03.02.2015
DAVID PONTES
Um país é o seu povo, a sua cultura, a sua organização política e o seu território. No caso português, ao longo dos séculos os três primeiros variaram, mas o terceiro não mudou quase nada. Énosso é este retângulo numa ponta da Europa e umas tantas ilhas a meio caminho do Atlântico. Uma condição que nos marca como nação de uma forma indelével. Distantes do centro do continente, sempre tivemos de esperar mais pelas mudanças e sempre tivemos de ousar sair se queríamos chegar a vencer.
Esta situação de periferia também nos deu outra característica, a incapacidade de relativizar. Sem outros países, para além de Espanha, com quem pela proximidade pudéssemos cotejar experiências, tanto somos capazes de nos achar os melhores domundo como de, no momento seguinte, cair na mais profunda depressão. Uma bipolaridade que nos retira capacidade de avaliar realisticamente as nossos desafios e as nossas capacidades.
Só que desta vez, não somos nós, mas a Europa que parece querer colocar-nos num pesadelo esquizofrénico. Obrigados a sair e a tentar vencer quilómetros para ligar a periferia ao centro, os camionistas portugueses parece agora novos obstáculos pela frente.
A mesma Alemanha que é dirigida por uma chanceler que acha que temos salários muito altos, quer que os camionistas quando operam neste país recebam pelo salário mínimo alemão, qualquer coisa a rondar os 1309 por mês. E a França e a Bélgica querem proibir com pesadas multas que os camionistas façam o seu descanso semanal no interior do veículo.
As medidas seriam facilmente subscritas pelos camionistas, mas a bem da realidade um país geograficamente condicionado, que necessita de estar ligados aos mercados de uma forma competitiva, não podem ser consideradas razoáveis. Impõem-se por isso que o Governo abandone a sua periferia e junto dos seus parceiros europeus lhes lembre o refrão que nos tem entoado estes últimos anos: "não podemos viver acima das nossas possibilidades".
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