Canal de Opinião
Beira (Canalmoz) – Para a maioria dos africanos, mais uma cimeira ou menos uma cimeira vai significar quase nada.
Decerto que serão mais uns milhões dólares gastos a alojar, alimentar e transportar um grupo de pessoas que são, na verdade, uma vergonha para este sofrido continente.
África, que ainda tem escravatura na Mauritânia e no Sudão, que ainda se vê a braços com guerras pelos recursos, com uma galopante promoção de presidências perenes e um jogo político completamente fora das regras democráticas, tem os seus milhões de cidadãos subjugados por agendas privadas de quem se diz líder, mas que não lidera nem reúne condições éticas, morais e políticas para fazê-lo.
A pergunta é: que se espera de mais uma cimeira continental?
Que se pode esperar de presidentes da República, quando os mesmos estão mergulhados em escândalos domésticos de grande envergadura?
A arrumação de pedras e indicação de sucessores que não atrapalhem nem perturbem o “status” é mais importante para os perenes presidentes do que qualquer assunto que afecte o continente.
Ébola, HIV/SIDA, malária, matanças de inocentes, xenofobia, nada importa aos presidentes e chefes de Governo que estão reunidos. Essa é uma verdade demonstrada todos os dias. Quem está interessado em encontrar soluções para os problemas que grassam no continente, investe e trabalha nesse sentido.
Como se pode esperar qualquer sucesso na luta contra o terrorismo na Nigéria e em outras parcelas de África, se as Forças Armadas e Polícias de quase todos os países estão organizadas no sentido de servirem os desígnios de manutenção do poder dos actuais detentores?
A patética e triste figura de pedintes exibida por líderes africanos sempre que há uma tragédia já ultrapassou todos os limites admissíveis.
Agora choram que o exército nigeriano não possui armas para combater o Boko Haram. Onde param os bilhões de receitas petrolíferas que entram na Nigéria todos os anos?
Será que a República do Congo precisa de milhares de capacetes azuis da ONU pagos a peso de ouro, quando se sabe que tudo se resume a um conflito derivado de recursos minerais?
Intervenções sucessivas de exércitos de certos países africanos ainda não conseguiram extirpar a rebelião contra Kinshasa porque há interesses concretos que o impedem. Conflitos de natureza étnico-política antigos são ressuscitados, sempre que um político descontente com o acesso às riquezas entenda que a sua parte do bolo não basta.
Através de um esquema de cooperação internacional baseado em considerações geopolíticas e estratégicas, promovendo o acesso a desbarato aos recursos naturais de África, as ex-potências colonizadoras e novos actores regressam a grande velocidade à África antes retalhada em Berlim.
Uma camuflagem de defesa genuína de aliados em perigo esconde que, afinal, somos considerados actores menores e alvos predilectos do saque do que os nossos países possuem.
Líderes perenes apresentando já sinais de senilidade são mantidos a todo o custo no poder porque servem a agenda de acumulação, fausto e rapina dos recursos dos países, protagonizada por elites vorazes.
Quando o interesse privado é confundido ou apresentado como agenda nacional, está mais do que evidente que o proclamado desenvolvimento não se concretiza.
À vista desarmada se pode ver que África está a saque e que as corporações que actuam neste continente, apadrinhadas e coligadas a interesses empresariais africanos, são efectivamente um dos obstáculos à dignidade e desenvolvimento apregoado.
Chegar ao poder e manter o poder é a via escolhida por quase todos os líderes para acelerarem o seu enriquecimento ilícito. As suas famílias e relações assaltam e controlam tudo o que sirva de meio de produção de receitas e lucros.
Fundos soberanos são transformados em fundos familiares, como se viu na Líbia e se pode ver em Angola nos dias de hoje.
A génese de muitos dos problemas políticos vividos em África tem origem na incapacidade de conceber e pôr em prática modelos político-económicos que promovam a justiça, a equidade, o respeito pelos direitos políticos e económicos de concidadãos.
Quando um país como Angola ou Moçambique, rico em minerais estratégicos, solos para agricultura, água em abundância, falha em desenvolver-se, falha em criar condições mínimas para os seus cidadãos, só se pode dizer que o Governo desse país não está cumprindo a sua missão e funções.
Quando uma elite abocanha tudo, e a sua descendência se apresenta como detentora de riqueza sem que se conheça a sua proveniência, estão criadas as condições para o surgimento dos conflitos.
O Boko Haram é uma criação específica de alguém com uma agenda política. A sua sobrevivência acontece por vias que não são tão obscuras. As eleições presidenciais na Nigéria vão colocar frente a frente um “playboy” católico e um ex-golpista muçulmano. Os apoios de um e de outro são óbvios, e não há nigeriano que não saiba como é feita a “sopa” no seu país.
