, Paulo Mubalo (Desporto). Colaboradores: André Catueira (Manica) Aunício Silva (Nampula) Eugénio Arão (Inhambane) António Munaíta (Zambézia) Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana. Revisão Gervásio Nhalicale Publicidade Benvinda Tamele (823282870) (benvinda.tamele@mediacoop.co.mz) Distribuição: Miguel Bila (824576190 / 840135281) (miguel.bila@mediacoop.co.mz) (incluindo via e-mail e PDF) Fax: +258 21302402 (Redacção) 82 3051790 (Publicidade/Directo) Delegação da Beira Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A Telefone: (+258) 825 847050821 savana@mediacoop.co.mz Redacção admc@mediacoop.co.mz Administração www.savana.co.mz EDITORIAL Cartoon Todos os anos, no dia 7 de Abril, comemora-se no país o Dia da Mulher Mo- çambicana. Este dia, símbolo central de patriotismo, está inscrito na história do país. Nesta importante data, são reconhecidos os contributos das mulheres para a independência nacional, o desenvolvimento social e o bem-estar das suas famílias. Mas está mais que na hora de começarmos a celebrar também a luta pelos direitos da mulher e pela igualdade de género neste dia! Esta data foi declarada em 1972 em honra a Josina Machel, valorosa guerrilheira da luta de libertação. Uma das fundadoras do Destacamento Feminino da guerrilha e chefe dos departamentos de Relações Exteriores e dos Assuntos Sociais, desafiou a ordem patriarcal no seio da Frente de Libertação de Mo- çambique (FRELIMO), com vigorosas campanhas pela plena integração da mulher em todas as facetas da luta de libertação. Faleceu aos 25 anos de idade, no dia 7 de Abril de 1971, após viagens exaustivas de dois meses pelas zonas libertadas, quase sempre a pé, apesar da sua doença debilitante, para avaliar os programas do departamento de Assuntos Sociais. Do ponto de vista dos direitos da mulher e da igualdade de género, esta foi uma actividade revolucionária, tendo em conta os papéis tradicionalmente associados à mulher nessa época. Contudo, somos hoje chamados a reimaginar Josina para além do sentimentalismo patriótico, como uma figura chave na luta pelos direitos humanos e pela igualdade de género, e reflectir para além do significado habitual do 7 de Abril. O que significam a vida e a morte da Josina para a luta pelos direitos da mulher? Qual é a relação entre Josina e o 7 de Abril e a dignidade inerente ao ser humano e aos direitos indivisíveis de todos e das mulheres em particular? Josina viveu e morreu lutando pelo empoderamento de todos os moçambicanos, para que pudessem reaver a sua dignidade e direitos após a miséria da vida colonial. Mais do que o patriotismo, Josina simboliza a luta pelos direitos da mulher consagrados na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) e no Protocolo à Carta Africana dos DiMoçambique: A luta continuada pelos direitos da mulher reitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África, conhecido como o Protocolo de Maputo. A CEDAW compromete o governo a eliminar todas as formas de discriminação contra a mulher e promove activamente a igualdade de género e os direitos da mulher, e o Protocolo de Maputo condena especificamente “todas as práticas culturais e tradicionais nefastas e [...] todas as outras práticas com base na ideia de inferioridade ou de superioridade de um ou de outro sexo, ou nos papéis estereotipados da mulher e do homem.” Não é irónico o facto de a convenção africana sobre os direitos da mulher ter recebido o nome da cidade de Maputo, a capital de Moçambique, um país em que a ordem social é dominada pelo patriarcalismo e a misoginia? Ao nível global, os indicadores sobre os direitos da mulher projectam uma imagem deplorável de Moçambique. O Índice de Desigualdade de Género do PNUD de 2014 coloca Moçambique entre os piores países, na 145ª posição, de um universo de 188 países. Os outros indicadores são também desastrosos. O país regista uma Taxa de Mortalidade Materna de 480 por cada 100 000 nados-vivos, e uma Taxa de Gravidez na Adolescência de 138 por 1 000 nascimentos. A população acima dos 25 anos com alguma frequência do ensino secundário inclui 1,4 milhões de mulheres contra 6,2 milhões de homens, uma diferença comparativa de 342,85%. Certamente que isto não é o que Josina e o 7 de Abril simbolizam. Estes valores agregados espelham o triste estado da desigualdade de género na sociedade. Nas escolas, segundo um relatório da UNESCO de 2015, as raparigas são frequentemente sujeitas a abuso e exploração sexual pelos seus professores do sexo masculino, o que resulta em danos físicos e psicológicos, gravidezes na adolescência e abandono escolar. Os métodos de ensino não são sensíveis às questões do género. Sexo em troca de notas é a crua realidade das raparigas nas escolas. Certamente que isto não é o que Josina e o 7 de Abril simbolizam. A negação dos direitos da mulher nos serviços de saúde é também demasiado comum. Nas maternidades, as mulheres são sujeitas a berros e espancamentos enquanto dão à luz. Para serem tratadas com um resquício de humanidade e dignidade, as mulheres têm de pagar subornos. Na província de Nampula, mães denunciaram a existência de subornos nas maternidades que variavam entre os 500 e os 2000 meticais, sendo o salário mínimo médio no sector público de 5 272 meticais por mês. As instalações dos serviços de saúde são caracterizadas como “prisões em que nenhuma mulher deveria viver” pela organização Women and Law in Southern Africa (Mulher e Lei na África Austral – WLSA). Certamente que isto não é o que Josina e o 7 de Abril simbolizam. A violência baseada no género encontra-se generalizada na família e na sociedade. Em 2015, a filha da Graça Machel, xará desta figura heróica em destaque, foi alegadamente espancada pelo seu companheiro, tendo ficado cega de um olho. Em 2016, Valentina Guebuza, a filha do antigo Presidente Armando Guebuza, foi morta a tiro pelo seu próprio marido. Mesmo estas mulheres de perfil tão destacado não estão imunes à tamanha crueldade, o que demonstra amplamente a extensão e profundidade da misoginia em Mo- çambique, que nega o significado da Josina e do 7 de Abril, consagrado na legislação moçambicana, e nos tratados e normas de direitos humanos regionais e internacionais. Josina e o 7 de Abril são símbolos da dignidade humana e dos direitos humanos em geral e da dignidade e direitos da mulher mais especificamente e devem ser celebrados como tal. O espírito da Josina e do 7 de Abril deve ser instilado quotidianamente no tecido social, ao nível do indivíduo, da família e da sociedade. Acima de tudo, o Governo deve tomar medidas decisivas para assegurar que os direitos da mulher e a igualdade de género, simbolizados por Josina e pelo 7 de Abril, se reflictam nas suas estruturas, leis, políticas e práticas. *Pesquisador da Amnistia Internacional para a África Austral Oproblema do transporte público de passageiros, principalmente nas principais cidades moçambicanas, passou, desde há algum tempo, de mal a pior e encontra-se neste momento numa situação de caos total. Não há solução que se vislumbre a curto prazo e aqueles cidadãos (a maioria) que não dispõem de meio de transporte próprio estão entregues à sua própria sorte, ante a incapacidade das autoridades de irem em seu socorro. E sem um sistema de transporte público fiável, não há economia de que se possa falar. O Governo, a quem devia caber a responsabilidade de dar resposta a esta grave situação, parece estar a sofrer de alguma paralisia, incapaz de encontrar soluções satisfatórias. E como resultado desta incapacidade, não deixa de ser vítima de acções de chantagem protagonizadas pelos três sectores de transporte que se oferecem como alternativa. Só no espaço de duas semanas, o sistema de transporte público na cidade de Maputo viu-se confrontado com uma greve dos trabalhadores da principal empresa do sector, que exigiam o pagamento do décimo terceiro salário referente a 2016, para além do subsídio de trabalho nocturno. Esta semana começou com uma outra greve, desta vez dos transportadores privados designados por “chapa 100”, estes exigindo que o Governo autorize o aumento da tarifa que cobram aos seus passageiros. Entre o sistema público e o privado situa-se o dos transportadores ilegais operando com carrinhas de caixa aberta, também conhecidos por “my love”. Estes não têm qualquer tipo de reivindicações, pois não estando licenciados para esta actividade, não têm legitimidade para o fazer. Contudo, mesmo não tendo legitimidade para reivindicar seja o que for, os “my love” exercem o seu tipo de pressão sobre o Governo, este que estando no meio dos outros dois e sem soluções práticas, vê-se obrigado a fechar os olhos e consentir a grande ilegalidade em que eles actuam. O caos que se regista no sistema de transporte público urbano é a consequência lógica de uma atitude tomada desde há vários anos pelo Governo, que consiste em eximir-se das suas responsabilidades quanto à disponibilização de transporte, deixando esta responsabilidade em grande medida nas mãos do sector privado. A abertura do sistema de transporte público urbano ao sector privado terá sido uma das primeiras medidas de liberalização económica tomadas pelo Governo já nos meados dos anos 1980. Foi uma abertura que permitiu o surgimento de uma pequena classe capitalista nacional até então praticamente inexistente. Estes novos capitalistas eram, na sua maioria, ligados à nomenclatura do poder político, incluindo até membros do Governo. Estes não poderiam, de forma alguma, tomar decisões que impusessem um conjunto de regras, dessa forma pondo em causa os seus próprios interesses empresariais. Isso conduziu a que o sector de transporte público urbano se desenvolvesse e crescesse a um ritmo muito rápido mas altamente desregrado, até atingir um ponto em que o Governo já não tinha mais controlo sobre ele. Também é evidente que naquelas condições, para que o sector privado pudesse proliferar e criar alguma robustez para a classe capitalista nascente era preciso sacrificar o sector público. Este foi literalmente sujeito a uma autêntica sabotagem que conduziu aos actuais escombros a que actualmente se encontra reduzido. A política de subsídios ao transporte e aos combustíveis que foi sendo praticada, longe de ser um mecanismo para aliviar o sofrimento dos pobres, tornou-se efectivamente numa forma de financiamento pelo Estado para os operadores privados de transporte público. Só que isso funcionou enquanto a tesouraria nacional dispunha ainda de algum provimento, mesmo que tal resultasse da injecção financeira que era feita anualmente ao Orçamento Geral do Estado (OGE) pelos parceiros internacionais, e não de uma economia capaz de se auto-financiar. Hoje, sem meios financeiros para continuar com as suas políticas de paternalismo económico, o Governo está praticamente de mãos atadas. Não é capaz de impor um sistema de transporte público guiado por regras convencionais, com garantias de segurança e dignidade para os passageiros. Tornou-se um mero espectador perante o clima de anarquia e caos que tomou conta das principais cidades deste país. O Estado foi bem sucedido no seu objectivo de criar uma classe de endinheirados nacionais, mas nesse processo tornou-se refém destes. Estamos apenas no interlúdio de um filme de longa metragem. Transporte público: O interlúdio GHXPÀOPHGHORQJDPHWUDJHP David Matsinhe* Até agora tudo bem! Savana 31-03-2017 19 OPINIÃO 522 Email: carlosserra_maputo@yahoo.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com A cidade de Maputo é habitada por reagrupamentos simbólicos e mestiçagens permanentes de seres e coisas, passados e futuros, numa cultura de bricolagem múltipla. O seu eixo é a rua. De lugar de encontros fugazes, a rua maputense é reorientada e convertida à civilização do contacto calórico, das sociabilidades intensas, da geometria fractal que subverte as lógicas do espaço simétrico herdado da cidade colonial. Nem as linhas férreas são poupadas por essa invasão das lógicas populares. Cerimónias fúnebres, repastos, bula-bula de esquina, inter-ajuda de bairro, solidariedades religiosas, festas populares: tudo isso avança e recua, encurta e alonga sob comando da rua matricial. Ao relógio da física clássica sucede a nuvem popperiana, complexa, aleatória, sempre mutante. A rua maputense é, afinal, apenas um prolongamento da casa, com esta diferença: a porta da casa pode fechar-se, a rua dá sempre passagem. Maputo Por lamentável erro de paginação, repetimos, na última edição, o artigo de Carlos Serra (número 521, com o título “Dois tipos de consciência), que já havia sido publicada na edição anterior. Pelo transtornos as nossas sinceras desculpas. Hoje, quando em Moçambique se fala em crise financeira, vem logo à mente o problema das chamadas dívidas ocultas. Embora todos estejamos bem familiarizados com a questão das dívidas ocultas, vou referir, de forma muito esquemática e sintética, alguns dos seus contornos. Essas dívidas ocultas correspondem a um processo de endividamento do nosso país ocorrido em 2013 e 2014, envolvendo a criação de três empresas mo- çambicanas, a Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), a PROINDICUS e a MAM (Mozambique Asset Management), endividamento esse que atingiu valores da ordem de dois mil milhões de dólares americanos. Tal endividamento ocorreu em termos conspirativos e do maior secretismo, foi tido como garantido pelo Estado moçambicano e foi planeado e executado por responsáveis e estruturas dos serviços de segurança e outros órgãos do Estado. Montou-se uma operação supostamente destinada a adquirir artes e equipamentos de pesca mas que na realidade visava a compra de equipamento militar e de segurança, entre outros objectivos. Esta operação, que se desenvolveu violando a legalidade, acabou por ser trazida ao conhecimento público através de fontes informativas estrangeiras, e teve e continua a ter enorme repercussão no País e na esfera internacional. A revelação de tais dívidas ocultas desencadeou diversas consequências a ní- vel interno e internacional, e originou vários processos, dentre os quais referirei apenas o bloqueamento das relações e operações com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, e a suspensão dos programas de apoio a Moçambique pela maioria dos países doadores e tradicionais contribuintes da ajuda ao nosso país. Implicou também uma crescente e contínua descredibilização internacional do Governo de Moçambique, a descida para os níveis mais baixos da classificação de Moçambique pelas principais agências de notação financeira internacionais, reduzindo o nosso país praticamente a um Estado insolvente e sem capacidade para recorrer a financiamentos externos, e a imposição, como condição sine qua non para a possível normalização das relações financeiras com Moçambique, de uma auditoria às dívidas contraídas pelas referidas empresas. Tal auditoria está a ser levada a cabo por uma companhia de auditoria denominada Kroll. A par disto, e a nível interno, para além da enorme apreensão, indignação e preocupação que o conhecimento destas dívidas causou na generalidade dos cidadãos mais informados, a Assembleia da República designou uma Comissão para analisar a questão dessas dívidas, Comissão essa que já elaborou e apresentou o seu Relatório. Por seu turno, a Procuradoria Geral da República instaurou um processo com vista ao apuramento de eventuais responsabilidades criminais e fez um pronunciamento público preliminar em que considera terem sido cometidas ilegalidades e até apontou uma possível pista de enquadramento penal para os ilícitos supostamente verificados. Outras implicações Em paralelo com o desencadear desta crise de revelação das dívidas ocultas, a economia moçambicana registou um verdadeiro sismo que se traduziu na redução dos seus níveis de crescimento económico, grande desvalorização da moeda nacional, o metical, brusco aumento da taxa de inflação, subida de taxas de juros, encerramento ou redução dos níveis de actividade económica de várias empresas e aumento de desemprego, desgaste das reservas internacionais, e necessidade de adopção de drásticas medidas de carácter monetário, bem como outras medidas, nomeadamente de ajustamento orçamental e de redução de gastos correntes do Estado e das despesas públicas de investimento. O cidadão comum viu subitamente as suas condições de vida agravarem-se para um nível quase insustentável. Este processo das dívidas ocultas está a chegar a uma fase decisiva e crítica com a entrega próxima do Relatório de Auditoria da empresa Kroll, cujo conteúdo certamente trará revelações importantes. Por isso, a prudência, a fidelidade e obediência a princípios constitucionais que devem ser respeitados, recomenda ser conveniente não fazer interferências prematuras e indesejáveis em processos que se revestem de tantos imponderá- veis e duma extrema delicadeza política. Uma coisa