sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Não vai acontecer nada!

Sexta, 23 Janeiro 2015 00:00
O LÍDER da Renamo, Afonso Dhlakama, é em si um autêntico espectáculo. Tudo o que faz, de forma gratuita, só dá para rir de orelha a orelha.
Depois de perder as eleições gerais e como forma de se reconciliar com os seus eleitores, percorreu a país de lés-a-lés apregoando a necessidade de se constituir um governo de gestão em Moçambique, alegadamente porque o escrutínio foi ferido do vício da fraude.
Este discurso, repetido pelos seus sequazes, não teve eco. Tudo porque os próprios eleitores da Renamo sabem ou compreendem que em democracia não se inventa nada. Constitui o Governo quem vence as eleições.
Face a este espectáculo gratuito, porém, muito desagradável, o povo riu-se. Mas riu-se mais ainda do actor principal ao produzir uma encenação sobre a qual ele próprio não se convence do que está no palco a fazer.
Apupado pela população que pretendia saber como seria composto tal governo de gestão e quando entraria em funções, sem resposta, Afonso Dhlakama ensaia nova encenação: “Dou sete dias à Frelimo para responder a nossa proposta. Caso contrário, vou constituir a “república do centro e norte de Moçambique”. Dividir o país a partir do rio Save e governar nas províncias onde a Renamo ganhou”.
A verdade, porém, é que os sete dias dados à Frelimo para responder a proposta do “governo de gestão” prescreveram. A Frelimo, ciente de que as coisas não funcionam desta maneira, não deu nenhuma resposta a Dhlakama. Aliás, até porque deu. Qual? Investiu os membros das assembleias provinciais, os deputados da Assembleia da República e, mais recentemente, o Presidente da República, Filipe Nyusi, digno vencedor das eleições, tendo este constituído e empossado o seu Governo. Um Governo prático e pragmático, conforme sua promessa, um Governo de inclusão, sem que tal inclusão signifique a nomeação de individualidades pertencentes a outros partidos, mas inclusão no sentido de responder as reais necessidades dos diferentes extractos sociais.
Está de parabéns o Presidente Nyusi.
Dizia então que o ultimato de sete dias expirou e não vimos nada do que Dhlakama prometeu. Aliás, nem queremos ver.
Face a esta cena, também desagradável, o líder da Renamo como que a correr contra o prejuízo anuncia a sua disponibilidade de dialogar com o novo Governo em torno destas e de outras questões. Não sei exactamente que demarches estão a ser feitos, mas posso adiantar que o novo ciclo de governação, liderado pelo Presidente Filipe Nyusi, primará pela abertura ao diálogo, diálogo construtivo, sublinhe-se, não só com a Renamo, mas com todas as forças políticas e organizações da sociedade civil em busca da paz e concórdia entre irmãos. Aliás, um dos compromissos deste Governo é fazer com que em Moçambique jamais irmãos se voltem contra irmãos seja a que pretexto for.
Quero com isto dizer que certamente o Governo está disponível para ouvir as preocupações da Renamo que, aliás, até podem ser ideias tendentes a consolidação da paz, condição primária para a estabilidade política, desenvolvimento económico e equidade social, da unidade nacional, condição para a construção de um Moçambique democrático, unitário e próspero.
Na esteira do diálogo com o Governo não deve haver ultimatos. Deve, isso sim, haver abertura, fé e perseverança. Se estes valores não forem privilegiados, sobretudo pela Renamo e seu líder Afonso Dhlakama que vociferam aos quatro ventos, o “governo de gestão” e “república autónoma do centro e norte” então não vai acontecer nada do que eles querem e pior ainda do que pensam que vão fazer caso isso não aconteça.
A Renamo e o seu líder devem privilegiar os valores da convivência pacífica, da solidariedade social. Devem ser actores sociais comprometidos em tudo fazer em prol da educação dos cidadãos para a construção de um Moçambique uno e indivisível, um Moçambique seguro, inabalável e com a certeza de que nunca e jamais os moçambicanos viverão sob a ameaça de medo e o espectro das armas. Qualquer mudança que for operada no quadro dos desafios políticos que o país tem pela frente deve ser feita em obediência as regras mais elementares da democracia e, mais ainda, dentro dos marcos institucionais e com a máxima responsabilidade.
Na verdade, Moçambique tem pela frente muitos desafios que implicam novas atitudes colectivas e individuais de cada um dos cerca de 24 milhões de habitantes. É preciso acabar com o remanescente da pobreza. No centro e norte do país várias pessoas estão a morrer na sequência das chuvas intensas que caem; várias famílias desalojadas, várias infra-estruturas sociais e económicas destruídas, principalmente estradas e pontes, o que dificulta a circulação de pessoas e bens e, face a estes desafios, requerer-se a solidariedade nacional e internacional.
Eterno descanso aos mais de 70 cidadãos que morreram em Chitima, em Tete, depois de consumirem o maldito phombe – uma bebida tradicional de fabrico caseiro e rápidas melhores aos que ainda se encontram hospitalizados na mesma sequência.
Perante estes e vários outros desafios, o que pretende a Renamo com o “governo de gestão” e com a “república do centro e norte”? Não acontecendo nada destas exigências descabidas o que irá a Renamo fazer? Nada. Isto é mesmo matéria de espectáculo. Serve apenas para nos distrair, porque na verdade em Moçambique não vai acontecer nada do que a Renamo pretende.
MUKWACHI OSSULÚ

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