Fui, sem perceber lá muito bem o que fazia, bastante receptivo às ideias de Marx durante muito tempo. Isso foi principalmente no tempo da Frelimo gloriosa e no contexto da relação amorosa que havia nessa altura entre o poder e os escritos desse barbudo alemão. À medida que fui adquirindo a capacidade de ler e entender textos dessa índole fui ficando progressivamente desiludido. A leitura de Karl Popper, contudo, sobretudo as suas obras sobre a sociedade aberta e os seus críticos bem como o livrinho com o título “a miséria do historismo”, fez-me abandonar Marx como orientação intelectual útil. O título que Popper deu ao seu texto, nomeadamente “a miséria do historismo” é interessante porque já tinha sido empregue pelo próprio Marx num livro publicado postumamente com o título “a miséria da filosofia”. Tratava-se, por sua vez, duma crítica a um outro livro escrito por um economista francês, Pierre Joseph Proudhon (com cujas posições, sobretudo em relação à revolução, simpatizo bastante, apesar de tudo...) com o título “a filosofia da miséria”. A crítica de Marx tinha, contudo, toda a razão de ser. Marx criticava Proudhon por ele ter tentado fazer uma história da humanidade sem nenhuma teoria sólida e com referências filosóficas bastante pobres e problemáticas.
Marx apoiava-se, como sempre o fez, na sua visão materialista das coisas que ele considerava como sendo a única correcta. Foi essa visão que lhe permitiu produzir um pensamento extremamente coerente e, verdade seja dita, uma descrição brilhante do sistema capitalista. Era com base nessa visão que Marx abordava o mundo. Ele olhava para as coisas que o interessavam a partir dessa visão, uma visão que lhe permitia também se concentrar no essencial, e nunca no supérfluo. Não preciso de estar de acordo com ele para apreciar a sua enorme coerência bem como a utilidade do seu procedimento metodológico. Há vários intelectuais moçambicanos, sobretudo aqueles que se formaram no contexto dessa tradição intelectual, que ainda hoje continuam a abordar o país a partir dessa perspectiva. E quando o fazem sem misturarem as suas paixões ideológicas o pensamento que produzem é coerente e útil para discutir os problemas do país. Infelizmente, porém, o ambiente intelectual que predomina no país tornou cada vez mais difícil discussões verdadeiramente intelectuais. Cada vez mais nos afundamos em discussões de índole meramente ideológica e à inépcia compreensível de largos sectores da nossa classe política e seus assessores – governo e oposição – junta-se a incapacidade da classe intelectual de influenciar o debate público de forma mais útil. Deixamo-nos levar pelo canto das musas que é a frase espontânea, aforística e “crítica”, mas esvaziada de todo o sentido e conteúdo, no Facebook, e juntamo-nos a uma mediocridade que algumas pessoas parecem estar apostadas a promover.
Haverá eleições este ano. A única discussão que anda por aí é sobre se um suposto ilustre desconhecido vai poder ganhar as eleições, sobre se os outros partidos são suficientemente democráticos se não encenam o seu processo de sucessão ou indicação dos seus candidatos, se é justo fazer campanha com meios do estado (claro que não é!), etc., etc. Ainda não vi nenhuma discussão substancial, por exemplo, das opções políticas que se apresentam para seja quem for que ganhar as eleições, sobre os temas que devem estar na agenda dos partidos políticos, sobre como os vários grupos que compõem a nossa sociedade se posicionam em relação a esses temas, sobre o que o actual governo fez até aqui (ou não) e o tipo de legado que deixa para quem vier depois, sobre o que significaria para a democracia moçambicana uma possível alternância política, sobre os desafios na segurança social, na agricultura, nas indústrias extractivas, enfim, toda uma série de assuntos sérios que precisam duma discussão que vai para além daquele ponto fácil que se ganha no Facebook com muitos “likes”, mas que não nos leva necessariamente a sítio nenhum, sobretudo não nos torna mais conhecedores dos desafios que o país enfrenta.
