Em http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/12/brasil-e-mo%C3%A7ambique-juntos-em-o-globobrasil.html
(Ver imagens em http://oglobo.globo.com/economia/repleto-de-riquezas-naturais-mas-carente-de-infraestrutura-mocambique-tem-no-brasil-seu-maior-investidor-7005312)
Repleto de riquezas naturais mas carente de infraestrutura, Moçambique tem no Brasil seu maior investidor
...Repleto de riquezas naturais mas carente de infraestrutura, Moçambique tem no Brasil seu maior investidor . Comunidade que vive da produção...precário centro de saúde de uma comunidade tradicional de Moçambique. Governo não consegue oferecer serviços mínimos Camila...
Brasil e Moçambique, uma relação a cada dia mais forte
...uma das poucas espécies preservadas em Moçambique e é sob sua sombra que decisões são...últimos dez anos, o quadro mudou. Moçambique vem sendo revisitado, só que agora por...agricultáveis do outro lado do Atlântico.— Moçambique é a bola da vez e ser brasileiro lá...
...uma das poucas espécies preservadas em Moçambique, e é sob sua sombra que decisões são...últimos dez anos, o quadro mudou. Moçambique vem sendo revisitado, só que agora por...agricultáveis do outro lado do Atlântico.— Moçambique é a bola da vez e ser brasileiro lá...
...Betânia.Após a independência recente, Moçambique vem correndo contra o tempo para bancar o...campo — tendência que é seguida por Moçambique.Tamanha escassez é, na opinião...cidadesEscassez é uma palavra que assola Moçambique em muitos quesitos necessários para...
Brasil e Moçambique, uma relação a cada dia mais forte
Empresas verde-amarelas redescobrem o país e, juntas, desbancam Portugal do posto de maior investidor estrangeiro
A falta de especialização entre os moçambicanos faz com que as empresas brasileiras importem funcionários Reuters/Goran Tomasevic
RIO - Os velhos baobás africanos suscitam a impressão de serem testemunhas de tempos imemoriais. Segundo a crença, eles proporcionam bênção. Não à toa os baobás são uma das poucas espécies preservadas em Moçambique e é sob sua sombra que decisões são tomadas, negócios são fechados e pedidos são feitos. A crendice tem ajudado os moçambicanos a superar enormes adversidades. É que o país esbanja riqueza natural, mas convive com indicadores socioeconômicos nada auspiciosos.
O país está entre os cinco piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, de 0,47, convive com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 450, a expectativa de vida é de 52 anos, 66% da população são analfabetos e, para completar o quadro, mais de 10% dela têm o vírus HIV.
Foi no século XV que os colonizadores portugueses desbravaram a costa oriental da África — durante viagem de Vasco da Gama rumo à Índia. Recentemente, especialmente nos últimos dez anos, o quadro mudou. Moçambique vem sendo revisitado, só que agora por empresas brasileiras. Com projetos superiores a US$ 770 milhões, o Brasil se tornou, este ano, o maior investidor estrangeiro, superando Portugal.
A Vale do Rio Doce explora carvão mineral em Moatize. A Camargo Corrêa vai instalar uma hidrelétrica no Rio Zambeze — Mphanda Nkuwa, a segunda maior da África. A Odebrecht está construindo o aeroporto internacional de Nacala, em Nampula. Depois da mineração e da infraestrutura, o agronegócio está virando a mais nova frente de atividade para os empresários brasileiros.
Assim como em Mato Grosso, a savana moçambicana deverá dar lugar a plantações de soja, milho e algodão, o “ouro branco”. A diferença é que lá a terra pertence à União, mas como o governo moçambicano está cedendo seis milhões de hectares a estrangeiros, o Brasil está de olho nessas áreas agricultáveis do outro lado do Atlântico.
— Moçambique é a bola da vez e ser brasileiro lá é uma vantagem competitiva. Agricultores individuais têm apresentado projetos para obter concessão de áreas de dez mil hectares, similares às propriedades do Mato Grosso. No caso de empresas, as terras pleiteadas chegam a 100 mil hectares — comentou o diretor executivo da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique (CCIABM), com sede em Minas Gerais, Rodrigo Coelho de Oliveira.
Aos olhos dos moçambicanos, a redescoberta do país pelo Brasil é vista como uma forma de apaziguar a miséria. Os investidores, por sua vez, estão ávidos mesmo é pela real possibilidade de expansão comercial e, sobretudo, esperam que o país seja uma espécie de trampolim para mercados mais pujantes, como é o caso da China.
