domingo, 8 de março de 2015

O crime organizado continua a constituir-se uma ameaça séria ao Estado

EDITORIAL “NOTÍCIAS”

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A SEMANA que amanhã termina ficou negativamente marcada pelo assassinato brutal, na manhã de terça-feira, do académico Gilles Cistac, Professor catedrático e ex-director-adjunto para a investigação e extensão na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane.
Mais do que um simples crime, o assassinato de Gilles Cistac é, em nossa opinião, mais um sinal preocupante de que o crime organizado continua a constituir-se uma ameaça séria ao Estado e à soberania. Dizemos isto com fundamento no quadro geral da criminalidade no país, olhando para a quantidade de crimes que se cometem dia-após-dia e para a violência e ousadia com que os seus protagonistas actuam, muitas vezes numa clara afronta ao poder do Estado.
Entendemos que as sistemáticas investidas do crime organizado contra o Estado e os cidadãos, precisam ter tratamento à altura, nomeadamente uma acção enérgica tanto da Polícia como dos restantes organismos que integram o sistema da administração da justiça e, por que não, da sociedade civil, que precisa jogar um papel mais activo na sua prevenção e combate.
Seria refrescante que, com regularidade, a Polícia, a Procuradoria e os Tribunais surgissem com exemplos concretos de uma acção concertada e consequente, com julgamentos e responsabilização dos indivíduos comprovados como protagonistas de actividades criminais.
Na verdade, é preciso que os resultados das investigações que quase sempre são desencadeadas cada vez que se comete um crime comecem a ser levados a conhecimento público e publicitados os procedimentos ulteriores, de modo a devolver a confiança que se vai perdendo para com a administração da justiça, e desencorajar o crime que encontra na impunidade terreno fértil para florescer.
É preciso que a Polícia e a Procuradoria se esforcem cada vez mais por garantir que os inquéritos e investigações que começam sejam concluídos, e que os resultados dessas acções contra o crime chegam a conhecimento público, mormente aqueles casos que devido à sua dimensão mexem com a sensibilidade colectiva dos moçambicanos.
Não temos dúvida que com o galopante avanço das tecnologias de informação e consequente massificação do uso das redes sociais, a nossa sociedade está exposta a conteúdos diversos, muitas vezes especulativos e desprovidos de fundamento, na sua maioria produzidos com o interesse de dar significados obscuros a factos do dia-a-dia da sociedade,
Mesmo assumindo que este fenómeno corresponde a um dos riscos previsíveis da democratização das tecnologias de informação, não podemos calar palavras de repúdio perante a crescente irresponsabilidade e banalização da comunicação social e das redes sociais, cada vez mais usadas para promover a calúnia, o boato e a falsidade; a mentira e a queima de carácter.
Entendemos que não há necessidade de se usar a comunicação social e as redes sociais como uma lança para agredir sensibilidades ou para promover a discórdia colectiva, sobretudo numa altura em que o que mais precisamos é de caminhar na mesma direcção, por um objectivo comum que é promover harmonia entre os moçambicanos, desenvolver o país e consolidar o Estado democrático, independentemente das previsíveis diferenças ideológicas entre os cidadãos.
Estamos todos chocados com o avanço do crime organizado, mas também estamos preocupados com a forma leviana como por vezes a sociedade se posiciona em sua própria defesa.
Todos queremos soluções que garantam segurança aos moçambicanos e todos quantos escolhem a pátria amada para viver ou trabalhar, mas temos consciência que isso não se vai conseguir à custa da destruição da nossa imagem colectiva, muito menos da troca de acusações muitas vezes sem fundamento aparente.
É preciso, sim, que os órgãos da administração da justiça sejam mais arrojados no cumprimento do seu papel no combate ao crime, mas é também preciso que a sociedade demonstre maturidade e serenidade, para nunca perder o foco no que é essencial.
NOTÍCIAS – 06.03.215

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