parece certa: os factos que vierem a ser carreados e definitivamente comprovados, as conclusões dos auditores e a forma como todo esse conjunto de dados forem analisados, divulgados e as consequências que irão determinar, poderão eventualmente tornar-se objecto de decisões cruciais e com sérias implicações no futuro da nossa economia, e serão testes decisivos ao tipo de Estado que temos e nos propomos desenvolver, que espécie de democracia estamos a praticar, em que termos funciona ou não a responsabilização no nosso país, e quais os valores éticos e relações de força que prevalecem na nossa sociedade. Note-se bem que, quando referimos responsabilização, não abrangemos apenas os decisores de factos pretéritos ocorridos com aquele endividamento, mas aludimos também às dinâmicas ainda em curso e aos protagonistas, presentes ou futuros, dos modelos de solução que irão ser adoptados relativamente a esta matéria. A academia tem de questionar E porque o nosso tema envolve também o papel do Ensino Superior, direi que, para esta temática das dívidas ocultas, o que as Instituições de Ensino Superior devem fazer, no meu entendimento, é acompanhar, estudar e analisar todo o processo em curso. Será que, por exemplo, já aqui foi estudado o Relatório da Comissão da Assembleia da República, identificados os seus pontos fortes e fracos, e produzidos ensaios académicos acerca dele? Será que o assunto dívidas ocultas já terá suscitado, a nível da Instituição, dos seus cursos ou através de palestras, a sensibilização da comunidade académica para a sua importância e para o futuro do país? O que torna a situação de Moçambique particularmente difícil é que con- fluíram no desencadear e aprofundar da crise que estamos a enfrentar factores internos e externos. Importa destacar que o desencadear da crise foi antecipadamente alertado pelos economistas moçambicanos (e não só, veja-se o amplamente ignorado documento Agenda 2025), cujos sinais de alerta emitidos com muita antecipação foram sobranceiramente ignorados, senão mesmo vilipendiados, e ostracizadas as vozes críticas por quem devia estar a elas mais atento. Porque se esqueceram ou fragilizaram valores éticos e morais, o que contribui para tornar as pessoas como os países mais vulneráveis a crises financeiras, abandonou-se o sentido da abertura e sensibilidade à crítica construtiva, cultivou-se e continua a cultivar-se o servilismo indigno e a bajulação. Isto é, criou-se e desenvolveu-se uma cultura do poder de tipo faraónico, arrogante e incompetente, se é que não mesmo corrupta, perdendo-se a sensibilidade para o imperativo de priorizar a solução dos problemas reais e fundamentais dos cidadãos. Quanto aos factores exógenos, desfez- -se a ilusão ingénua de que a economia moçambicana parecia ser imune às crises externas, rejeitaram-se ou adiaram- -se as reformas necessárias, assistimos pasmados e indefesos as súbitas descidas dos valores das nossas exportações e ao decréscimo dos investimentos estrangeiros associado também à crise internacional. Se a tudo isto acrescermos a perturbação resultante de uma situação de insegurança interna, o começo de um novo ciclo político com todos os ajustamentos que lhe são inerentes, temos reunidos os condimentos necessários para as graves moléstias de que enferma o nosso país. Em vez de consolidarmos conquistas (que as há também, e em considerável número) e planearmos um crescimento duradouro e sustentável, fazendo funcionar com competência e eficácia as instituições existentes, adoptou-se uma governação do tipo bombeiro que vai criando e correndo atrás dos problemas. Dizia há não muito tempo o nosso mais alto dirigente político que não queremos um Estado falido nem pária (ao que eu acrescentaria nem pedinte), mas é aquilo em que nos arriscamos efectivamente a tornar se persistirmos em cometer erros graves de previsão e de governação e em delongas e atrasos na solução de questões prioritárias que são obstaculizadoras ou impeditivas duma normalização da vida no nosso país. A crise financeira é, em boa medida, dominada pela crise económica com que nos debatemos há longuíssimo tempo, e, por isso, não se resolverá aquela sem que se ataquem os fundamentos desta. Como se fosse pouco, persiste também a crise política que está a ser negociada, temos uma verdadeira situação de anormalidade no funcionamento das instituições do Estado e demais estruturas sociais, com as incertezas que pairam sobre o desfecho desse processo negocial em curso e temos uma sociedade civil atenta, mas preocupada com a sua possível marginalização relativamente a eventuais decisões importantes que venham a ser tomadas. Os momentos de crise são particularmente delicados, pois criam fragilidades e vulnerabilidades que podem querer ser utilizadas para aproveitamentos oportunísticos ou até para criar outras graves perturbações à vida do nosso país. Não há inimigos irreconciliáveis Mas as crises não trazem só dificuldades e problemas; elas oferecem igualmente oportunidades que podem e devem ser aproveitadas para as superar. Embora o meu sentimento seja de que a ultrapassagem das nossas crises terá de atravessar ainda prolongados momentos extremamente duros e difíceis, eu não me sentiria confortável à saída deste nosso encontro se não vos deixasse uma nota de esperança. E essa esperança temos de a situar em sinais que estão a emergir de que muitas coisas positivas poderão vir a acontecer. A prioridade das prioridades no nosso país é restabelecer definitivamente a paz, a segurança e a completa e genuína reconciliação de todos os moçambicanos. Para isso estão a decorrer negocia- ções que todos desejam tenham sucesso, e que tal aconteça no curto prazo. Mas a batalha mais difícil de travar é convencer cada moçambicano que, entre nós, filhos duma mesma pátria, não há inimigos irreconciliáveis mas divergências apenas, que se devem resolver dialogando e aceitando as diferenças com espírito de tolerância. Combater sem tréguas a corrupção é outra das prioridades. A principal di- ficuldade nesse combate é que ela se tornou sistémica, se anunciaram campanhas e criaram estruturas para a desmantelar que se desacreditaram pela sua inoperância ou ineficácia de resultados, se é que não foram mesmo deliberadamente mal concebidas e equipadas. Mas operações como a Operação Tronco, se levadas até às últimas consequências, acções para combater o contrabando e descaminhos, as pressões exercidas pela sociedade civil na denúncia de abusos e desmandos, são outros sinais animadores de que algo pode ainda mudar, de que podemos salvar o nosso país das selváticas devastações que estão a ser cometidas, que não é impossível conter a sofreguidão predadora no assalto a bens e patrimónios públicos que deviam servir a melhoria das condições de vida do nosso povo e não apetites desenfreados de criminosas minorias ambiciosas e insaciáveis. Temos de ser capazes de reabilitar o tecido ético e moral do homem moçambicano e da nossa sociedade, de repor o sentido do respeito pela coisa pública e pelo bem comum, sob pena de degenerarmos para mais um Estado falhado no concerto das nações. A terminar a minha intervenção que, para os meus padrões, já vai longa, quero acentuar uma última nota. 2GHVDÀRGDVFULVHV As crises vêm e passam, umas em processos rápidos, outras de formas mais dolorosas e lentas. Os desafios que o nosso país está a enfrentar são porventura dos mais difíceis da sua história. A sua ultrapassagem passa necessariamente, como dissemos antes, pela consolidação da paz, por uma boa, competente e incorrupta governação, pela recredibilização do nosso país e das suas estruturas dirigentes, por muito esfor- ço e trabalho e pela assunção de que a construção do futuro de Moçambique cabe sobretudo aos moçambicanos. Isso implica reanalisar e exercer a mais alta e cerrada vigilância sobre o modo como o capital internacional está a explorar os recursos do nosso país, ou como o pretendem fazer as multinacionais emergentes no cenário económico moçambicano (não há só predadores nacionais; há os internacionais que são bem mais perigosos e que se aproveitam e utilizam das alianças com nacionais). Essa vigilância deve incidir também sobre as instituições internacionais que operam no nosso país e que, no seu afã de reformar, podem aplicar medicinas que, em vez de curarem o paciente, dêem cabo dele. Fazer reformas é desejável e urgente. Mas devemos ter a coragem de rejeitar as que são indesejáveis ou nocivas ao interesse nacional e à paz pública. Tal rejeição, assim como o enfrentar os apetites multinacionais (e os nacionais), defendendo adequadamente o povo moçambicano e as gerações futuras, exige altos conhecimento e competências, tal como os exige negociar concessões e contratos internacionais, fixar preços e benefícios, taxas e impostos, estabelecer medidas seguras e eficazes de defesa ambiental e penalizações adequadas, bem como o muito mais que está associado ao investimento e ao processo de desenvolvimento do nosso país. *Excertos editados da intervenção no ISCIM (Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique), a 29.03.17 e intitulada “Crise Financeira no Contexto do Desenvolvimento: O Papel do Ensino Superior”. Título e entretítulos da responsabilidade do jornal. Sobre a crise que nos envolve Não há inimigos irreconciliáveis! Por Rui Baltazar* 20 Savana 31-03-2017 Por: Carlos Pedro Mondlane - Juiz de Direito OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane A ssistimos, nas últimas semanas, a uma crise no sector dos transportes, sobretudo na capital do país, que mais não foi (ou é) que um dos fragmentos de toda uma grande crise económica nacional. No dia da anunciada greve dos “chapa cem” (03.04.17), os “my love” circularam sob ameaça de vandalização feita pelos primeiros, pela percep- ção de uma suposta concorrência desleal. Aliás, os “my love” não pagam nenhum imposto, não ameaçam em termos de subida da sua tarifa, não têm o combustível subsidiado pelo Governo, desenvolvem a sua actividade praticamente sem serem importunados pelas autoridades, não têm associação, são, enfim, respeitados como uma alternativa; são benignos se considerarmos a gritante incapacidade dos transportes públicos ao nível da cidade de Maputo. Quando o cidadão entra num “my De “my love” love” está já ciente que nada tem a reclamar, nada tem a observar, nada tem a desencostar; simplesmente reza para que consiga chegar ao seu destino são e salvo. Os “chapa cem” perceberam, já há muito tempo, que os “my love” gozam de uma grande liberdade por serem considerados e acarinhados como um mal necessário. Reinam dúvidas. Circularam e fizeram um grande jeito à população que se encontrava em grandes concentrações nos locais habituais, distribuindo-a para os vário destinos. Um e outro “chapa cem” circulou demonstrando baixa coesão na organização da greve. Mas, ao que parece, como os “my love” estavam “numa boa” e em número suficiente para se sentirem destemidos, não engoliram essa de “vandalização”. Então, por que motivo esteve a polícia posicionada em força nos vários pontos da cidade de Maputo? Se, por um lado, bastava aos chapeiros não desenvolverem a sua actividade (deixando os veículos nas garagens) para a cidade perceber que estão a manifestar-se ou que estão em greve, por outro, ao cidadão não cabia algum tipo de manifestação ou greve por ter percebido que não houve anúncio algum de subida da tarifa. Então, o que incomodou a polícia? Uma provável manifestação contra a própria crise de transportes? Os “my love” foram protegidos pela polícia para desenvolverem normalmente a sua actividade. Pelo menos, momentaneamente, a polícia protegeu os bolsos da população das pretendidas subidas de 20 ou 15 meticais, no “Grande Maputo” e na cidade, respectivamente. Porém, a razão do reajuste e/ou da exigência de manutenção do subsídio, entre outras, torna-se complexa ao assumirmos que tudo depende, sobretudo, de quem detém o controlo sobre a economia e não propriamente do Governo do dia. Retirar uma almofada, aliás, um subsídio, cumprindo ordens de quem detém esse poder, cria sempre algum desconforto. É nesta sequência que há encurtamento de rotas, há oportunismo de alguns chapeiros em refinar arrogantemente os seus insultos condimentados com bastante falta de educação e de respeito, etc. Quando a retirada do subsídio acontece com o “pão nosso” que não está em casa, então, aumenta-se o formato do pão reduzindo-se-lhe o peso, ou seja, enchem o nosso olho no lugar da barriga. É a marcha da crise! Enquanto essa marcha se desenvolve com os vários aumentos de preços, nos vário tipos de consumo, para não falar de tseke e nem de cacana, definitivamente, apertar o cinto deixa de ser um bom discurso para boi dormir. É preciso reinventar um novo discurso diferente do “apertar do cinto”, mantendo a forma e alterando o conteú- do, que é o que se espera. Dizem os poetas que quando o Cupido atinge o coração de uma pessoa o resultado é sempre desastroso. Do choque inicial, surge a aparência da ordem. Um falso sentido de completude, beleza e perfeição passa a guiar o coração. A vida torna-se vincadamente viçosa. E só faz sentido se é em atenção à pessoa objecto do afecto. Tudo por ela... Os seus defeitos passam a virtudes. Tudo tem desculpa. Tudo se perdoa. As juras de amor são profundas e sentidas. O sonho comanda a razão. Vem o desejo de partilhar a vida. E não há nada de errado porque amar é bom demais. É nesta fase que a razão abandona o comando da situação. A pessoa dá por si a se desmanchar de tanta felicidade. Dá graças a Deus por ter encontrado noutra pessoa o outro pedaço do seu coração. E percebe, então, a velha ladainha na parte que diz: “é o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim…” Passam meses, anos… Gradualmente, a razão, que tinha estado de férias, volta a assumir o controlo da vida. Os dramas da vida quotidiana tolhem o romantismo. A obnubilação da paixão dissipa- -se. O dinheiro não é suficiente para o rancho. Ele voltou tarde na noite anterior… Em regra, é difícil precisar o primeiro momento em que o insulto foi proferido ou a bofetada lançada. Mas aconteceu… A primeira ofensa à integridade física ou à honra da pessoa há-de ter doído demais. Mas as juras de isso não voltar a acontecer confortam a vítima. O amor tudo aguenta com estoicismo. Esse amor, porém, sem saber, está a passar guias de autorização para agressões futuras. Estas vêm numa frequência assustadora. – Não vale a pena queixar. Os homens são assim mesmo – explicam as pessoas entendidas na matéria – o melhor é evitar contrariá- -lo. Assim ele não te bate. A língua do povo não tem osso. Quem é a vítima para se posicionar de modo contrário? Há que aguentar. Casamento é assim mesmo. A família em primeiro lugar. As pancadas e os insultos já não se disfar- çam. O que começou tímida e titubeantemente passou a manifestar-se sem amarras. As manchas negras e lacerações na pele são o testemunho no corpo do que a voz não quer revelar. A baixa autoestima e a vergonha permanente são o sinal de quem sofre e não se abre para quem pode verdadeiramente ajudar. É deste modo que se manifesta e reproduz o ciclo de violência. Enquanto acto de força, a violência revela-se sob diversos matizes, constituindo-se instrumento de opressão dos mais fortes para sobrepujar os mais fracos. Moçambique é signatário de diversos instrumentos do direito internacional que visam a igualdade e valorização do género. Para isso têm contribuído as directrizes emergentes de alguns textos jurídicos internacionais, fonte de direitos, produzidos sobretudo nas últimas três décadas e decorrentes de movimentos sociais de relevo, de entre os quais os movimentos feministas e de emancipação da mulher das décadas de 50 e 60. Vejam-se, entre outras, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW). Violência doméstica: a outra face do amor No quadro interno, a aprovação da Lei n. 29/2009, de 29 de Setembro e posteriormente da Lei n. 35/2014, de 31 de Dezembro, passou a criminalizar os actos de violência doméstica, destacando a natureza pública da ilicitude. A violência doméstica, numa acepção abrangente, passou a abarcar a violência física, a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e violência social que ocorre no espaço doméstico ou por causa dele, exercida por um dos seus membros sobre outro ou outros, ou, fora desse espaço, entre pessoas que com ele tenham alguma relação. A frieza estatística demonstra que na esmagadora maioria dos casos de violência doméstica a vítima é a mulher. Isto não significa que as mulheres não exerçam elas próprias a violência doméstica, de forma bastante activa e intensa, designadamente em relação a crianças, idosos e… homens. Constitui hoje uma ideia anacrónica pensar na violência doméstica como crime em que só a mulher é vítima. Tradicionalmente tem sido assim, mas, hoje, mais do que nunca, o crime