Xai-Xai: uma cidade moribunda

Província de Gaza

 

Maputo (Canalmoz) - Localizada na província de Gaza, a cidade e distrito de Xai-Xai é limitada pelo distrito de Bilene, a sul, e o distrito de Manjacaze, a norte.

A cidade-baixa está neste momento abandonada pelos seus habitantes, devido às enxurradas que fustigaram aquela urbe. Está moribunda com todos os serviços fechados. No último fim-de-semana a Reportagem do Canalmoz deslocou-se aquela cidade e notou que os serviços hoteleiros, bares, bancos, padarias e todos os outros estavam paralisados, ou seja, não estavam em funcionamento. As caixas automáticas dos bancos não funcionavam e pouco era o movimento das pessoas.

João Macuácua, da Pastelaria Mukokwene, explicou-nos que muitas pessoas fugiram da cidade para a zona alta por causa das chuvas e neste momento aguardam pela ordem de regresso.

Em todas as agências e dependências dos bancos Barclays, Millennium bim, BCI, entre outros, os guardas informaram-nos que há quinze dias os serviços foram condicionados e as caixas não funcionam. Na verdade, as autoridades governamentais ainda não se pronunciaram se as pessoas podem ou não voltar à cidade. Na sua ida ao “exílio”, passe a expressão, os habitantes levaram consigo os seus bens, deixando as casas vazias.

Por exemplo, no hotel Kaya Kahina, onde a nossa Reportagem esteve hospedada, os serviços de restaurante eram condicionados, devendo os utentes tomarem apenas almoço, porque jantar nem pensar, dado que os trabalhadores largam às 15 ou 16 horas, segundo ordens do patronato, porque trabalham por risco próprio e se algo acontecer ninguém se vai responsabilizar, dado que foi recomendada a retirada.

Dados sobre a cidade de Xai-Xai

A cidade de Xai-Xai ocupa uma área de 1.749 km2, com uma densidade populacional de aproximadamente 111 habitantes por km2. A população total é de 193.770 habitantes. Compreende três postos administrativos, nomeadamente Zongoene, Chicumbane e Chongoene, e 18 localidades. O Governo está representado pelas Direcções Provinciais e Distritais de Agricultura e Pescas, de Educação, da Cultura, Juventude e Desportos, Indústria, Comércio e Turismo, do Plano e Finanças e da Saúde. Outros sectores incluem o DPCCN e a Polícia. A coordenação da actividade governativa é feita através de reuniões periódicas com todos os sectores. Outras figuras locais como a autoridade tradicional, as igrejas e curandeiros, também estão presentes e activas.

Xai-Xai é uma cidade com densidade populacional relativamente alta, o que faz com que haja pressão e conflitos para obter recursos, principalmente a terra. A área cultivada pelo sector familiar é de 24.709 hectares que corresponde a cerca de 14% do total da área do distrito. O acesso à terra e outros recursos é mediado pelas autoridades tradicionais e pela administração da cidade.

A agricultura é a actividade dominante e envolve a maioria das famílias locais. As principais culturas alimentares do sector familiar são: a mandioca, o milho, o feijão e o amendoim, que constituem a base da dieta das famílias. O milho é o mais cultivado, seguido da mandioca, do feijão-nhemba e do amendoim. Hortícolas, castanha de caju, mafurra, cana-de-açúcar e copra também são cultivados, como culturas de intuito comercial incluindo hortícolas. Na produção de culturas alimentares, os factores limitantes são pragas (66%), cheias (53%), secas (33%), falta de sementes, de pesticidas, de hábito, de alfaias e má qualidade da terra (10%).

Não há muito investimento externo na agricultura, e as famílias usam métodos naturais e orgânicos (adubação orgânica) para aumentar a fertilidade dos solos.

Os animais domésticos mais importantes no distrito, para o consumo dos agregados, bem como para comercialização são porcos, galinhas, cabritos, patos, bois e ovelhas. O boi também é utilizado para tracção. As principais limitações à expansão da actividade pecuária são a descapitalização das famílias, as doenças e a falta de serviços de extensão.

A fauna bravia, a pesca e a caça constituem uma importante fonte suplementar de alimento para as famílias do distrito. As espécies selvagens existentes no distrito são o cabrito-cinzento, gazelas, lebres e aves.

Os frutos mais abundantes naquele cidade são papaia, manga, citrinos, ananás, banana, caju e mafurra, e são um importante factor complementar da dieta das famílias que são consumidos e/ou comercializados tanto frescos como processados.

Além da fonte de material de construção local, as árvores fornecem lenha e matéria-prima para fazer carvão. Há problemas de erosão dos solos. A água potável é ainda um recurso no qual a sua necessidade ainda não foi totalmente satisfeita, mas grande parte do distrito dispõe de um número de furos que garantem o fornecimento de água durante todo o ano. As comunidades abastecem-se com a água dos rios, charcos, lagos, dos furos e dos poços, agora afectados pelas cheias.

O distrito mas também cidade está bem integrado na rede de mercados da região do sul do país, com transações que envolvem comerciantes de fora do distrito, nomeadamente de Maputo, da cidade de Xai-Xai e Chókwè. A maior limitação é a incapacidade de produzir excedentes em quantidades significativas. Existem sistemas formais de crédito implantados. Xai-Xai é acessível por estrada e em termos de telecomunicações por telefone e ligações via rádio. O território tem 41 quilómetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilómetros quadrados.

Xai-Xai tem problemas de cheias sempre que chove, principalmente porque o Governo e sobretudo o Município não dá a devida manutenção aos diques de protecção. A chuva, quando cai em grande intensidade, aliada a ventos fortes, causa geralmente perturbações ao funcionamento da parte baixa da cidade. Xai-Xai inundou mais uma vez este ano devido a água em excesso que veio pelo Rio Limpopo, devido a descargas na África do Sul e na Barragem de Massingir, mas sobretudo por o dique não ter aguentado a pressão da água, por falta de manutenção regular. (Bernardo Álvaro)