O mais correto é chamar a organização de acordo com a sigla árabe Daesh. É claro que a tradução em russo seria a mesma [Estado Islâmico
Os membros do grupo terrorista Estado Islâmico ameaçam quem usar o termo Daesh - o favorito de Hollande e Obama
François Hollande, Barack Obama e John Kerry são alguns dos líderes ocidentais que usam o termo Daesh para se referirem à organização terrorista autointitulada Estado Islâmico. Nos meios de comunicação anglófonos, porém, usa-se com mais frequência o termo ISIS, acrónimo das palavras inglesas para Estado Islâmico do Iraque e da Síria. Porquê a diferença de terminologia?
Como a revista Economist explica, o nome chamado ao Estado Islâmico foi mudando com a própria evolução da organização terrorista, e com a forma como foi ganhando território e influência.
Porquê Daesh?
Daesh é uma possível abreviatura árabe do nome Estado Islâmico do Iraque e do Levante, uma das formas como a organização terrorista se autointitulou ao longo da sua existência. Mas a abreviatura não agrada aos membros do grupo extremista, que ameaçam chicotear com a usa. A palavra Daesh é parecida, no som, a palavras árabes que significam "esmagar, esmigalhar ou esfregar", uma conotação considerada ofensiva pelos terroristas, que preferem chamar ao grupo al-Dawla, ou o Estado.
Devido à conotação negativa da palavra Daesh e à popularidade que o termo tem no mundo árabe, líderes ocidentais como Hollande e Obama começaram a usá-lo também. Um ministro francês destacou, na altura da adoção do termo Daesh, que tem a vantagem de não incluir o termo "estado", uma palavra que muitos acreditam não dever ser usada para descrever um grupo terrorista.
ISIS ou ISIL?
O grupo começou nos anos 2000, constituindo-se como parte da resistência extremista à invasão norte-americana do Iraque, e autointitulava-se Al-Qaeda do Iraque. Mas após várias críticas e a morte do fundador do grupo, passaram a chamar-se, em 2007, Estado Islâmico do Iraque.
O grupo terrorista foi enfraquecendo no Iraque com os anos, mas o princípio da guerra civil na Síria em 2011 deu-lhe uma nova oportunidade de renascer e, ao começar a controlar territórios nesse país, mudou de nome para aquele por que se tornaria mais conhecido: Estado Islâmico do Iraque e da Síria, de acrónimo inglês ISIS.
Também é possível traduzir o nome como Estado Islâmico do Iraque e do Levante, visto que a palavra árabe usada, al-Sham, se aplica tanto a Damasco como à região em geral, levando ao surgimento do acrónimo ISIL - Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Em junho de 2014, o grupo terrorista volta a mudar de nome, para se autointitular Estado do Califado Islâmico
Azeredo Lopes, professor de direito internacional público, acha bem que passe a utilizar-se o termo "Daesh" em vez de "Estado Islâmico". Antes de mais, porque lhe retira o peso simbólico. "Se é uma organização que existe essencialmente para nos destruir, eu acho muito bem que, de uma vez por todas, não lhe façamos o favor de a promover, reconhecendo-lhe dois estatutos fundamentais que eu me recuso reconhecer-lhe: o estatuto de Estado, que, do ponto de vista jurídico-político, é o estatuto mais nobre do direito internacional, e o estatuto de representação islâmica, que eu recuso aceitar que possa ser corporizado por uma associação de bandidos, assassinos e terroristas", sublinha.
French Pres. Hollande calls #ParisAttacks an "act of war" committed by a "terrorist army – Daesh." His statement:
Daesh é a expressão literal não traduzida do auto-denominado Estado Islâmico ou ISIS, a sigla de Islamic State, em inglês. Azeredo Lopes sugere que "se passarmos a designá-lo com um nome mais neutro, menos conquistador, menos forte, menos poeticamente apelativo, seguramente que estamos a combatê-lo, porque ele combate-nos também através da difusão do medo e da eficiência de uma imagem que conseguiu universalizar, muitas vezes aproveitando a circunstância de, em termos comunicacionais, nós sermos relativamente infantis". O que significa que divulgamos e consumimos de forma indiscriminada a propaganda gráfica do terror e "comemos gulosamente um produto que foi concebido para nos aterrar".
O professor de direito internacional lembra "o impacto que teve nas nossas mentes" os vídeos "onde são degoladas pessoas", para frisar que "até desse ponto de vista, esta organização é muito mais aperfeiçoada do que alguma vez foi a Al Qaeda". Por isso, Azeredo Lopes entende que a comunicação social não devia divulgar essas imagens, porque, com isso, está a fazer um favor ao Daesh: disseminar o medo.
Acresce que, em árabe, a sonoridade da palavra é semelhante a outros vocábulos que têm, para os terroristas, sentido pejorativo e que significam "esmigar" e "esmigalhar".
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