de violência doméstica é presente no ambiente familiar, não distinguindo entre mulheres e homens. Se, em regra, os homens são conhecidos por serem os perpetradores da violência doméstica pela quantidade das agressões que infligem às mulheres, motivada por valores patriarcais, as mulheres, por seu turno, são referidas pela qualidade dos danos que provocam nos companheiros. Danos particularmente mais graves, atentatórios dos bens jurídicos vida, integridade física e patrimonial. Neste sentido, vale a pena citar Elisabeth Bates quando expende que “as mulheres demonstram um maior desejo de controlar os seus parceiros e são mais propensas a usar a agressão física do que os homens. Isto sugere que a violência doméstica não pode ser motivada por valores patriarcais e precisa ser estudada no contexto de outras formas de agressão, que tem implicações potenciais para intervenções”. Seja maioritariamente praticada pelo homem, seja pela mulher, conclui-se, sem margem para dúvidas, que a violência doméstica é um sério problema público que a todos toca enquanto corpo social organizado. Os efeitos de uma conjugalidade violenta passam por elevados custos psicológicos, por exemplo na esfera individual dos filhos e significativos encargos sociais, por exemplo nos sistemas de justiça, saúde, assistência social, emprego e educação. A casa, em lugar de último reduto de tranquilidade, transformou-se em palco de um discreto teatro de maldades. O óleo vegetal deixa de servir de alimento para passar a perigosa arma de arremesso. O petróleo de iluminação deixa a sua função para servir de tocha em corpo humano. As caçadeiras deixam de caçar patos selvagens para fazerem tiro ao alvo numa pessoa. O ferro de engomar passa a ter propriedades de passar sobre a pele humana. Tudo num ambiente familiar. Tem razão Nelson Lourenço quando assevera que “a violência doméstica faz parte integrante da experiência de muitos lares, o que tem levado muitos autores a dizer que a casa é um dos lugares mais ‘perigosos’ das sociedades modernas”. A violência doméstica revela-se, assim, como a antítese do amor. É a sua outra face. A mais feia, por sinal. É, sobretudo, responsabilidade da família, da comunidade e do Estado o seu combate. Como disse alguém “cumpre a cada um de nós desafivelar a máscara de uma hipocrisia colectiva” e, verdadeiramente, enfrentar este mal pela frente. Há que denunciar, sempre! Savana 07-04-2017 21 PUBLICIDADE 22 Savana 07-04-2017 DESPORTO O presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Alberto Simango Júnior, diz que, contrariamente à percepção de algumas pessoas, os jogos amigáveis não são a feijões, são, sim, de prepara- ção e constituem mais-valia não só para os jogadores como para o seleccionador. Relativamente ao badalado caso do atleta Malembana, que veio da Alemanha se juntar aos colegas, mas que não chegou a alinhar, Simango diz que cabe ao próprio seleccionador explicar-se porque como presidente da federação não se pode imiscuir em assuntos dessa índole. Seguem os excertos da conversa. Presidente, esta é a selecção que o país precisava? -Bem, a pergunta não deve ser respondida taxativamente assim que é a selecção que o país precisava, mas é um facto inegável que estamos a ter indicadores que nos deixam mais confiantes, estamos a construir um projecto da nova selecção nacional e, neste momento, temos de trabalhar da mesma forma. Repare que nos últimos tempos realizamos cinco jogos amigáveis com diferentes países, dos quais tivemos resultados até aqui que se mostram positivos, com o saldo de duas derrotas, duas vitórias e um empate. Gradualmente, a equipa vai se construindo jogando e esta é a estratégia que adoptamos. Continuaremos a construir uma selec- ção forte, pois, a nossa ambição é devolver o nome do nosso país no panorama futebolístico do continente e esse esforço está sendo feito apesar de todas as adversidades. Constrangimentos Concretamente, quais são essas adversidades? -Têm a ver com o actual momento sócio-económico do país. Todos sabem que estamos numa situação económica difícil em todos os sectores e a selecção não é uma excep- ção. Temos dificuldades, de facto, de avançarmos como nós pretendíamos porque tudo representa custos. Imagine trazer jogadores do estrangeiro para aqui, jogadores que em muitos casos actuam na Europa, acomodá-los, estagiá-los, premiá-los e devolvê-los à precedência, é realmente muita coisa, mas somos ousados, temos uma ambição que passa por construir uma selecção forte e é o que estamos a fazer. Acha que este tipo de partidas (amigáveis) acabam sendo um bom teste para aferir a capacidade dos Mambas? -Depois de ter feito análise de todos os adversários que enfrentamos, julgo ter sido um bom teste. Alberto Simango Júnior diz que Abel Xavier está a mostrar serviço mas... “Dificuldades financeiras condicionam projectos da federação” Por Paulo Mubalo Imagine que tivemos jogo de preparação com o Togo e esta selecção foi ao CAN; defrontamos o Qué- nia, jogamos com a África do Sul e a África do Sul ainda está a jogar as qualificações para o mundial; defrontamos a Angola e Angola é o que todo o mundo sabe e na última partida defrontamos o Lesotho e Lesotho está a subir. E é preciso realçar que tínhamos projectado um jogo com a Líbia, mas, à última da hora, a Líbia desistiu e acabamos convidando os nossos irmãos angolanos. Para dizer que os adversários, no meu ponto de vista, estão à altura de poder conferir maior traquejo e rodagem à nossa selecção, além de que estes jogos são de preparação, não são jogos a feijões. Todas as equipas queriam ganhar, são jogos que contam para o ranking da FIFA e são autorizados pela FIFA para poderem acontecer, contam para o nosso ranking, daí que não são tão menos importantes assim. Os próximos jogos são a sério, porque valem para a qualificação, mas os que realizamos não são menos importantes assim. Há alguns treinadores tarimbados como Chiquinho Conde que defendem uma melhor programação para este tipo de jogos, dando a entender que não vêem muita pertinência ou relevância neles... -Penso que não está correcto pensar assim, sobretudo por se tratar de uma pessoa como ele, o grande capitão dos Mambas, o grande jogador, que já passou pelos grandes palcos, grandes campeonatos da Europa e não só. Ao introduzir esses jogos, a FIFA estava consciente do que estava a fazer, se prestar atenção verá o número elevado de países pelo mundo que jogaram nas datas-FIFA, países de todos os continentes realizaram jogos amigáveis para controlo. Acho que a iniciativa é boa e para nós vai ter de continuar porque é uma oportunidade para se constituir uma selecção que reúna, no mínimo, o ideal para podermos aparecer em melhores condições nas competi- ções em que vamos participar. O seleccionador nacional diz que não tem mais nada para provar, não acha que ainda é cedo demais para pensar assim? -Essa mensagem não é para a direcção da federação, deve ser para certas pessoas que duvidavam das capacidades dele, nós não podíamos trazer um treinador de baixo valor e que não tivesse qualidade e padrões que se exigiam para a selecção, digamos que estava tudo projectado para encontrarmos um treinador à altura dos nossos desejos de ver a selecção a subir e a trazer resultados diferentemente do que acontecia anteriormente. O seleccionador disse ao colega Desafio que a sua continuidade passava por condições de garantias. Que garantias são essas? -A federação não tem nenhum problema nem tem de oferecer o que fosse, nós estamos dentro de um contrato que está dentro de validade. O contrato do Abel termina em Dezembro deste ano, portanto do ponto de vista de prazos de qualquer natureza estamos muito dentro de tempo para qualquer tipo de avaliação que possa ser necessária fazer, mas ele sabe perfeitamente que estamos em sintonia, falamos e trabalhamos juntos, passamos dificuldades juntos, da mesma maneira que vamos celebrar muitas vitórias juntos. Portanto, não vejo razões de qualquer inquietação, e a federação, particularmente a sua direcção, está clara e consciente e tem essa situação do contrato do mister controlada e não vê razão para qualquer preocupação. “Nosso ranking melhorou muito” Como encara a qualificação do Ferroviário da Beira para a liga dos campeões, terá sido obra do acaso? -Ainda bem que quem me está a entrevistar é um decano na imprensa, sobretudo no jornalismo desportivo. Deve saber, perfeitamente, que no futebol, no desporto não há obra de acaso, tudo o que acontece é fruto de um trabalho continuado e persistente e quis o destino que assim fosse. Quando nós chegamos aqui dissemos que trazíamos uma estratégia, declaramos de forma aberta o nosso manifesto eleitoral, defendemos a verdade desportiva, valorizamos o futebol como espectáculo, foi isso que nós fizemos. Mudamos algumas coisas que estavam habituadas a acontecer, trouxemos de volta a divisão de honra, realizamos todos os campeonatos como mandam as normas, movimentamos as camadas inferiores e o Mocambola está aí, mexemos em sectores sensíveis como a arbitragem, e é claro que os resultados apareçam. O nosso campeão é um justo campeão como sempre o dissemos e a prova está aí: quinze anos depois estamos na liga dos campeões. Então, o Ferroviário e futebol moçambicano estão de parabéns, o que queremos é ter mais equipas nas competições africanas, queremos que a nossa selecção se qualifique para uma competição se for possí- vel e mesmo que isso não aconteça terá lutado muito para o conseguir. Vamos continuar a lutar para que o nosso futebol suba e eis a razão porque neste ano não estamos nas pré-eliminatórias tanto para o CAN como para o CHAN. O nosso ranking melhorou muito e todos sabem que somos uma equipa de prestígio e é isso que o povo quer. Há que continuar a acreditar e sobretudo fazer o melhor possí- vel para o crescimento da modalidade. E a finalizar... -Esta federação que no passado não foi vista de forma igual como hoje vai tudo fazer para melhorar os índices de resultados, perfomance e ver se conseguimos passar para outras provas, porque no passado nas quatro vezes que fomos ao CAN só tivemos três empates e marcamos um ou dois golos. Então temos de qualificar e fazermos alguma coisa que valorize o nosso futebol, que vá para uma prova para competir de facto. Alberto Simango Jr, presidente da FMF Opresidente referiu-se ao momento mau em que o país se encontra, do ponto de vista económico e financeiro. Como explica o facto de se ter convocado jogadores do estrangeiro para não jogarem, como é o badalado caso de Malembana, que veio da Alemanha? Não terá sido desperdício de dinheiro? -É uma pergunta difícil de responder na qualidade de presidente da federação porque é um assunto da inteira responsabilidade do seleccionador, ele é quem o convocou, é quem não o pôs a jogar. Como sabe, as tarefas que temos são divididas, o treinador, o seleccionador nacional tem a autonomia total sobre quem joga e quem não deve jogar, é uma área fechada dele, nós não interferimos. Cabe a ele decidir, até porque tem as suas razões e argumentos, nós fazemos a nossa parte. Ele diz que quer esse jogador e nós vamos buscá-lo para que possa estar à disposição dele, agora o resto que acontece não deve ser cobrado efectivamente ao presidente da federação. Até que ponto Abel Xavier é treinador ideal para os Mambas? -Bem, eu não queria entrar por aí porque quando o contratamos tínhamos consciência do seu real valor, já nos tinha convencido de que era o treinador ideal, um treinador com ambição. Não nos provou agora, convenceu-nos desde o dia que nós o trouxemos para a selecção. Bem, houve muita gente que contestou, que tinha ideias diferentes, naturalmente, mas nunca tivemos dúvidas sobre o seu valor porque trazemos a pessoa certa para o lugar certo. Malembana gastou dinheiro mas não jogou! Savana 07-04-2017 23 DESPORTO DESPORTO S ão consideradas como bastante renhidas as eleições para a presidência do Comité Olímpico de Moçambique, as quais serão corporizadas por duas figuras sobejamente conhecidas no panorama desportivo nacional, nomeadamente, Joel Libombo e Aníbal Manave. O pleito está marcado para a próxima quinta- -feira, mas, ao que o SAVANA apurou de fontes insuspeitas, há, por parte de alguns segmentos, interesse em dar ao actual presidente, Marcelino Macome, mais uma chance para continuar à frente dos destinos daquele organismo. Consta que esse segmento pretende dar um voto de confiança a Marcelino Macome, o que à luz dos estatutos da organização configuraria a não realização das eleições. A justificação avançada por esse grupo é que Macome está a realizar um trabalho brilhante, sendo que esta seria a melhor forma de homenageá- Eleições no COM ao rubro! Por Paulo Mubalo -lo. Resta saber como é que Joel Libombo, que espera lutar até às últimas consequências, e Aníbal Manave, que segundo algumas fontes inside parte com ligeira vantagem, vão encarar este arranjo. “Unidos na diversidade, juntos pelo desporto” O candidato Aníbal Manave esclareceu, em conversa com o SAVANA, esta quarta-feira, as razões que o levam a concorrer. Conta: “fui atleta de alta competição, dirigente de um clube, secretário-geral do Comité Olímpico de Moçambique, para além de fazer parte dum organismo internacional”. Segundo explica, sempre esteve ao lado do associativismo, daí que tenha vasta experiência acumulada. Manave diz que tudo fará para que todo o conhecimento adquirido ao longo desses anos produza resultados e possa contribuir para o desenvolvimento do desporto. “Sei o que o atleta quer, o que a federação quer, porque fazer uma lista dos problemas que existem é fácil, mas arranjar soluções é difícil”. E acrescenta: “acredito que as soluções que vou trazer vão contribuir para o desenvolvimento do desporto”, ajuntou. A uma pergunta do SAVANA se não se sentia pequeno por enfrentar um antigo ministro, Aní- bal Manave respondeu peremptoriamente que não. “De forma alguma, não me sinto inferior, o outro candidato foi ministro, tem conhecimento da actividade desportiva, mas o conhecimento da actividade desportiva e as soluções dos problemas do desporto não são exclusivos de um grupo determinado, não são exclusivos de determinadas pessoas. Existem pessoas no movimento associativo que têm muito mais ideias e soluções para o desenvolvimento do desporto. São essas pessoas de que me estou a rodear, para arranjar solu- ções, para de forma consistente resolvermos os problemas”. Noutro desenvolvimento, Manave disse ter uma equipa forte, ambiciosa no bom sentido do termo, competente e com provas dadas no movimento associativo. “É uma equipa que tem provas dadas no movimento associativo e, como estou a concorrer para um movimento associativo, é com essas pessoas que me vou juntar”. Aníbal Manave tem como trunfo a sua vasta experiência tanto como jogador, como dirigente, com destaque no Comité Olímpico há mais de uma década. “Conheço exactamente os problemas do desporto”, anotou, para em seguida esclarecer que não faz sentido que Moçambique leve apenas seis atletas para os Jogos Olímpicos num país com 24 milhões de habitantes, quando países com menos habitantes chegam a levar uma dúzia de atletas. “Isso não faz sentido, daí que vamos trabalhar com as federa- ções”, observou, para em seguida esclarecer que, do trabalho realizado, há indicações claras de que reúne mais possibilidades de ganhar. Mas evitou entrar em detalhes, até porque o segredo é alma do negócio. Outrossim, descartou a possibilidade de fusão das listas por várias razões, o facto de desconhecer o manifesto do outro candidato, para além de que com dois candidatos os potenciais eleitores terão mais alternativas para escolherem o melhor programa. Com um manifesto sob lema “Unidos na Diversidade, juntos pelo Desporto”, Aníbal Manave e seu elenco pretendem promover o olimpismo, a educação e o desenvolvimento social do desporto; optimizar os recursos afectos à gestão e programa de preparação olímpica, centrando nos atletas e nos resultados (qualificação). Igualmente vão priorizar a democraticidade, transparência e criatividade. Entretanto, por motivos alheios à nossa vontade não tivemos acesso, a tempo útil, ao manifesto do candidato Joel Libombo. 