Fonte – https://br.pinterest.com/MaggiesWimzees/usa-pride/Nem romanos nem britânicos. Nem
persas nem egípcios. Nunca uma nação foi tão poderosa quanto os Estados
Unidos são hoje. Como e por que eles se tornaram a maior potência de
todos os tempos? Responda rápido: quem descobriu os Estados Unidos? Se você é como eu e não sabe a resposta,
não se acanhe. Os americanos também não. É que para eles,
diferentemente de nós, brasileiros, que marcamos o nascimento do Brasil
na chegada de Cabral, o evento fundador de sua nacionalidade é outro: a
chegada do advogado britânico John Winthrop a Massachusetts, em 1630.
Adepto de uma seita religiosa radical para a época, os puritanos, e
descontente com o anglicanismo – a religião oficial dos ingleses e do
rei Carlos I –, Winthrop e as cerca de 700 pessoas que o acompanharam
deixaram a Inglaterra para criar sua própria sociedade, num lugar ainda
intocado pelos vícios: a América. Winthrop e sua turma adoravam a ideia
de estarem chegando a uma espécie de Terra Prometida, a ser regida pelas
leis divinas e, portanto, predestinada a dar certo e a se tornar um
exemplo de virtude para o resto do mundo. Os Estados Unidos ainda
levariam 140 anos para nascer, mas a ideia do que é ser americano estava
lançada. A
figura central barbuda é John Winthrop, cercado dos adeptos de uma
seita religiosa radical para a época, os puritanos, em Massachusetts, no
ano de 1630 – Fonte – http://www.memorywebs.org/Thanksgiving_Winthrop_.htmPara entender esses primeiros
americanos, no entanto, é preciso lembrar como era a Inglaterra e como
era a vida por lá, no século XVII. Sim, porque os primeiros americanos
eram britânicos e, portanto, súditos do maior império de seu tempo. Desde o século anterior, principalmente
no reinado de Elizabeth I, os ingleses vinham assumindo o posto de
superpotência que pertencera à Espanha (e do qual até Portugal já tirara
uma casquinha). Ser uma potência, na época, era ter navios. E a
Inglaterra tinha uma grande, uma baita frota para levar seus produtos o
mais longe possível e trazer de lá matérias-primas baratinhas, quando
não de graça, para fazer mais produtos e levá-los ainda mais longe. Do
ponto de vista social, o vaivém de mercadorias havia criado nas cidades
uma camada de homens ricos, chamados burgueses, e uma grande massa de
homens pobres, resultado do êxodo rural. Winthrop fazia parte do
primeiro grupo, bem como a imensa maioria dos puritanos, que estavam
preocupados com a elasticidade moral típica das grandes cidades: ninguém
mais ia à igreja, os políticos mandavam mais que os religiosos e o
dinheiro mandavam ainda mais que os políticos. A colonização de novas
terras pareceu, então, uma boa ideia em todos os sentidos e, para
colocá-la em prática, a coroa inglesa chamou duas empresas: as
companhias de Londres e de Plymouth, que ficaram responsáveis por
recrutar, armar e, mais importante, financiar as viagens. É por isso que
é comum dizer que a colonização dos Estados Unidos foi feita pela
iniciativa privada. Fato que se tornou um dos pilares da civilização
norte-americana, do qual eles se orgulham tanto. Tal
como no Brasil, os primeiros contatos entre brancos e indígenas
norte-americanos foram positivos. Quadro “The First Thanksgiving” de
Jennie A. Brownscombe, 1914 – Fonte – http://www.bigfootlunchclub.com/2009/11/thanksgiving-and-pukwudgie-connection.htmlEsses seriam os fundadores dos Estados
Unidos, mas é bom lembrar que eles não eram os únicos a ocupar o
território americano, no século XVII. Ou seja, sua Terra Prometida já
tinha dono. Os primeiros a chegar lá foram os espanhóis, no século XVI.
