por ADRIANO MOREIRA14 janeiro 2015
Uma das circunstâncias que parecem evidenciar a debilidade das governanças internacionais legalmente definidas, incluindo a ONU com os seus paradigmas globais, e a União Europeia com os seus princípios alternando entre o pousio e a reinterpretação, é que a luta pela manutenção da memória dos objetivos parece maior do que a de conseguir uma concretização programada e em curso, com estratégia definida e tática dotada de comando fiável.
Entre os factos com que a realidade desconsidera os princípios, é ser orientada por centros de decisão frequentemente inacessíveis ao reconhecimento ou não dispondo de cobertura legal, como acontece na área financeira mundializada. Entre os factos que exigem passar da simples defesa dos objetivos à ação real e consistente conta-se, no décimo aniversário da Cimeira Euro-Mediterrânica realizada em novembro de 1995, o Five Year Work Programme, destinado a definir as bases da cooperação euro-mediterrânica "para os cinco anos seguintes", e o Euro-Code of Conduct on Countering Terrorism.
Passaram demasiados anos desde a publicação de tão veneráveis objetivos e princípios, para ser mais do que preocupante a distância da realidade a que se mantêm as nobres palavras da síntese final da reunião, por ter de se reconhecer que foi um erro esperar que "uma ação convicta tornará possível aos jovens da região realizar as aspirações de um melhor futuro". Ao contrário, da cátedra prussiana veio o aviso, ou lamento, de que a Europa não oferece futuro aos jovens. Infelizmente as circunstâncias tornam evidente que nem sequer a paz militar europeia diminuiu a frequência mundial da paz dos cemitérios.
Quando se avalia o conjunto de conflitos armados que vão eclodindo no mundo, tem de se concluir necessitar de revisão o conceito de que a guerra é sempre um conflito entre Estados, entidades detentoras da soberania, lutando pela supremacia sobre os interventores. Na África, no Oriente, no continente americano, nas fronteiras da União, os conflitos de todas as espécies, destruidores de vidas, bens, e futuros, multiplicam-se, agravam-se, chegam à indiferença porque a longa duração é fonte da banalidade. Com evidência crescente no sentido de que a crueldade cresce designadamente pelo progresso da técnica e da sofisticação dos meios à disposição do complexo militar-industrial.
É por isso que a época marcada pelo derrube das Torres Gémeas, em Nova Iorque, que deu ao terrorismo a definitiva marca identificadora da morte intencional dos inocentes, avança no sentido de a crueldade, que parecia reprimida quando Nuremberga aplicou retroativamente a lei definidora dos crimes contra a humanidade, nesta data inclui não apenas essa ganhadora ação do fraco contra o forte, mas a utilização da imagem aterradora da tortura, e o horror do atentado em Paris.
Na segunda versão, a técnica, estão as armas não pilotadas, comandadas à distância, sem que o agente tenha a visão das pessoas, maiores ou crianças, combatentes ou civis, e cumprindo com atenção horários de serviço, sem necessidade de pisar o terreno, correr os riscos, e manter a memória que para sempre martiriza os que tiveram a experiência do combate à vista. O terrorismo da imagem está a ser divulgado pelo autoproclamado Estado Islâmico, com a morte de inocentes, barbaramente executados na presença das multidões que em todas as latitudes ficam coladas às televisões, espalhando a falta de confiança nos avanços preventivos dos ocidentais e provocando alarme quando lembra o terrorismo que no Ocidente atinge crianças nas escolas, que também pode ser dinamizado pelo exemplo: era este o efeito regenerador que no Ocidente erradamente animava as execuções públicas dos condenados à morte, por crimes incluindo os de religião.
Também, neste modelo, a modernidade do terrorismo retoma a inclusão de valores religiosos nos seus conceitos estratégicos. A última mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz, em dezembro de 2005, afirmava, em "Na verdade a paz", que esta corresponde "a um anseio e a uma esperança que vivem indestrutíveis em nós". Este nós não abrange o complexo "militar-industrial" que prospera.
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