24 Savana 07-04-2017 CULTURA E m parceria com ESPAfrika, GFNTV e Content África, foi apresentado ao vivo, no dia 31 de Março, o concerto de apresentação do mais recente álbum dos saxofonistas Moreira Chonguiça e Manu Dibango denominado M&M, acompanhados pela banda The Moreira Project. “Para manter-se relevante, eu acredito que o jazz tem de acompanhar o tempo, as mudanças e fazer parte desta iniciativa digital neste festival africano icónico é extremamente emocionante para nós. Estamos muito gratos a todos os envolvidos por esta oportunidade”, disse Moreira. A GFNTV é uma empresa de media dos Estados Unidos da América baseada em St. Louis, Missouri. É uma plataforma on-line que oferece vídeos urbanos premium, conteúdo produzido profissionalmente, eventos ao vivo e hospeda uma rede de blogs que serve como fonte de notícias bidirecionais, assuntos públicos, comentários e entretenimento orientado para o estilo de vida. O concerto foi transmitido para os Estados Unidos da América, Reino Unido, Japão e África Ocidental com uma audiência antecipada de 100 000 telespectadores. “O álbum é a celebração de semelhanças e diferenças, diversidades e pluralismo, amor e ódio, empatia e paixão. É o verdadeiro reflexo que como afri- “Como africanos podemos viver juntos” canos podemos viver juntos; que como africanos podemos amar-nos uns aos outros; que como africanos podemos romper todas as fronteiras negativas relacionadas com o bem-estar”, enaltece o saxofonista. Moreira Chonguiça e Manu Dibango actuaram juntos neste concerto colaborativo pela primeira vez na 18a edição do Cape Town International Jazz Festival. “Diz- -se que nós vivemos numa aldeia global onde por vezes os sonhos se concretizam e que o céu não é o limite. Começo a acreditar, por causa deste álbum com a maior lenda viva de jazz africano, que se prova uma vez mais que tudo é possível. A audácia, resiliência combinadas com a atitude, paciência, ciência, valores, herança e, por vezes, ficção são a razão pela qual eu acredito que o Leão de África, para alguns, Manu Dibango para muitos, e Papa Manu para poucos é a mais sublime e importante forma de expressão cultural”, frisa Moreira Chonguiça. The Moreira Project é composto por Tlale Makhene na percussão, Kevin Gibson na bateria, Angelo Syster na guitarra, Hélder Gonzaga no baixo, Ronan Skillen nas tablas e percussão e Mark Fransman no teclado com os vocalistas Jaco Maria e Tracy Butler. Moreira Chonguiça toca saxofone alto e Manu Dibango saxofone tenor e vibrafone. O músico camaronês Manu Dibango está em Moçambique, onde orientou um Masterclass no âmbito do lançamento do álbum conjunto ‘M&M – Moreira Chongui- ça e Manu Dibango’ e do início das celebrações do Dia Internacional do Jazz (a ser comemorado a 30 de Abril de 2017). “Sinto-me bastante honrado pela oportunidade e condições criadas por si Papa Manu para eu expressar, experimentar, por de forma bastante abrupta, ritmos e grooves que nunca tinha escutado; acordes e melodias que nunca pensei que gravaria; refeições, conversas e piadas que partilhámos enquanto construímos esta tempestade histórica”, destaca Chonguiça. Para Manu Dibango “este álbum é devido à imaginação e perseverança de Moreira. Significa a nossa colaboração e cumplicidade, quase filial de quase quinze anos. É um álbum bonito porque tem excelentes arranjos. Com outra visão africana das músicas americanas. Espero que escutem, apreciem os nossos sons. Moreira e eu estamos numa atmosfera de paz e serenidade que a música nos pode dar. Então convido-vos a escutar, dançar e vibrar os vossos corpos e amem este som”, finaliza Manu Dibango. A.S Manu Dibango e Moreira Chonguiça apresentam disco em Maputo Há poucas semanas para o início da Temporada 2017 do Xiquitsi, um elenco deste projecto participa desde 30 de Março a 13 de Abril, do Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu, em Portugal. Esta viagem é resultado de uma parceria celebrada entre o Xiquitsi e Câ- mara Municipal de Viseu. A participação dos alunos do Xiquitsi neste festival é a prova de que o projecto está continuamente a crescer e a ganhar robustez. Aliás, o crescimento do mesmo deve-se ao valioso apoio de todos os patrocinadores e parcerias desenvolvidas ao longo dos cinco anos do Xiquitsi. O elenco é constituido pela Directora Artística do Xiquitsi, Kika Materula, e os alunos Gervásio Quive, Juvania MunXiquitsi no Festival em Portugal guambe e Jessica Nhantumbo, que nasceram neste projecto e vão agora juntar-se a outros profissionais da música clássica. A participação dos artistas no festival de Viseu é a prova de que o Xiquitsi está a formar alunos com qualidade, facto que vai engrandecer o projecto, projectá-lo e dar visibilidade dentro e fora de Mo- çambique. Elenco do grupo Xiquitsi Esta viagem antecede a temporada inicial do Xiquitsi, para este ano, que terá lugar em Maio, na cidade de Maputo. “No Xiquitsi fazemos Música porque vemos na Música uma expressão daquilo que somos”. Esta é a frase guia para o quinto ano da Temporada de Mú- sica Clássica Xiquitsi. A.S E stá patente uma exposição sobre a paz na Galeria Kulungwana, sita na Estação Central dos Caminhos de Ferro, desde 30 de Março, uma iniciativa das mais populares no domínio das artes visuais, com a presença de mais de uma centena de artistas. A mesma prolonga-se até ao próximo dia 13 de Maio. Esta iniciativa, levada a cabo pela Associação Kulungwana, vai já na sua sétima edição, com uma presença constante e entusiástica de mais de uma centena de artistas moçambicanos ou residentes em Moçambique. Artistas consagrados, jovens artistas em início de carreira, estudantes de arte e amadores ombreiam, lado a lado, numa mostra que já conquistou o interesse de todos os criadores. Este ano, como nas edições anteriores, há novas presenças, sendo a maioria constituída por estudantes das instituições de ensino médio e superior existentes na cidade. Este entusiasmo estende-se igualmente ao público amante das artes, estudantes das diversas instituições universitárias e coleccionadores e outros interessados pela arte mo- çambicana. Artistas reflectem a paz no kulungwana Este ano, por motivos óbvios, que se prendem com a realidade polí- tica em que o país vive, a exposição está subordinada ao tema – A PAZ. Para um país jovem, que conquistou a sua independência após uma Guerra de dez anos contra a presença estrangeira, a que se seguiria a grande gesta para a libertação da África Austral, com uma participa- ção activa para a independência do Zimbabwe e para pôr fim ao sistema racial sul-africano, o país conheceu ainda uma violenta guerra civil, que só viria a terminar no iní- cio da década de 1990. Moçambique vive actualmente na esperança duma paz definitiva e para a qual os esforços de todos os moçambicanos serão necessários. Por isso, não deixa de ser pertinente que a PAZ seja o tema sobre o qual os artistas elaboraram as suas obras, obrigando-nos a reflectir sobre a mesma e sobre o que ela significa para a vida do país e dos seus cidadãos. A Embaixada da Noruega associou-se a esta iniciativa desde a sua primeira edição e continua a ser parte activa deste projecto, procurando que a mesma tenha impacto a longo prazo na arte moçambicana e do continente, em geral. A.S C ombinando a sensualidade do tango e a improvisação do jazz, a banda argentina Escalandrum, nomeada pelos Grammy Awards, criou um som que se inspira na música do mestre do bandoneon, Ástor Piazzolla, fazendo uma interpretação com uma coragem e um estilo contemporâ- neo únicos. Para a sua digressão africana, em “Piazzolla Plays Piazzolla”, a banda apresentou um concerto no Centro Cultural Franco-Moçambicano no dia 6 de Abril, onde principalmenConcerto de Tango no CCFM te executou composições de Ástor Piazzolla no seu estilo de fusão de jazz tão característico. Escalandrum partilhou o “Novo Tango” com canções que reflectem a emoção da cidade natal da lenda do tango: Buenos Aires, metrópole latino-americana conhecida pela sua sensual dança de tango e pelos seus habitantes locais apaixonados e contemplativos. Escalandrum estreou no Festival Internacional de Jazz de Cape Town, no sábado, 1 de Abril. A digressão continuou com um workshop e uma apresentação no Teatro do Estado, em Pretória (3 e 5 de Abril com a artista convidada Zoë Modiga). Depois, regressou a Joanesburgo para um concerto no clube de jazz The Orbit (7 de Abril) e, finalmente, no Brooklyn Theatre (8 de Abril). Fundado em 2000 pelo baterista e compositor Daniel ‘Pípi’ Piazzolla, neto de Ástor Piazzolla, a formação de Escalandrum nunca mudou. Ela completa-se com Nicolás Guerschberg no piano, Mariano Sívori no contrabaixo, Damián Fogiel e Gustavo Musso no saxofone, e Martín Pantyrer no saxofone e clarinete. A.S Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1212 ‡ DE ABRIL '( 7 de Abril Dia da Mulher Moçambicana O activista e advogado sul africano Ras Gareth Prince conseguiu ontem, importante victória no Supremo Tribunal de Cape Town. A proibição de plantio e consumo de Dagga (suruma) foi considerada anti-constitucional por aquele orgão da magistratura. O jornal STAR anunciou a medida com o título Fique Pedrado em Casa. Olha o Ras Prince todo contente... 2 Savana 07-04-2017 SUPLEMENTO Savana 07-04-2017 3 O Canelas é uma equipe dos escalões inferiores do campeonato de Portugal famosa por ganhar jogos ameaçando os jogadores adversários, agredindo árbitros e auxiliares. A maioria dos seus jogadores são seguranças do FCP e de Night Clubs da cidade do Porto. 2&KXFN1RUULV UHVROYHXUHXQLUXPWHDPSDUDRVGHVDÀDU Savana 07-04-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) Q uando enfrentamos novos desafios nas nossas vidas sempre aparecem aqueles que duvidam das nossas capacidades. Mesmo que tenhamos capacidades, muitas vezes os desafios que enfrentamos não nos permitem desempenhar as funções com a qualidade necessária. São muitas as áreas da nossa sociedade em que dificilmente os dirigentes mostram eficiência no seu desempenho. Mas pela situação que vivemos, os dirigentes dificilmente recusam encarar certas situações. Outra coisa que nunca ouvimos na nossa sociedade é um dirigente pedir demissão por falta de condições para a efectivação dos objectivos preconizados. Às vezes existem condições para trabalhar, o que acontece é que os dirigentes não têm competência para tal. Nesta primeira imagem, parece que o Presidente do município de Quelimane, Manuel de Araújo, está a dar uma dica em termos de postura que o treinador do ENH de Vilanculos, João Chissano, deve tomar para alcançar resultados positivos no seu novo desafio. Como se estivesse a dizer: “tens de saber lidar com quem trabalhas, senão vão fazer-te a cama. Aqui não se brinca. Veja como somos nós no MDM. Sabemos que o saxofonista camaronês, Manu Dibango, encontra-se em Maputo. Tudo isso alusivo ao lançamento do novo trabalho discográfico de Moreira Chonguiça e Manu Dibango intitulado M&M. É momento especial para os amantes do jazz e muitos não quiseram perdê-lo. Não é por acaso que o PCA da mediaCoop, Fernando Lima, aproveitou o momento para felicitar Manu Dibango pelo seu trabalho com o saxofonista moçambicano. Enquanto isso, Moreira Chonguiça autografa o disco. Grande momento cultural. Outro assunto que nos deixou preocupados foi a queda de uma aeronave nacional nas bandas do Zimbabwe. Este assunto trouxe à tona a situação crítica que a avia- ção nacional atravessa. Podem procurar argumentos, mas sabemos que a empresa mãe de aviação nacional, LAM, está a atravessar uma fase caótica. Mesmo que a vice-Ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Rebelo, tente justificar a situação, o Presidente do Instituto de Aviação Civil de Moçambique, comandante João de Abreu, prefere ficar calado. As eleições autárquicas terão lugar no próximo ano. É preciso afinar as máquinas partidárias. Não é por acaso que os quadros superiores do partido do batuque e maçaroca trocam impressões sobre como actuar para vencer no próximo pleito. O que chama atenção nesta imagem é que o antigo Secretário-geral do partido Frelimo, Filipe Paúnde, não parece estar convencido com uma das estratégias do actual Secretário-geral, Eliseu Machava. Pelo semblante sério residem muitas dúvidas no que ouve Filipe Paúnde. A outra figura que demonstra algumas dúvidas face ao desempenho do Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, Jorge Nhambiu, é o Provedor de Justiça, José Abudo. Isso tudo para dizer que temos de ser sinceros quando duvidamos do desempenho dos dirigentes do nosso país. Chega de bajulações que não nos levam a lado nenhum. Quando duvidamos ficamos assim IMAGEM DA SEMANA À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF "CSJM EF t "/0 99*7 t /o 1213 Diz-se... Diz-se Naíta Ussene Depois de longos anos de letargia, o político Yacub Sibindy reapareceu na esfera política nacional com nova estratégia de sobrevivência até ao fim da época eleitoral. Com excepção da Frelimo, Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) que têm actividades a todo o momento, o resto dos partidos políticos só se tornam existentes quando se aproxima o período eleitoral. Muitos destes partidos resumem-se apenas na pessoa do seu presidente. Assim, com aproximação de mais uma época eleitoral (o país acolhe, OP EJB 0VUVCSP EF BT quintas eleições autárquicas e, em 2019, as eleições gerais) Yacub Sibindy reapareceu com nova estratégia de sobrevivência política. /FTTB MJOIB USÐT QBSUJEPT EB PQPsição sem assento no parlamento, EFTJHOBEBNFOUF P 1BSUJEP *OEFQFOEFOUF .PÎBNCJRVF 1*.0 Partido Trabalhista (PT) e o ParUJEP EF 3FDPODJMJBÎÍP /BDJPOBM 1"3&/" BDBCBN EF GPSNBS uma coligação denominada “Esperança do Povo” com a sigla “E- 1070 0 15 F 1"3&/" TÍP PVUSBT GPSmações políticas que se resumem nos seus líderes. &TUB RVBSUB GFJSB OP BDUP EB BQSFTFOUBÎÍP EB SFGFSJEB DPMJHBÎÍP P 1SFTJEFOUF EP 1*.0 :BDVC 4JCJOdy, admitiu que a presente união irá GB[FS EJGFSFOÎB QPS TF USBUBS EB QSJmeira coligação que aparece no xaESF[ QPMÓUJDP NPÎBNCJDBOP POEF os partidos políticos submetem-se aos desejos do povo no que tange BP EFTFOIP EP NBOJGFTUP FMFJUPSBM i² B QSJNFJSB WF[ RVF JTUP BDPOUFDF /ØT FTUBNPT TJNQMFTNFOUF para assegurar o aparelho administrativo, a soberania está do lado do QPWPw TVCMJOIPV 4JCJOEZ GBMBOEP na qualidade de 1º coordenador da QSFTFOUF GPSNBÎÍP Continuando, Sibindy anunciou RVF P NBOJGFTUP FMFJUPSBM EFTUB agremiação política será elaborado QFMP QPWP i0 QPWP WBJ EFTFOIBS BT políticas públicas, as prioridades FDPOØNJDBT EP QBÓT F QMBOJmDBS este país, porque entendemos que EFTEF P QPWP TFNQSF GPJ FTcudo político e nunca disse o que quer. Queremos servir um cliente RVF EJ[ P RVF RVFS OP TFV NFOÞw destacou  Sibindy. /VN PVUSP EFTFOWPMWJNFOUP F SFpisando a ideia de que o povo é determinante para a coligação criada, P QSFTJEFOUF EP 1*.0 PCTFSWPV RVF P QPWP OÍP FTUÈ TBUJTGFJUP DPN as políticas do dia, daí que precisa de soluções. i/ØT OÍP TPNPT FOHFOIFJSPT EBT soluções, somos uma coligação de partidos políticos que entende que a engenharia está dentro do povo” - disse, acrescentando que a coliga- ção acredita que o povo está dotado de capacidades para desenhar melhores políticas de educação, agricultura, economia, entre outras. 1PS TVB WF[ JOUFSWJOEP EVSBOUF B DPOGFSÐODJB EF JNQSFOTB P QSFTJEFOUF EP 1"3&/" "OESÏ #BMBUF na qualidade de 3º coordenador, disse que a coligação está preparada para concorrer em todos os círculos eleitorais. Quanto ao candidato para as elei- ções presidenciais ainda é prematuro avançar-se qualquer pronunciamento. %F SFGFSJS RVF B QSFTFOUF GPSNBÎÍP tem em vista concorrer nas eleições BVUÈSRVJDBT EF EF 0VUVCSP EF FMFJÎÜFT MFHJTMBUJWBT QSFTJdenciais e eleições para as assembleias provinciais de 2019.   /P QBTTBEP OÍP EJTUBOUF 4JCJOEZ GPJ MÓEFS EB PQPTJÎÍP DPOTUSVUJWB um grupo constituído por Miguel Mabote (partido Trabalhista), João Massango (partido Ecologista), .BSDPT +VNB 1"/".0 Este grupo destacou-se pela bajulação ao Governo de Armando (VFCV[B NBT RVF EFQPJT DBJV OP EFTDSÏEJUP F GSVTUSBÎÍP QPSRVF BQFTBS EP TFV FOPSNF FTGPSÎP FN FOEFVTBS B mHVSB EF (VFCV[B FTUF pouco se interessou pela vassalagem deste grupo. (Redacção) t $PNP FN UPEP P MBEP FOUSF PT NBEFJSFJSPT IÈ IPOFTUPT F WJMÜFT FNCPSB PT OÞNFSPT EP .