Mais preocupados em explorar as ilhas do Caribe e o ouro e a prata do
México, eles se aventuraram pela costa da atual Flórida, onde, quando
não estavam procurando a fonte da juventude ou sendo devorados por
aligátores, criaram meia dúzia de entrepostos comerciais. No século
XVII, porém, os espanhóis já não podiam mais sustentar seus interesses
imperiais na América e se concentraram em administrar e explorar a Nova
Espanha, ou México (região que ia, além do México atual, ao Texas e à
Califórnia). Havia ainda uma larga fatia pertencente aos franceses, a
chamada Louisiana, que ia do Mississipi à fronteira com o Canadá. Além, é
claro, dos índios que já estavam lá. Vinte e cinco milhões deles. Inimigo interno A predominância dos colonos ingleses
sobre seus vizinhos foi um longo processo que incluiu negociações
diplomáticas, algum dinheiro e muita, muita porrada. Os primeiros a
dançar, só para variar, foram os índios que ocupavam a região litorânea
onde os ingleses aportaram. Desenho
que representa o capitão Simon Ecuyer entregando cobertores de soldados
padeciam vítimas de uma epidemia de sarampo aos índios em 1673, quando
do episódio do cerco do Forte Pitt – Fonte – http://www.downtoearth.org.in/coverage/pox-americana-10906Quem não fugiu morreu pela guerra e,
sobretudo, pelas doenças que os brancos espalhavam, muitas vezes, de
propósito. Em 1673, cercado no forte Pitt pelos guerreiros do chefe
Pontiac, o general inglês Jeffrey Amherst ordenou ao capitão Simon
Ecuyer que enviasse aos índios cobertores e lençóis. Mostra de boa
vontade? Que nada: os cobertores vinham direto da enfermaria, onde os
soldados padeciam vítimas de uma epidemia de sarampo. Em alguns dias, os
ingleses estavam curados e os índios, milhares deles, mortos. O próprio John Winthrop, eleito o
primeiro governador de Massachusetts, tinha uma desculpa na ponta da
língua para justificar a tomada das terras dos índios. Ele as declarou
“vácuo legal”. Os índios, dizia, não “subjugaram” a terra e, portanto,
possuíam apenas “direito natural” sobre ela, mas não “direito civil”. E,
como bom advogado que era para ele um direito apenas “natural” não
tinha nenhum valor jurídico. Cena artística dos primeiros combates entre brancos e índio na América do Norte. Muitas outras se seguiriam – Fonte – http://thelastdiadoch.tumblr.com/post/144566309305/the-council-ofA oeste e norte dos assentamentos
ingleses, colonos franceses ocupavam regiões que, para populações
dedicadas à caça e ao comércio de peles, eram de grande importância
econômica, como as terras banhadas pelos rios Ohio, Missouri e
Mississipi. As hostilidades eram constantes e, até a metade do século,
em pelo menos cinco ocasiões os vizinhos acabaram em guerra. A animosidade entre os colonos na
América era alimentada, ainda, pela rivalidade entre Inglaterra e França
na Europa, fato determinante nas relações internacionais do século
XVIII. Em pleno processo de desenvolvimento capitalista, a burguesia
inglesa via na França, onde a monarquia entrava em crise, um obstáculo a
sua expansão comercial, marítima e colonial. A rixa chegaria ao ponto
máximo entre 1756 e 1763, durante a Guerra dos Sete Anos, e teria
impacto decisivo sobre a vida na América. Após a guerra, com o pretexto de
recuperar as finanças do Estado, os ingleses, que já vinham adotando
medidas mais rígidas em relação ao monopólio sobre as colônias
americanas (como as proibições da fabricação de aço, em 1750, e de
tecido, em 1754), adotaram uma série de leis para garantir as vendas (e
os lucros e os impostos pagos pelos produtos de empresas inglesas,
particularmente o chá). A insatisfação nas colônias atingiu o máximo
quando os territórios da Louisiana, tomados da França, foram declarados
da coroa e os colonos, proibidos de pisar por lá. Uma senhora decepção,
principalmente para fazendeiros e criadores de gado do sul que esperavam
ocupar essas terras. Reprodução dos muitos combates da Guerra de Independência dos Estados Unidos – Fonte – https://br.pinterest.com/dwrager/revolutionary-war/Em 1774, os americanos estavam cheios
dos ingleses e para se livrar deles foram tão, mas tão tipicamente
americanos. Primeiro organizaram um boicote (um bloqueio comercial) aos
produtos da metrópole. Em seguida, formaram comitês pró-independência
que tinham duas funções: fazer propaganda antibritânica e juntar armas e
munições. No ano seguinte, a guerra começou e, em 1776, os americanos
declararam-se independentes. Para tanto, escreveram um documento
maravilhoso. A Declaração da Independência teve grande significado
político não só porque formalizou a independência das primeiras colônias
na América, dando origem à primeira nação livre do continente, mas
porque trazia em seu bojo o ideal de liberdade e de direito individual e
o conceito de soberania popular, representando uma síntese da
mentalidade democrática e liberal da época. Redigido por Thomas
Jefferson, o texto, em seu trecho mais famoso, afirma: “Todos os homens
são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos
inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a procura da felicidade.
A fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os
homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados.
Sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins,
cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo
governo, baseando-o em tais princípios e organizando lhe os poderes pela
forma que lhe pareça mais conveniente para realizar lhe a segurança e a
felicidade”. Isso, no fim do século XVIII, soou como revolução. E era.
Pela primeira vez na história uma colônia se tornava independente por
meio de uma revolução. Com essa iniciativa, os americanos se anteciparam
à Revolução Francesa e criaram o primeiro regime democrático do
planeta. E isso não era pouca coisa. Cena do Tratado de Paris, em 1783 – Fonte – http://totallyhistory.com/treaty-of-paris-1783/Mas os ingleses, é claro, não deram a
menor bola para toda essa poesia e enviaram tropas para tomar os
principais portos e vias fluviais e isolar as colônias. Liderados por
George Washington, os americanos organizaram um exército, formaram
milícias populares e reagiram. Mas não lutaram sozinhos: a França,
eterna inimiga dos ingleses, entrou na guerra em 1778 e a Espanha, no
ano seguinte. Em 1781 as tropas coloniais e francesas derrotaram os
ingleses na decisiva Batalha de Yorktown e, em 1783, foi assinado o
Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconhecia a independência das 13
colônias. Rumo oeste Após a independência, os agora
denominados Estados Unidos da América ainda eram um paisinho nanico que
se estendia verticalmente entre o Maine e a Flórida e horizontalmente
entre o Atlântico e o Mississipi. Mas isso estava prestes a mudar.
Alimentados ideologicamente pelo chamado “destino manifesto”, que
defendia a ideia de que os americanos teriam sido escolhidos por Deus
para a missão de ocupar as terras entre os oceanos Atlântico e Pacífico,
os Estados Unidos iniciaram um processo de expansão que se estenderia
por mais de um século e que, no final, lhes daria as fronteiras atuais e
o posto de quarto maior país do mundo. Primeiro eles foram às compras
e, em 1803, adquiriram dos franceses a Louisiana, por 15 milhões de
dólares (ou 257 bilhões de dólares em valores atualizados). Em seguida,
em 1819, compraram a Flórida da Espanha por apenas cinco milhões de
dólares. O Oregon, na costa do Pacífico, cedido pela Inglaterra em 1846,
saiu de graça, e o Alasca, comprado da Rússia em 1867, custou sete
milhões de dólares. Com
a compra da Flórida pelos Estados Unidos ao Reino da Espanha, ocorreu a
cerimônia da mudança das bandeiras no Castillo de San Marcos, em 10 de
julho de 1821 – Fonte – https://www.floridamemory.com/items/show/161300 O novo país não parava de crescer e,
enquanto a Europa era varrida pelas guerras napoleônicas, os Estados
Unidos tornavam-se a terra das oportunidades, da liberdade e dos
imigrantes. Atraídos pelo trabalho ou pelo ouro – descoberto na
Califórnia, em 1848 –, milhões deles chegavam da Inglaterra, Itália,
Irlanda, Espanha, Suécia, Polônia e Rússia, entre outros, no maior
movimento migratório internacional da história. A população do país
saltou de 4 milhões, em 1801, para 32 milhões em 1860. No campo político, o expansionismo tinha
um patrocinador de peso: o presidente James Monroe, que governou entre
1817 e 1825 e foi autor da frase “América para os americanos”. A ideia
da chamada Doutrina Monroe era fazer frente à onda recolonizadora que
tomou conta da Europa, após a derrota de Napoleão. Para o historiador
americano Howard Zinn, a frase “deixou claro para as nações
imperialistas europeias, como Inglaterra, Prússia e França, que os
Estados Unidos consideravam a América Latina como sua área de
influência”. Na prática, conforme os interesses territoriais dos Estados
Unidos aumentaram, a Doutrina Monroe ganharia outra definição, muito
mais sarcástica: “América para os norte-americanos”. Uma
