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Causou indignação geral o facto da Presidência da República, o Governo e a família Guebuza terem tomado a triste decisão de oferecer o mega-almoço de celebração dos 70 anos de vida de Armando Guebuza, numa altura em que compatriotas nossos se afogavam em consequência das cheias que fustigam o país. Este acto condenável teve até direito a honras televisivas para que os moçambicanos, incluindo as vítimas da cheias, pudessem acompanhar este momento de celebração do Presidente Guebuza juntamente com os seus 1 000 convivas.
A oposição, aproveitando-se deste facto, desdobrou-se em moralismos até certo ponto excessivos para condenar a atitude do Presidente Guebuza. Chamaram nomes ao Presidente da República e sua família. Não é que para o meu espanto, ontem, tomei conhecimento, através da STV, que Manuel de Araújo, edil de Quelimane, militante do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) está a gastar um milhão de meticais para realizar uma festa popular denominada “Carnaval Chuabo”.
Não tenho nada contra as festas populares e acho de bom tom que os governantes apoiem as manifestações populares e o carnaval de Quelimane é uma marca indelével na cultura do povo de Quelimane. Entretanto, é do conhecimento de todos nós que o município de Quelimane e seus munícipes foram afectados pelas cheias e há, neste momento, pessoas que estão a atravessar momentos dramáticos, e não me parece razoável que Manuel de Araújo, na sua qualidade de edil, tire dos cofres municipais um milhão de meticais para promover festas.
O mais sensato na minha opinião seria adiar o carnaval, em consequência das cheias na província da Zambézia, incluindo o município de Quelimane. Manuel de Araújo, na sua qualidade de governante, deve ser solidário com outros compatriotas seus em Gaza, Maputo e Sofala que perderam tudo. Mas não é o que está a acontecer. Só na Zambézia, há mais de sete mil pessoas afectadas e mais de 10 pessoas morreram em consequência das cheias! É pouco senhor presidente Manuel de Araújo?
Da mesma forma que a oposição e outros sectores de opinião habituados a criticar Armando Guebuza, a Frelimo e o Governo, espero que tenham a mesma coerência e denunciem este acto simplesmente escandaloso e vergonhoso.
De uma figura como Manuel de Araújo, com reconhecido percurso académico e intelectual, era de esperar uma outra forma de estar na política. O recurso a camisetas, música, danças e bebedeiras não pode continuar a ser o expediente político mais apetecível para captar votos por parte de políticos moçambicanos. A política precisa de ser um espaço de trabalho e de debate de ideias e não um espaço para a promoção da bebedeira, do ócio e da estupidificação da sociedade e dos mais jovens em particular.
Como um político da nova geração, com o alto nível de instrução, exige-se que Manuel de Araújo seja portador de sinais de esperança. Que seja uma fonte de inspiração para que os mais jovens se interessem pela política e devolvam à política a nobreza que ela merece. Para que isso aconteça, o país precisa de políticos diferentes dos que temos hoje. Precisa de verdadeiros servidores públicos e não estes que hoje abundam no espaço público que usam o Estado e o povo para dele se servirem. Precisa de gente qualificada que faça uma gestão correcta dos bens públicos e faça a devida prestação de contas.
O país não suporta mais políticos que são avessos à prestação de contas e têm na desorganização organizada o seu modus operandi para pilhar cada vez mais ao povo moçambicano. O país precisa de mais trabalho e menos festas e, já agora, menos feriados e pontes. Precisamos de políticos trabalhadores e não aqueles que ficam um dia inteiro a desfilar pelas ruas da cidade em nome de carnaval.
Precisa de políticos trabalhadores, mais sensíveis, e não estes que sobrevoam zonas inundadas de helicópteros e montam palanques para fazer comícios dizendo ao povo que há cheias no país porque somos pobres. Precisamos de sinais de esperança já!
Aos autarcas dos partidos da oposição, exige-se seriedade e mais rigor na gestão da coisa pública. Precisam de mostrar que são diferentes da actual governação da Frelimo, em que, em muitas ocasiões, escasseiam exemplos de moralidade e ética pública ao mais alto nível da Governação!
José Belmiro in Jornal O Pais.
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