*5"%&3 OÍP EFJYFN NBSHFOT QBSB dúvidas. A medida de suspensão de corte por mais três meses, EFQPJT EP QFSÓPEP EP EFGFTP Ï VNB GBDBEB QSPGVOEB OP TFDUPS OBT FNQSFTBT PSHBOJ[BEBT DPN NÍP EF PCSB DPN DPOUSBUPT F JNQPTUPT FN EJB 2VJOUB GFJSB FTUÍP FN SFVOJÍP F FN QÏ EF HVFSSB QPJT TF B NFEJEB GPS BQMJDBEB ËT DFHBT Ï B GBMÐODJB QBSB BT FNQSFTBT TPCSFUVEP BT EB [POB DFOUSP RVF UBNCÏN QBHBSBN B GBDUVSB EB iJOTUBCJMJEBEF QPMÓUJDBw &TQFSB TF RVF B DPTUFMB business EP KPWFN UJHSF GBMF NBJT BMUP RVF B CBMBMBJDB EPT CVSPDSBUBT t &N QFSÓPEP QBSUJDVMBS EF DSFOÎB QBSB DFSUBT DPOmTTÜFT SFMJHJPTBT acredita-se que água pode virar vinho, como acções transaccionadas, podem apenas ser velhas e novas acções, como explicaram os advogados de duas multinacionais pagos a peso de ouro para, FOUSF PVUSBT DPJTBT TF GVSUBSFN BPT JNQPTUPT TPCSF USBOTBDÎÜFT DPNP Ï P DBTP EP $PSSFEPS EF /BDBMB 3FTUB Ë D[BS EPT JNQPTUPT GB[FS DPNP PT KPHBEPSFT DBOBSJOIPT EF 5FUF RVF GPSBN BP UFNQMP EB *63% WFS TF B TPSUF MIFT TPSSJB GSFOUF BPT IPNØOJNPT EF .Bputo. Pode ser que tenha mais sorte que os homens dos chutos e pontapés. t $PNP QSÏNJP EF DPOTPMBÎÍP UJQP 3JWFSTEBMF WT 3JP 5JOUP QPEF B D[BS FTQSFJUBS ËT TVDFTTJWBT USBOTBDÎÜFT EFTEF P UFNQP EPT HSJOHPT OP $PSSFEPS F RVF CFOFmDJBSBN EF[FOBT EF iJOWFTUJEPSFTw nacionais, também conhecidos pela sigla “ten years”. Este país anima mesmo t 0T DIJOPDBT RVF TÍP WJTUPT DPNP PT NBVT EB mUB OPT OFHØDJPT EB floresta moçambicana, parece que já estão a retaliar com as ameBÎBT EF UPSOFJSB GFDIBEB 0T NPÎBNCJDBOPT EP iNVLIFSJTNPw EF MPOHP DVSTP FTUÍP B FOGSFOUBS HSBOEFT EJmDVMEBEFT FN BQBOIBS WJTUPT QBSB B $IJOB "NPS DPN BNPS TF QBHB F TF B POEB DIFHB Ë embaixada dos brasucas lá teremos também uma retaliação para WJOHBS P CPJDPUF BP GSBOHP DPOHFMBEP EBT UFSSBT EP TBNCB t /B EBOÎB EBT DBEFJSBT NVJUP UÓQJDB FOUSF B OPTTB nomenklatura, guardou-se discretamente o Moet & Chandon que estava reservado para vôos mais altos e abriu-se um JC Roux, que também GB[ CBSVMIP EFJUB FTQVNB F Ï EPDJOIP .FTNP RVF P CBODP FTUFKB FN TJUVBÎÍP QSPCMFNÈUJDB PT QPQØT MV[JEJPT DPOUJOVBN B USBOTportar a malta da administração. t /P QBÓT RVF DPOUJOVB OB DBVEB EP ÓOEJDF EF EFTFOWPMWJNFOUP humano, legislar não custa, sobretudo quando alguém paga as GBDUVSBT QSJODJQBJT EPT MFHJTMBEPSFT & WBJ EBÓ NBJT EJBT EF MJDFOÎB EF QBSUP BP TPNBS BPT QBSB BT BGPSUVOBEBT NPÎBNbicanas que trabalham para o Estado. Ansiosamente se aguarda se a medida é vasada para os privados, habitualmente habituados a pagar salários das tolerâncias de ponto que o Governo adora conceder. Especialmente quando se aproximam os pleitos eleitorais. t $PN P QPWP CFN FYDJUBEP DPN BT JOWFTUJHBÎÜFT ËT DPOUBT MPDBJT dos potenciais implicados nas dívidas escondidas, aguarda-se UBNCÏN DPN FYQFDUBUJWB PT SFTVMUBEPT EBT BVUØQTJBT GPSFOTFT BPT corpos abandonados em Macossa e que poderão ter a assinatura EPT iFTRVBESÜFT EB NPSUFw 0T NÏEJDPT OB #FJSB EJ[FN RVF KÈ FOUSFHBSBN PT SFTVMUBEPT EP USBCBMIP Ë 1(3 t /P ÉNCJUP EBT DBSUJOIBT RVF OÍP TÍP FN QBQFM QFSGVNBEP DPNP BT EP QPFNB EF 7JSJBUP EB $SV[ OFN BEPDJDBEBT DPN B WP[ WPMVQUVPTB EB -VSB FTQFSB TF RVF VNB FN QBSUJDVMBS CBUB Ë QPSta de uma revista “couché”, muito badalada pelas paragens do i%PMDF 7JUBw F EFEJDBEB BPT NFYFSJDPT DÙS EF SPTB EP jetset local. Em voz baixa t 5PDB BP SFOEFS EB HVBSEB OB NBJT CBEBMBEB EBT DFMVMBSFT EP QBÓT & RVFN Ï RVFN Ï P DPSUB mUBT RVF TF QSFQBSB QBSB FODBJYBS VN DIPSVEP DIFRVF QFMB UFSDFJSB WF[ FN QPVDP NBJT EF VNB EÏDBEB 1BSB BKVEBS QPEFNPT EJ[FS RVF OB TVB WFSUFOUF MÞEJDB USPVYF B .BQVUP VNB EBT WP[FT NBJT FTQFDUBDVMBSFT EB .1# 4BSBWÈ Depois do fracasso da Oposição Construtiva Sibindy e amigos criam “Esperança do Povo” Savana 31-03-2016 1 0DSXWR GH$EULOGH ‡$12;;,9‡1o 1213 N o meio de uma plateia constituída por representantes das Federações dos Transportes Rodoviários (FEMATRO), dos agricultores (FENAGRI), dos empreiteiros (FME), Câmara dos Despachantes e da organização dos Panificadores, Adelino Buque, presidente da Associação Comercial de Mo- çambique (ACM) apresentou, na última sexta-feira, 31 de Março, Agostinho Vuma como candidato à sucessão de Rogério Manuel, na presidência da Confederação das Associações Económicas de Mo- çambique (CTA). Buque, que também é director da campanha de Agostinho Vuma, resumiu a candidatura como a única que pode garantir a união entre os associados e tornar a CTA uma entidade cada vez mais forte e firme na defesa dos interesses do empresariado. O candidato proclamado iniciou o seu discurso agradecendo o apoio que recebeu de três, das quatro federações que compõem a CTA, e referiu que aceitou o desafio porque não podia deixar de responder aos apelos que recebeu dos seus pares. A FEMATRO, FANAGRI e FME representam quase 2/3 dos associados com direito a voto. Sob o lema: “Pela melhoria do ambiente de negócios – SOMOS UM”, Vuma traçou o seu percurso empresarial referindo que está na área de negócios há mais de 15 anos com interesses e investimentos na área de construção civil, hotelaria e turismo assim como na indústria transformadora. Disse que representa uma multinacional portuguesa com mais de 70 anos no mercado europeu e com créditos firmados na área de construção civil e obras públicas. “Todos sabem da minha experiência de mais de 12 anos no activismo e associativismo empresarial, de onde o ponto mais marcante foram os últimos seis anos de vice- -presidente da CTA sem descurar da importância da minha lideran- ça na Federação Moçambicana de Empreiteiros, na qual sou membro fundador”, enalteceu. De acordo com Agostinho Vuma, durante o seu percurso no sector privado sempre procurou cultivar a iniciativa, sucesso, progresso, associativismo e a solidariedade. Sublinhou que a força, inspiração e convicção vêm da sua experiência no trabalho de longos anos, pelo Sob auspícios da FEMATRO, FENAGRI e FME Vuma a caminho da presidência da CTA que a vontade de se candidatar à presidência da CTA mostra o seu amor pelo associativismo, pelo país bem como pelo cometimento no desenvolvimento do sector privado moçambicano. Vuma disse que os seis anos que passou como vice-presidente lhe permitiram conhecer a CTA por dentro, desde as federações, pelouros, câmaras de comércio, associações empresariais, conselhos empresariais assim como os seus filiados, pelo que sabe do que cada uma dessas entidades quer da CTA. Destacou altos momentos vividos na instituição CTA, nos últimos seis anos, e focalizou a recente declaração da CTA como uma entidade de utilidade pública pelo Governo, em reconhecimento dos feitos e o papel que tem vindo a jogar na sociedade, sobretudo na prossecução dos fins de interesse nacional, comunitário bem como com a cooperação com a administração pública. Falou da fortificação de parcerias com diversas organizações internacionais como USAID, DANIDA, Fundo do Ambiente de Negócios, African Capacity Building Foundation, Agência do Vale do Zambeze e GIZ; a expansão da CTA entre outras realizações. Vuma referiu que vai apostar na descentralização da organização e conferir maior legitimidade às províncias, por uma crescente federalização sectorial, promoção de rela- ções de parcerias, desenvolvimento económico e produtivo, combate à corrupção, clientelismo, trâfico de influências bem como outras manifestações que perigam e retardam o desenvolvimento. Antes de Agostinho Vuma apresentar o discurso de candidatura, os responsáveis da FEMATRO, FENAGRI e FME apresentaram monção de apoio ao candidato por ser o único capaz de aglutinar diversos interesses dos associados e garantir uma boa parceria com o Governo e organizações internacionais. Recorde-se que a CTA, cuja missão é influenciar na criação de um melhor ambiente de negócios assim como a promoção de medidas que impulsionem o crescimento de um movimento associativo forte, participativo, socialmente responsável e capaz de influenciar a tomada de decisões, vai a votação este ano, para eleger o sucessor de Rogério Manuel que dirigiu a organização por seis anos. E.C Savana 31-03-2017 2 A Associação Mulher, Lei de Desenvolvimento (MULEIDE), uma organização não-governamental, celebrou na última sexta-feira, em Maputo, o seu vigésimo quinto aniversário. O evento que contou com a participação de diversas personalidades, incluindo o ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Isaque Chande, serviu igualmente para reconhecer os membros, activistas que se destacaram pela causa da mulher. A MULEIDE foi criada a 07 de Dezembro de 1991, com o objectiMULEIDE comemora 25 anos de empoderamento da Mulher vo lutar pelos direitos das mulheres com vista à promoção do estatuto da Mulher. É a primeira organiza- ção moçambicana que luta pelos direitos humanos em particular pelos direitos da Mulher. Desde a sua primeira intervenção na sociedade moçambicana procurou defender os direitos da mulher, através do desenvolvimento de pesquisas relacionadas à questão de género. Mais ainda, procedeu à educação, assistência jurídica legal e assistência jurídica a mulheres economicamente desfavorecidas, providenciando formação sobre saúde sexual e reprodutiva (HIV/ SIDA) e sobre Planeamento familiar. “Desenvolvemos vários projectos de empoderamento económico com vista à elevação do estatuto da mulher na sociedade”, disse Rafa Machava, Directora Executiva da MULEIDE. Para Lúcia Ribeiro, veneranda juíza-conselheira do Conselho Constitucional e membro fundadora da MULEIDE, o vigésimo quinto aniversário da instituição constitui um momento de satisfa- ção e de responsabilidade. “Hoje dá uma enorme satisfação quando nos apercebemos do número crescente de mulheres e até de alguns homens que se entregam a esta causa. Assinalamos também, com satisfação, que no nosso País, em termos de políticas governamentais no que concerne à protecção da mulher, registam-se avanços dignos de realce”. Embora a MULEIDE tenha conseguido importantes conquistas com relação aos seus propósitos, muito há ainda por empreender na busca do respeito pelos direitos das mulheres. Falamos por exemplo da violência doméstica, trabalho comparado com o homem, direitos reprodutivos, acesso aos recursos, en- fim uma longa caminhada na luta pelo respeito e dignidade social da mulher. Lutar por direitos todos os dias. A rko Companhia de Seguros, SA. é a nova seguradora a operar em Mo- çambique desde Março último. A companhia vai operar especialmente no Ramo Não Vida, um elemento estratégico e crucial para aumentar a cadeia de valor de uma economia, com a oferta de uma gama de produtos. Com um investimento de quarenta milhões de meticais de capitais nacional e estrangeiro, a Arko Seguros, SA. conta como suporte de referência no mercado ressegurador internacional, a Munich Re, que é líder mundial dos tratados de resseguro com 50%. No acto do lançamento, o Presidente do Conselho Administrativo, Miguel Navarro, afirmou que a companhia vai trazer de diferente a Arko soma-se ao mercado de seguros atitude. “E uma atitude diferente. O conhecimento que nós temos do mercado, a forma simples como a empresa é estruturada, onde a decisão está muito próxima do mercado”, disse. Navarro referiu que é um momento oportuno para entrar no mercado, mas “deve-se ter em conta que o mercado tem ainda muitos desa- fios. A honestidade tem ligações profundas do que nós vivemos.” Refira-se que com a entrada da Arko Seguros, SA. o ramo de negó- cios, na generalidade, torna-se mais forte, pois, os produtos e a abordagem dos serviços desta firma trazem mais-valias para o País, tendo em conta que melhoram a carteira de oferta no ramo, reduzem incertezas dos clientes e seus representantes, aumentam a segurança nas transacções e fortalecem acções de investimento. O nosso maior compromisso. Continuar a ser um banco que supera sempre as tuas expectativas. Um banco inovador. Fácil e Prático. Um banco que te apoia de todas as maneiras. E onde sabes que podes depositar sempre toda a tua confiança. Moçambique. O meu Banco é daqui. Savana 31-03-2016 3 PUBLICIDADE Savana 31-03-2017 4 PUBLICIDADE Encontra-se aberto concurso para a atribuição de 9 Bolsas de Estudo de Doutoramento, no âmbito do Projecto de Energia - Projecto NICHE-MOZ-231-263, designado “Innovative ways to transfer technology and know-how, developing skills and expertise for gas, renewable energy and management”, em fase de implementação pelo consórcio Moçambicano (Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Católica de Moçambique, Universidade Lúrio, e Instituto Superior Politécnico de Songo), em parceria com a Universidade de Groningen (Reino dos Países Baixos), a Energy Academy Europe (Reino dos Países Baixos), e a Universidade de Stellenbosch (África do Sul). As bolsas atribuídas no âmbito do presente concurso seUmRÀQDQFLDGDVSHOR5HLQRGRV3DtVHV%DL[RV DWUDYpVGD EP-NUFFIC (organização para a internacionalização da educação), para temas relacionados com petróleo e gás natural, energias renováveis e assuntos transversais, nas seguintes condições: ÉUHD&LHQWtÀFD ‡(QJHQKDULD ‡(FRQRPLD ‡&LrQFLDV$PELHQWDLV 5HTXLVLWRVGHDGPLVVmR ‡3RVVXLU0HVWUDGRHPiUHDUHOHYDQWHSDUDLQYHVWLJDomR na área de energia. ‡7HUFRQFOXtGRR0HVWUDGRFRPDFODVVLÀFDomRÀQDOPtnima de Bom. ‡7HUH[SHULrQFLDSURÀVVLRQDOFRPSURYDGD ‡3RVVXLUERQVFRQKHFLPHQWRVGDOtQJXD,QJOHVD ‡7HUGLVSRQLELOLGDGH SDUD WUDEDOKDU QXPDGDVLQVWLWXL- ções do consórcio Moçambicano durante e após conclusão da formação. 'HVWLQDWiULRV Docentes, Investigadores e membros do &RUSR 7pFQLFR$GPLQLVWUDWLYR GDV ,QVWLWXLo}HV GH (QVLno Superior, membros do consórcio Moçambicano (Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Católica de Moçambique, Universidade Lúrio e Instituto Superior Politécnico do Songo), assim como outros interessados e público em geral, desde que aceitem integrar, caso venham a ser selecionados, uma das Instituições de Ensino Superior, que fazem parte do consórcio acima referido. ENCORAJA-SE particularmente a participação de CAN- ','$726'26(;2)(0,1,12SDUDHVWHSURJUDPD 4 /RFDOGHIRUPDomR O programa de formação será realizado a tempo inteiro, quer em Moçambique, em Instituições de Ensino Superior (membros do consórcio mo- çambicano), quer em Instituições de Ensino Superior do Reino dos Países Baixos (Universidade de Groningen) ou da África do Sul (Universidade de Stellenbosch) - instituições parceiras do projecto “Innovative ways to transfer technology and know-how, developing skills and expertise for gas, renewable energy and management”. 'RFXPHQWRVGHFDQGLGDWXUDDVHUHPDSUHVHQWDGRV ‡Curriculum vitae actualizado e detalhado (em língua Inglesa) ‡'LSORPDGH0HVWUDGR HPOtQJXD,QJOHVD ‡&HUWLÀFDGRGDVFDGHLUDVIHLWDVGXUDQWHR0HVWUDGR HP língua Inglesa) ‡&ySLDGDGLVVHUWDomRGH0HVWUDGR QDOtQJXDRULJLQDO ‡ &DUWD GH DSUHVHQWDomR HPRWLYDomR HVFULWD HP OtQJXD Inglesa, com indicação dos motivos que levam o(a) candidato(a) a concorrer à bolsa de estudo, e com a inGLFDomRGDSUHIHUrQFLDGD,QVWLWXLomRGH(QVLQR6XSHrior, membro do consórcio moçambicano (para integra- ção durante e após conclusão da formação) ‡3URSRVWDGHSURMHFWRGHLQYHVWLJDomR FRPLQWURGXomR objectivos, fundamentação, metodologia, e resultados esperados (aproximadamente 2 páginas) ‡ 5HIHUrQFLDV DFDGpPLFDV GH SHOR PHQRV GXDV SHVVRDV TXHWHQKDPDFRPSDQKDGRSDUWHGRSHUÀODFDGpPLFR do candidato) 6. Critérios de Avaliação: A avaliação do (a) candidato (a) D%ROVHLUR D EDVHDU VH iعQRVVHJXLQWHVFULWpULRV ‡$GHTXDomRGRFXUULFXOXPGR D FDQGLGDWR D ‡([SHULrQFLDSURÀVVLRQDOUHOHYDQWH LQFOXLQGRWUDEDOKRV publicados na área) ‡(QWUHYLVWD DSHQDVDRVFDQGLGDWRVVHOHFFLRQDGRV 7. 3UD]RGHFDQGLGDWXUDHIRUPDGHDSUHVHQWDomRGDVFDQGLGDWXUDV O concurso encontra-se aberto até às 15H30 do GLD GH$EULOGH , devendo os (as) candidatos (as) enviar toda a documentação (em formato pdf), e sob forma electrónica, ao Doutor Carlos Lucas, ao Director do Gabinete de Cooperação da Universidade Eduardo Mondlane, para os seguintes endereços electrónicos: carlos. lucas@uem.mz e clucas33@yahoo.com. Informação adicional sobre o projecto ou tópicos possí- veis para a investigação, estão disponíveis por solicitação através dos endereços electrónicos acima mencionados ou junto do Gabinete de Cooperação da Universidade Eduardo Mondlane, sito no 2o andar do Edifício da Reitoria da UEM, Campus Universitário Principal, Av. Julius Nyerere, número 3453, Maputo. Maputo, 10 de Março de 2017 *DELQHWHGH&RRSHUDomR BOLSAS DE ESTUDO DE DOUTORAMENTO $Q~QFLRSDUDDDWULEXLomRGH %ROVDVGH(VWXGRGH'RXWRUDPHQWRQRkPELWRGR3URMHFWR GH(QHUJLD²3URMHFWR1,&+( 02= ´,QQRYDWLYHZD\VWRWUDQVIHUWHFKQRORJ\DQG NQRZ KRZ GHYHORSLQJVNLOOVDQGH[SHUWLVHIRUJDV UHQHZDEOHHQHUJ\DQGPDQDJHPHQWµ Savana 31-03-2016 5 PUBLICIDADE Savana 31-03-2017 6 PUBLICIDADE JUNTOS MOVEMOS O NOSSO FUTURO. Esta é a força que nos move. Nós somos a General Electric, a maior empresa industrial digital do mundo. Hoje, com 124 anos de existência, continuamos com a energia de uma start-up, sem medo de inovar com novas soluções de software e equipamento. Continuamos a acreditar que o nosso futuro, seja no mercado energético, transportes, iluminação ou saúde, depende de todos. Em Moçambique, como no mundo, é isto que nos move. A GE MOÇAMBIQUE DESEJA UM FELIZ DIA DA MULHER MOÇAMBICANA SUPLEMENTO Savana 07-04-2017 7 N um casamento feliz, o IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos) e a UCM (Universidade Católica de Moçambique), com o “músculo” da Fundação MASC e da cooperação internacional descentralizaram para a Beira um dos eventos académicos mais importantes do país. A Conferência tinha por título “Moçambique: Que Caminhos para o futuro” e produziu debates ricos e acalorados em torno de sete painéis orientados por personalidades nacionais e internacionais de reconhecido mérito. A Beira sofrida, literalmente inundada pelas chuvas impiedosas de Moçambique: que caminhos para o futuro? todo o mês de Março, recebeu a preceito mais de uma centena de convidados fora de portas que testaram a renovada capacidade hoteleira e de restauração da capital do Chiveve. Mestre Anselmo, se houvesse “estrelas Michelin” em Moçambique, levava a taça para a arte de preparar peixe e marisco à beira-mar. Na conferência propriamente dita, a descentralização esteve no centro das atenções, e não foi por acaso que o professor Fernando Abrucio do Brasil foi uma das grandes atracções da conferência. Mas o debate