nova guerra e mais terras para os Estados Unidos. Cena da Guerra
Mexicano-Americana, que ocorreu entre 1846 a 1848. Nesta imagem vemos a
Batalha de Buena Vista – Fonte – http://www.history.com/news/10-things-you-may-not-know-about-the-mexican-american-warDita com sarcasmo ou não, a Doutrina
Monroe funcionou no caso da ocupação dos territórios do México. Desde
que se tornaram independentes da Espanha, em 1824, os mexicanos
permitiram que os americanos ocupassem terras no norte do país, exigindo
em troca apenas a adoção do catolicismo nessas áreas. Envolvido em
constantes conflitos pelo poder e por ditaduras, os mexicanos nunca
consolidaram seu poder na região e, em 1845, os colonos americanos
proclamaram a independência do Texas em relação ao México,
incorporando-o aos Estados Unidos. Iniciava-se a Guerra do México. Em
três anos, a ex-colônia espanhola perdeu, além do Texas, o Novo México, a
Califórnia, Utah, Nevada e partes do Colorado e do Arizona. Ou seja,
depois da guerra, cerca de metade das terras do México incorporou-se aos
Estados Unidos. Restava a conquista das terras
indígenas, conhecidas como Oeste Selvagem. Quando os ingleses chegaram,
havia mais de 25 milhões de índios na América do Norte e cerca de dois
mil idiomas diferentes. Ao fim das chamadas “guerras indígenas”,
restavam dois milhões, menos de 10% do total. Para o etnólogo americano
Ward Churchill, da Universidade do Colorado, esses três séculos de
extermínio e, particularmente, o ritmo com que isso ocorreu no século
XIX caracterizaram-se “como um enorme genocídio, o mais prolongado que a
humanidade registra”. Corpos
de índios Lakota sendo entrredos em uma vala comum no último episódio
sangrento das guerras contra os índios nos Estados Unidos – O Massacre
de Wounded Knee, em 1891 – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/American_Indian_Wars#/media/File:Woundedknee1891.jpgAo lado da expansão, veio a prosperidade
econômica. Enquanto o norte crescia com o comércio e a indústria cada
vez mais sólida, o sul permanecia agrícola e as novas terras do oeste
eram tomadas pela pecuária e pela mineração. Ao longo do século XIX,
essas diferenças se agravaram. “Os Estados Unidos formavam um único
país, mas esse país pensava, trabalhava e vivia diferente, abrigando na
realidade duas nações: o Norte-Nordeste, industrial e abolicionista, de
um lado, e o Sul-Sudeste, rural e escravista, de outro”, afirma o
historiador Phil Landon, da Universidade de Maryland, nos Estados
Unidos. Segundo ele, a manutenção da escravidão no Sul, associada a
outros elementos também conflitantes, como questões alfandegárias,
levaram, em 1860, as duas metades à guerra civil, na qual morreram 620
mil americanos, ou 2% da população. Fronteira final O Norte ganhou a guerra, os Estados
permaneceram unidos e partiram na direção do desenvolvimento, o que, na
época, significava ir mundo afora buscando consumidores para os produtos
de sua indústria. O acesso ao Pacífico deu às ambições americanas um
caminho óbvio: a Ásia. E foi ali que os Estados Unidos definiram as
linhas mestras da sua influência internacional. Ao contrário das
potências coloniais europeias, que ocupavam e mantinham o controle
político de suas colônias – caso da Inglaterra na Índia e da França na
Indochina, por exemplo –, a jovem nação americana não estava interessada
em exercer o domínio sobre outros povos. Cada país que cuidasse dos
assuntos internos à sua maneira, desde que os interesses comerciais
americanos fossem preservados. Essa estratégia levava o nome de “Portas
Abertas”, ou seja, o acesso dos produtos e dos capitais americanos a
qualquer lugar do mundo. Os
americanos foram longe em busca de seus interesses. Desenho japonês
mostrando o Comodoro Perry, junto a um outro oficial americano e uma
autoridade japonesa – Fonte – http://gcaptain.com/maritime-monday-march-ninteen-twentytwelve-japan/Mas o fato é que nem sempre as portas se