A cimeira da UA não vai produzir resultados que o continente necessita, porque a UA é sobretudo uma associação política para delinquir, por via do controlo do poder executivo nos países membros. Delinquir para enriquecer é o nome do jogo. Os capitais acumulados são depositados na Europa, Ásia e América, protegidos por segredos bancários em “offshores”.
É preciso não desistir do combate por uma África mais digna e humana, politicamente republicana e democrática. É uma luta de gerações, que tem de prosseguir com firmeza e abnegação.
Ontem, alguém deu passos na direcção certa, e hoje requer-se a incorporação de novas forças, para que o dia da libertação política e económica seja cada vez mais próximo.
A RDC não pode continuar a ser aquele feudo de Leopoldo, assim como Maputo não pode ser feudo de supostos socialistas de Lisboa e sua fauna acompanhante local.
Angola e Moçambique não podem ser transformados em pasto fácil de Pequim, só porque esta concede créditos e armas sem perguntas.
Sudão e Sudão do Sul não podem ser entrepostos de escravos nem foco de luta por um petróleo que poderia estar beneficiando os seus povos.
Cidadãos informados e educados, políticos patriotas e democráticos, juntos, têm força para varrer o lixo de cleptocratas que suga a Mãe África.
Não é com conclaves ou cimeiras promíscuas e carnavalescas que se resolvem os problemas de África.
A migração sempre em alta revela que os Governos africanos estão falhando. Se a xenofobia não vai ser debatida é porque a África do Sul não quer ser repreendida publicamente e tem poder para evitar que o assunto venha à mesa. Mas isso não significa que o problema deixa de existir naquele país. O “sonho de libertação” e de pan-africanismo morreu com os seus mentores. Agora ficou e vigora a voracidade da elite no poder nos diferentes países.
Enquanto os maridos estão reunidos, as primeiras-damas também estarão em cimeira, desfilando com os seus guarda-roupas de Paris e Milão. Isso é, no mínimo, inaceitável e imoral, atendendo a que milhares estão morrendo à fome todos os dias.
A história se encarregará de julgar estes “líderes” que se reúnem amiúde e nada fazem pelos seus povos.
Podem escapar a julgamentos e sentenças, podem exilar-se fora de África ou em algum país com um PR amigo, mas jamais terão sossego e tempo para desfrutar dos frutos de roubos e saques efectuados ao erário público. (Noé Nhantumbo)
Decerto que serão mais uns milhões dólares gastos a alojar, alimentar e transportar um grupo de pessoas que são, na verdade, uma vergonha para este sofrido continente.
África, que ainda tem escravatura na Mauritânia e no Sudão, que ainda se vê a braços com guerras pelos recursos, com uma galopante promoção de presidências perenes e um jogo político completamente fora das regras democráticas, tem os seus milhões de cidadãos subjugados por agendas privadas de quem se diz líder, mas que não lidera nem reúne condições éticas, morais e políticas para fazê-lo.
A pergunta é: que se espera de mais uma cimeira continental?
Que se pode esperar de presidentes da República, quando os mesmos estão mergulhados em escândalos domésticos de grande envergadura?
A arrumação de pedras e indicação de sucessores que não atrapalhem nem perturbem o “status” é mais importante para os perenes presidentes do que qualquer assunto que afecte o continente.
Ébola, HIV/SIDA, malária, matanças de inocentes, xenofobia, nada importa aos presidentes e chefes de Governo que estão reunidos. Essa é uma verdade demonstrada todos os dias. Quem está interessado em encontrar soluções para os problemas que grassam no continente, investe e trabalha nesse sentido.
Como se pode esperar qualquer sucesso na luta contra o terrorismo na Nigéria e em outras parcelas de África, se as Forças Armadas e Polícias de quase todos os países estão organizadas no sentido de servirem os desígnios de manutenção do poder dos actuais detentores?
A patética e triste figura de pedintes exibida por líderes africanos sempre que há uma tragédia já ultrapassou todos os limites admissíveis.
Agora choram que o exército nigeriano não possui armas para combater o Boko Haram. Onde param os bilhões de receitas petrolíferas que entram na Nigéria todos os anos?
Será que a República do Congo precisa de milhares de capacetes azuis da ONU pagos a peso de ouro, quando se sabe que tudo se resume a um conflito derivado de recursos minerais?
Intervenções sucessivas de exércitos de certos países africanos ainda não conseguiram extirpar a rebelião contra Kinshasa porque há interesses concretos que o impedem. Conflitos de natureza étnico-política antigos são ressuscitados, sempre que um político descontente com o acesso às riquezas entenda que a sua parte do bolo não basta.
