sábado, 2 de fevereiro de 2013

AZARIAS


  • AZARIAS.

    Artágoras regressava do monte Liúpo, onde buscava as raízes que com as quais curava os doentes. Estando ele cansado, deitou o seu corpo em cima de uma cama de caniço e com as mãos cobriu a cara. Pouco depois, o sono passeava com prazer nas suas veias e, o sonho começava a invadir o corpo. Mas, de súbito, eis que apareceu uma velha monopsa que o acordou. Trazia consigo um bebé prematuro.
    - Ó Artágoras – clamou a velha enquanto o acordava – perdoe-me por interromper o seu sono, é que tenho algo que só o senhor poderá ajudar-me a aquilatar melhor a sua veracidade. Trago comigo este meu bisneto… é prematuro e com sarna ele nasceu. Sei que o senhor é um sisudo em curandeirismo e que do mesmo modo, poderá saber dizer-me ao certo que isto é.
    - Dê-me um minuto para ver se pego nos meus pauzinhos – pediu Artagoras.

    Tendo Artágoras cogitado a situação do recém-nascido, preocupado disse: “Nunca ninguém em toda a minha vida, teria escapado das minhas adivinhas, como me escapa este bebé. Imagino eu – prosseguiu - será daqueles que persegue o que se foge! Para falar a verdade, eu não consigo tratá-lo; se quisesse dizer outra coisa diferente do que estou a dizer, pode ter a certeza que, estaria eu, a codilhar. Porém, só poderei indicar-lhe um astrólogo que, melhor do que eu, pode tirar o horóscopo”.

    A velha, que mais do que a própria preocupação, ficava ainda mais preocupada, saiu correndo como que uma donzela, enquanto tropeçava sobre os seus próprios pés. Ficando Artágoras só, deteve-se em monólogo: «aquele bebé vai dar de fazer, há uma perigosidade nele, mas desconheço qual».

    Quando a velha chegou, ao local indicado, o astrólogo estava sentado na esteira aonde terminava de comer feijões que servira numa escudela.

    - Ó astrólogo, me perdoe se te sou uma velha estúpida, pois, noto que interrompo a tua epepsia, é que tenho um caso que me aflige assaz e, espero a tua ajuda!

    O astrólogo que nem precisou de mais explicações, deu reparo no recém-nascido, dos pés aos cabelos e dos cabelos aos pés. De seguida, resmungou dizendo: há casos no universo, que aos meus olhos, não mereciam ser casos.

    - Desculpe, mas não percebi essa – questionou a velha curiosamente.

    - Não, não, estava a falar comigo mesmo! A propósito a senhora é a mãe deste bebé?

    - Não, não, sete vezes não! Ele é meu bisneto, ou seja, ele é filho da filha da minha filha.

    - Que é que faz a mãe dele, ou melhor, qual a sua profissão?

    - Somente sei que faz qualquer coisa lá no hospital – respondeu a velha.

    -Pois bem, escute com atenção, tudo o que lhe vou dizer, porque são coisas que não entram em consonância com os nossos habituais ouvidos.

    - Esteja a vontade – concordou – ó senhor astrólogo!

    -Este bebé, não tem sarna. Ele é heredossifilítico, ou por outra, ele tem sífilis por hereditariedade. Herdou da mãe, mas diferentemente dela, este é hipersifílítico. Com a sua doença, ele será o pior e perigoso dos humanos que há e, não é todo e qualquer hospital que o suportará. Será do mesmo modo, um filómate, mas por esses lugares onde ele andar, até mesmo nos hospitais, ele tornar-se-á maior filogínico, maior sendo também o risco de as contagiar. Querer tratar esta doença é algo filosofal. Nascera um bebé idêntico ha anos atras, mas, a única coisa que os difere é a de que sífilis daquele era menor em relação ao deste e, o primeiro não adoeceu como este adoecerá. Concluindo-se assim, que o primeiro, não esteve tão grave, como estou prevendo a gravidade deste. Esta sífilis, doravante, provocar-lhe-á uma loucura, e os sãos, ficarão contente por isso. Muitas, serão as mulheres que irão se distanciar dele, com medo de serem contagiadas, mas existirá aquela que, por amor, entregar-se-á, de livre vontade, para ser contagiada, e essa mulher é o Si Próprio. Por fim de contas, ele será paciente da sua própria mãe! Será ele, oh minha irmã, um ser com o direito de ter mulher, filho e amigos? Quererás, minha senhora, manter vivo um ser deste género, mesmo estando consciente da sua futura perigosidade? Oh! Um ser como este, mesmo morto, efectivamente, que nem se deve enterrar, porque maior também é o risco de contagiar a própria terra. E que é que se pode fazer após a sua morte? – Talvez se levar a uma pira - perguntou e respondeu o astrólogo. Porém, acrescentou, a melhor astucia para combater esta doença, é aniquilar por completo este bebé, não no meio-dia, nem na meia-noite, mas, as duas coisas juntas, o que torna impossível a sua mortalidade. Oh! Minha irmã, este Azarias, irá contagiar e azarar até os mais graves sifilíticos que o mundo pode imaginar…!

    Quando o astrólogo cessou de discursar, a velha, enquanto batia no seu traseiro, disse para o bebé como que este ouvisse o que ela dizia: quem me dera, óh, vivesse mais cinquenta anos para assistir esse grande espectáculo do meu bisnetinho!
    – Vendo aquele cenário, astrólogo ficou de boca escancarada! Depois, os três se despediram cada um piscando os olhos para o outro!

    (Continua)
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1 comentário:

Anónimo disse...

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