domingo, 12 de fevereiro de 2017

Nyusi denuncia “interesses” nos concursos e ataca obras sem qualidade


PR exige maior fiscalização de obras públicas

No segundo dia da ofensiva presidencial pelos ministérios, Filipe Nyusi fez uma intervenção incisiva que gelou a pequena sala onde decorria o conselho consultivo do Ministério das Obras Públicas, Recursos Hídricos e Habitação. A visita às direcções do ministério e instituições tuteladas decorreu na maior tranquilidade. Mas na sala o ambiente começou a mudar, desde logo quando Filipe Nyusi dispensou a apresentação do relatório do ministro Carlos Bonete. Disse que era desnecessário, pois não esperava ouvir nada de novo ou de diferente das informações que recebeu nas diferentes instituições e direcções por onde tinha passado. Mesmo assim, foi chamando alguns dirigentes do ministério para falar dos desafios e perspectivas das áreas que dirigem.
Depois de ouvir e anotar, Nyusi tomou a palavra e fez uma das intervenções mais acutilantes dirigida para os funcionários. E porque durante a visita as reclamações sobre a falta de dinheiro para pôr em pé os projectos do ministério eram recorrentes, o Chefe de Estado disse que a solução passa pela mobilização de financiamento. Mas alertou que é preciso “procurar por dinheiro acessível” e que o processo deve seguir os padrões internacionais, sob pena de Moçambique ficar “ridicularizado”.
“Sabe-se quanto custa um quilómetro de estrada e não pode ser mais caro em Moçambiqiue. Devem actuar de forma colectiva para evitar que decisões individuais ridicularizem a todos”. Os recados ganham outro significado devido ao contexto em que o país vive, caracterizado pela falta de apoio externo devido às dívidas não reveladas.
Sobre os concursos públicos, Nyusi denunciou a existência de “muitos interesses” em volta, incluindo de pessoas de fora do ministério. E disse que não faz sentido atrasar projectos por causa de interesses de quem quer que seja.
A Administração Nacional de Estradas (ANE) é uma das instituições do ministério que gerem concursos milionários para obras públicas. Além da transparência nos concursos, o Chefe de Estado diz que é preciso monitorar a implementação dos projectos, sob pena de o dinheiro não ser aplicado devidamente. “Algumas estradas que encalharam em Niassa, Nampula e aqui em Caniçado (Gaza) foi mais por falta de fiscalização. Fomos comidos. A linguagem vulgar é essa. E não podemos continuar a sermos comidos, temos que discutir em colectivo, pois só assim a margem de desvio será pequena.”
Criticou também a fraca qualidade das obras públicas e pediu que a fiscalização fosse mais agressiva. “Não podem ter receio, porque eu é que estou a dizer. Se não fizerem isso (fiscalização) qualquer obra que cair, vamos responsabilizar. Queria começar aquando da queda do muro da piscina da Vila Olímpica, porque aquilo não faz sentido. Há pequena chuva, cai tudo, há ventos fracos, voam zincos. E porquê é que não voam coberturas feitas há 40 anos?”, questionou, lamentando que em cada ciclo de governação tem de se fazer tudo de novo.

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