Um quadro sénior do
Crédit Suisse, que estruturou
os empréstimos
concedidos por
esta instituição bancária à Ematum
e à Proindicus, deixou o
banco suíço, pouco depois para
trabalhar directamente para o
beneficiário chave dos negócios
que ameaçam a credibilidade de
Moçambique, o empresário libanês
Iskandar Safa, revelou quarta-feira
a Zitamar News.
Trata-se de Andrew Pearse, um
neozelandês que ajudou duas empresas
ligadas aos serviços secretos
moçambicanos a contrair uma
dívida de 1.472 milhões de dólares
em negócios que foram ocultados
ao público e ao parlamento
moçambicano. Pearse juntou-se
numa parceria de negócios com
Iskandar Safa, ao mesmo tempo
que a maior parte do dinheiro
foi transferido para as contas dos
estaleiros navais de Safa, conhecidos
por Abu Dhabi Mar, nos
Emiratos Árabes Unidos.
Os negócios das duas empresas
moçambicanas e a MAM (Mozambique
Assets Management)
estão no centro de uma crise política e económica sem precedentes
em Moçambique, cujo governo
ofereceu garantias soberanas para
os empréstimos, mas que agora
tem dificuldades em manter as
amortizações de mais de 300 milhões
de dólares por ano.
Desde que o empréstimo oculto
da Proíndicus foi descoberto em
Abril deste ano, o FMI e outros
parceiros internacionais suspenderam
assistência financeira ao
país que agora vai ser obrigado a
proceder a cortes substanciais nos
serviços básicos como forma de
evitar entrar em incumprimento
no pagamento dos empréstimos.
Ao que o SAVANA apurou,
Andrew Pearse desloca-se com
regularidade a Maputo e, eventualmente,
estará a tratar da reestruturação
da dívida da Proindicus
com o “chapéu” da Polomar
Capital Advisers, uma das empresas
ligadas a Sata.
Os negócios da Ematum e da
Proíndicus foram realizados em
2013, estruturados por uma equipa
posicionada nos escritórios do Credit Suisse em Londres,
e da qual Pearse fazia parte. O
caso Ematum veio a público em
Setembro desse ano quando os
bancos Credit Suisse e o francês
BNP Paribas procederam à venda
das suas obrigações de 850
milhões de dólares no mercado
internacional de capitais.
O negócio da Ematum consistiu
numa mistura de uma frota de
barcos de pesca e lanchas de defesa
naval, enquanto o da Proíndicus
envolve mais barcos, aviões,
drones, radares e outro equipamento
de protecção costeira, de
acordo com o que conseguimos
apurar.
As contas da Ematum mostram
que a empresa transferiu
quase todo o seu dinheiro — 836,3 milhões de dólares — para
a Abu Dhabi Mar, uma empresa
conjuntamente detida pela Privinvest
e pela família real de Abu
Dhabi, em Setembro e Outubro
de 2013.
A Privinvest é a empresa-mãe da
família Safa, que opera nas áreas
da construção naval, transportes
marítimos, imobiliária e explora-
ção de petróleo e gás. O resto do
dinheiro da Ematum, segundo a
Zitamar News, foi gasto em taxas
e serviços bancárias, conforme
as contas da empresa.
Estes detalhes não estão ainda
disponíveis no caso da Proíndicus,
cujos 622 milhões de dólares
adquiridos ao Credit Suisse
e ao banco russo VTB Capital
em 2013 não foram transacionados
nos mercados de capitais. O
Ministro das Pescas, Agostinho
Mondlane, disse, numa conferência
de imprensa no dia 28 de
Abril em Maputo, que o equipamento
da Ematum e da Proíndicus
tinha sido adquirido junto
do mesmo fornecedor — a Abu
Dhabi Mar — para minimizar os
custos.
Pouco depois do fecho dos negócios
da Ematum e da Proíndicus
em 2013, Pearse tornou-se
administrador de uma série de
empresas pertencentes a Iskandar
Safa, todas sob a designação de
Palomar. Em Setembro de 2013,
Pearse criou a Palomar Natural
Resources com o americano John
Buggenhagen, um executivo ligado
ao negócio de petróleo e gás.
Em Outubro, ele foi nomeado
administrador de uma empresa
de consultoria financeira com
sede em Zurique, a Palomar Capital
Advisors, e um mês depois
assumiu a presidência do conselho
de administração da empresa,
substituindo Christopher Langford,
um advogado do Reino
Unido que é administrador de
uma série de empresas pertencentes
a Iskandar Safa, incluindo
a Abu Dhabi Mar (Europa) e a
Abu Dhabi Mar (Reino Unido).
A Pearse juntou-se na Palomar
Capital Advisors, um outro funcionário
pertencente à equipa
responsável pelas dívidas dos
mercados emergentes no Credit
Suisse, o alemão Dominic Schultens.
Fontes ligadas aos mercados internacionais
de capitais descrevem
o papel de Schultens como
sendo o de estruturar soluções
financeiras para contratos de segurança
marítima idênticos aos
da Ematum e da Proíndicus em
outros países africanos.
Documentos obtidos a partir
da firma de advogados Mossack
Fonseca, com sede no Panamá
(os famosos Papéis do Panamá),
mostram que Pearse e Langford
são ambos administradores e accionistas
da Palomar Holdings
Limited, domiciliada nas Ilhas
Virgens, pertencentes à Grã Bretanha
— cujos outros accionistas
incluem os estaleiros navais da
Privinvest Shipbuilding LLC e a
Privinvest Holding SAL, ambas
empresas pertencentes a Safa.
No principiado de Liechtenstein,
uma empresa chamada Palomar
Invest está actualmente a ser alvo
de um processo de insolvência —
mas mostra mais provas das liga-
ções da Palomar a Safa. A empresa
foi fundada em Outubro de
2013 com a denominação Privinvest
Africa — uma empresa que,
de acordo com o perfil na rede de
busca Linkedln de um dos seus
administradores residente na Nigéria,
é “um grande promotor de
transferência para África de tecnologia
de sistemas de armas e
estaleiros navais”.
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