Não gosto de Marx, nem fui do seu tempo, mas tenho saudades da sua insistência no que era, para ele, claro, o essencial, nomeadamente os grandes assuntos, aqueles assuntos que ultrapassavam a esfera do indivíduo e mexiam realmente com tudo quanto faz um país. De alguma maneira, parece-me que esta falta de interesse nesse tipo de assuntos é sintomática não só da frivolidade do compromisso que alguns de nós temos com o trabalho intelectual, mas também, uso conscientemente Marx aqui, da nossa “alienação” em relação ao nosso país. É preciso uma boa dose de falta de interesse pelo país para encontrar satisfação na repetição nauseabunda de chavões, lugares-comum e constatações fáceis que não são acompanhadas de nenhum esforço de compreensão do que torna certas coisas possíveis. Quando fazer crítica desce até ao nível de apenas constatar o que o presidente da república, o líder da oposição, o ministro sincrano ou beltrano, etc. fazem mal sem contextualização, sem aprofundamento, sem nada mesmo, ficamos a mercê da mediocridade.
Se Marx ressuscitasse escrevia um panfleto com o título “a miséria da crítica em Moçambique”. Enquanto isso não acontece, faço-o eu.
Celia Meneses Abraco Elisio! Desabafa amigo! Estamos todos a precisar e de facto concordo com a miseria do pensamento prevalecente!!!
Elisio Macamo pois, Celia. é deprimente! bom fim de semana!
Bertino Nhapulo para
um bom eluminado meia palavra basta,ta dito,mas nos encontramos numa
sociedade,composta d... Sem nenhum adjectivo pa atribuir, no final do
dia todos e mais alguns vao legitmar os mesmos patos,dammmm,fartei me
dessa pora
Edgar Cubaliwa Prezado
Elísio. Ando pensando em escrever um texto com o titulo: Sou fã de E.
Macamo. E so mesmo. Contudo, os idolos tbm abrem espaços para algumas
criticas. Nesse texto, voce fala que Marx era critico a o que os outros
escreviam e sempre procurava fazer valer
o seu pensamento. Incrivel que ando pensando que o seu nao gostar de
Marx ti transforma nele, isso porque acaba reduzindo a nada o que os
outros ve como essencial. Sendo importante o que voce pensa que deve ser
discutido. Porque por exemplo é inútil discutir se um candidato muito
anonimo tem possibilidades de triunfar? Não recuso as sugestões das suas
questões. São muito pertinentes. Mas tambem podemos discutir livremente
as outras. Não deixarei de ser teu fã.
João Carlos Pois
é caro Elísio, quase que por tendência e cultura, inexiste discussão
substancial das ideias, assuntos e factos, substitui-se isso por
duscussão de conveniências e subjectividades. Acho que essa é, nesta
altura, nossa maior pobreza. Muito triste. Como quebrar este enguiço?
Nildo Salomao Langa Doutor
Marx é talvez uma das mentes mais brilhantes de que a humanidade tenha
registo, o seu erro é o de todas revuloçoes; o totalitarismo. Popper tem
razao, os problemas actuais nao sao para marx. "devemos militar pela
mudança".
Zé Joel O
debte serio e objectivo é ainda incipiente é por isso k ca so falam os
juristas,sociologos, jornalista, e o resultado dos debates é mais
teorico, ca nao se fala de crescmento ecomico,défice,taxa de dsemprego,
aumento ou nao de impostos nos manifestos eleitorais, os tecnocratas so
falam qvando é para defender o regime. Mas é o início.
Dereck De Zeca Mulatinho Vou atrever-me e vou comentar, vou dizer o que penso.
Pelo que tenho reparado e com muita insatisfação é a falta de debate de ideias,ideias essas que teria muita dificuldade em dizer se existem ou não, o que se vê e se percebe é que os poucos que aparecem e que poderiam influenciar, formar opiniões, educar e trazer novos paradigmas vêm com agendas políticas, tudo pré-fabricado, faz-se política até onde não se deve, diz-se tudo no politicamente correcto e se não se diz, toma-se uma posição contrária, o resultado é que há um extremar de posições, "se não concordas estás certamente contra" e assim vamos nós. ..
Pelo que tenho reparado e com muita insatisfação é a falta de debate de ideias,ideias essas que teria muita dificuldade em dizer se existem ou não, o que se vê e se percebe é que os poucos que aparecem e que poderiam influenciar, formar opiniões, educar e trazer novos paradigmas vêm com agendas políticas, tudo pré-fabricado, faz-se política até onde não se deve, diz-se tudo no politicamente correcto e se não se diz, toma-se uma posição contrária, o resultado é que há um extremar de posições, "se não concordas estás certamente contra" e assim vamos nós. ..