abriam apenas com a conversa dos enviados de Washington. Nesses casos,
era preciso um empurrãozinho. Foi o que ocorreu com o Império Japonês,
que ficou fechado, durante séculos, ao intercâmbio com o exterior. Em
1852, depois de 15 anos de infrutíferos esforços diplomáticos, a
paciência americana acabou. Quatro navios de guerra, sob o comando do
Comodoro Matthew Perry, posicionaram-se na baía de Tóquio e apontaram
seus canhões para a cidade. Um emissário foi a terra para negociar – e
ameaçar – as autoridades japonesas. Caso se recusassem a liberar os
portos do país ao comércio, seriam bombardeados. Os japoneses toparam.
Acordo semelhante foi firmado com a China, que estendeu aos americanos
os privilégios concedidos aos europeus. No fim do século XIX, o país já possuía a
maior economia do planeta e uma força naval só comparável à inglesa e à
prussiana. O avanço das fronteiras estava esgotado e todos os
territórios, no leste e no oeste, colonizados. Uma severa recessão
econômica, iniciada em 1893, insuflou as tensões sociais até então
mantidas sob controle graças a permanente abertura de novas terras para a
exploração. Entre as elites econômicas, começou a prosperar a idéia de
que a única saída para a crise era a ampliação dos mercados no além-mar.
Na mesma época, um capitão da Marinha americana, Alfred Thayer Mahan,
publicou seu livro A Influência do Poder Marítimo na História. A obra,
que teve entre seus leitores mais entusiastas o futuro presidente
Theodore Roosevelt, propunha a instalação de bases navais americanas no
Caribe e no Pacífico e a abertura de uma ligação entre os oceanos pelo
Panamá. Só assim seria possível sustentar o avanço comercial dos
americanos no Extremo Oriente, onde se concentrava a competição entre as
potências econômicas ocidentais. As idéias de Mahan orientaram a
decisão de anexar o Havaí, em 1897. Também influenciaram na determinação
de recorrer às armas para abiscoitar as possessões espanholas que ainda
restavam. Desejo
de Tio Sam, figura emblemática que representa os Estados Unidos, em
possuir uma das últimas colonias espanholas – Fonte – http://www.pbslearningmedia.org/resource/e750af9d-28e8-4912-9ce3-3cc9b22d10c2/spanish-american-war/Fazer uma guerra contra a Espanha – e
sua influência imperial – tinha entre seus líderes, além de políticos
ambiciosos como Ted Roosevelt, donos de jornais, como William Randolph
Hearst – o magnata da imprensa que inspirou o filme Cidadão Kane, de
Orson Welles. Era gente que achava que o “destino manifesto”, ou seja, a
predestinação americana para liderar os países rumo à democracia
deveria ir além da América do Norte. “A Espanha, em plena decadência,
enfrentava rebeliões anticoloniais em Cuba e nas Filipinas, e os
partidários da guerra diziam que os Estados Unidos tinham o dever de
ajudar os rebeldes em luta pela liberdade”, diz a historiadora Sophia
Rosenfeld, da Universidade da Virgínia. O pretexto para a ação militar
ocorreu depois da explosão de um navio americano no porto de Havana, em
18 de fevereiro de 1898. Os jornais americanos trataram o fato como um
atentado arquitetado pela Espanha. “Querendo evitar a guerra, os
espanhóis chegaram a se desculpar, mas hoje há praticamente um consenso
entre os historiadores de que a explosão não foi um ato de guerra, mas,
provavelmente, acidental”, afirma Sophia. Pressionado pela histeria
belicista, em 25 de abril o presidente William McKinley declarou guerra à
Espanha. Cena da guerra entre Espanha e Estados Unidos – Fonte – https://www.reference.com/history/events-led-spanish-american-war-67452b5922ef5a00A Espanha, totalmente despreparada, com
equipamento antiquado, quase não ofereceu resistência. Dos 200 mil
espanhóis em Cuba, apenas 12 mil foram mobilizados para defender
Santiago, na maior batalha terrestre contra os americanos. A Marinha
americana arrasou os antigos navios espanhóis sem sofrer qualquer baixa.
