Elisio Macamo
13 Nisan, 11:05 ·
Quando quiserem ser sociedade civil mesmo
Podem se inspirar aqui para lançar um apelo aos doadores:
Face à deterioração da situação de segurança na província de Cabo Delgado um grupo de organizações da sociedade civil de Moçambique juntou-se para lançar um apelo aos doadores para realmente promoverem uma sociedade civil no País. A insurgência armada naquele ponto do País mostra claramente o fracasso do modelo de sociedade civil que desde a introdução da democracia multipartidária tem sido promovido pelos parceiros internacionais. Ao invés de se promover um espaço de exercício de cidadania que reforça a democracia como instrumento político de protecção de direitos e liberdades fundamentais, incentivou-se a criação de organizações políticas e empresariais que identificam grupos populacionais para serem objecto da sua intervenção. Dessa maneira trivializou-se, efectivamente, a política.
O nosso modelo de sociedade civil reduz a relação política à satisfação de necessidades materiais e relega os valores que a democracia devia proteger ao segundo plano. Assim, ser cidadão em Moçambique significa fazer parte de algum conceito de “população alvo” que dá a certos indivíduos o direito de serem seus “advogados”. Esses indivíduos, portanto nós, ganhamos esse estatuto não porque fomos escolhidos pelas tais “populações alvo”, mas sim porque dominamos o vocabulário da indústria do desenvolvimento assim como os mecanismos de obtenção de financiamentos. As organizações que fundamos ao sabor dos vários mecanismos de apoio à sociedade civil criaram um espaço político paralelo que se legitima perante os doadores através da persistente representação negativa do espaço político formal e dos seus actores.
Neste contexto, cultivamos o hábito intelectualmente preguiçoso de olhar para as dificuldades perfeitamente normais de construcção do estado-nação como manifestação duma atitude natural do sistema político formal – e de seus actores – que consiste em se alhear do povo e estar apenas interessada na satisfação das suas próprias necessidades. É por isso que os temas “corrupção” e “governação” constituem duas das maiores fontes de obtenção de financiamento. Não existe melhor para documentar o egoísmo do sistema formal, mas também trazer ao de cima a pureza das nossas intenções, sobretudo quando fazemos aquela aritmética simples que contabiliza o número de escolas que poderiam ter sido construídas se político x não tivesse desviado fundos. Nunca nos interessamos em reflectir seriamente sobre os factores estruturais que impedem o sistema político de canalizar fundos para a construcção de escolas e concentrarmos a nossa acção, como sociedade civil, na identificação das propriedades da cidadania que precisamos de proteger para garantir esse tipo de política. Acomodamo-nos no argumento simplista de que é porque os servidores públicos só estão interessados em si próprios.
Apesar de termos reinventado a população de Cabo Delgado em “população alvo” conforme o cenário económico – comunidades reassentadas, comunidades afectadas pela exploração de recursos, comunidades vítimas do desmatamento, etc. – a violência eclodiu e revelou que o nosso papel activo na trivialização e desligitimação da política formal não colocou, no seu lugar, uma sociedade civil vibrante. O número de organizações da sociedade civil em Cabo Delgado não se traduz em consciência cívica apurada e suficientemente robusta para canalizar a agressão em manifestação política pacífica. Enfraquecemos a política formal por oportunismo material e ingenuidade intelectual e, com isso, fragilizamos a própria sociedade. Isto tem que acabar!
Este apelo é uma auto-crítica. Deixem de nos apoiar como se fóssemos um espaço político alternativo. Apoiem as instituições formais da política e, acima de tudo, ajudem-nas a serem de facto representativas como elas, por definição, deveriam ser. Cabo Delgado mostra claramente o falhanço político geral, pois sem instituições políticas formais atentas aos anseios locais – e que nós enfraquecemos com o nosso discurso incendiário – a nossa actuação não reforça nenhum sentido cívico local. Hoje, a população de Cabo Delgado está abandonada à sua sorte ignorada pelo Presidente da República que desde que a violência ganhou novos contornos nunca se dignou dirigir qualquer palavra que seja ao povo que o elegeu e ignorada também pelos seus próprios representantes – os deputados da Frelimo e da Renamo por Cabo Delgado – que não se destacam na vida pública moçambicana como aqueles que mais lutam para que o seu círculo eleitoral não seja criminosamente esquecido pelo estado central.
Activismo não pode ser uma actividade remunerada. É compromisso cívico que reflecte o que se passa no terreno. O nosso parasitismo é parte do problema, não da solução. Cabo Delgado é também nossa culpa.
Nós assumimos a nossa culpa!
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Manuel Vulula Mesmo?
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Régis Rembeleki Prof, eu sou e ou estou céptico de que os ditos representantes ou associações da sociedade civil, que se confundem as "ONG's" irão acatar ou seguir o presente conselho, porém isso não lhe retira o mérito. Tal como disse num outro post, o quadro socipolítico e económico instaurado no país nos anos 1990 com a introdução do multipartidarismo e ou democracia, assim como outros ingredientes que compoem o "bolo " trouxe os seus revezes.
1- Eu acredito piamente que o Estado ou governo de Moz é neopatrimonialista. Nesta senda, a ocupação ou exercício de uma função política é para ter acesso à rede clientelistica que usufrui, controla e redistribui entre si a riqueza ou dinheiros do país, no país ou fora.
2- A falta de instituições totalmente livres de controlo e influência política minou também a existência de uma sociedade civil civil. Concordando com o professor se eu não estiver a equivocado na conclusão ou percepção do que escreveu neste post , além de as organizações da sociedade civil e seus representantes serem um canal ou plataforma através da qual os anseios da sociedade civil serão canalizados para quem os deve ouvir, caso as bancadas parlamentares não o façam tal como é evidente, estas fazem ao contrário, incutem no "povo" ou sociedade que o governo e não que sistema político do país é mau, errado ou ignora as aspirações das massas e Cabo Delgado. Em consequência são vistas ou se mostram como quem pode fazer melhor, e abandonam a missão de advocacia e fazem luta política. E quando estas falham o resultado flagrante é o actual, a sociedade concluir que o governo é responsável pela satisfação dos seus desejos materiais, ademais que os fins justificam os meios. O rótulo sociedade civil ou organizações da sociedade civil é para amealhar dólares e euros. Por essa razão que muitos licenciados se formam já querendo fazer parte de uma ONG ou criar uma associação qualquer para criticar o governo, não ao sistema andar de carros 4×4, comer atum enlatado, hospedar-se em um hotel na vila ou cidade, e viajar para o campo para distribuir tendas. Gastam mais fundos com os seus luxos, do que a assistir por quem pediram os fundos
Não ensinam o que é e como ser cidadão de um país ou estado, em particular Moz. É necessária uma reinvenção deste país.
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Emilio Meque Aulas gratuitas...
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