Tidos como a ala dura do partido
Frelimo, que sempre
defendeu a via militar para
acabar com o “problema”
Renamo e Afonso Dhlakama, os
combatentes da Luta de Libertação
Nacional voltaram a saudar, no último
fim-de-semana, as Forças de
Defesa e Segurança (FDS), pela sua
“prontidão, bravura e determinação
na defesa do povo, na garantia e manutenção
da soberania nacional, ordem,
segurança e tranquilidade pú-
blicas”, numa altura em que o Centro
de Moçambique continua a viver as
amarguras da tensão político-militar.
Na manhã de sexta-feira, horas depois
de dar garantias ao estadista
português, Marcelo Rebelo de Sousa,
em tudo fazer para devolver a paz aos
moçambicanos, o presidente Filipe
Nyusi foi à Matola dizer ao país e ao
mundo que a Renamo está a tentar
sequestrar o sonho de um povo.
Naquele que foi o seu discurso de
abertura da IV Sessão Ordinária do
Comité Nacional da Associação dos
Combatentes da Luta de Libertação
Nacional (ACLLN), o órgão social
mais influente na Frelimo, Filipe
Nyusi voltou a condenar o que chama
de matança da Renamo.
Disse que ataques do maior partido
da oposição criam perturbações ao
ambiente de paz e segurança, ao mesmo
tempo que minam o desenvolvimento
económico, para além de que
o recurso à destruição demonstra claramente
o que o presidente chamou
de não cometimento da Renamo com
o bem colectivo e uma tentativa de
sequestro do sonho de um povo que
se quer livre.
Com o país altamente endividado,
em parte na aquisição de material
bélico para fazer face à tensão polí-
tico-militar, como finalmente assumiu,
há dias, o Primeiro-ministro
moçambicano, Carlos Agostinho
do Rosário, o presidente da Frelimo
e da ACLLN afirmou, na reunião
dos veteranos da Luta de Libertação
Nacional, que não é necessariamente
da força física ou militar que os mo-
çambicanos precisam para o alcance
de uma paz efectiva e, para não variar,
voltou a repetir o seu chavão de todos
os tempos: “sentimo-nos encorajados
em continuarmos abertos ao diálogo
para uma paz efectiva”.
Mas o tom menos reconciliador de
Filipe Nyusi viria a ser reforçado
pelos próprios “libertadores” que,
em Janeiro deste ano, na voz do seu
secretário-geral, Fernando Faustino,
advertiram ao líder da Renamo,
Afonso Dhlakama, que a paciência
tem limites e que um dia ele se arrependerá
pelo seu comportamento
anti-democrático.
“Quem é Dhlakama para ameaçar a
tudo e a todos? É mesmo capaz de
enfrentar as Forças de Defesa e Segurança
– única instituição legalmente
autorizada a recorrer à força
para repor a ordem e tranquilidade
neste país?... Ele (Dhlakama) diz
basta à Frelimo. Basta dizemos nós à
Renamo e ao seu líder. Basta de nos
concentrarmos em Dhlakama. O país
não pode ficar refém de um fora da
lei. O Governo da Frelimo tem feito
de tudo para conduzir Dhlakama
para o lado certo da história. Infelizmente,
Dhlakama circula sempre em
contramão. Quer estar a soldo de interesses
obscuros. Quando é assim o
país não tem outra alternativa senão
se proteger e agir contra os agentes
do mal” explicou na altura Fernando
Faustino, numa entrevista publicada
no jornal Notícias deste ano.
Entretanto, neste fim-de-semana, os
mais de 170 membros do Comité
Nacional da ACLLN defenderam
que o executivo de Filipe Nyusi deve
continuar a defender os cidadãos, a
sua integridade física e a das institui-
ções públicas e privadas dos ataques
destrutivos da Renamo.
Mas para variar, os combatentes, entre
eles os antigos presidentes Joaquim
Chissano e Armando Guebuza,
o governo deve também investir para
tornar o diálogo num instrumento
mais eficaz para pôr fim às hostilidades
militares no país.
Os membros do Comité Nacional da
ACLLN, que no comunicado final
do encontro reafirmaram a sua total
e imediata disponibilidade para continuarem
a participar na defesa da soberania,
consolidação da paz, unidade
nacional e desenvolvimento do país,
condenaram os ataques e matanças
perpetradas pelos homens armados
da Renamo contra populações indefesas,
e posições das Forças de Defesa
e Segurança, incluindo a destruição
de infra-estruturas públicas e privadas.
Até porque os combatentes aprovaram
uma moção de apoio à resolução
da V Sessão Ordinária do Comité
Central da Frelimo sobre a situação
político, militar e paz, a qual refere
que, no geral, o país vive um ambiente
estável e que as instituições do Estado
estão em pleno funcionamento.
O alto endividamento do país, que
inclui dívidas ocultas na ordem de 1,4
mil milhões de dólares, também mereceu
atenção dos membros daquele
órgão social da Frelimo.
Diz a ACLLN que foi esclarecida
sobre a dívida externa contraída pelas
empresas EMATUM, PROINDICUS
e MAM, com aval do Estado,
apelando também que tal endividamento
seja tornado público e que o
Estado assuma apenas a parte pú-
blica, devendo a parte comercial ser
responsabilizada às empresas beneficiárias
e seus accionistas, além de verificar
a existência de possíveis conflitos
de interesses dos investidores
individuais nas três empresas, à luz
da Lei de Probidade Pública.
Para a agremiação dirigida por Fernando
Faustino, Moçambique enfrenta
um conjunto de choques à
economia nacional, como a fraca base
produtiva, problemas estruturais na
balança comercial, com o volume de
importações superior às exportações,
redução de fontes de financiamento,
atraso nos desembolsos pelos parceiros
de cooperação internacional,
aumento do endividamento externo,
calamidades naturais, entre secas e
cheias, queda dos preços dos principais
produtos de exportação.
Aliás, Nyusi destacou no encontro
que o combatente é, mais uma vez,
chamado a participar activamente
na vida do partido a partir da sua
associação e, por isso, “orientamos a
ACLLN a incentivar os seus membros
para se lançarem no desenvolvimento
de actividades sustentáveis
capazes de gerar renda própria”.
“O combatente é, mais uma vez,
chamado a participar activamente
na vida do partido a partir da sua
associação. Orientamos a ACLLN a
incentivar os seus membros para se
lançarem no desenvolvimento de actividades
sustentáveis capazes de gerar
renda própria”, apelou Nyusi, para
quem uma das marcas da ACLLN é
a sua visão, é a de ser um reservatório
de experiências e essas experiências
devem ser polidas e bem exploradas,
dentro e fora da associação, dentro e
fora do partido.
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