Elisio Macamo pois,
João Carlos, essa é que é a questão. penso que é preciso insistir,
bater na mesma tecla, fazer ver as pessoas que o debate de substância é
melhor para todos nós. a maior responsabilidade recai sobre os
académicos. as questões económicas são fundamentais e há, de facto, algumas pessoas a levantarem essas questões, Ze Joel,
mas precisamos de mais. lembra-se da greve dos médicos? pois, ouviu
alguém a falar do desafio do financiamento da saúde? eu não ouvi, nem li
nada sobre isso. mas é desse tipo de discussão que precisamos.
Elisio Macamo concordo consigo, Dereck De Zeca Mulatinho.
não é que não seja importante também fazer esse debate político. o que
incomoda é quando o debate se reduz a isso, depois dá justamente na
questão que levantou: extremar de posições. é insatisfatório.
Herlander Namuiche De
facto. Mas sem limitar a essencia filosofica para uma critica
necessaria e devida. Vou me limitar a questao da opcao "like" no
Facebook. (1) Infelizmente, diferente do Youtube o Facebook nao da opcao
"unlike", o que pode iludir as estatisticas. (2) E
tipico e triste nas nossas sociedades, nao saber tirar proveito do que
temos a disposicao e em vantagem comparativa nos varios casos (recursos,
meios de producao, as tecnologias, etc.). Fazemos tudo por inercia
"por onde o vento sopra". Com objectivo de acolher massas e um simples
"like" basta. Mas a contraparte o faz com proposito de se actualizar e
usam como um instrumento ate de classificacao. Isso pode nao estar claro
nas nossas liderancas e limitam-se em campanhas sem muito teor a
questoes simples, O que? Porque? e Como? pretende alcansar.
Elisio Macamo caro Edgar Manuel Barroso, não tenho a certeza se percebeu o meu post. e não consigo interpretar a sua contribuição.
Elisio Macamo caro Herlander Namuiche,
a crítica tem responsabilidade também. só uma boa crítica é que pode
produzir bons governantes. recentemente, li o comentário dum jornalista
sénior dum dos melhores jornais do país numa "discussão" no facebook a
chamar de "filhos da p..." aos políticos
e, basicamente, a insultar mulheres de forma gratuita. noutra
"discussão" vi comentários a uma foto de políticos amarrados a um poste
no brasil que diziam que isso é o que devia ser feito em moçambique
também. quando se chega a este nível tão baixo, há qualquer coisa que
não está bem e aos poucos o país inteiro começa a merecer os governantes
que tem...
Dereck De Zeca Mulatinho Elisio Macamo
o facto do Governo, da AR, das Autarquias e outros órgãos serem
constituídos na sua maioria por políticos e não de técnicos(estado
tecnocrata) embora a tecnicidade não substitua a competência e está por
sua vez a capacidade e o facto dos formadores
de opinião não privilegiarem a análise integrada dos factos, digo olhar
sob todos prismas(económico, político, jurídico e social) não contribui
para o estágio que nos encontramos?
Tomás Queface Professor,
Marx é um tipo de intelectual que primeiro fazia uma analise do ponto
de vista teórico, mostrando como a realidade se apresentava para depois
mostrar as diretrizes com vista a uma mudança do ponto de vista prático.
Que caminhos Marx sugeria com vista a superação da crise dos debates
após escrever " a miséria da crítica em Moçambique”?
Elma Doeleman Marx previa tudo que esta a acontecer no mundo hoje. Vale a pena reler os textos dele!
Manuel J. P. Sumbana Bem, bem. Nâo serà porque Golders Green nâo podia comportar Elísio e Karl?
Brazao Catopola Gostei do Texto Prezado Prof. Elisio Macamo,
mas uma vez traz a superfície uma questão que sempre te ho pedido e até
algumas vezes o citando como quem puxa por um debate desta índole. No
entanto, lembro me que há cerca de uns dois ou três anos eu ter debatido
consigo e outras pessoas um fenômeno que eu chamava de Emburecimento,
onde muitos intelectuais em moçambique, são otimos numa fase e de
repente emburecessem, lembro que a sua resposta foi que devemos levar em
conta que a intelectualidade moçambicana fez muita coisa. Acho que o
porquê desse emburecimento esta na origem do desvio do debate
substancial para um debate superficial e isso não é acidental. Uma
segunda questão são mesmo os temas dos debates, acredito eu, que alguns
aspectos como a identificação histórica com um partido, a rejeição do
outro como alguém capaz de algo, e o desconfiar da nossa capacidade de
sobreviver se participação ativa na politica, leva que o debate seja
dessa natureza. Amei o texto, e já agora (risos) gosto do Marx, mesmo
reconhecendo seu materialismo interpretativo
Nildo Salomao Langa Prezado
prof. Macamo, acho que um execerto do "manifesto do partido comunista"
ainda nos possa ser útil; "a historia da humanidade nada é que uma luta
de classe", apenas os conceitos mudam, hoje é desenvolvido e
subdesenvolvido. Marx nao teria razao, Prof. Macamo?
