Revisitando os “melhores filhos da pátria”
“…aquele assunto deu muita polémica porque antes a Josina tinha
sido namorada de Samuel Magaia, assassinado, e o Samora tinha sido acusado de
ter ficado com a posição do Filipe como Comandante e de tirar também a mulher
do outro.” – Janet Mondlane em entrevista a Rosa Langa
Maputo (Canal de Moçambique) – O país político saiu das trevas
para recordar um dos mais abnegados combatentes pela autodeterminação e
independência de Moçambique. Filipe Samuel Magaia foi ontem revisitado como um
dos “melhores filhos da pátria”. Há décadas mergulhado no esquecimento, o
primeiro chefe do departamento de Defesa e Segurança da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), nascido a 7 de Março de 1937, no distrito de Mocuba,
província da Zambézia, teve ontem honras de Estado que nunca quem o fez chegar
a tal patamar – Adelino Gwambe – mereceu. Ambos, ainda jovens – Gwambe com 20 e
Magaia com 23 anos, fundaram a União Democrática Nacional de Moçambique
(UDENAMO), o primeiro movimento nacionalista moçambicano que mais tarde se
fundiria com outros pela mão de Gwambe para dar lugar à Frelimo em que Eduardo
Chivambo Mondlane viria a ser enquadrado como primeiro presidente.
No primeiro movimento nacionalista pela Independência de Moçambique – UDENAMO – o presidente Adelino Gwambe tinha como seus subalternos, Marcelino dos Santos, Uria Simango (assassinado tal como Filipe Samuel Magaia), ambos na casa dos 36 anos. O actual ministro dos antigos combatentes, Feliciano Gundana, é outro contemporâneo de Gwambe e de Magaia. Gundana aliás – nesta coisa de se falar de heróis é sempre bom recordar – ainda este ano, a propósito de Gwambe, disse ao «Canal de Moçambique» n.º 5 (13.Fev.2006) – que não sabia se o seu companheiro de início da epopeia libertadora deveria ser considerado herói. “Não sei se ele deve ser herói”.
Nesta busca de figuras que ajudem a ofuscar o sofrimento actual que só se pode comparar aos que levaram os “heróis” à luta, coube ontem a vez a Filipe Samuel Magaia ser repescado do báu do espólio histórico em que as aranhas já tinham criado teias. Coube a Armando Guebuza, a pouco menos de um mês de um Congresso dos «camaradas» que promete trazer muitas surpresas e novidades, esse papel de ressuscitador de “heróis”, na sua busca estóica de motivos que empolguem as massas – já que de outras massas, falar-se, parece pouco oportuno, dado serem escassas neste Moçambique em que as aparências continuam a iludir.
Até o Conselho de Ministros esteve ontem a falar de outro herói, por sinal do primeiro presidente da República que hoje tem Guebuza ao leme, por sinal o homem que se ficou por Mbuzini e acelerou assim a possibilidade de dois seus companheiros de militância – Chissano e Guebuza – chegarem a agarrar no ceptro, talvez mais cedo do que imaginavam…
É a História de um país a escrever-se. Já Samora sucedera a Magaia, este falecido há 40 anos, a 10 de Outubro (1966). Samora Machel, depois da morte de Magaia, suceder-lhe-ia na Defesa. Na Segurança, já seria Chissano a dar os seus primeiros passos na secreta.
Factos até então desconhecidos do grande público sobre os antecedentes dos “camaradas” no processo de luta começam a vir à superfície. O mais enigmático – o local da morte de Mondlane – só viu destapado o véu a 3 de Fevereiro do corrente ano, na Praça dos Heróis Moçambicanos, quando Chissano confirmou ao «Canal de Moçambique», na presença de Marcelino dos Santos, a esposa do primeiro presidente da Frelimo, Janet, e filhos do casal. O “arquitecto da unidade nacional” não pereceu nos escritórios-sede da Frente de Libertação de Moçambique em Dar-Es-Salam, na Tanzânia, como ainda vem escrito nos livros de história que se ensina as crianças, mas, sim, em «Osyter Bay» («Baia das Ostras»), numa casa de praia da norte-americana Betty King, secretária a senhora de Mondlane (vssf Canal n.º 1).
Janet Mondlane no mais recente livro de entrevistas já no mercado literário moçambicano, trás novas revelações ou contribuições para a história de Moçambique.
