Comiche faz “mea-culpa” após Município impedir carnaval da “Nyoxani”
Ontem de manhã, cerca de 300 crianças, alunas da escola Nyoxani, na Sommershield, em Maputo, foram impedidas pela Polícia da República de Moçambique (PRM) de desfilar em festa de carnaval, um evento que o estabelecimento organiza anualmente, desde 2014, para recrear a petizada, ensinando a cultura dos povos. Este ano o evento tinha como lema “Cultura de Moçambique, de África e do Mundo”. O desfile era para percorrer as ruelas do bairro, através da “João de Barros”, “Lucas Kumato” e “Fernão Lopes”, com destino no Parque dos Cronistas e, por fim, regressando pela Travessa Azura até a “João de Barros”, onde mora a escola.
Ontem de manhã, cerca de 300 crianças, alunas da escola Nyoxani, na Sommershield, em Maputo, foram impedidas pela Polícia da República de Moçambique (PRM) de desfilar em festa de carnaval, um evento que o estabelecimento organiza anualmente, desde 2014, para recrear a petizada, ensinando a cultura dos povos. Este ano o evento tinha como lema “Cultura de Moçambique, de África e do Mundo”. O desfile era para percorrer as ruelas do bairro, através da “João de Barros”, “Lucas Kumato” e “Fernão Lopes”, com destino no Parque dos Cronistas e, por fim, regressando pela Travessa Azura até a “João de Barros”, onde mora a escola.
O desfile estava aprazado para se realizar das 10 às 12 horas. A escola submetera uma carta ao Conselho Autárquico da Cidade de Maputo no passado dia 12 de Fevereiro, pedindo a devida autorização, como mandam as normas. Mas até a última quarta-feira (27), a edilidade não tinha respondido. Entretanto, o dia chegou e os pais já haviam abraçado a iniciativa, comprando os adereços apropriados para a ocasião. Arrumadas em duas filas indianas, as crianças estavam prontas para se fazerem à rua, cantando e dançando, sob a monitoria rigorosa de cerca de 100 funcionários da Nyoxani (a escola tem Kindergarten, lecionando até a Sétima Classe, mas também é uma instituição inclusiva, que alberga crianças com diversas deficiências, desde autistas a portadoras de síndrome de Down, justificando-se, por isso, a dimensão de seus colaboradores).
Mas a desfile não se movimentou. A alegria das crianças foi interrompida pela repressão policial.
Um grupo de 10 polícias que se fazia transportar em dois carros interpelou a direção da escola, informando que os alunos da Nyoxani não tinham permissão para desfilar pois seu pedido tinha sido indeferido. A Directora da Escola, Maria do Carmo Soares, contou-nos o seguinte: “No despacho que o comandante deu-me a ler, não devíamos desfilar por se tratar de um dia de trabalho e... iríamos provocar barulho".
Perante a ordem, Maria do Carmo ainda tentou insistir que o desfile seguisse em surdina, crianças andando sob mordaça colectiva. Iriam de mansinho ao Parque dos Cronistas e “lá faríamos o nosso carnaval, como é habitual”. O pedido foi negado. E para garantir a desfeita, as três viaturas da Polícia fixaram-se ao redor da escola até depois das 12 horas.
As crianças, essas já tinha sido recolhidas para o interior das instalações mas era visível nas suas faces uma ponta de tristeza e desilusão perante a intrusão policial, num dia preparado com todo o cuidado, onde dariam largas às suas "nyoxanis", que é afinal nome para alegria em ronga.
A intrusão policial foi simbolicamente violenta. Muitos pais se revoltaram. Maria do Carmo estava desolada e interrogava-se permanentemente sobre até onde está chegando a insensibilidade da autoridade pública para com a educação e a cultura em Moçambique, quando, por volta das 15 horas, uma delegação da edilidade irrompeu na sua sala.
Iam a mando do presidente do Conselho Autárquico de Maputo, Eneas Comiche. Dois "directores" da edilidade deslocaram-se à Nyoxani para se “inteirarem” do que tinha acontecido e traziam um “pedido de desculpas” do Presidente Comiche. Disseram que Comiche estava “impossibilitado de vir pessoalmente” e que “logicamente não estava a par da decisão de terem indeferido o nosso pedido”. O indeferimento, alegaram, resultara de um “ruído” na comunicação. O pedido de desculpas de Comiche serviu de consolação, sobretudo porque esse gesto de “mea culpa” também já não faz parte da(in)decência com que as autoridades públicas tratam os cidadãos. Agora, é esperar para vir, se para o ano o episódio se repete ou Comiche começa a fazer por justificar por que é que as gentes da cidade, sobretudo sua classe média, escolheu-o para a edilidade, depois de muitos anos de autoritarismo e arrogância na governação municipal de Maputo. (E.C. e M.M.)
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