Alberto Ngomane ha
um cenario triste no nosso pais, os espacos que deviam ser por
excelencia de promocao de debates publicos estao totalmente esvaziados
dessa missao, principalmente, as universidades e os orgaos de
comunicacao social. isto, muitas vezes, leva m a questionar:
existem, de facto, intelectuais e jornalistas em Mocambique? qual e o
contributo desses no desenvolvimento do pais? mas, o que me deixa
triste, e de facto, o que o prof Macano diz aqui, em torno do que
devemos debater.
Alberto Ngomane o
que devemos debater e que nao esta sendo feito. ha um vazio no debate
sobre aspectos que deviam a estar a dar um rumo positivo ao pais.
Genitho Pinto Santana Ainda
na sequencia das proximas eleições, decepcionados como os candidatos a
deputado para circulo eleitoral da Europa tem sido nomeados ou concorrem
na Europa- sem projecto, ideias, um grupinho decidiu lançar de ultima
hora(fora dos habituais lobby)para
candidato 2 pessoas. Antes aconselhados a ter uma ideia e projecto, os
resultados não demoraram. O primeiro venceu ao seu chefe quase 80%,
tratava do cargo de chefe local do partido, e pata candidato a deputado
ficou adiado. Foi tanta a força de um papel A4 com ideias na area
social, cultural, migrações que os dinassouros que so vinham com titulo
de isto e aquilo tem que esperar pela decisao maxima. Afinal, o
potencial vencedor nao reunia condiçoes, dizem. Era o com menos tempo e
com menos reuniões mas foi o unico que levou uma folha A4 com o
programa. Ha contextos onde os textos de candidatos tem peso e sao
debatidos, quando se fala de debates eleitorias é sempre bom termos em
consideração que nem o recenseamento, debate, eleições se restringem a
uma detrminada area geografica, pelo que qualquer analise deveria ir
alem do rovuma a Maputo.Potenciaria comprações, regularidades e
especidificidades deste povo. A"miseria de critica em Moçambique " peca
por encerrar fronteiras na medida que a sua analise se circunscreve a
ausencia de debate nas fronteiras do Estado-Nação mas tenho que
concordar com o Prof, esta na hora de se exigir uma folha A4.
Alcídes André de Amaral Me
recordo de uma aula aberta que professor deu a Associacao Mocambicana
de Sociologia professor ter assumido que aquela era a primeira vez que
citava Marx. Pelos vistos desde la nunca mais parou. Claro, nem tudo que
aquele "barbudo alemao" falou era ridiculo.
Mas eu concordo que precisamos mesmo de discutir aspectos essencias.
Assuntos com relevancia! Mas resta saber quando 'e que um assunto 'e
mesmo pertinente. Ja agora, quando 'e que um assunto 'e pertinente no
que diz respeito ao debate intelectual?
Edma Funzamo Caro
professor, realmente o nosso belo Moçambique anda de mal a pior, temos
assistido debates sem nenhum sentido lógico, para além dos temas que são
trazidos ao debate serem "pouco relevantes", os próprios comentadores
não tem um posicionamento claro muito menos subsidios para fundamentar
suas opiniões.