Nas Filipinas, a situação não foi diferente. A principal batalha naval
foi travada na baía de Manila, no dia 1º de maio. Seis dos mais modernos
e bem armados navios de guerra americanos enfrentaram a esquadra
espanhola formada por sete navios. Três deles eram de madeira e um
quarto precisou ser rebocado até o local da batalha. Os canhões
instalados em terra, em Manila, não puderam ser usados, pois os
comerciantes espanhóis impediram que entrassem em combate temendo que
isso provocasse disparos dos navios americanos contra suas propriedades
na orla. Os espanhóis se renderam em menos de
quatro meses, em 12 de agosto, e os Estados Unidos emergiram, aos olhos
do mundo, como uma verdadeira potência imperial. Cuba, formalmente
libertada do jugo colonial, passou a ser administrada pelos americanos,
que mantiveram os rebeldes locais à margem do poder. Porto Rico se
integrou aos Estados Unidos e as distantes ilhas Filipinas foram
anexadas, transformando-se na primeira colônia americana. Cena
de tortura com o uso de água contra um guerrilheiro filipino, durante a
guerra de conquista do território filipino pelos Estados Unidos no
início do século XX. Este retrato foi supostamente feito em maio de
1901, em Sual, nas Filipinas e teria sido realizada pelo cabo George J.
Vennage. Consta que foi encontrada em 2008 e pertence a Biblioteca de
Livros e Manuscritos Raros da Universidade Estadual de Ohio – Fonte – http://www.newyorker.com/magazine/2008/02/25/the-water-cureOs filipinos, frustrados por não obterem
a independência, se rebelaram em 1899. Os Estados Unidos levaram três
anos para esmagar a insurreição, numa campanha em que mobilizaram 120
mil soldados. Os combates provocaram a morte de 4 mil americanos e mais
de 200 mil filipinos, na maioria civis, vítimas dos bombardeios
indiscriminados e da fome, causada pela destruição das lavouras. Foi a
primeira vez que os americanos enfrentaram um povo em luta pela
libertação nacional. Poder global A vitória na Guerra Hispano-Americana
garantiu aos americanos o controle do Caribe e da América Central. Na
gestão de Ted Roosevelt, iniciada em 1901, o país instalou um regime de
tutela política e financeira sobre a região e despachou tropas para o
México, Nicarágua, Haiti e outros países, a pretexto de ensiná-los a
“eleger os homens certos”, como diziam as propagandas americanas da
época, para os postos de governo. A velha Doutrina Monroe, de 1823,
ganhou finalmente vigência plena. Em 1904, o Congresso americano adotou
como política oficial o direito de intervir nos países latino-americanos
que se mostrassem incapazes de garantir a ordem interna ou de honrar
suas dívidas com os bancos estrangeiros. Roosevelt escreveu textualmente
na sua mensagem ao Congresso, por ocasião de sua posse, que os Estados
Unidos, “embora relutantes”, estavam prontos a “exercer seu papel de
polícia internacional” na América Latina nos casos em que se verificasse
“a crônica incapacidade” (dos governantes locais) ou “a impotência que
resulte no enfraquecimento dos laços da sociedade civilizada”. Tio Sam conclamando os norte-americanos para participarem da Primeira Guerra Mundial – Fonte – https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1d/Unclesamwantyou.jpgOs Estados Unidos entraram na Primeira
Guerra Mundial, em 1917, como a única potência hegemônica em seu próprio