em torno da economia política do desenvolvimento suscitou também grande atenção, com o professor Castel-Branco, a fazer a intervenção de fundo. João Mosca, António Francisco e Channing Arndt (antigo assessor do governo), animaram o debate sobre o que deve e o que continua a não acontecer na nossa agricultura. Muitos políticos, pertencentes ao espectro parlamentar, também se fizeram à Beira e para surpresa de muitos, foi notória a modera- ção por que se pautaram Lucas Chomera, Ana Rita Shitole e Alfredo Gamito (ex-deputado) da Frelimo, acompanhados por Lutero Simango e Silvério Ronguane (MDM) e Ivone Soares e Manuel Bissopo (Renamo). Os alunos e professores da UCM mantiveram a “casa cheia” em todas as sessões que decorreram no renovado CUCA (Centro Universitário para a Cultura e Artes) à Ponta Gea. Na guerra dos protagonismos em que a capital de Sofala é suis generis, o governo central, em nome do Primeiro-Ministro, fez- -se representar pelo vice da Justiça, Assuntos constitucionais e religiosos, Joaquim Veríssimo e Helena Taipo, a governadora da província, fez questão de se fazer acompanhar pelo estandarte da nação, quando proferiu a sua intervenção inaugural, antecedida pela do presidente do município, Daviz Simango. A abertura formal esteve a cargo do arcebispo da Beira, Cláudio Zuana que é também o chanceler da UCM. A sessão final teve uma belíssima apresentação a cargo do reverendo Tim Murithi, que falou sobre ética e sabedoria na construção da paz. Na despedida, o governo mandou o SP (Secretário Permanente) local. Simango e Zuana, que seguiram a conferência de fio a pavio, fizeram as honras da casa. Para o ano, espera-se que o IESE e o MASC escolham outra capital descentralizada para a sua conferência anual. O Editor 0DSXWR GH$EULOGH ‡$12;;,9‡1o 1213 SUPLEMENTO SUPLEMENTO 8 Savana 07-04-2017 N uma altura em que o debate sobre a descentralização está ao rubro em Moçambique, Fernando Abrucio, professor e investigador brasileiro da Fundação Getúlio Vargas, considera, na entrevista que abaixo se publica, que a descentralização pode aumentar o clientelismo se não for acompanhada de mecanismos apropriados para produzir uma participa- ção local activa. “Sem os devidos cuidados, a descentralização pode produzir anomalias políticas, administrativas, financeiras-económicas e de erosão das identidades nacionais”, defendeu Abrucio, um dos principais oradores estrangeiros na conferência, Moçambique: que caminhos para o futuro?. Realizada na cidade da Beira (província de Sofala), centro do país, entre os dias 22 e 24 de Março, a conferência tinha como objectivo debater a forma como a estrutura e a natureza da economia política de Moçambique precisam de se adaptar, para serem menos propí- cias à instabilidade, à exclusão social e ao crescimento assente em rendimentos improdutivos. Foi concebida pela Universidade Católica de Moçambique (UCM), Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) e a Funda- ção MASC. Em Moçambique, certos sectores olham para a solução federativa como um remédio para todos os males. Compartilha dessa ideia? A constituição de uma federação em Moçambique de uma hora para outra é muito complicada, porque a formação de um estado federativo exige muitos processos que ainda não ocorreram em Mo- çambique. É necessário primeiro a finalização de um processo de democratização, cultivar a cultura democrática. O melhor caminho para Moçambique é primeiro fortalecer o processo de autonomia local. Mas se a autonomia local for construída sem intergovernamentalibilidade, sem relações políticas, sem mecanismos redistributivos, ela vai falhar. A democracia moçambicana precisa combinar ao mesmo tempo formas de fortalecimento da autonomia local, com formas de fortalecimento das relações intergovernamentais. O federalismo é uma construção histórica delicada, que supõe alicerces políticos e constitucionais muito fortes. Além disso, os federalismos actuais são resultado de longos processos incrementais de sedimentação e adaptação institucional. O exemplo recente do Iraque mostra que é preciso ter cuidado com o mimetismo institucional sem base concreta – cuidado com a exportação de “ideias fora do Fernando Abrucio, investigador brasileiro: “A descentralização pode aumentar o clientelismo” lugar”. Proposta de federalização tem de levar em conta a realidade de cada país, mas dialogar com a experiência internacional. Mas parece que Moçambique está com pressa neste processo de descentralização. Contudo, como dizia o professor, a descentralização não é uma panaceia para resolver todos os problemas. Qual é o modelo recomendável para Moçambique nas actuais circunstâncias? É preciso ter cuidado com a pressa. É preciso um amplo projecto de descentralização, que envolva a todos. É muito importante que os partidos políticos participem, mas é também muito importante expandir o debate. Criar um fó- rum permanente de debate sobre a descentralização. É preciso fazer algo bem estruturado com a maior participação da sociedade e definir algumas metas. Quais são as metas iniciais mais importantes? Consolidar o processo das autonomias locais. Segundo, criar mecanismos de transferência de recursos humanos, capacidade administrativa e começar o debate sobre a mudança de mecanismos de selecção de governadores das provinciais. É preciso completar o processo de democratização de Moçambique e isso vai para além do processo de descentralização. Porém, alguns importantes sectores do partido governamental defendem que tem de haver gradualismo, mas a oposição olha nesse argumento como uma forma da Frelimo manter o status quo? Como olha para estas posições? A palavra gradualismo depende muito da sua interpretação. Mas o gradualismo que se pretende aí são os passos. Do tipo nós vamos chegar, mas como e quando? Por exemplo, como foram criados os municípios em Moçambique. Qual foi o critério para ser aquele e não outro? O grande problema não é o gradualismo, é não ter critérios iguais para os processos. Não ter passos definidos. É fazer tudo ad hoc de acordo com quem está no poder. Esse é que é o grande problema. Moçambique precisa de consolidar a democracia e umas coisas vem antes das outras. Desigualdades territoriais Durante a sua apresentação na conferência, o professor dizia que a descentralização pode aumentar o clientelismo. Pode desenvolver um pouco mais? A descentralização se ela não for acompanhada de acções de mecanismos de competição local, mecanismos de controle do governo pela sociedade civil, do controle orçamental, capacidade administrativa e da burocracia local, pode aumentar o clientelismo. Ao invés de produzir mais participação local, pode aumentar o clientelismo. Moçambique precisa de saber o que quer com a descentralização, sobre quais regras Moçambique quer na descentralização. Eu penso que isso é muito importante. E quais sãos os principais desafios da descentralização? A autonomia local depende de algumas condições, como a autonomia política, accountability e identidade, financiamento minimamente estável e responsabilidade fiscal e criação de capacidades estatais locais. É preciso evitar a fragmentação político-administrativa no plano subnacional. Mais governos não significa mais democracia ou melhor desempenho. As formas de coordenação e cooperação no plano subnacional são fundamentais para o sucesso das políticas públicas. Os governos intermediários (nível meso) são peças-chave para equilibrar o jogo da descentralização – tanto para os governos locais como para o governo central. Melhorias nos governos intermediários e o aumento de sua capacidade administrativa e política. A legitimidade dos governos regionais não pode ser “contra” e nem “dependente” do governo central. Moçambique é um país com grandes desigualdades regionais e entre as províncias. Num processo de descentralização quais as melhores formas de combater as desigualdade territoriais? É importante que haja um financiamento solidário dos governos: critérios múltiplos e combinados. O modelo redistributivo precisa ser combinado com a autonomia e até mesmo com a “competi- ção” intergovernamental” como fonte de inovação. É também importante o compartilhamento de políticas, que é tão importante quanto a autonomia pura da implementação. A qualidade do jogo intergovernamental é decisiva. Criação de cultura de parceria, negociação e tolerância intergovernamental. Montagem de centros de debate, negociação e decisão intergovernamental. Existência de políticas de indu- ção e ajuda dos governos mais centrais aos mais locais – aumenta tanto os laços federativos (a confiança entre as partes) como o poder de actuação de cada ní- vel. O governo central tem que se preparar para actuar num jogo intergovernamental mais democrático e redistributivo. O governo central precisa ter órgãos que actuem no plano local, sem retirar os graus de autonomia dos governos subnacionais. O aspecto nacional do jogo político é importante, mas será mais forte, em países com heterogeneidades territoriais, quando construído de forma compartilhada. É preciso ter flexibilidade no desenho institucional para resolver problemas político-territoriais específicos. Não se pode engessar o desenho político territorial. É possível haver, por exemplo, tipos diferentes de municípios. Políticas públicas podem ser diferentes segundo a conformação territorial de cada país. João Pereira, director da Fundação MASC, foi um dos grandes intervenientes, sobretudo, nos debates sobre a descentralização SUPLEMENTO Savana 07-04-2017 9 A vida política moçambicana é dominada pela figura de “patrocinador político”, personificada no “libertador” ou no “pai da democracia”, considera o politólogo moçambicano José Jaime Macuane, numa das suas primeiras aparições públicas após ter sido baleado numa das pernas pelos famigerados “esquadrões da morte” supostamente por exprimir o seu pensamento sobre o país. Macuane enunciou o seu pensamento sobre o processo político moçambicano no tema “Eleições, conflito e Democratização em África e Moçambique”, durante a “Conferência Internacional - Mo- çambique: Que Caminhos para o Futuro?”, realizada na Beira. O académico assinala que as elei- ções no país caracterizam-se por uma contestação sistemática, défice de instituições impessoais e alto custo de participação na política ou eleições, bem como baixa credibiliEm Moçambique Binómio “libertador”/pai da democracia domina política grande quantidade de eleições realizadas no continente não se repercutiu necessariamente numa maior democratização. O académico nota o fenómeno de abrogação do eleitorado, no Qué- nia, em 2007, Zimbabwe, 2008, Nigéria, 2002, Tanzânia/Zanzibar, 2015, e Gâmbia, em 2017. Por outro lado, prosseguiu, tem havido situações de manipulação das eleições para reduzir a incerteza, fraudes e fragmentação da oposi- ção, bem como etnicização da política, a exemplo do que aconteceu no Quénia. Para José Jaime Macuane, as “Perspectivas e caminhos para a reforma política para a paz e democracia” devem ter em consideraçãoa representatividade, agregação, participação e escolhas do sistema de representação ou eleitoral sensível às características da sociedade. Um pluralismo e sistema eleitoral assentes na representação proporcional, maioritário e misto, tradução de interesses e clivagens no sistema representativo baseado em clivagens não manipuladas, identidades que promovem conflitos, ou definidas de forma violenta por grupos não democráticos, distribui- ção de recursos, são também aspectos a ter em conta, considera José Jaime Macuane. Moçambique tem visto um crescimento rá- pido de despesas não prioritárias e correntes, num contexto em que a satisfação de serviços básicos permanece um desafio, considera Sam Jones, da Universidade de Copenhaga. Sam Jones, que já trabalhou para o governo de Moçambique, analisou a tendência da despesa pública do país ao apresentar o tema “Avaliando os serviços públicos em Moçambique: uma perspectiva de 20 anos”, durante a Conferência Internacional: Mo- çambique: que Caminhos para o futuro?”, realizada na Beira. Em 2013, o Estado canalizava para os sectores prioritários 75 dólares per capita, tendo esse valor baixado para cerca de 55 dólares per capita, em 2016. Por outro lado, a população rural com acesso à água potável disparou de menos de 15% em 1997 para 25% em 2013, mas essa cifra estagnou nos últimos dois anos. Segundo Jones, os desenvolvimentos macroeconómicos recentes estão a gerar cortes nos sectores prioritários, havendo evidências de que a eficiência técnica Despesas não prioritárias estão a aumentar – anota Sam Jones, antigo assessor governamental dos serviços públicos pode estar a cair. No seu estudo, o académico cita relatórios do Banco Mundial que apontam ineficiências, falta de qualidade, desigualdades e insustentabilidade dos serviços públicos. A título de exemplo, Sam Jones cita um relatório daquele organismo de Bretton Woods que diz que há variação significativa no nível de desempenho e muitos países com gastos similares aos de Moçambique alcançam melhores resultados. avaliação mais baixa nas habilidades da língua de ensino, Matemá- tica e Pedagogia, o que se traduz significativamente em resultados muito baixos na avaliação dos estudantes”, lê-se no documento. Para Sam Jones, uma abordagem alternativa à que tem sido seguida na análise da despesa pública deve assumir que é essencial reconhecer que há vários serviços públicos e que o país padece de constrangimentos em termos de recursos, que impõem uma cuidada análise custo-benefício. (1a) Expansão da capacidade financeira do Estado Inclusive mobilização de recursos domésticos. 21 44 22 43 23 48 25 55 27 67 28 80 34 64 33 63 39 75 47 80 53 92 54 94 64 112 77 127 92 143 103 148 123 174 144 205 134 173 111 140 0 50 100 150 200 US$ pc (real) 19971998199920002001200220032004200520062007200820092010201120122013201420152016 Receitas do Estado Total Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor. dade das instituições de administração eleitoral. A supremacia de critérios formalistas de justiça eleitoral em relação à substância, com o peso a ser atribu- ído a questões processuais, é outra nota dominante dos processos eleitorais em Moçambique. José Jaime Macuane aponta o acórdão do Conselho Constitucional sobre as eleições gerais de 2014 como prova da relevância dada ao formalismo na justiça eleitoral. No tópico sobre “Tendências nas Democracias e Eleições Africanas”, José Jaime Macuane defende que a Jaime Macuane Esta avaliação, prossegue Sam Jones, sugere que, no sector da educação, por exemplo, os resultados podem ser melhores se o actual nível de despesas públicas for usado de forma eficiente. “Quarenta e cinco por cento de professores estavam ausentes da escola em Moçambique, quando comparados a 30% no Uganda, o segundo pior na lista. Como resultado, as crianças moçambicanas estudam, efectivamente, apenas 1:41 horas por dia e os professores moçambicanos têm a – Jaime Macuane SUPLEMENTO 10 Savana 07-04-2017 A subida “meteórica” da componente comercial explica a derrapagem da dívida pública externa de Moçambique, considera o economista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco. Castel-Branco analisou o comportamento da dívida externa de Moçambique, no tema “Capital no século XXI e Moçambique: Estruturas de Acumulação, Crise e Opções”, que apresentou durante a conferência internacional “Moçambique, que caminhos para o futuro”, organizada pela Universidade Católica de Mo- çambique, Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) e pela Fundação MASC. “A dívida pública externa foi impulsionada pelo brusco e meteó- rico crescimento da sua componente comercial, que passou de praticamente zero para quatro biliões de dólares, entre 2011 e 2015”, afirmou Castel-Branco. A dívida pública comercial externa, prosseguiu, explica dois terços do rápido crescimento da dívida pública externa total, incluindo a comercial e a concessional, e 57% do rápido crescimento da dívida pública total, entre a externa e interna. Como resultado, continuou, o peso da dívida pública comercial, substancialmente mais cara, de mais curto prazo e mais difícil de negociar do que a dívida concessional, na dívida pública total, passou de 7% para 49% em 10 anos. O economista considerou que a combinação da despesa mais garantias resultou no incremento vertiginoso da dívida pública, que disparou em 2,5 vezes em 4 anos, entre 2011 e 2015. “De cinco biliões para 12 biliões, sobretudo por efeito da dívida pública externa, que cresceu 2,6 vezes no mesmo período, de 3,9 biliões de dólares para 10 biliões de dólares”, disse o economista. Economia afunilada Na sua apresentação, Castel- -Branco descreve a economia moçambicana como “afunilada”, apontando a estrutura das exportações, com 90% destas a serem derivadas de nove produtos do núcleo extractivo da economia, todos eles primários, nomeadamente