Nguila Maragy Caro
prof Elisio, acho algumas de suas ideias interessantes, sobretudo seu
exercício metodológico em compreender algunas questões, assim como
algumas questões que coloca, mas por outro lado, acho que num despero do
qual compartilho, acaba se esquecendo
de alguns princípios sociológicos básicos que determinam não só agência
dos sujeitos, mas suas ideas. E gostaria de reportar-me ao mesmo Marx
que não só o senhor mas eu também o idolatrei durante muito tempo, até
descobrir seus problemas metodológicos e sua falta de coerência entre
suas ideias e seu viver humano, que não vou entrar aqui em detalhes,
talvez outra ocasião. O que lhe quero lembrar é que a totalidade que
forma o ser humano é social e natural. Para compreender o ser humano de
uma determinada época, neste caso a nossa de Moçambique, é preciso
conhecer as relações sociais dessa época: o ser humano “interioriza”,
reproduz e/ou transforma essas relações sociais. Lembra-se bem prezado
prof que nossa sociedade sempre reprimiu qualquer forma de expressão de
ideias, sobretudo contrárias. Sei que até o senhor, antes de sair do
país, padecia desse "gene" formador. No período em que o senhor adorava
Marx, lembra que criticar ou ter idea diferente ao sistema significava
ser reacionário, contra-revolucionário. Depois veio a dita democracia,
consequentemente, como não sabiam articular as ideias, alguns (na
verdade a maioria) partiu para um diálogo baseado em ataques à pessa, e
não às ideias da pessoa. Por isso, ainda hoje, é difícil encontrar
alguém que critique suas ideias sem atacar sua pessoa, ou sem partir
para o argumento da autoridade. Mas tudo isso, é resultado de uma
construção sócio-histórica que castrou a capacidade dos moçambicanos
reflectirem e expressarem suas ideias. POr isso, citando esse barbudo do
qual ambos nos divorciamos mas reconhecemos seus pontos chaves, diria
ele que: “não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas,
ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência” (MARX,
1982: 25). A produção das idéias, representações, da consciência está a
princípio diretamente entrelaçada com a atividade material e o
intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real. O representar, o
pensar,
o intercâmbio espiritual dos homens aparecem aqui ainda como efluxo direto do seu comportamento material. O mesmo se aplica à produção espiritual como ela se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc., eu diria, dos moçambicanos. Se o professor não tivesse tido a chance que a esmagadora maioria dos seus compatriotas gostaria de ter e não teve, certamente estaria mesclado e reproduzindo muito deste ethos que se pretende Moçambicano. Por isso, eu particularmente, de regresso de outros horizontes onde pude beber desses senhores que o prof citou, só pude concluir que o meio ajudou-lhes a ser o que foram, mas não é o destinho de todos, muito menos de nós Moçambicanos. Os ambientes por onde andas, são muito diferentes historicamente e institucionalmente de nosso Moçambique empobrecido, mas que tem todo o potencial necessário. "a comida da casa do vizinho, sempre parece mais saborosa do que a nossa." Por isso, vamos com calma, não querendo relativizar tudo, mas relativizar mas já relativizando. E gostaria de chamar atenção a esses mesmos que lêm o que o prof fala e já vão logo aplaudindo sem perceber que a crítica se aplica a eles mesmos. Pois a probreza de ideias e debate, resulta da pobreza e incapacidade de se saber ouvir e interpretar o que se está a dizer. Por isso, há pobreza de debate, porque não há bons ouvintes para corrigir e fazer melhor. Mas quero lhe saudar pelas oportunidade de poder passar este tempo compartilhando consigo minhas ideias, e espero que possamos continuar discutindo sempre que pudermos. Só como provocação: deveria ler, se não leu ainda, o livro de Manuel Castells "Communication Power", tem ideias interessantes, talvez pudessemos partir partir para essa análise em nossas próximas conversas, se isso lhe interessar. Abrs
o intercâmbio espiritual dos homens aparecem aqui ainda como efluxo direto do seu comportamento material. O mesmo se aplica à produção espiritual como ela se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc., eu diria, dos moçambicanos. Se o professor não tivesse tido a chance que a esmagadora maioria dos seus compatriotas gostaria de ter e não teve, certamente estaria mesclado e reproduzindo muito deste ethos que se pretende Moçambicano. Por isso, eu particularmente, de regresso de outros horizontes onde pude beber desses senhores que o prof citou, só pude concluir que o meio ajudou-lhes a ser o que foram, mas não é o destinho de todos, muito menos de nós Moçambicanos. Os ambientes por onde andas, são muito diferentes historicamente e institucionalmente de nosso Moçambique empobrecido, mas que tem todo o potencial necessário. "a comida da casa do vizinho, sempre parece mais saborosa do que a nossa." Por isso, vamos com calma, não querendo relativizar tudo, mas relativizar mas já relativizando. E gostaria de chamar atenção a esses mesmos que lêm o que o prof fala e já vão logo aplaudindo sem perceber que a crítica se aplica a eles mesmos. Pois a probreza de ideias e debate, resulta da pobreza e incapacidade de se saber ouvir e interpretar o que se está a dizer. Por isso, há pobreza de debate, porque não há bons ouvintes para corrigir e fazer melhor. Mas quero lhe saudar pelas oportunidade de poder passar este tempo compartilhando consigo minhas ideias, e espero que possamos continuar discutindo sempre que pudermos. Só como provocação: deveria ler, se não leu ainda, o livro de Manuel Castells "Communication Power", tem ideias interessantes, talvez pudessemos partir partir para essa análise em nossas próximas conversas, se isso lhe interessar. Abrs
Eliha Bukeni Interessante
texto do professor Elisio, porem, quero concordar com a perspectiva do
Nguila Maragy, quando cita Marx (Marx, 1982:25). Com efeito, o
empobrecimento do debate intelectual acentuou-se nos ultimos 10 anos,
muito por conta do novo poder que passou
a hostilizar a critica e em oposicao a promover a bajulacao. E
interessante constarar que tal como Marx escreveu, o contexto social
trazido pelo novo "establishment" determinou mudancas na consciencia da
nossa intelectualidade, por forma a se enquadrar no novo contexto
caracterizado por intelectuais da posicao e da oposicao. Evidentemente,
estabeleceu-se um ambiente propicio para se migrar do debate das ideias e
proposicoes, para o debate das pessoas!
