sábado, 2 de maio de 2020

A segunda coisa seria criar condições para controlar a eficácia das medidas tomadas.

Não vou comentar
Imaginemos que você vive na Malhangalene e está a braços com problemas como criminalidade, alcoolismo, poluição sonora, desemprego juvenil, altos índices de mortalidade por causa de doenças infecciosas e endémicas, etc. Você acha que as autoridades são indiferentes e não fazem o que deviam fazer para melhorar a qualidade de vida no bairro. Por isso mesmo, você candidata-se como chefe do bairro. Para ganhar votos, você promete que vai reduzir cada um dos problemas por uma taxa porcentual qualquer. Os moradores aplaudem ruidosamente, manifestam a sua confiança em si, elegem-no e você instala-se para começar a trabalhar. O que é que você faz? Você pede a cada um dos vereadores para lhe apresentar resultados, custe o que custar, ou você pede uma avaliação do problema de base que precisa de ser abordado? Se optar pela segunda coisa, o que seria mais acertado, o que é que ela deve conter? Num contexto inteligente de gestão, a avaliação do problema deve conter duas coisas. A primeira seria o tipo de condições que precisam de ser criadas para que esse problema seja abordado. Por exemplo, pode se regular a actividade do “Pulmão” partindo do princípio de que o local é o foco para muita coisa má (pode ser que o crime, imundície, etc.) partam de lá. A segunda coisa seria criar condições para controlar a eficácia das medidas tomadas. Isso pode ser feito de várias maneiras no caso do “Pulmão”, incluindo maior presença policial, campanhas de prevenção de alcoolismo, alternativas de diversão, cursos de motivação para os vereadores, etc.
A vantagem desta abordagem é que quando você avaliar o seu próprio desempenho, você só tem que verificar se a medida está a funcionar, ou não, e porquê. Se você contar apenas os níveis de consumo de “tentação” no “Pulmão” você não vai saber que os jovens mudaram para outro local, onde continuam a beber mais ainda, ou não vai perceber que, se calhar, a queda na venda desse líquido precioso se deve a outros factores que não têm nada a ver com as suas medidas. Se calhar o dono do “Pulmão” juntou-se à igreja de TB Johnson e decidiu, por razões religiosas, limitar a venda de bebidas alcoólicas. O resultado continuaria a ser bom, claro, mas não seria sustentável.
A política fica pobre quando ela é reduzida à discussão de resultados. Ela tem que ser a discussão dos meios que nos levarão aos resultados. Qualquer desgraçado pode anunciar objectivos nobres. Mas saber como chegar lá é o que importa. O hábito de discutir meios faz bem a uma sociedade. A discussão de resultados polariza a sociedade e promove fanatismo. A discussão de meios promove a reflexão e a inclusão. Uma interpelação que é feita a meios é fonte de aprendizagem e correcção. Uma interpelação feita a resultados é água derramada na areia. Discutir se lá no “Pulmão” agora se vendem menos garrafas de “tentação”, se é possível reduzir tão drasticamente os níveis de consumo quando se sabe que o Júlio Mutisse e o Vicente Manjate são clientes assíduos, etc. faz, naturalmente, algum sentido, mas não aborda o problema central. E o problema central é não saber que avaliação do problema foi feita. Pode ser que não se saiba que isso é importante. Ou pode ser aquela coisa lá da Malhangalene de pensar que quem pergunta pela avaliação do problema odeia, não gosta, acha que todos são burros, etc. Ser sensível- ou estar rodeado de gente sensível - e querer governar Malhangalene não combina.
É por isso que não dá para comentar.
Yorumlar
  • Cremildo Bahule ...ser sensível é o novo fermento para nos posicionarmos.
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  • Pedro Guiliche De acordo, Elisio Macamo, para além da discussão dos resultados e como chegar lá, acrescentaria a necessidade de se saber o que os mesmos significam em termos de transformação social; suas implicações.
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  • Mussá Mohamad Ibrahimo É melhor comentar...nós os "insensíveis " queremos partilhar do entendimento do profe. Não podemos sofrer efeitos colaterais ,por causa da sensibilidade daqueles...
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  • Régis Rembeleki Queria efectuar algumas questões, porém, tal como disse que não irá comentar fico no comentário.
    Está mais que claro que gastamos tempo discutindo ou propondo o que de bom pode ser feito, e nos esquecemos do ponto fulcral, que é como lá chegar. Elisio 
    Macamo é um dos que mesmo com os "ossos fragéis" se aventura a mostrar a forma de como chegar a tais resultados, mas no fim é rotulado como quem está contra o governo. Falta sensibilidade ou vergonha na cara aos seus críticos ferrenhos de plantão aqui no fb.
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  • Leo D. P. Viegas Também não vou comentar. :) Apenas vou fazer uma pergunta: até que ponto a indústria do desenvolvimento, doadores e as instituições multilaterais distorceram a forma de fazer politica focalizando em resultados (números de escolas, carteiras, matriculados, empregados, etc)? A morte da nossa politica não terá ocorrido aqui?
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    • Elisio Macamo venho falando disso há décadas. estamos todos reféns disso.
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    • Leo D. P. Viegas Elisio Macamo sem dúvidas! Penso que o importante é que cada vez mais pessoas ganhem consciência desta perversão da indústria do desenvolvimento, doadores e instituições multilaterais que vezes sem conta são aplaudidas aqui na Perola do Índico. Talvez isso ajude, mas é um caminho extremamente longo e sinuoso. O nosso governo presta contas aos doadores e à sociedade é uma mera formalidade. Por isso que aquela AR tb é uma mera formalidade! Até a oposição!!!
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    • Régis Rembeleki Leo D. P. Viegas