carvão, areias pesadas, energia, gás natural, tabaco, banana, açúcar e madeira. “A inclusão dos serviços de transporte elevaria o peso das exportações da base extractiva da economia para 95% das exporta- ções totais”, refere o economista, lembrando que a economia mo- çambicana aumentou em tamaSubida meteórica da dívida comercial provocou derrapagem nho, mas não aumentou na sua diversidade e nem na sua profundidade. Numa comunicação comentada por Mário Machungo, antigo Primeiro-Ministro no Governo de Samora Machel e moderada pelo investigador Tomás Selemane, Castelo-Branco precisou que as importações, tanto de bens como de serviços, reflectem a estrutura de produção, distribuição de renda, consumo e investimento em Moçambique, considera Castel-Branco. A predominância de equipamentos, matérias-primas, materiais auxiliares e combustíveis (64% das importações de bens), alimentos (17%), bens de consumo durável (10%) e o enorme incremento do peso da construção e dos serviços empresariais nas importações de serviços (para 37% e 20%, respectivamente), bem como o peso dos transportes (35%), associados com a expansão dos enclaves económicos – complexo mineral-energético e a sua base logística, caracterizam a estrutura do crescimento da economia moçambicana nos últimos anos. Entre 2000 e 2015, o núcleo extractivo, infra-estruturas, serviços e finanças a ele associados, absorveram 95% do investimento privado e geraram 95% das exportações, representando 70% da taxa de crescimento do PIB, embora empreguem menos de cem mil trabalhadores, contra mais de 24 milhões de habitantes. Castel-Branco observa que a especulação imobiliária associada a expectativas de rápido crescimento, aplicação de rendas, em grande medida derivadas da porosidade da economia e consumo privado de bens duráveis, tornou-se o segundo item mais importante das operações de cré- dito da banca comercial doméstica. “A construção ficou a área principal de aplicação do investimento privado doméstico e a especulação imobiliária pode, parcialmente, também reflectir o efeito de possíveis operações criminosas, como a lavagem de dinheiro de traficantes diversos”, analisa o académico. Na análise que faz sobre as crises do sistema capitalista actual, Castel-Branco considera que as mesmas têm base estrutural, que gera ou facilita a emergência de formas de capitalismo especulativo, improdutivo e com altos níveis de concentração e centralização. “No limite, podemos aprender a minimizar e gerir crises, desde que o Estado possa exercer controlo sobre o processo de acumulação privada de capital, com o intuito de reproduzir as condi- ções de acumulação de capital a longo prazo para todo o capital”, defende o economista, Mas esta possibilidade, considera o pesquisador, é inconsistente com a natureza dos processos de acumulação de capital e não é demonstrável em nenhuma experiência histórica concreta de quatro séculos de capitalismo. É uma hipótese incompatível com o carácter monopolista e globalista do capitalismo, acrescenta. Paul Fauvet, jornalista da AIM, defendeu que Moçambique não devia pagar as chamadas dívidas ocultas, porque a culpa é dos bancos que não fizeram a respectiva due diligence – Castel-Branco SUPLEMENTO Savana 07-04-2017 11 A corrupção e a concorrência desleal imposta pelo sector informal são alguns dos constrangimentos que emperram o crescimento das Pequenas e Médias Empresas em Moçambique (PME), defende o economista moçambicano, José Selemane, agora a trabalhar para o Fundo Monetário Internacional (FMI) na Guiné-Conacry. Na sua comunicação sobre “Políticas Monetárias e Fiscais para o Desenvolvimento Sustentável do Sector Privado, em Particular PMEs: Políticas e Incentivos”, durante a “Conferência Internacional: Moçambique: Que Caminhos para o futuro”, José Selemane, que fez questão de frisar que fala em nome próprio e não do FMI, apontou ainda o limitado acesso ao financiamento, o sistema de impostos e as fracas competências profissionais como outros dos constrangimentos ao desenvolvimento das PMEs. Para José Selemane, as Pequenas e Médias Empresas defrontam- -se igualmente com uma infra- -estrutura fraca, incluindo o transporte, falta de organização para a defesa dos seus interesses e com a ausência de instituições coordenadas e especializadas, que possam ajudar, com objectivos claros e com procedimentos de avaliação rigorosos. No contexto africano, prossegue Corrupção e concorrência desleal prejudicam PMEs – economista José Selemane José Selemane, as PMEs operam com falta de conhecimento de contabilidade e análise de mercado, nomeadamente planos de negócios fracos, fraqueza ou falta de planeamento e falta de informação sobre mercados. Aquele segmento empresarial debate-se também com a ausência de pesquisa de mercados na cria- ção de negócio e uma deficiente ligação entre a qualidade da despesa pública e ligada à estratégia de crescimento. “Por exemplo, se a agricultura é prioridade, então, impõe-se a construção de infra-estruturas adequadas, de boa qualidade, que irão promover o seu desenvolvimento, nomeadamente estradas e outros projectos, visando ajudar a reduzir os custos de transacção e aumentar a produtividade”, referiu o economista, que já foi cogitado em alguns meios políticos para substituir Adriano Maleiane, no Ministério da Economia e Finanças, no quadro das reformas que aconteceram no Banco de Moçambique com a indicação de Rogério Zandamela. Contratos e concursos públicos eficazes, continuou, são um bom mecanismo de contratos públicos e motor para o crescimento do sector privado nacional, bem como para as PMEs. As aquisições públicas e os contratos públicos em geral, que considerem também as políticas de conteúdo local, através do fornecimento de insumos e serviços a partir de PMEs nacionais e, consequentemente, de impactos no desenvolvimento local), são fundamentais. “O ambiente de negócios não deve ser apenas para a cidade- -capital, mas, especialmente, nas outras regiões do país, incluindo políticas locais de apoio às necessidades locais, a exemplo do que sucede no Brasil, onde são promovidas compras públicas que apoiam pequenas empresas agrí- colas”, considera José Selemane. Por outro lado, a falta de financiamento para as PMEs tem sido uma preocupação perene, 55 a 68% das PMEs formais nas economias em desenvolvimento não são servidas ou são sub-servidas pelo acesso ao financiamento e apenas 5% dos empréstimos bancários são destinados às pequenas empresas, contra 13% em todos os países em desenvolvimento. José Selemane defende ser necessário ir além do foco restrito de, simplesmente, fornecer linhas de crédito, incluir também serviços financeiros, promover formação, assistência técnica, marketing, contabilidade, produtos de poupança, educação financeira geral, gestão financeira, formação sobre impostos, em particular para as populações rurais ou menos educadas e para as PMEs. Nessa perspectiva, José Selemane entende ser imperativo promover a abrangência do acesso ao financiamento, uma supervisão bancá- ria mais actuante, estabilidade do sistema financeiro e a melhoria da bancarização e inclusão financeira, bem como redução da desigualdade de renda. Aquele economista insta o Governo a apostar na criação de um ambiente de negócios e clima de investimento favoráveis às PMEs, tal como é feito para o Investimento Directo Estrangeiro e aos mega-projectos, realçando também o evitamento da existência de um sector privado dentro do sector público contra o sector privado real. É imperativa a auditoria anual aos contratos públicos e publicação de resultados, bem como a busca de soluções conjuntas, incluindo o Governo, sector privadoe sociedade civil. “Os governos devem ouvir/consultar as PMEs: isso requer organização, tanto do lado do Governo, como das associações que representam as PMEs, e intensificar as conversas/discussões ´racionais` com soluções práticas”, diz Selemane. Ademais, o sistema bancário e o Governo têm de pensar “fora da caixa” e usar o princípio de Jack Ma (Alibaba) de que os grandes negócios devem viver apoiando, desenvolvendo e aperfeiçoando as “pequenas instituições”. Ivone soares, chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República, esteve presente na conferencia da Beira José Selemane, a esquerda, num debate comentado por António Francisco, (a direita), economista e investigador do IESE. José Manteigas, deputado da Renamo (no centro) moderou o debate SUPLEMENTO 12 Savana 07-04-2017 Moçambique corre o risco de passar por uma instabilidade constitucional e de ver a sua lei fundamental perder o consenso, considera o constitucionalista português Jorge Bacelar Gouveia. Gouveia, que é também presidente do Instituto do Direito de Língua Portuguesa. Durante a apresentação do tema “Constituição, Paz e Democracia”, na “Conferência Internacional: Moçambique: Que Caminhos para o futuro”, realizada na Beira. No tópico sobre “Os Perigos constitucionais em Moçambique”, o jurista aponta o risco de a Constituição passar de “estrutura a conjuntura”, gerando uma efemeridade que pode levar à instabilidade constitucional e perda da sua consensualidade Há também, prosseguiu, o perigo de a Constituição ser vista como “arma de arremesso ideológico”, devido à “partidarização da discussão constitucional”. Jorge Bacelar Gouveia alertou ainda para o perigo de a chamada lei-mãe poder ser encarada como uma “importação” inadequada à realidade moçambicana, o que pode conduzir à deslegitimação identitária da sua função de integração da comunidade nacional. De acordo com Jorge Bacelar Gouveia, o direito constitucional Moçambique corre perigo de instabilidade constitucional - Constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia de mecanismos pacíficos de resolução de diferendos. A propósito, Jorge Bacelar Gouveia enfatizou que a Constituição da República de Moçambique aponta também a via pacífica como forma de dirimir litígios. O Estado de direito contemporâneo, defendeu Jorge Bacelar Gouveia, assenta na ideia de tutela dos direitos fundamentais, representação política, democracia e república. A separação e interdependência de poderes, independência do poder judicial, em especial, laicidade política e diversidade e liberdade religiosa são também valores primaciais de um Estado de Direito Democrático. A democracia, continuou, deve ser entendida como um regime político assente na noção do “governo do povo, com o povo e para o Povo”, sendo o melhor dos regimes, com vantagens, tendo em conta os malefícios da autocracia monocrática e oligárquica No seu entender, a democracia implica o controlo popular no acesso e exercício do poder pú- blico, electividade e temporariedade dos cargos. O pluralismo ideológico, político, social e religioso, com a existência de partidos, associações, universidades, ong’s e confissões religiosas são também marcas de água de um Estado de Direito Democrático. deve estar ao serviço da paz e da resolução dos conflitos políticos e sociais, no geral. A via constitucional, prosseguiu Jorge Bacelar Gouveia, tem na sua matriz o repúdio às clássicas soluções prescritas pela vingança privada e pela Lei de Talião, o chamado princípio de “olho por olho, dente por dente”. Num Estado de Direito Democrático, assinala o reputado constitucionalista português, é proibida a auto-tutela, pois prevalece a hetero-tutela, que é a intervenção do Estado na resolução de conflitos. Por outro lado, prosseguiu, impera a proibi- ção do recurso à guerra em favor Daviz Simango, edil da Beira, e arcebispo da Beira, Cláudio Zuana, que é também o chanceler da UCM, acompanharam de perto toda a conferência SUPLEMENTO Savana 07-04-2017 13 Conferência produziu debates ricos e acalorados Raúl Domingos, presidente do PDD Lucas Chomera, deputado da Frelimo Ismael Mussá, docente universitário Gilberto Correia, advogado Maria Moreno, membro do MDM Daviz Simango, edil da Beira, Helena Taipo, governadora de Sofala Fernando Lima, PCA da mediacoop Jeremias Langa, Grupo Soico SUPLEMENTO 14 Savana 07-04-2017 O Programa Parceria Cívica para Boa Governação (PCBG) implementado pela Counterpart International (CPI), por meio de fundos provenientes da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), pretende estabeleFHUSDUFHULDVFRP2UJDQL]Do}HV $VVRFLDo}HVORFDLVHQDFLRQDLV FRPDÀQDOLGDGHGHPHOKRUDUDJRYHUQDomRGHPRFUiWLFD UHVSRQViYHOHHIHFWLYD DWUDYpVGRUHIRUoRGRLPSDFWRGRDFWLYLVPRFtYLFRHP0RoDPELTXH $&3,FRQYLGDDVRUJDQL]Do}HV interessadas a apresentarem uma proposta abreviada centrada nos sectores alvo do programa, nomeadamente: Ensino Básico, Saúde, Conservação da Biodiversidade, Alterações Climáticas, Indústria Extractiva, Transparência e Governa- ção Responsável. $&3,SURFXUDSURSRVWDVTXHLQFHQWLYHPRGLiORJRHQWUHR*RYHUQRHRVFLGDGmRV HTXHFRQWULEXDPSDUDDPHOKRULDGD prestação de serviços públicos nos sectores alvo, onde as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) actuam como facilitadoUHV PHGLDGRUHVHSURWHFWRUHV HDGYRJDPQRLQWHUHVVHGRVFLGDGmRV $&3,LUiHVWDEHOHFHUSDUFHULDVFRPRUJDQL]Do}HVTXH DSUHVHQWHPPRGDOLGDGHVLQRYDGRUDVGHDSRLRjPXGDQoD HTXHDWLQMDPUHVXOWDGRVGHSROtWLFDVGHVHQYROYLGRVDSDUWLU GHDERUGDJHQVKROtVWLFDVHLQRYDGRUDV TXHFRPELQHPXPDSHUVSHFWLYDPXOWLVVHFWRULDOHVHEDVHLHPQDVQHFHVVLGDGHVGDV VXDVFRPXQLGDGHVDOYR HTXHSURPRYDPFROLJDo}HVHHVWDEHOHoDPOLJDo}HVHQWUHDV26&V DRQtYHOQDFLRQDOHSURYLQFLDO &RQVRDQWHDGLVSRQLELOLGDGHGHIXQGRV R3&%*YDLFRQFHGHUXPWRWDOGH VXEYHQo}HVGXUDQWHDYLJrQFLDGRSURMHFWR FRPXPDGXUDomRPtQLPDGH PHVHV RPDLVWDUGDUDWp'H]HPEURGH $GDWDSUHYLVWDGHLQtFLRGDVVXEYHQo}HV DGMXGLFDGDVDRDEULJRGHVWHGRFXPHQWRpRGLD GH-XOKRGH PHVHVDQWHVGH'H]HPEURGH $VVXEYHQo}HV VHUmRDGMXGLFDGDVHPFRQIRUPLGDGHFRPRVFULWpULRVGHDYDOLDomRGHVFULWRVQDYHUVmRLQWHJUDOGD'HFODUDomR$QXDOGR 3URJUDPD '$3 3DUDVHTXDOLÀFDUHP DVRUJDQL]Do}HVGHYHP ‡(VWDUOHJDOPHQWHUHJLVWDGDVHIRUPDOPHQWHFRQVWLWXtGDVFRPRHQWLGDGHVPRoDPELFDQDVQmROXFUDWLYDVHSRVVXtUHPXPD FHUWLGmRGHUHJLVWRYiOLGD ‡(VWDUHPVLWXDomRUHJXODUQRTXHGL]UHVSHLWRj/HJLVODomRPRoDPELFDQDHLQWHUQDFLRQDO LQFOXLQGRRVUHJXODPHQWRVVREUHRWHUURULVPR GHÀQLGRVSrORV(VWDGRV8QLGRVHSHODV1Do}HV8QLGDV ‡6HUmRDFHLWHVDSHQDVDVSURSRVWDVDEUHYLDGDVTXHHQYROYDPRkPELWRJHRJUiÀFRHDViUHDV WHPiWLFDVHVWLSXODGDVQR TXDGUR $VRUJDQL]Do}HVWHUmRTXHFRQWULEXLUPRQHWDULDPHQWHH RXHPHVSpFLHSDUDFREULURVFXVWRVGRSURMHFWR FRPSDUWLFLSDomRGHFXVWRV FRPUHFXUVRVTXHQmRDGYHQKDPGRJRYHUQRIHGHUDODPHULFDQR RVTXDLVVHUmRLQFRUSRUDGRVQRVDFRUGRV GHVXE VXEYHQomR $VSURSRVWDVDEUHYLDGDVVHUmRDFHLWHVQXPDEDVHURWDWLYDDWp GH1RYHPEURGH RXDWpDRHVJRWDPHQWRGDVYHUEDV $VDSUHVHQWDo}HVGHSURSRVWDVREHGHFHUmRDRVHJXLQWHFDOHQGiULR ANÚNCIO DA DECLARAÇÃO ANUAL DO PROGRAMA – 02 PROGRAMA DE PARCERIA CÍVICA PARA BOA GOVERNAÇÃO (PCBG) DA COUNTERPART INTERNATIONAL CONVITE À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS PARA APOIO AO ACTIVISMO CÍVICO EM MOÇAMBIQUE As OSCs interessadas, para se candidatarem, deverão solicitar a versão completa da Declaração Anual do Programa (DAP), a qual contém informações detalhadas sobre a elegibilidade e os procedimentos de candidatura através do endereço electrónico grants. pcbg@counterpart.org ou descarregá-la do website http://www.counterpart.org/call-for-proposals-to-support-civic-activism-in- -mozambique. As consultas e as dúvidas sobre a DAP devem ser enviadas por correio electrónico para o endereço grants.pcbg@counterpart.org até ao dia 7 de Abril de 2017. A CPI proporcionará Perguntas & Respostas pormenorizadas até 10 de Abril de 2017 incluindo qualquer alteração efectuada à DAP, se aplicável. Instruções para a apresentação das propostas: A apresentação das propostas abreviadas, em Português e / ou Inglês, à CPI deve ser efectuada por correio electrónico para o endere- ço grants.pcbg@counterpart.org. Na linha do Assunto deve indicar-se o Nome da Organização e a Apresentação à qual a proposta diz respeito (por exemplo, “Organização A - 2ª Apresentação de propostas abreviadas”). $SUHVHQWDomRGHSURSRVWDVDEUHYLDGDV +RUDGH0DSXWR QRGLD GH$EULOGH $SUHVHQWDomRGHSURSRVWDVDEUHYLDGDV +RUDGH0DSXWR QRGLD GH$JRVWRGH $SUHVHQWDomRGHSURSRVWDVDEUHYLDGDV +RUDGH0DSXWR QRGLD GH1RYHPEURGH $SUHVHQWDomRGHSHUJXQWDV 5HVSRVWDV +RUDGH0DSXWR QRGLD GH$EULOGH PUBLICIDADE PUBLICIDADE Savana 07-04-2017 15 Estamos profundamente preocupados com a actual situação económica, social e polí- tica com que Moçambique se confronta. A queda nos preços de exportação das Commodities, a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar e a revelação das dívidas ocultas contribuíram para uma redução significativa no crescimento económico do país. O metical caiu mais de 60% em relação ao dólar desde o início de 2014, aumentando a inflação e reduzindo as receitas do Governo em moeda externa, resultando num aumento estimado de 93% da dívida sobre o PIB. O FMI estima que o valor de PIB em dólares americanos reduziu de 16.9 biliões em 2014 para 12 biliões em 2016, um declínio de 29%. As pessoas já podem testemunhar o impacto doloroso em termos de aumento acentuado no custo de vida e estão profundamente preocupados sobre o futuros impactos negativos. Em Abril de 2016 foi revelado que, em 2013, um empréstimo no valor de USD 1.1 bilião foi concedido pelo Credit Suisse e VTB a duas empresas, Proindicus e Mozambique Asset Managment (MAM) com garantias do Estado. Acrescidos a um empréstimo de USD 800 milhões anteriormente concedidos a Ematum, também pelo Credit Suisse e VTB, com garantia do Estado. Contudo, nenhum destes empréstimos foi submetido ao Parlamento Moçambicano. Face a estas revelações, o FMI tomou a decisão de suspender empréstimos para o Governo de Moçambique, acção seguida pelos restantes doadores. A única saída sustentável da crise económica de Moçambique é através de uma maior transparência nos empréstimos, qualquer ajustamento recair sobre aqueles que são capazes de pagar, de forma que Moçambique não fique preso a um encargo de dívida impagável. Por conseguinte, apelamos que um conjunto de medidas sejam implementadas antes de o FMI retomar os empréstimos ao Governo de Moçambique. Estas medidas compreendem as seguintes: 1) Condução de forma transparente, de uma auditoria forense externa de todas as dívidas do Governo de Moçambique incluíndo todas as dívidas com garantias estatais, com investigações específicas sobre como os empréstimos para Ematum, Proindicus e MAM foram utilizados. Deve ser divulgado publicamente para onde foi o dinheiro, para que a crise actual fique resolvida. 