A savana moçambicana é vista como ‘sob medida’ para os agricultores brasileiros. A primeira razão é a semelhança climática com o cerrado. A segunda é que o programa de cooperação Pró-Savana, da Embrapa, repete o modelo Brasil-Japão, que mudou o cenário no Centro-Oeste brasileiro com a implantação de monoculturas voltadas à exportação.
— Estão reproduzindo exatamente a mesma fórmula do cerrado brasileiro. Calculamos as mesmas consequências futuras. Este modelo implica uma série de mudanças sociais em relação aos pequenos produtores rurais e cria para o país a dependência em relação ao preço de algumas commodities específicas, como a soja — afirma a cientista política Ana Saggioro Garcia, doutora em relações internacionais pela PUC-Rio, comentando que outro foco de inquietação é a tão esperada geração de emprego. — Não há mão de obra local capacitada, o que faz as multinacionais importarem funcionários. E quem chega ganha salário mais alto do que os moçambicanos, o que gera bastante inquietação.
A mudança na paisagem de Moçambique já está em curso. As machambas — como são conhecidas as roças familiares dos moçambicanos — já estão disputando espaço com grandes plantações de florestas, especialmente eucaliptos e pinus. A previsão do governo do presidente Armando Guebuza é que, já no próximo ano, grandes produções agrícolas passem a mudar definitivamente o cenário do país.
— Nosso papel é desmistificar. Tudo está por ser feito e Moçambique ainda opera com espasmos de economia organizada. É um trabalho de formiguinha, de conhecimento — afirma Shalom Confessor, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Moçambique, com sede no Espírito Santo, para quem as oportunidades se espalham do setor de pedras ornamentais ao da beleza feminina.
Há agricultores brasileiros, porém, que não acham o negócio tão bom assim. Acostumados a serem donos das terras, muitos se sentem pouco à vontade para cultivar áreas que, no fim das contas, não são de sua propriedade, embora possam atuar por um século. Alegam ainda a dificuldade de, sem título da propriedade, obter crédito para tocar lavouras dispendiosas, como a do algodão, que consome toneladas de pesticidas. No fim das contas, resta ainda preocupação com a estabilidade política do país.
Nova fronteira agrícola do mundo, Moçambique tem 36 milhões de hectares de terra arável, dos quais cinco milhões são explorados, sem contar as terras com potencial de irrigação. Nada menos que 80% de sua população, de 23 milhões de habitantes, vivem no campo, mas o modelo é o de agricultura de subsistência. Apenas 3% da produção agrícola é comercializada. O resultado é que o país não produz o suficiente para alimentar sua população. Só de arroz, importa 360 mil toneladas por ano, o equivalente a cerca de 40% do que consome.
— O problema não é somente ambiental, mas também social. O modelo convencional de agricultura, dependente de insumos externos, como adubos e agrotóxicos, endivida pequenos agricultores — avalia a agrônoma paulista Flávia Londres, que esteve em Moçambique, em outubro.
A discussão está causando rebuliço no país. A União Nacional de Camponeses de Moçambique publicou, recentemente, uma carta analisando o Pró-Savana. Os agricultores reclamam de falta de informação e transparência dos governos envolvidos e questionam a expropriação de camponeses que vêm ocorrendo, criando levas de sem-terra que não existiam no país.
Não se pode negar que a chegada de empresas brasileiras e de outras nacionalidades acelera o crescimento econômico. Mas, para o pesquisador moçambicano Marques Rafael, a relação entre os dois países pode se converter num modelo de neocolonialismo:
— Antes, sabíamos quem eram nossos dominadores. Agora, o país está aberto a empresas e ao capital estrangeiro.
