16/2/2017, 20:29666
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Cavaco Silva apresentou esta quinta-feira o seu livro numa sala superlotada do CCB, em Lisboa. Uma obra que o ex-Presidente disse ser uma "prestação de contas" e um encontro com os "factos rigorosos".
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HUGO AMARAL/OBSERVADOR
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Miguel Santos
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“Este livro trata-se de uma prestação de contas e não de um ajuste de contas. Este livro não é escrito contra ninguém.” As palavras de Manuel Braga da Cruz, ex-reitor da Universidade Católica e o responsável pela apresentação do livro de Cavaco Silva, resumiam bem o impacto que a primeira leitura da obra causou: Quinta-feira e outros dias está recheado de revelações e considerações pouco simpáticas para José Sócrates, um homem que Cavaco Silva começou a ver com crescente desconfiança, à medida que o eixo Belém-São Bento se ia deteriorando. É a inédita narração do ex-Presidente da República sobre os encontros com José Sócrates e o relato de como uma relação que começou com promessas de “cooperação silenciosa” terminou com acusações de “falta de lealdade institucional”. A primeira vez que Cavaco Silva conta a sua “narrativa”. Uma versão da história que deixa José Sócrates muito mal na fotografia.
E se era o ex-Presidente da República quem apresentava o livro, era o nome de José Sócrates que estava na cabeça da maioria das presentes que encheram a sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. “O professor não vai precisar que ninguém lhe compre exemplares”, comentava discretamente um dos convidados. Por muito que Manuel Braga da Cruz o negasse, este parecia ser o momento de ajuste de contas de Cavaco Silva com o passado.
O antigo Chefe de Estado seria institucional, como sempre fez gala de ser, de resto. Sobre José Sócrates, nem uma palavra. Nem era expectável que assim fosse. “Sempre fiz questão de prestar contas dos cargos públicos que exerci. O mesmo acontece agora. Este livro é, em primeiro lugar, uma prestação de contas aos portugueses pela forma como exerci as funções de Presidente da República”, começou por dizer Cavaco Silva.
O ex-Presidente da República repetiria a expressão “prestação de contas” pelo menos mais três vezes. Na plateia, os seus colaboradores mais fiéis, de Leonor Beleza a João de Deus Pinheiro, passando por Couto dos Santos ou Teresa Patrício Gouveia, assim como vários membros da sua Casa Civil, ouviram-no dizer com clareza: “Sem esta prestação de contas ficava incompleto o conhecimento de um tempo bastante complexo da vida nacional”.
O tempo complexo a que se referia Cavaco Silva foi o período que antecedeu e acompanhou o escândalo das alegadas escutas em Belém, no verão de 2009, a crise económica e financeira, o chumbo do PEC IV, a queda de José Sócrates e o pedido de resgate.
O Presidente da República, que chegou ao cargo com a aura de economista — e “não-político”, como sempre fez questão de se definir –, foi o mesmo que acompanhou a partir de Belém o caminho para o abismo que o país foi percorrendo. Acusado pelos opositores de nada ter feito para evitar o regaste, de ter sido conivente com a política do Governo socialista, Cavaco Silva aproveitou para fazer a sua defesa no livro que agora publica. Na apresentação da obra, ensaiou o mesmo, repetindo que os encontros semanais com José Sócrates eram a “via mais eficaz que um Presidente da República dispõe para influenciar o processo político de decisão”. Lido nas entrelinhas: Cavaco Silva assegura que não podia fazer mais.
Antes da intervenção do ex-Presidente da República, já Braga da Cruz tinha sugerido o mesmo, de forma mais clara. Cavaco Silva, defendeu o ex-reitor, “moveu-se sempre pela defesa do superior interesse nacional”. “Alertou, avisou, aconselhou. Nem sempre as suas advertências foram ouvidas, nem os seus conselhos foram ouvidos. Não conseguiu inverter a orientação do Governo“, afirmou.
Este, por isso, é o momento de repor a verdade. A verdade de Cavaco Silva, pelo menos. “O livro pretende informar os portugueses da forma como desenvolvi uma interação com o Governo. Para que os portugueses possam fazer o seu juízo esclarecido e informado. Toda a prestação de contas não pode deixar de se apoiar em factos rigorosos“, lembrou o antigo Presidente da República. À saída, e confrontado pelos jornalistas sobre se as revelações que fez no livro não eram um ajuste de contas com José Sócrates, o antigo Chefe de Estado escusou-se a fazer a comentários. “Não acrescento nada ao que está no livro, que é de um grande rigor factual”. Nem mais uma palavra.