2) Uma avaliação da solidez do plano de negócios da Ematum, Proindicus e MAM. A capacidade das três empresas de gerar receita deve ser divulgada publicamente. 3) Uma análise da situação actual daqueles que vivem em situação de pobreza e medidas potencias para proteger estes e aqueles próximos da pobreza, dos impactos negativos.Todas as acções devem ser baseadas em assegurar que a pobreza não aumente e novas acções devem mostrar um grande potencial para reduzí-la. 4) Uma lei e o correspondente mecanismo de implementação para responsibilizar os líderes políticos pelas suas acções, incluindo sanções claras em caso de má conduta e má governação. Deve haver um quadro legal claro para a forma como os líderes políticos serão responsabilizados se tal situação surgir novamente. 5) Um compromisso do Governo e FMI para não cortar e reforçar os investimentos e serviços sociais essenciais, nomeadamente educação, saúde, água e saneamento e agricultura. 6) Uma forte e convincente estratégia de corte de gastos excessivos e medidas anti-corrupção, com a devida atenção aos mecanismos de adjudicação de contratos públicos e a transparência nos concursos públicos, particularmente no diz respeito às infra estruturas e obras públicas. 7) A renegociação de contratos com os mega-projectos para garantir que todos eles estejam a pagar uma parte justa do imposto para ajudar no financiamento das despesas do Estado. Vários estudos têm demostrado como os megaprojectos estão pagando níveis muito baixos de impostos em função de suas receitas. 8) Um compromisso por parte do Governo e do FMI de não aumentar impostos que afectam negativamente as pessoas de rendimento médio e baixo de modo a garantir que a pobreza não aumente. 9) Cancelamento ou redução significativa da dívida assumida pelo Governo por parte das empresas Ematum, Proindicus e MAM. Os empréstimos do FMI não devem ser usados para pagar dívidas com credores irresponsáveis, de modo a evitar o risco de aprisionar Moçambique numa armadilha da dívida. Credores devem comparticipar nos custo e ajustamentos resultantes de suas acções irresponsáveis e a mudança nas circunstâncias económicas consequente de precos baixos. Assinado por: 1. Grupos em Moçambique Organizações filiadas ao Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO): Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) NWETI - Comunicação para Saúde Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) Helvetas Swiss Intercoorporation Moçambique Centro de Integridade Pública (CIP) Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) Action Aid Moçambique Movimento Educação para Todos (MEPT) Fórum Nacionais das Rádios Comunitárias (FORCOM) Mulher, Lei e Desenvolvimento (MULEIDE) Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC) Wateraid Moçambique Plataforma da Sociedade Civil Moçambicana para Protecção Social(PSCM-PS) Liga das ONG’s de Moçambique ( JOINT) Observatório do Meio Rural (OMR) WaterAid Moçambique Fórum Mulher Organizações filiadas ao Grupo Moçambicano da Dívida (GMD): WLSA – Mulher e Lei na África Austral; Associação Progresso; Kulima; TEIA; Associação contra a pobreza, Fórum Mulher; Fórum de Terceira Idade; Rede da criança; Rede Activa; Associação das Mulheres Rurais de Mahoche; Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM – Central Sindical); SINTIME; SINTIHOTS; SINECOSSE; Organizações membros da Coligação Transparência e Justiça Fiscal: Grupo de Teatro do Oprimido; Sociedade Aberta (SA); Conselho Cristão de Moçambique (Núcleos Provinciais de Maputo, Gaza, Inhambane, Manica, Sofala, Zambézia, Tete, Nampula, Cabo Delgado e Niassa); Associação para a promoção e Desenvolvimento da Mulher; Unidade de Desenvolvimento da Educação Básica – Laboratório; Além disso: Justiça Ambiental 2. Grupos internacionais International and regional networks ActionAid International African Forum and Network on Debt and Development (AFRODAD) Asian Peoples Movement on Debt and Development (APMDD) BankTrack European Network on Debt and Development (EURODAD) Oxfam International National organisations ATTAC Japan ( JAPAN) Both ENDS (NETHERLANDS) Bretton Woods Project (UK) Budget Advocacy Network (SIERRA LEONE) Centre national de coopération au développement (CNCD-11.11.11) BELGIUM Coalition citoyenne “Dette et Développement” et la défense des intérêts fondamentaux de la Guinée (CADIF) (GUINEA) Debt and Development Coalition Ireland (IRELAND) Debt Justice Norway (NORWAY) erlassjahr.de (GERMANY) Freedom from Debt Coalition (FDC) (PHILIPPINES) The Integrated Social Development Centre (ISODEC) (GHANA) Jesuit Centre for Theological Reflection ( JCTR) (ZAMBIA) Jubilee Debt Campaign (UK) Jubilee Scotland (UK) Kenya Debt Relief Network (KENDREN) (KENYA) Malawi Economic Justice Network (MALAWI) National Justice & Peace Network (UK) No Debt No Euro (Thessaloniki) (GREECE) Plateforme Française Dette et Développement (FRANCE) La Plateforme d’Information et ‘Action sur la Dette et le Développement (FRANCE) La Plateforme d’Information et d’Action sur la Dette (PFIAD) (CAMEROON) Le Réseau Gouvernance Economique et Démocratie (REGED) (DEMORATIC REPUBLIC OF CONGO) Solidar Suisse (SWITZERLAND) Tanzania Coalition on Debt and Development (TANZANIA) Zukunftskonvent (GERMANY) DECLARAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Medidas que devem ser implementadas antes de o FMI conceder novamente empréstimos ao Governo de Moçambique PUBLICIDADE 16 Savana 07-04-2017 A ENI EAST AFRICA S.p.A. convida as empresas interessadas a submeterem a sua Manifestação de Interesse para Serviços de Comunicação via Intranet para serem fornecidos a Eni East Africa. PUBLICIDADE Savana 07-04-2017 19 A Sociedade de Águas de Moçambique (SAM), proprietária das marcas Água da Namaacha e Fonte Fresca, e a Associação Aeroclube para a Inclusão de Pessoas com Deficiências (AAIPD), assinaram recentemente um protocolo de apoio que visa a oferta de água mineral e de apoios na aquisição de materiais indispensáveis para as actividades desenvolvidas pela Sociedade de Águas de Moçambique Apadrinha AAIPD AAIPD. Esta assinatura é o resultado de um trabalho que já vem sendo desenvolvido há algum tempo pelas duas instituições, para possibilitar o desenvolvimento de projectos desportivos e outros, orientados para os cidadãos com necessidades especiais. Miguel Padrão, Responsável de Marketing da SAM, considera o trabalho da AAIPD “excepcional e de uma nobreza ímpar, na forma abnegada como se dedica à eleva- ção das condições sociais destes indivíduos.” “É de louvar este projecto e nós, SAM, iremos fazer o que estiver ao nosso alcance para apoiar a AAIPD nas suas actividades que projectam os indivíduos com necessidades especiais para um patamar de dignidade mais elevado, colaborando para o incremento da sua autoestima e tornando-os cidadãos mais aptos para a participação nos objectivos de desenvolvimento nacional”, referiu o responsável pelo marketing da SAM. Por seu turno, Vaz de Sousa, Director Executivo da AAIPD, referiu que a visibilidade e apoio que a SAM está a dar a este projecto estão a mudar a realidade do mesmo, facilitando a ultrapassagem de vários obstáculos com que se têm deparado. “ O Programa Agro-Jovem superou a fase piloto e, a partir do próximo mês de Maio, vai ser ampliado a todo o País”, anunciou o coordenador do Programa, Rui Amaral, na sequência de um seminário organizado pela Gapi a 3 de Março em Maputo com os parceiros de implementação. O Agro-Jovem é uma iniciativa da Gapi com o apoio da DANIDA e que foi lan- çado em Junho de 2015 pelo Presidente da República. Durante a fase piloto, o Comité de Avaliação recebeu 30 propostas e aprovou o financiamento 12 projectos situados nos distritos de Chókwè, Vanduzi, Báruè, Chimoio, Mocuba, Nampula. Nesta fase, com o apoio financeiro da DANIDA a Gapi, investiu um total de aproximadamente 8 milhões de meticais no apoio aos seis parceiros e financiamento aos jovens. A Gapi e seus parceiros estão a acompanhar o desempenho dos negócios dos jovens que beneficiam de assistência técnica e financeira. A nova fase deste programa terá início com a inclusão de novos parceiros de implementação de modo a que passe a existir mais diversidade de experiência e pelo menos uma a duas instituições de ensino por província. A fase- -piloto envolveu seis instituições de ensino e abrangeu sete polos de desenvolvimento localizados em sete diferentes províncias. Para a nova fase, além de instiAgro-Jovem chega a todo o País tuições de ensino técnico de nível médio e superior, a Gapi contratou os serviços especializados de organizações como a AIESEC, Global Shapers e DevMoz. Através do envolvimento destes novos parceiros, a Gapi pretende disponibilizar para as instituições de ensino envolvidas e os jovens por elas promovidos as experiências de promoção de empreendedorismo que têm sido implementadas noutros países. O seminário do dia 3 de Março concentrou-se na avaliação da fase piloto e, entre outros aspectos, realçou a necessidade de mais e melhor informação ao público. Neste sentido, Rui Amaral, coordenador do programa, anunciou que durante esta nova fase será lançado um website e um blog que permitirá uma melhor troca de informa- ções entre os participantes. Durante o encontro, António Souto, administrador-delegado da Gapi, realçou a importância de nesta nova fase os critérios de avaliação das candidaturas valorizarem mais o espírito inovador das propostas, assim como o carácter do proponente e a sua inserção e relação com o mercado. “Os novos negócios propostos pelos parceiros e seus jovens não terão sucesso só porque as suas projecções estão assentes em folhas de cálculo bonitas. É preciso que o novo negócio responda a necessidades reais do mercado; é também indispensável que o jovem demonstre ter uma postura empreendedora de trabalho árduo, persistência e criatividade”, afirmou.(EC) PUBLICIDADE 20 Savana 07-04-2017 O Millennium bim faz um balanço positivo em torno do seu exercício económico em 2016. O resultado líquido durante o ano transacto atingiu cerca de 5 mil milhões de meticais, um crescimento de 34% relativamente ao mesmo período em 2015, que foi de 3.7 mil milhões de meticais. Estes dados foram avançados na quarta-feira da semana passada, em Maputo, durante a realização da Assembleia Geral daquela instituiMillennium bim consolida robustez em 2016 ção. Nos resultados da actividade do Banco, destaca-se o forte crescimento dos volumes, nomeadamente a captação de depósitos - cresceu 9,7% registando-se nos 97.819 milhões de Meticais, e o crescimento de 19,7% da carteira de crédito, para um valor total de 84.430 milhões de Meticais. O bom desempenho registado pelo Millennium bim permitiu confirmar a solidez e robustez do seu balanço através do reforço dos seus capitais próprios e das coberturas para imparidades de crédito. O rácio de solvabilidade do Banco fixou-se em 18,8%, claramente acima das exigências regulamentares do Banco de Moçambique que são de um rácio mínimo de 8%. Os resultados alcançados pelo Millennium bim em 2016 contribuíram para as receitas do Estado com cerca de 1.963 milhões de meticais só em IRPC. A este valor acrescem os 1.727 milhões de meticais de retenções na fonte do imposto sobre rendimento pago a terceiros, relativos a juros, dividendos, rendimentos prediais e do trabalho e imposto do selo, que fazem do Millennium bim um dos principais actores do sistema tributário do país. O bom desempenho registado pelo Millennium bim vem, uma vez mais, contribuir para consolidação do seu posicionamento como agente activo do crescimento económico e desenvolvimento social de Mo- çambique. De facto, os resultados apresentados pelo Millennium bim, nos últimos anos, têm permitido reforçar o seu investimento na bancarização do país e inclusão financeira das populações. Por outro lado, o Millennium bim é claramente o Banco de grande dimensão em situação mais favorá- vel, revelando assim a robustez do seu balanço bem como o seu claro posicionamento de liderança na capacidade de dar crédito à economia Moçambicana. Em 2016, o financiamento às empresas atingiu os 68.376 milhões de Meticais, o que representa um aumento de 25,6% face ao período homólogo. D ecorreu na última quarta- -feira, em Lisboa, o IV Festival Anual dos Prémios Lusófonos da Criatividade, onde foram premiadas as Agências e Produtoras Lusófonas do Ano. A moçambicana DDB foi a mais premiada da noite, garantindo assim o terceiro lugar no Ranking das Agências mais reconhecidas. Para este concurso, a DDB Mo- çambique submeteu trabalhos com os títulos: “Não é coisa de criança” e “ENEMIESAD”. O primeiro mereceu um Prémio de Ouro e duas de Prata na categoria “Activação de Marca”; dois Prémios de Prata na categoria “Marketing Relacional”; um Prémio de Ouro na categoria “Media” e um Prémio de Ouro na categoria “Relações Públicas”. Já o segundo arrecadou um Prémio de Bronze na categoria “Imprensa”; DDB galardoada no IV Festival Anual Lusófono mais um Prémio de Prata também na categoria “Media”; um Prémio de Prata e outro de Bronze na categoria “Relações Públicas”; um Prémio de Prata na categoria “Outdoor” e, por fim, um Prémio de Bronze na categoria “Imprensa”. O Director Executivo Criativo da DDB Moçambique, Luís Guimarães, refere: “esta é a prova de que existe grande potencial na criatividade em África, particularmente em Moçambique. É com muito orgulho que ganhámos estes prémios, prova do imenso esforço posto todos os dias pela equipa DDB Moçambique. Estes prémios são para eles e para todos os moçambicanos. Aproveito para congratular a todos os outros vencedores”. Ao longo destes anos, a DDB Mo- çambique desenvolveu uma paixão por vencer em conjunto e reafirma que na próxima edição, dentro de três meses, voltará a concorrer e espera alcançar mais prémios. O Instituto Superior de Educação e Tecnologia (ISET)/ One World University (OWU) graduou, semana finda, 65 técnicos superiores, nas áreas de Desenvolvimento Comunitário (35) e Pedagogia (30). A cerimónia decorreu nas instala- ções da instituição, no Posto Administrativo de Changalane, distrito de Namaacha, província de Maputo, e contou com a presença do Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, Jorge Nhambiu, e do Governador desta província, Raimundo Diomba. Falando aos professores, familiares e amigos, os graduados consideraram que os “canudos” são resultados de muito aprendizado, baseado na teoria e prática. O facto é que, durante a formação, os graduados viveram experiências inéditas, caracterizadas por trabalhos práticos nas comunidades ISET/OWU gradua 65 técnicos superiores vizinhas, assim como nos países vizinhos, com destaque para Suazilândia e África do Sul. O Director-geral do ISET/OWU, Thomas Hojmark, explicou que o método visa tornar os estudantes daquela escola em pessoas extraordinárias, pois, “é destas pessoas que a sociedade precisa”. “O extraordinário não lamenta. Ele organiza. Na OWU queremos educar e treinar tais pessoas”, sentencia. Por seu turno, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, Jorge Nambiu, congratulou os graduados, considerando que é resultado do seu empenho e entrega aos estudos, durante a formação. “Que honrem o sacrifício consentido ao longo da formação, trabalhando de forma proactiva, patriótica e abnegada nos sectores de trabalho em que forem afectos e, em qualquer ponto do vasto território nacional”, exortou.

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