A história de Moçambique está sendo reescrita e, segundo a Ernst & Young, os novos capítulos dessa história incluem “crescimento econômico, progresso, potencial e rentabilidade”. A presença do Brasil em Moçambique está inserida nesta reviravolta.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/brasil-mocambique-uma-relacao-cada-dia-mais-forte-7006594#ixzz2EnPxNh1y
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Brasil desbanca Portugal e se torna o maior investidor estrangeiro em Moçambique
Empresas brasileiras redescobrem o país de riqueza natural abundante e indicadores pouco promissores
Camila Nobrega e Cleide Carvalho (Email)
Comunidade que vive da produção de grãos para a subsistência Camila Nóbrega
SÃO PAULO E MAPUTO — Os velhos baobás africanos suscitam a impressão de serem testemunhas de tempos imemoriais. Segundo a crença, eles proporcionam bênção. Não à toa os baobás são uma das poucas espécies preservadas em Moçambique, e é sob sua sombra que decisões são tomadas, negócios são fechados e pedidos são feitos. A crendice tem ajudado os moçambicanos a superar enormes adversidades. É que o país esbanja riqueza natural, mas convive com indicadores socioeconômicos nada auspiciosos.
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O país está entre os cinco piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, de 0,47, convive com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 450, a expectativa de vida é de 52 anos, 66% da população são analfabetos e, para completar o quadro, mais de 10% dela têm o vírus HIV.
Foi no século XV que os colonizadores portugueses desbravaram a costa oriental da África — durante viagem de Vasco da Gama rumo à Índia. Recentemente, especialmente nos últimos dez anos, o quadro mudou. Moçambique vem sendo revisitado, só que agora por empresas brasileiras. Com projetos superiores a US$ 770 milhões, o Brasil se tornou, este ano, o maior investidor estrangeiro, superando Portugal.
Exploração mineral, hidrelétrica e aeroporto
A Vale do Rio Doce explora carvão mineral em Moatize. A Camargo Corrêa vai instalar uma hidrelétrica no Rio Zambeze — Mphanda Nkuwa, a segunda maior da África. A Odebrecht está construindo o aeroporto internacional de Nacala, em Nampula. Depois da mineração e da infraestrutura, o agronegócio está virando a mais nova frente de atividade para os empresários brasileiros.
Assim como em Mato Grosso, a savana moçambicana deverá dar lugar a plantações de soja, milho e algodão, o “ouro branco”. A diferença é que lá a terra pertence à União, mas como o governo moçambicano está cedendo seis milhões de hectares a estrangeiros, o Brasil está de olho nessas áreas agricultáveis do outro lado do Atlântico.
— Moçambique é a bola da vez e ser brasileiro lá é uma vantagem competitiva. Agricultores individuais têm apresentado projetos para obter concessão de áreas de dez mil hectares, similares às propriedades do Mato Grosso. No caso de empresas, as terras pleiteadas chegam a 100 mil hectares — comentou o diretor executivo da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique (CCIABM), com sede em Minas Gerais, Rodrigo Coelho de Oliveira.
Aos olhos dos moçambicanos, a redescoberta do país pelo Brasil é vista como uma forma de apaziguar a miséria. Os investidores, por sua vez, estão ávidos mesmo é pela real possibilidade de expansão comercial e, sobretudo, esperam que o país seja uma espécie de trampolim para mercados mais pujantes, como é o caso da China.
A savana moçambicana é vista como “sob medida” para os agricultores brasileiros. A primeira razão é a semelhança climática com o cerrado. A segunda é que o programa de cooperação Pró-Savana, da Embrapa, repete o modelo Brasil-Japão, que mudou o cenário no Centro-Oeste brasileiro com a implantação de monoculturas voltadas à exportação.
— Estão reproduzindo exatamente a mesma fórmula do cerrado brasileiro. Calculamos as mesmas consequências futuras. Este modelo implica uma série de mudanças sociais em relação aos pequenos produtores rurais e cria para o país a dependência em relação ao preço de algumas commodities específicas, como a soja — afirma a cientista política Ana Saggioro Garcia, doutora em relações internacionais pela PUC-Rio, comentando que outro foco de inquietação é a tão esperada geração de emprego. — Não há mão de obra local capacitada, o que faz as multinacionais importarem funcionários. E quem chega ganha salário mais alto do que os moçambicanos, o que gera bastante inquietação.
A mudança na paisagem de Moçambique já está em curso. As machambas — como são conhecidas as roças familiares dos moçambicanos — já estão disputando espaço com grandes plantações de florestas, especialmente eucaliptos e pinus. A previsão do governo do presidente Armando Guebuza é que, já no próximo ano, grandes produções agrícolas passem a mudar definitivamente o cenário do país.
— Nosso papel é desmistificar. Tudo está por ser feito e Moçambique ainda opera com espasmos de economia organizada. É um trabalho de formiguinha, de conhecimento — afirma Shalom Confessor, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Moçambique, com sede no Espírito Santo, para quem as oportunidades se espalham do setor de pedras ornamentais ao da beleza feminina.