Na plateia estavam também o antigo Presidente da República Ramalho Eanes e a mulher, além de Pedro Passos Coelho, Assunção Cristas, Maria Luís Albuquerque, António Pires de Lima e Marques Guedes (ver fotogaleria). O volume apresentado esta quinta-feira trata sobretudo do período em que Cavaco Silva coabitou com José Sócrates. Resta saber que revelações vai trazer a segunda metade da obra sobre o início e o fim do Governo de Pedro Passos Coelho.
Cavaco Silva despediu-se dos convidados, agradecendo a “dádiva” que a vida lhe deu por ter ocupado o cargo de Presidente da República. Agradeceu à “equipa de excelentes colaboradores” que o acompanhou e, em particular, ao seu Chefe da Casa Civil, José Manuel Nunes Liberato. E deixando também uma palavra aos portugueses: “O povo português deu-me a possibilidade de representar e defender Portugal como Presidente da República. Não esqueço esse apoio que repetidamente me foi dado pelo povo português”, sublinhou.
Mas o agradecimento especial seria para a mulher, Maria Cavaco Silva, a assistir a tudo a partir da primeira fila. “Sem ela não teria tido a carreira profissional e política que tive. Sem ela este livro não tinha existido“. E despediu-se: “Considero-me um homem de sorte. Um homem de muita sorte. A todos muito obrigado, a todos um abraço amigo”. Terminou como começou: aplaudido de pé. Foi o suspiro do cavaquismo no CCB.
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RECOMENDAMOSANÍBAL CAVACO SILVA
Foi mau, mas sem Cavaco Silva teria sido pior
Rui Ramos
17/2/2017, 4:50382
71
O livro de Cavaco Silva mostra como no tempo de Sócrates o presidente ainda foi, dentro do país, o maior contrapeso do governo. Sem Cavaco Silva, teria sido pior. PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Primeiras memórias presidenciais de Cavaco Silva
Manuel Braga da Cruz
16/2/2017, 19:15200
33
A influência sobre o Primeiro-Ministro, longe dos holofotes da comunicação social, não fazendo oposição, antes ajudando o governo, em cooperação institucional, é demonstrada ao longo destas páginas.ANÍBAL CAVACO SILVA
102
A monotonia de Cavaco foi uma virtude, pois trouxe previsibilidade institucional. Marcelo quis fazer diferente. Sim, é popular. Mas tudo na sua Presidência é menos transparente, previsível e imparcial
Comentários×
Cavaco Silva diz que livro é “prestação de contas” apoiada em “factos rigorosos”
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Todos18
Jéssica Inês
45 m
Olha ele, o Presidente menos popular desde 1974!
Penso que as ações do banco ou a sua dita "reforma" não chega para as despesas, parece que quer fazer alguns trocos com o seu livro!! Agora quer pedir desculpa pelas asneiras que fez ao longo dos anos! Mas pronto, como diz o povo "mais vale tarde que nunca".
1Responder
Mariana Barbosa
4 h
Cavaco Silva foi um primeiro-ministro e um presidente da República que nunca se deu bem com o marketing político e é por isso que é também o mais incompreendido, neste país, onde "ser" é pior do que "parecer".
0Responder
Marco magalhaesMariana Barbosa
3 h
No BPN foi bem compreendido!
1Responder
joao silva
13 h
E tambem la vem a parte da sua vida em que ele quis pertencer á PIDE??? Ou isso não faz parte das memorias?
1Responder
Maria Narciso
15 h
Faltou escrever
- Sobre o BPN e o que pensou antes da queda - Da necessidade de Nacionalizar para conter o risco sistémico
- Sobre o BES - Quando incentivou os Portugueses a confiarem,enquanto Banco sólido meses antes dele desabar
- Sobre o Pavilhão Atlântico - E o que pensou do financiamento do BES para a Compra deste o qual foi Vendido a preço de Saldo
Sobre o que pensou - Da Proibição da acumulação de Salários com Pensões na Função Pública em Janeiro de 2011
... Ler mais
0Responder
Jose Antonio SoaresMaria Narciso
14 h
Sobre essas coisas tens que perguntar ao amado lider Socrates...ele saberá responder....
2Responder
AJ ZM
16 h
O BPN foi aquele banco que pagava juros relativamente mais altos, nos depósitos a prazo, comparativamente ás outras instituições bancárias.
Este BPN foi intervencionado pelo governo da altura, porque razão?
Cavaco Silva tinha investido neste BPN e não podia ficar a perder.