CJ Bila De
qualquer forma, 'e "A Opiniao do Professor Elsio Macamo" que nao deixa
de ser interessante sobretudo pelos alicerces apresentados com
cientificidade. "A Opiniao do Professor Elsio Macamo" - devia ser nome
de um prorama televisivo, ca entre nos. Teria bastante audiencia e
formaria mentes....
Nguila Maragy Caro
Celsio, não entendí o que quiz dizer com "sobretudo pelos alicerces
apresentados com cientificidade". Como a Eliha disse, achamos
interessante a abordagem, e ela avançou sua análise sobre o problema
colocado, mas o mais importante a meu ver, não é
exaltar a pessoa do prof Elísio, pois te garanto que não é o que ele
gostaria de ouvir, sendo ele um académico sério, mas sim analisar as
implicações do que ele disse, ou até mesmo perceber lacunas ou problemas
analíticos se for capaz. Penso que isso nos vai ajudar a perceber
melhor o que se pensa sobre o que se diz nos nossos órgãos de
informação.
Nguila Maragy O
triste, é que dizer "o país anda mal", temos "assistido a debates sem
lógica" já virou um chavão, cliché, as pessoas incapazes de analisar os
mesmos discursos, limitam-se a dizer as mesmas expressões sem mesmo
ouvir o que se diz. Outra coisa, acho que
os que têm aparecido nos órgãos de informação nos últimos tempos dando
voz as suas ideias, estão a fazer história. São pessoas com uma coragem e
ousadia acima da média. Lembrem-se que esse processo é recente, quero
acreditar, como tudo na vida, os nossos intelectuais estão em
transformação, estão a influenciar pessoas, outros melhores poderão
surgir com o tempo. Não é um otimismo ingénuo, é apenas um processo que
ocorre em todas as esferas da vida. E como j
Nguila Maragy E
como já dizia Camões: Mudam-se os tempos, mudam-se as as vontades, todo
mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Por isso,
não matem a lagarta, ela pode chegar a ser uma bela borboleta.
Elisio Macamo caro Dereck De Zeca Mulatinho,
acho que muitos políticos têm formação técnica, alguns com larga
experiência profissional. tenho a impressão de que o problema seja de
outra natureza tanto mais que ser apenas académico ou bom intelectual
não garanteria competência política... caro Tomás Queface,
interessante a questão, só que ela me leva para um outro tipo de debate
que vai incluir eu andar a fazer a apologia do conteúdo de marx, algo
com o qual não concordo assim tanto... suponho que ele fosse olhar para
as determinantes estruturais deste empobrecimento da crítica
(provavelmente com uma atenção especial ao modelo de acumulação de
capital e ver aí o funcionamento da "ideologia"... o que me interessa
destacar, porém, são menos as receitas substantivas que ele teria e mais
a abordagem. falta à intervenção crítica (com honrosas excepções) uma
teoria do social (ou económico, político, etc.) a partir da qual se
constata o que está mal. o meu apelo é mais no sentido de sensibilizar
alguns colegas para a necessidade disso... Manuel, nunca fui ao cemitério de high gate...