Através de um esquema de cooperação internacional baseado em considerações geopolíticas e estratégicas, promovendo o acesso a desbarato aos recursos naturais de África, as ex-potências colonizadoras e novos actores regressam a grande velocidade à África antes retalhada em Berlim.
Uma camuflagem de defesa genuína de aliados em perigo esconde que, afinal, somos considerados actores menores e alvos predilectos do saque do que os nossos países possuem.
Líderes perenes apresentando já sinais de senilidade são mantidos a todo o custo no poder porque servem a agenda de acumulação, fausto e rapina dos recursos dos países, protagonizada por elites vorazes.
Quando o interesse privado é confundido ou apresentado como agenda nacional, está mais do que evidente que o proclamado desenvolvimento não se concretiza.
À vista desarmada se pode ver que África está a saque e que as corporações que actuam neste continente, apadrinhadas e coligadas a interesses empresariais africanos, são efectivamente um dos obstáculos à dignidade e desenvolvimento apregoado.
Chegar ao poder e manter o poder é a via escolhida por quase todos os líderes para acelerarem o seu enriquecimento ilícito. As suas famílias e relações assaltam e controlam tudo o que sirva de meio de produção de receitas e lucros.
Fundos soberanos são transformados em fundos familiares, como se viu na Líbia e se pode ver em Angola nos dias de hoje.
A génese de muitos dos problemas políticos vividos em África tem origem na incapacidade de conceber e pôr em prática modelos político-económicos que promovam a justiça, a equidade, o respeito pelos direitos políticos e económicos de concidadãos.
Quando um país como Angola ou Moçambique, rico em minerais estratégicos, solos para agricultura, água em abundância, falha em desenvolver-se, falha em criar condições mínimas para os seus cidadãos, só se pode dizer que o Governo desse país não está cumprindo a sua missão e funções.
Quando uma elite abocanha tudo, e a sua descendência se apresenta como detentora de riqueza sem que se conheça a sua proveniência, estão criadas as condições para o surgimento dos conflitos.
O Boko Haram é uma criação específica de alguém com uma agenda política. A sua sobrevivência acontece por vias que não são tão obscuras. As eleições presidenciais na Nigéria vão colocar frente a frente um “playboy” católico e um ex-golpista muçulmano. Os apoios de um e de outro são óbvios, e não há nigeriano que não saiba como é feita a “sopa” no seu país.
A cimeira da UA não vai produzir resultados que o continente necessita, porque a UA é sobretudo uma associação política para delinquir, por via do controlo do poder executivo nos países membros. Delinquir para enriquecer é o nome do jogo. Os capitais acumulados são depositados na Europa, Ásia e América, protegidos por segredos bancários em “offshores”.
É preciso não desistir do combate por uma África mais digna e humana, politicamente republicana e democrática. É uma luta de gerações, que tem de prosseguir com firmeza e abnegação.
Ontem, alguém deu passos na direcção certa, e hoje requer-se a incorporação de novas forças, para que o dia da libertação política e económica seja cada vez mais próximo.
A RDC não pode continuar a ser aquele feudo de Leopoldo, assim como Maputo não pode ser feudo de supostos socialistas de Lisboa e sua fauna acompanhante local.
Angola e Moçambique não podem ser transformados em pasto fácil de Pequim, só porque esta concede créditos e armas sem perguntas.
Sudão e Sudão do Sul não podem ser entrepostos de escravos nem foco de luta por um petróleo que poderia estar beneficiando os seus povos.
Cidadãos informados e educados, políticos patriotas e democráticos, juntos, têm força para varrer o lixo de cleptocratas que suga a Mãe África.
Não é com conclaves ou cimeiras promíscuas e carnavalescas que se resolvem os problemas de África.
A migração sempre em alta revela que os Governos africanos estão falhando. Se a xenofobia não vai ser debatida é porque a África do Sul não quer ser repreendida publicamente e tem poder para evitar que o assunto venha à mesa. Mas isso não significa que o problema deixa de existir naquele país. O “sonho de libertação” e de pan-africanismo morreu com os seus mentores. Agora ficou e vigora a voracidade da elite no poder nos diferentes países.
Enquanto os maridos estão reunidos, as primeiras-damas também estarão em cimeira, desfilando com os seus guarda-roupas de Paris e Milão. Isso é, no mínimo, inaceitável e imoral, atendendo a que milhares estão morrendo à fome todos os dias.
A história se encarregará de julgar estes “líderes” que se reúnem amiúde e nada fazem pelos seus povos.
Podem escapar a julgamentos e sentenças, podem exilar-se fora de África ou em algum país com um PR amigo, mas jamais terão sossego e tempo para desfrutar dos frutos de roubos e saques efectuados ao erário público. (Noé Nhantumbo)
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