Há agricultores brasileiros, porém, que não acham o negócio tão bom assim. Acostumados a serem donos das terras, muitos se sentem pouco à vontade para cultivar áreas que, no fim das contas, não são de sua propriedade, embora possam atuar por um século. Alegam ainda a dificuldade de, sem título da propriedade, obter crédito para tocar lavouras dispendiosas, como a do algodão, que consome toneladas de pesticidas. No fim das contas, resta ainda preocupação com a estabilidade política do país.
Uma nova fronteira agrícola
Nova fronteira agrícola do mundo, Moçambique tem 36 milhões de hectares de terra arável, dos quais cinco milhões são explorados, sem contar as terras com potencial de irrigação. Nada menos que 80% de sua população, de 23 milhões de habitantes, vivem no campo, mas o modelo é o de agricultura de subsistência. Apenas 3% da produção agrícola é comercializada. O resultado é que o país não produz o suficiente para alimentar sua população. Só de arroz, importa 360 mil toneladas por ano, o equivalente a cerca de 40% do que consome.
— O problema não é somente ambiental, mas também social. O modelo convencional de agricultura, dependente de insumos externos, como adubos e agrotóxicos, endivida pequenos agricultores — avalia a agrônoma paulista Flávia Londres, que esteve em Moçambique, em outubro.
A discussão está causando rebuliço no país. A União Nacional de Camponeses de Moçambique publicou, recentemente, uma carta analisando o Pró-Savana. Os agricultores reclamam de falta de informação e transparência dos governos envolvidos e questionam a expropriação de camponeses que vêm ocorrendo, criando levas de sem-terra que não existiam no país.
Não se pode negar que a chegada de empresas brasileiras e de outras nacionalidades acelera o crescimento econômico. Mas, para o pesquisador moçambicano Marques Rafael, a relação entre os dois países pode se converter num modelo de neocolonialismo:
— Antes, sabíamos quem eram nossos dominadores. Agora, o país está aberto a empresas e ao capital estrangeiro.
A história de Moçambique está sendo reescrita e, segundo a Ernst & Young, os novos capítulos dessa história incluem “crescimento econômico, progresso, potencial e rentabilidade”. A presença do Brasil em Moçambique está inserida nesta reviravolta.
(A repórter Camila Nóbrega viajou a convite da UFRRJ)
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/brasil-desbanca-portugal-se-torna-maior-investidor-estrangeiro-em-mocambique-7005344#ixzz2EnQWfrMj
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Falta d’ água assola Moçambique
Cerca de 40% da população não tem acesso a fontes do recurso
Camila Nobrega e Cleide Carvalho (Email)
SÃO PAULO E MAPUTO - Quando o avermelhado característico do sol moçambicano dá os primeiros sinais do dia, a fila para uma bica de água no campus rural da Universidade de Lúrio (Unilúrio) já está lotada de estudantes. Homens levam até dois baldes de 20 litros, um em cada braço. As mulheres amarram capulanas — típico tecido africano — na cabeça, para aguentar um balde de cada vez. O campus, no distrito rural de Sanga, na região Norte, é um retrato da escassez de água no país. Cerca de 40% da população não têm acesso a fontes do recurso, como consequência da estrutura ainda precária de abastecimento. O peso para sustentar o desenvolvimento acelerado é carregado no corpo de cada moçambicano.
— Falta água no campus, nas comunidades onde trabalhamos com agricultura e até em projetos de empresas. Mas vamos em frente — contou Marinela da Caridade, aluna do curso de Desenvolvimento Rural da Unilúrio e moradora do campus de Sanga.
Se as costas carregam a dor, o sorriso não sai do rosto, já que os universitários também estão de olho no desenvolvimento a qualquer custo adotado pelo país. A cena parece reproduzir os versos “A lata não mostra / o corpo que entorta / para a lata ficar reta”, parceria de Chico César com a cantora Vanessa da Mata na música “A força que não seca”, que se consagrou na voz de Maria Betânia.