      Em uma das cadeiras em que fui seu aluno, DEPCAC, vimos até que ponto a ajuda morta ou donativos minam o desenvolvimento. Prendem-nos aos números macros e ignora-se o fulcral, ou seja, saber até que ponto impactou-se no público alvo, o povo.
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  • Carlos Jonasse Está bem Prof, Também não vou comentar mas percebi bem este seu sem comentário e muito obrigado pela sensibilidade insensível!
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  • Luis Baptista Hahahaahahhaha muita verdade. O problema é que só nos trazem resultados, o que não mau, mas, como foi feito o trabalho é mais importante
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  • Antonio Gundana Jr. Por isso que para além de nos ater à números, temos de colocar uma simples questão que muda completamente o rumo do debate para algo que se quer construtivo: "como?".
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  • PC SocScholar Mas, oh homo sociologicus, você já comentou! Kkkkkkk
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  • Júlio Mutisse Nós temos uma aversão a avaliação do problema perspectivando melhores soluções. Nós confiamos que as pessoas devem trazer soluções não importa como. É claro que temos muitos contratos de consultoria mas mais parece para queimar orçamento já que os resultados nunca são usados.
    É terrível
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  • Claudio Mapulango Professor nessa mata não sai coelho, vai queimar toda vegetação pra nada enfim vamos tentar quem sabe conseguimos ratazana.
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  • Raul Junior Não vou ler, não vou comentar, nem vou laikar muito menos felicitar pelo texto " não vou comentar" direi apenas : Parabéns
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  • Vicente Manjate Enquanto quisermos que tudo pareça estar bem, continuará a parecer. Enquanto os chefes continuarem a fazer de tudo para cumprir as promessas feitas, nenhum resultado será sustentável. Alguém, em algum momento e em algum lugar, deve perceber que o país é muito mais do que a aparência de um mandato. É triste estar a viver isto nesta geração.
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  • Euclides Matusse Sofreu Sr. Ivo Garrido por parte disso, os doadores faziam o bel merecer com as suas ações na saúde sem consulta ao Ministério, o homem zangou não tinha como controlar o seu plano. Determinou que as doações deveriam seguir ao Ministério e em conjunto seguiriam o plano aberto a subversões, prontos os doadores não gostaram foram queixar o PR que custou a saida do mesmo da pasta de saúde. Hoje analisando deram razão ao grande Doutor de Medicina. A maioria das ONG e doadores estao sediados nos escritórios dentro dos Ministérios equipe multi setorial para afins. Projetos enviados aos ONGs ja pedem para encaminhar para o Ministério da qual o projeto faz parte e sera dado cabimento orcamental junto ao equipe multi setorial no Ministério.
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  • Paula Martins E entretanto a Tentação continua a derreter os neurónios deles e dos que assistem, os insensíveis, brutos, mãos externas. Os "sensíveis" continuam a não resistir á Tentação de ser simpáticos e assistir serenamente ao barco a afundar num "mar de Tentação". É dificil sim, não nego, mas assim é impossível.
  • Lucas Fulgencio Já comentou Prof. Elísio

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