Penso que os Portugueses se lembram quando este sujeito que tinha rendimento mensal na ordem dos 10.000 euros e que dizia, que provavelmente esse rendimento não lhe daria para as despesas, quando a maioria dos Portugueses passava por imensas dificuldades, porque nos encontrávamos em plena crise.
Como presidente foi péssimo e como primeiro ministro foi horrível.
Como é possível as pessoas não se lembrarem da fraude que este sujeito foi na vida política de Portugal.
1Responder
AJ ZM
16 h
O senhor perfeccionista nunca explicou aos Portugueses como é que comprou acções do BPN a 1 euro, a alguém que as tinha adquirido a 2 euros, tudo isto num curto espaço de tempo e também num curto espaço de tempo este personagem Cavaco Silva vendeu essas mesmas acções a 2 euros, com esta operação arrecadou muitos milhares de euros.
2Responder
I AmAJ ZM
16 h
Conversa da xaxa... vai estudar, Relvas!
1Responder
AJ ZMI Am
15 h
Cego não é o que não vê, mas aquele que não quer ver.
Experimenta actualizar-te e depois verás que encanhas-te no tempo e procura já agora ser honesto no comentário.
2Responder
Jose Antonio SoaresAJ ZM
14 h
Exactamente... por isso nao enxergas o mal que este governo esta a fazer ao país...
0Responder
joao silvaJose Antonio Soares
13 h
E porque não explica qual é esse mal? Os portugueses gostavam de ler uma opinião objectiva e avalizada!Os SMS do Centeno não contam!
0Responder
Jéssica InêsJose Antonio Soares
41 m
Fazer mal? Como é que está a fazer mal? Então não está tudo a correr bem? :) Até a EU elogiou o António Costa, não me recordo do Passos ser elogiado pelo mesmo. Mas claro, para os da Direita, é tudo mentira! Está tudo mal! Nada funciona! VERGONHA EM VOCÊS!!!!! E já agora senhor Soares, acho que Passos Coelho e a Maria Luís Albuquerque deveriam ser chamados à comissão de inquérito responder o que raio andaram a fazer durante 4 anos no Governo sem resolverem alguma coisa, mas claro, a Direita não quer!!!! :).
O lema do PSD deve ser este: "É muito feio quando é os outros a fazer, mas quando somos nós, é muito bonito."
0Responder
I Am
17 h
Cavaco Silva é um economista. Pode talvez até ser um mau economista, mas é um economista. E como economista que é, é sob esta ciência que desenvolveu seu ministério. E são os conhecimentos desta ciência que hoje fazem enorme falta tanto na presidência quanto no conselho de ministros: a política é como a magia, pode-se tirar coelhos da cartola, mas há um limite para os coelhos na cartola, é preciso pensar em criá-los.
1Responder
victor guerraI Am
17 h
Tirou-nos o melhor coelho da coutada portuguesa.Ao qual vamos recorrer ,quando a actual palhaçada se esgotar
0Responder
I Amvictor guerra
16 h
Todos os políticos conduzem sua ação considerando os seus interesses, o que é perfeitamente legítimo, com os demais interesses da população. Se a população, ao eleger estes políticos, não toma isto em consideração, não pode depois querer se excluir das consequências. O ideal será eleger um político cujos interesses estejam o mais próximo possível dos interesses da coletividade. Acho eu.Considerando que num bordel não há virgens, cada um tem de saber o que leva para casa. O povo português não tem sido feliz nesta escolha: não se pode votar para ser rico, é preciso produzir para isto. De qualquer forma, mesmo com o que acabou por calhar, há condições, não vale a pena querer ser perfeccionista. Contanto que não ilegalizem a ida ao bordel...
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Alberto Pereira
17 h
O que o sr. Anibal Cavaco Silva, tem estado ausente.MILAGRE agora aparece a seguir ao livro,julgo que está a pedir perdão aos portugueses pelos pecados que cometeu durante o governo de Passos Coelho.Pela minha parte está absolvido. ALBERTO PEREIRA
0Responder
chegaparali chegaparali
18 h
Os factos dele. Que podem ser rigorosamente questionáveis. Logo ele, como muito bem provou à saciedade, pouco claro e muito dúbio.
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"O livro não é um ajuste de contas com Sócrates. É, através de exemplos, uma explicação da escolha fundamental de Cavaco Silva. Enquanto presidente, preferiu os “poderes implícitos de influência”, através do contacto regular com o governo, aos “poderes negativos”, como os vetos legislativos ou a dissolução do parlamento."
A crónica de Rui Ramos:
Sem comentários:
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