sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A carta de demissão do ministro da Defesa na íntegra

AZEREDO LOPES

A carta de demissão do ministro da Defesa na íntegra

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Esta sexta-feira, Azeredo Lopes entregou ao Primeiro-Ministro a carta de demissão onde explica os argumentos que o levaram a tomar esta decisão. O Observador revela-lhe a carta na íntegra.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
O Observador teve acesso à carta entregue por Azeredo Lopes ao primeiro-ministro com o pedido de demissão de ministro da Defesa. Nela, o ministro cessante explica as razões e o calendário que justificam o pedido de demissão.
Senhor Primeiro-Ministro,
Tem sobejo conhecimento das acusações que me têm sido dirigidas a propósito de informação de que disporia a respeito da forma como foi “achada” ou “recuperada” parte significativa do material militar furtado em Tancos em finais de Junho do ano transato. Desmenti e desminto, categoricamente, qualquer conhecimento, direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos, autores do furto, numa espécie de contrato de impunidade.
Desmenti e desminto, categoricamente, qualquer conhecimento, direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos, autores do furto, numa espécie de contrato de impunidade.
Acreditou V. Ex.ª na minha palavra, nunca pôs em causa a minha honorabilidade: isso é algo que aqui registo e não esquecerei. Realmente, mais do que qualquer outra coisa, prezo a minha dignidade, honra e bom nome, porque são eles que nos definem, perante nós e perante os outros.
Senhor Primeiro-Ministro, tenho convicções muito fortes sobre a importância fundamental das Forças Armadas na nossa sociedade, vendo-as como uma das traves-mestras da nossa soberania, identidade nacional e no quadro de uma sociedade democrática moderna. Não podia, e digo-o de forma sentida, deixar que, no que de mim dependesse, as mesmas Forças Armadas fossem desgastadaspelo ataque político ao Ministro que as tutela em virtude da acusação acima referida.
Não podia, e digo-o de forma sentida, deixar que, no que de mim dependesse, as mesmas Forças Armadas fossem desgastadas pelo ataque político ao Ministro que as tutela em virtude da acusação acima referida.
Pareceu-me porém que, estando a ser ultimado o processo de elaboração da proposta de Orçamento de Estado, que amanhã se conclui em Conselho de Ministros, era meu dever grave não o perturbar com a minha saída do Governo.
Senhor Primeiro-Ministro, foi isso que fiz.
Posso hoje dizer que, respeitado esse compromisso, saio de consciência tranquila e com a serenidade de quem deu o seu melhor nas funções que exerce, e também com a vívida noção do orgulho de ter podido participar no seu Governo, ao serviço do País e dos nossos concidadãos.
Assim, pelas razões que sumariamente expus, apresento-lhe formalmente o meu pedido de demissão das minhas funções como Ministro da Defesa Nacional.
Lisboa, 12 de Outubro de 2018″

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