Elisio Macamo pois, Brazao Catopola,
só que eu continuo a dizer que não há necessariamente um
"emburrecimento". pode parecer um nivelamento por baixo, mas é mais do
que isso. é a forma como o debate de ideias foi tomado de assalto por
aqueles que têm outras motivações. não
são necessariamente intelectuais no sentido restricto do termo, mas
fazem uso da palavra da melhor forma que podem e aqueles que deviam
reagir com mais cuidado e ponderação juntam-se. conforme também escrevo
no texto isto tudo pode ter algo a ver com as próprias circunstâncias
políticas. não as podemos descurar. e repare: não quero de modo nenhum
sugerir a ideia de que os temas colocados por várias pessoas no
facebook, os conteúdos dos debates feitos nos jornais e nas televisões
sejam uma autêntica perca de tempo. isso seria pretencioso da minha
parte e seria uma confusão de registos. lamento apenas a falta de mais
gente a puxar a discussão para o que é mais relevante e que, Alcídes André de Amaral, tentei indicar no meu texto. e também, caro Alberto Ngomane,
a minha preocupação não é necessariamente de recuperar o tipo de
discussão que seria bom para o desenvolvimento. não! uma discussão sobre
o que é o desenvolvimento, ou o que ele significa para nós já seria uma
boa coisa. a minha preocupação é com a qualidade do debate intelectual.
essa qualidade não depende dos resultados em relação ao
"desenvolvimento". ela depende da capacidade que cada um de nós ganha em
abordar os méritos das questões. sei que estou a ser algo vago, mas
essa é mais ou menos a preocupação.
Elisio Macamo caro Nildo Salomao Langa. não, marx não tinha razão. só que essa é outra discussão.
Elisio Macamo caro Nguila Maragy,
obrigado pelos seus reparos. estamos de acordo num ponto apenas, um
ponto sobre o qual tenho insistido e está na origem deste post: para
termos um governo ainda melhor ou uma classe política melhor precisamos
de uma boa crítica. isso é fundamental e
é por isso que tenho insistido sobre estas questões da qualidade do
debate. permita-me corrigir alguns equívocos, alguns menos graves do que
os outros. nunca "idolatrei" marx (era apenas receptivo às suas
ideias). não "abandonei" marx por ter constatado falta de coerência
entre as suas ideias e como ele vivia. abandonei-o por razões meramente
epistemológicas. não me esqueci, no meu texto, de tomar em consideração o
contexto dentro do qual as coisas que critico ocorrem. está no segundo
parágrafo. é breve, mas como pode imaginar, há certas coisas que
precisam de ser consideradas apenas de forma rápida para que a essência
do argumento seja conservada. só que aqui noto talvez uma ideia
diferente desse contexto. o nguila maragy considera toda a história
política recente com a falta de liberdade de expressão no período
imediatamente a seguir à independência. concordo consigo que isso foi
importante como determinante, mas quando conclui, a partir daí, que as
pessoas passaram para o ataque às pessoas por não terem aprendido a
criticar, deixo de concordar consigo. na verdade, as críticas mais
sólidas que tenho lido no facebook, nos jornais e nos escritos
académicos são de pessoas com essa tradição marxista. pode ser que no
contexto político restricto não tenha havido liberdade de expressão, mas
houve outros contextos no nosso país onde o exercício democrático e
crítico sempre foi bem acolhido. refiro-me às igrejas protestantes
(metodista, presbiteriana, baptista, wesleyana, etc.). estaria mais
receptivo à ideia de deterioração da qualidade da crítica em resultado
de vários factores ligados ao tipo de assuntos que ganharam protagonismo
na nossa esfera pública. de resto, mesmo em países com uma tradição
menos repressiva há um bom número de gente que prefere o ataque pessoal à
discussão dos méritos das questões. e só mais dois reparos: quando diz
que nós os dois somos diferentes porque tivemos outras vivências que diz
daqueles que tiveram as mesmas vivências e mesmo assim preferem o outro
tipo de cultura intelectual? não estou certo se este é um factor de
peso. precisamos de olhar para dentro sim, mas com um apelo mais forte à
cultura intelectual. e não é demais pedir isso. é oportuno sempre que
se verifica o empobrecimento da cultura de debate. finalmente, não li
esse livro de castells, conheço apenas um artigo que ele publicou numa
revista científica sobre o mesmo assunto. creio que seja um bom resumo
dessa obra. sim, seria interessante discutir isso numa outra ocasião.
pessoalmente, ainda que pelo facto de ambos sermos "fellows" da mesma
instituição me obrigue a ser solidário..., considero o seu argumento
algo trivial e de pouca utilidade para contextos políticos como o
moçambicano. ele escreve sobre os estados unidos e parece pensar que
essa sociedade em rede sobre a qual ele fala seja suficiente para captar
as especificidades de sociedades diferentes da americana (e europeia
ocidental). abraços
Elisio Macamo caro Eliha Bukeni,
não concordo consigo. é verdade que houve uma evolução política
deplorável nos últimos anos, sobretudo a partir do ano passado, mas não
creio que a cultura de bajulação esteja na origem do empobrecimento do
debate. há muitos outros factores de peso que precisam de ser
considerados.