Após a independência recente, Moçambique vem correndo contra o tempo para bancar o projeto desenvolvimentista e a água está no rol dos principais gargalos. O desafio tem dia e hora para terminar: 2015, mas pode não ser cumprida. Até lá, é preciso levar água potável a pelo menos 70% da população em áreas rurais, segundo compromisso relativo aos Objetivos do Milênio das Nações Unidas. Embora a média de acesso seja de 60% no país, há áreas rurais em que a cobertura não chega a 30%. Em cada dez pessoas que não têm acesso ao recurso no mundo, oito estão no campo — tendência que é seguida por Moçambique.
Tamanha escassez é, na opinião do diretor do Fundo de Investimento e Patrimônio do Abastecimento de Água (Fipag), Elídio Khossa, um problema herdado do tempo do país colônia. A situação, no entanto, se agravou durante os 16 anos que durou a guerra civil — que terminou em 1992. O governo está abrindo licitação e convidando empresas privadas, estrangeiras inclusive, a entrar no negócio. O desafio não é só fazer com que o serviço chegue às regiões, mas torná-lo duradouro e ambientalmente bem explorado:
— Temos que fazer tudo de forma acelerada, mas precisamos descobrir como usar os mananciais por muito tempo. Algumas regiões enfrentam secas fortes e há mananciais que estão muito distantes das cidades.
Secura atinge também grandes cidades
Escassez é uma palavra que assola Moçambique em muitos quesitos necessários para o desenvolvimento social. Mas, tendo em vista que água é o recurso mais básico para a manutenção da vida, o foco no assunto é justificável. Até nas maiores cidades da nação lusófona, a secura está estampada nas ruas. Em Nampula, mulheres andam de um lado a outro com uma das mãos segurando baldes na cabeça e outra nas capulanas que prendem os bebês ao corpo. No escritório da governadora, falta água e o jeito é o mesmo usado pela maioria dos moradores: o bom e velho banho de caneca e baldes nos banheiros. Em Lichinga, capital de Niassa, por volta das 21h a rua fica mais vazia. O motivo: a população corre para casa, porque a água começa a sair na torneira. É preciso encher os baldes.
O problema é diariamente retratado em jornais e está entre os maiores desafios dos novos empreendimentos. Na Zona Econômica Especial de Nacala, aberta para atrair empresas e na qual há redução de impostos de até 50%, o governo continua em busca de solução. É lá que a Odebretch está instalada para construir o Porto de Nacala, por onde a Vale irá exportar carvão. Segundo um dos responsáveis pela zona econômica, José Américo, o objetivo é que as empresas sejam parceiras no assunto:
— A falta de água afeta negativamente os níveis de produção e produtividade das indústrias e desencoraja a implantação de projetos. As empresas podem construir suas próprias barragens, abrir furos e investir em dessalinização da água do mar para ajudar o país e seus próprios negócios.
O país precisa de parcerias que vão além dos negócios em si. Mas Américo não soube responder sobre ações das companhias nesse sentido. A legislação do país ainda não criou condicionantes para o setor empresarial. E os órgãos públicos, por sua vez, ainda veem a responsabilidade social como uma benesse, e não obrigação.
Nas comunidades tradicionais, onde vive a maioria dos moçambicanos, a situação é ainda pior. No plano do governo, o nível mínimo de serviço é uma fonte equipada com bomba manual para 500 pessoas com um consumo de 20 litros/pessoa/dia. Isso equivale a apenas um balde cheio. Em comunidades da região de Sanga, não há bombas, e cada poço atende a mais de mil pessoas por dia. São as mulheres as encarregadas pela tarefa, como Florinda Said, da comunidade de Licoli.
— Carrego sete baldes por dia para a família — disse, rindo ao ser perguntada sobre o peso. — Não sei se as dores são disso ou não, já nasci carregando água.
Aos 20 anos, Florinda tem três filhos. A mais velha, de 6 anos, já tem funções de adulto. Carrega um irmão nas costas e um balde na cabeça. O tempo da infância em Moçambique é outro e a brincadeira acontece em meio aos serviços domésticos. Quando não há água nos poços, a população busca o recurso em rios e lagos. Muitos deles estão poluídos e são utilizados, sem tratamento, na cozinha, nos banhos e até para beber, contou Feliciano dos Santos, diretor da ONG Estamos, de Niassa:
— Com a contaminação de alimentos pela água, a questão é ainda mais grave.
As diarreias multiplicam-se entre moçambicanos e, em pleno século XXI, continuam como a principal causa de óbito na área rural.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/falta-agua-assola-mocambique-7005283#ixzz2EnR350mk
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