segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O sangue frio do agente Carvalho travou o camião descontrolado na 2ª Circular


Bruno Carvalho, polícia há 18 anos, recupera carros roubados e está habituado ao risco. Esta 2ª feira, foi o homem que tirou a chave da ignição de um camião que seguia descontrolado e em contramão.
Acidente obrigou ao corte total da circulação na 2ª circular durante várias horas (TIAGO PETINGA/LUSA)
LUSA
Era uma manhã normal de segunda-feira e o agente principal Carvalho seguia para o trabalho, no seu próprio carro. Ia a caminho da Divisão de Trânsito da PSP, ali mesmo perto da Alta de Lisboa. Estava quase na sua saída, na Segunda Circular, quando se deparou com um cenário totalmente inesperado: um camião a circular em sentido contrário, descontrolado.
Medindo o risco, o agente da PSP não se limitou a afastar-se do caminho, como tentavam fazer os outros condutores. Pelo contrário. Aproveitando o facto de o camião avançar a uma velocidade cada vez mais reduzida, por ter já batido em cinco carros, Bruno Carvalho tomou a iniciativa de tentar imobilizar o veículo pesado, colocando o seu próprio carro à frente. E conseguiu. Depois, agiu o mais rápido que pôde: saiu do carro, subiu à cabine do camião e, abrindo a porta, retirou a chave da ignição, travando de vez o veículo. Com o gesto, impediu que o ato ainda sem explicação do condutor causasse mais feridos, para além dos três já registados (um em estado grave), na sequência das colisões que o veículo pesado já tinha protagonizado.

Um tipo “com cabedal”, mas sempre “muito correto” e com “sangue frio”

O gesto corajoso não espanta aqueles que conhecem o agente — um homem na casa dos 40 anos e polícia com 18 anos de experiência. “O agente Carvalho é muito experiente e um excelente profissional de polícia”, resume um colega que trabalha com ele há já alguns anos. “É um tipo com cabedal e às vezes as pessoas quando o vêm aproximar pensam ‘É pá…’”, diz o mesmo colega, referindo-se ao físico do agente. “Mas não há razão para isso, é um excelente profissional.”
É sempre muito correto com as pessoas e tem sempre sangue frio”, acrescentou a mesma fonte.
O sangue frio, esse, é necessário para quem trabalha numa área como a do agente Carvalho. Na Divisão de Trânsito, este polícia trabalha numa brigada à civil, ou seja, “à paisana”, que tem como objetivo recuperar carros roubados. O trabalho, por vezes em bairros considerados “complicados”, não é fácil e alguns colegas já tiveram mesmo aquilo que alguns definem como “problemas”. Bruno Carvalho, fruto da sua postura, não.
Depois de serem conhecidos os primeiros contornos do incidente na Segunda Circular da manhã desta segunda-feira, não tardou até surgirem os primeiros elogios à ação do agente, apelidado por alguns de “herói”.
Bruno Carvalho, garante o colega que falou com o Observador, não ficará demasiado afetado por isso, nem reagirá mal. “Vai continuar a ser a pessoa que é”, diz a mesma fonte.”Uma pessoa normal, para quem trabalho é trabalho, diversão é diversão. No trabalho é super profissional, fora dele também participa nos convívios que nós às vezes organizamos. Mas, no serviço, sempre o considerei muito profissional.”

“Não me lembro de nada”

A informação de que teria sido um agente à civil a travar o camião foi avançada ainda no local do acidente pelo chefe da Divisão de Trânsito, Madaíl dos Santos: “Um elemento da Divisão de Trânsito da PSP que circulava à civil imobilizou a viatura pesada. Felizmente não foi abalroado e conseguiu imobilizar a viatura, senão continuaria a circular na Segunda Circular”, declarou.
Ao Observador, um dos colegas do agente Carvalho explicou como aconteceu: “Ele tentou, dentro das possibilidades dele e sempre em segurança, imobilizar o camião — que já estava quase parado, porque tinha entretanto batido em vários carros e já tinha a velocidade reduzida”, resume uma das fontes ouvidas.
As ações para travar o camião foram facilitadas pelo facto de o condutor não ter oferecido qualquer resistência. Ao que tudo indica, o homem também tinha começado o dia de trabalho pouco antes e não tinha álcool no sangue. Após o acidente, mostrou-se perturbado, mas não reagiu de forma brusca, parecendo antes estar em choque com o que aconteceu. Ao polícia que lhe entrou porta adentro e lhe retirou a chave da ignição, disse poucas palavras: “Não me lembro de nada”, balbuciou. Acabou por ser detido para prestar declarações.

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