Brazao Catopola Prof. Elisio Macamo,
de alguma forma parece que concordamos ou melhor eu concordo com o que
diz, e o emburecimento que me refiro é esse juntar intelectual que me
intriga. talvés pela minha inocência politica e intelectual continuo
utópico, mas creio que esse nivelamento
por baixo é usado ate pela classe verdadeiramente ou pelo menos as que
deviam ser consideradas de intelectual, mesmo que organicos. Se querer
prestar vassalagem a si (como de certeza interpretarão alguns), que
muitas vezes temos debatido e com visões diferentes, uma coisa que o
admiro é trazer sempre ou tentar trazer sempre esse debate que academia e
intelectualidade se nega a prestar. Outro exemplo eu digo sempre,
embora não esteja de acordo com ele, Sergio Vieira é alguém que se tem
prestado a um modelo de debate politico em que as pessoas muitas vezes o
atacam ao invés de debater os conteúdos por ele trazido. A questão é:
não convém a intelectualidade esse lançar área aos olhos dos outros?
Noam Chomsky, o romântico a meu ver, aponta várias formas de distração e
manipulação dos indivíduos pelo poder politico, entre outras formas
esta o trazer debates que desviam o verdadeiro ponto que devia ser
debatido...
Elisio Macamo certo,
de acordo. na verdade, a situação não é assim tão dramática como a
coloco. existem algumas instituições que têm feito um trabalho notável. o
iese é exemplo disso. o cese também. infelizmente, o trabalho que eles
fazem não é necessariamente filtrado
para este tipo de f'oruns. aqui só aparece a denúncia, tipo o que é
feito pelo cip. um trabalho informativo notável, mas com pouco valor
para a elevação da qualidade do debate. é só ver o que se discute agora
em torno do uso ilícito de isenções pelos partidos. o estudo fica pela
denúncia e passa por cima de assuntos mais importantes como a as
facilidades que existem no país para o florescimento duma cultura de
contornar e distorcer leis. quem vai pegar neste assunto e traduzi-lo
seriamente de forma a constituir um debate mais útil? vamos ficar no
"afinal a oposição também é malandra?", "não, não é, o governo é pior!",
etc.
Clayton Johnam Concordo
com os exemplos de discussão que na sua opinião considera como
substanciais, com certeza que com a inclusão destes temas teríamos de
facto um debate mais maduro e responsável. Esta é também a minha
opinião. Mas, discordo da ideia de que por exemplo
a discussão sobre o uso dos meios do Estado para fazer campanha não
seja substancial. Longe de incentivar debates incendiários que pululam
no nosso terreiro, considero que a par dos exemplos que deu, também se
deve discutir a postura dos actores políticos e critica-los
incisivamente pela prática de actos contrários ao Estado de Direito.
Atenção, defendo aqui a crítica objectiva, despedida de preconceitos
ideológicos e não a proliferação de insultos gratuitos. A mim,
pessoalmente repugna-me o uso do poder de forma arbitrária para
beneficiar certos grupos em detrimento de outros, e isso torna-se tanto o
quanto mais grave quando é praticado por que tem o dever de ser o
garante da Constituição e do cumprimento escrupuloso das Leis.
Brazao Catopola Uma
vez Prezado Clayton Johnam, eu disse num debate que o nosso problema
estava na análise do lugar onde o furúnculo tinha saido no nosso corpo.
Procuramos sana-lo ai. mas a questão e aqui concordo com Elisio Macamo
não é o lugar onde se manifestou ou seja
não é o uso dos bens do estado que está em causa, mas as causas que
permitem esse uso ou melhor o que fez com que o furúnculo saisse em
nosso corpo independentemente do lugar. So deste modo nós podemos
corrigir. Não que a questão do uso desses meios não seja condenável e,
de facto o é, mas que é preciso entender e retratar se necessário a
origem do problema.
Elisio Macamo sim, caro Clayton Johnam, a resposta foi bem dada pelo Brazao Catopola.
é claro que devemos discutir isso. mas para além de se dizer "é
ilegal", "não, não é ilegal" o que ganhamos na nossa compreensão dos
problemas reais por detrás disso? nada.
Clayton Johnam Prezado Brazao Cotopola e Professor Elisio Macamo, ok percebi a vossa visao de facto, isso falta no nosso debate e falta muito.
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