hemisfério, e saíram dela ainda mais fortes, como a maior força militar
do planeta – afinal, foi o Tio Sam quem desempatou o jogo nas
trincheiras da Europa, selando a derrota dos impérios alemão,
austro-húngaro e turco-otomano. Começava a investida americana pela
supremacia global que, no mundo abalado pela recessão do período entre
guerras, pela ascensão das ideologias fascistas e, por fim, pela Segunda
Guerra, só se confirmaria nas cinzas de Hiroshima, quando os Estados
Unidos deram uma mostra – talvez a maior de todas – de seu poder e
determinação militar. “Depois da guerra e diante da destruição sofrida
pelos eventuais competidores, os americanos passaram a dominar a maior
parte do globo”, diz o historiador Amadeo Giceri, da Universidade
Estadual do Kansas. O vazio de poder em escala global e o confronto com a
União Soviética – um rival de segunda classe, restrito a seu cinturão
de segurança no Leste Europeu e irrelevante como potência econômica –
deram aos americanos a chance de alcançar a meta que perseguiam desde o
século XIX: usar seu poderio militar para abrir o mundo ao comércio e
aos investimentos das empresas americanas. Fonte – https://www.youtube.com/watch?v=q17G3wLEEBI“Os Estados Unidos estenderam sua
influência à Indochina e ao Oriente Médio, diante da incapacidade de
França e Inglaterra de preservar seus interesses nas ex-colônias”,
afirma Giceri. Para ele, a Guerra Fria contra os soviéticos e a teoria
da luta contra o “mal maior”, ou seja, o comunismo justificava a
presença e a interferência americana nos assuntos internos dos países
espalhados pelo globo. Enfrentar o “mal maior” por vezes significou
patrocinar guerrilheiros e golpistas, como no Irã e na Guatemala, na
década de 1950. O fim da União Soviética, em 1991, instalou confortável e
definitivamente os Estados Unidos no posto de única superpotência. Ser ou não ser Mas é justo, diante das guerras do
Iraque e do Afeganistão, chamá-los de “Império”. Os americanos, de um
modo geral, acham muito estranho, e até se sentem ofendidos. Em 230 anos
de independência, sucessivos ocupantes da Casa Branca têm se esmerado
em desmentir a intenção de dominar outras nações. O primeiro foi
McKinley, em 1898, que depois da guerra com a Espanha garantiu que
“nenhum desejo imperial se espreita na mente americana”. O último foi
George W. Bush em sua campanha à reeleição, que depois de invadir o
Afeganistão disse que “nosso país não busca a expansão do seu
território, e sim a ampliação do campo da liberdade”. E o que virá pela frente? – Fonte – https://www.youtube.com/watch?v=rwLvvxTp2voPara o sociólogo americano Michael Mann,
a hegemonia dos Estados Unidos contém um paradoxo. Segundo ele, ao
espalharem pelo mundo os valores democráticos, os Estados Unidos
reforçam a noção de que cada povo deve ser dono do seu próprio nariz. “A
ideologia do liberalismo e a disseminação do conceito moderno de
soberania nacional trariam embutidos os anticorpos contra qualquer plano
de dominação.” Ou seja, se os Estados Unidos são o problema, também é a
solução, pois, diferentemente de qualquer conquistador do passado, os
americanos, que carregam na bagagem o ideal da liberdade e da
democracia, levam junto os canhões e os capitais. Aí residem a força e a
fraqueza do seu império. AUTOR – Revista Aventuras na História – EUA: os donos do mundo/Igor Fuser
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