segunda-feira, 1 de junho de 2020

Cabecilhas de grupos armados abatidos em Cabo Delgado


O Presidente Filipe Nyusi, disse no sábado que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) podem ter abatido cabecilhas dos grupos armados que têm atacado a província de Cabo Delgado, reservando a confirmação para aquelas forças.
"As últimas batalhas foram enormes, foram muito produtivas. Temos informações de terem sido abatidos quadros superiores dessa força que podemos considerar que são a liderança, mas sobre isso as FDS irão em momento próprio confirmar", referiu, em declarações à Televisão de Moçambique (TVM).
Nyusi falava em Mueda, distrito de Cabo Delgado para onde se deslocou para uma reunião com diversas patentes militares, os ministros da Defesa e Interior. O local foi o escolhido para analisar a situação na província, depois de grupos armados classificados como terroristas e de afiliação ao movimento 'jihadista' Estado Islâmico terem atacado desde quinta-feira Macomia, a principal vila do centro da província.
O ataque aconteceu depois de uma intensificação dos ataques desde março e que levou à ocupação de outras vilas como Mocímboa da Praia, Quissanga e Muidumbe, com relatos de dezenas de mortes entre civis, insurgentes e militares.
"Primeiro, o esforço [das autoridades] sempre é compreender quem é o inimigo e como está a operar" além deaferir da situação da população e forças no terreno, referiu Nyusi. Dos vários encontros que já manteve em Cabo Delgado desde sexta-feira, o chefe de Estado disse ter ficado claro que "a moral das FDS está boa". "Estamos a aprender como lidar com essa força e estamos a encorajar [amaneira] como as FDS estão a abordá-la", concluiu.
Segundo referiu à Lusa uma fonte em contacto com residentes em Macomia, o grupo armado que desde quinta-feira ataca a vila parecia estar no sábado a preparar uma retirada, carregando viaturas com o saque de estabelecimentos comerciais.
Quase toda a população da localidade fugiu para o mato, mas há quem vá arriscando voltar à vila procurar mantimentos. Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataques de grupos armados rebeldes desde outubro de 2017, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 550 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
FDS ABATERAM 78 TERRORISTAS EM MACOMIA
O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Jaime Neto, disse este domingo que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) abateram 78 terroristas e feriram outros 60.
Os insurgentes atacavam a vila de Macomia desde a quinta-feira passada. Jaime Neto disse ainda que entre os terroristas abatidos constam dois cabecilhas de nacionalidade tanzaniana. Um deles é o insurgente Njorogue, envolvido nos primeiros ataques armados em Moçambique em 2017.
"Nesta contraofensiva, foram abatidos dois principais chefes. Consta que o Njorogue foi aquele que iniciou com os ataques a Mocímboa da Praia no dia 05 de Outubro de 2017", afirmou.
As forças governamentais apreenderam diversos materiais com os atacantes, incluindo viaturas, motocicletas, bicicletas e outros bens roubados da população.
Depois da expulsão dos terroristas de Macomia, as FDS continuam a procurar pelos insurgentes para identificar as suas bases.
"A nossa força neste momento vai trabalhar dia e noite para perseguir principalmente aqueles cabecilhas. Vamos também fazer a limpeza dos lugares onde eventualmente encontram-se escondidos", diz.
O ministro Jaime Neto referiu que o sucesso destas operações depende, em grande medida, do envolvimento da população, através de denúncias.
"Aproveitar esta oportunidade para apelar à população para continuar a colaborar da mesma maneira que tem estado a colaborar, porque no final do dia a perda é para todos nós. Os terroristas estão a destruir administrações distritais e bancos", sublinhou.
Em relação à situação atual depois da invasão dos malfeitores, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, garante que a vila de Macomia já está sob o controlo das autoridades. "Foi um trabalho bem feito da restauração de forma pontual. A nossa força esteve desde o primeiro minuto que eles [terroristas] tinham entrado. A nossa força não desistiu, foi em defesa sempre da nossa população", afirmou.
INSURGENTES USAM PESSOAS COMO ESCUDOS EM MACOMIA
Atacantes estavam a usar pessoas como escudos em vila ocupada em Cabo Delgado, dificultando o trabalho das Forças de Defesa e Segurança, dizem testemunhas. Grupo armado saqueou várias lojas, indiciando a sua retirada. O grupo armado que desde quinta-feira atacou a vila de Macomia, em Cabo Delgado, saqueou vários estabelecimentos comerciais até a manhã deste sábado, indiciando a sua retirada, dizem testemunhas citadas pela agência Lusa.
" Eles despojaram vários estabelecimentos comerciais e tudo indica que eles querem carregar aquilo para as suas bases. Parece-nos que estão a preparar-se para uma retirada", disse uma fonte local, com base no testemunho de residentes escondidos no mato.
Parte considerável das populações da vila, principal ponto de encontro a meio da estrada asfaltada que liga o norte ao sul da província, estão no mato, mas há quem arrisque um regresso ao centro da vila para procurar mantimentos.
Segundo a fonte, as Forças de Defesa e Segurança foram avistadas no terreno, mas a situação esta a "complicar porque os insurgentes estão a usar as pessoas como escudos".
Em contacto com a Lusa, Luiz Lisboa, bispo de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, disse ter acolhido, desde sexta-feira, algumas pessoas que fugiram das confrontações na vila de Macomia em direção à capital provincial, uma distância de cerca de 179 quilómetros.
"Eles conseguiram sair da vila pela mata e chegaram a estrada principal. De lá apanhar boleia e conseguiram chegar até aqui. Tivemos um jovem que chegou aqui na noite de sexta-feira com a sobrinha e perdeu o restante da família. Recebemos também uma senhora funcionária pública que trabalha em Macomia. Ela estava com os pés todos feridos por andar pelo mato", disse Luiz Lisboa.
A funcionária foi levada para casa da sua família em Pemba e o jovem foi abrigado na igreja, afirmou o bispo de Pemba, acrescentando que há dificuldades em manter contactos com membros da igreja em Macomia.
A vila de Macomia é o principal ponto de encontro a meio da estrada asfaltada que liga o norte ao sul da província, tem uma agência bancária, vários serviços, estabelecimentos comerciais e é sede de um distrito com cerca de 100 mil habitantes.
Uma fonte do Ministério da Defesa Nacional moçambicano disse à Lusa que a situação em Macomia estava a ser analisada pelo comando conjunto das FDS, que é dirigido pelo Ministério do Interior, mas até agora ainda não foi prestada nenhuma informação pelas autoridades.
PONTO CERTO – 01.05.2020

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