A viúva de Mondlane contaria à autora de «Moçambique Mulheres e Vida», a jornalista da «RM» Rosa Langa, que nos dias seguintes a ter enviuvado, foi Josina Muthemba que mais companhia lhe fez para a confortar.
Josina já tinha passado por algo semelhante quando perdeu o seu namorado Filipe Samuel Magaia.
No primeiro movimento nacionalista pela Independência de Moçambique – UDENAMO – o presidente Adelino Gwambe tinha como seus subalternos, Marcelino dos Santos, Uria Simango (assassinado tal como Filipe Samuel Magaia), ambos na casa dos 36 anos. O actual ministro dos antigos combatentes, Feliciano Gundana, é outro contemporâneo de Gwambe e de Magaia. Gundana aliás – nesta coisa de se falar de heróis é sempre bom recordar – ainda este ano, a propósito de Gwambe, disse ao «Canal de Moçambique» n.º 5 (13.Fev.2006) – que não sabia se o seu companheiro de início da epopeia libertadora deveria ser considerado herói. “Não sei se ele deve ser herói”.
Nesta busca de figuras que ajudem a ofuscar o sofrimento actual que só se pode comparar aos que levaram os “heróis” à luta, coube ontem a vez a Filipe Samuel Magaia ser repescado do báu do espólio histórico em que as aranhas já tinham criado teias. Coube a Armando Guebuza, a pouco menos de um mês de um Congresso dos «camaradas» que promete trazer muitas surpresas e novidades, esse papel de ressuscitador de “heróis”, na sua busca estóica de motivos que empolguem as massas – já que de outras massas, falar-se, parece pouco oportuno, dado serem escassas neste Moçambique em que as aparências continuam a iludir.
Até o Conselho de Ministros esteve ontem a falar de outro herói, por sinal do primeiro presidente da República que hoje tem Guebuza ao leme, por sinal o homem que se ficou por Mbuzini e acelerou assim a possibilidade de dois seus companheiros de militância – Chissano e Guebuza – chegarem a agarrar no ceptro, talvez mais cedo do que imaginavam…
É a História de um país a escrever-se. Já Samora sucedera a Magaia, este falecido há 40 anos, a 10 de Outubro (1966). Samora Machel, depois da morte de Magaia, suceder-lhe-ia na Defesa. Na Segurança, já seria Chissano a dar os seus primeiros passos na secreta.
Factos até então desconhecidos do grande público sobre os antecedentes dos “camaradas” no processo de luta começam a vir à superfície. O mais enigmático – o local da morte de Mondlane – só viu destapado o véu a 3 de Fevereiro do corrente ano, na Praça dos Heróis Moçambicanos, quando Chissano confirmou ao «Canal de Moçambique», na presença de Marcelino dos Santos, a esposa do primeiro presidente da Frelimo, Janet, e filhos do casal. O “arquitecto da unidade nacional” não pereceu nos escritórios-sede da Frente de Libertação de Moçambique em Dar-Es-Salam, na Tanzânia, como ainda vem escrito nos livros de história que se ensina as crianças, mas, sim, em «Osyter Bay» («Baia das Ostras»), numa casa de praia da norte-americana Betty King, secretária a senhora de Mondlane (vssf Canal n.º 1).
Janet Mondlane no mais recente livro de entrevistas já no mercado literário moçambicano, trás novas revelações ou contribuições para a história de Moçambique.
A viúva de Mondlane contaria à autora de «Moçambique Mulheres e Vida», a jornalista da «RM» Rosa Langa, que nos dias seguintes a ter enviuvado, foi Josina Muthemba que mais companhia lhe fez para a confortar.
Josina já tinha passado por algo semelhante quando perdeu o seu namorado Filipe Samuel Magaia.
“Ela veio sem receio porque a
Josina era pura, embora pouco faladora, sempre fechada no seu mundo” – são
palavras de Janet citadas por Rosa Langa no livro «Moçambique Mulheres e Vida».
Convidada pela jornalista-escritora a comentar o «love story» de Samora Machel e Josina Muthemba que resultaria em casamento e um filho, Janet Mondlane começou por falar nestes termos:
“Rosa, você quer saber muitas coisas num único dia! (Risos…)” sic.
E, continuou Janet, algo estupefacta: “Eu nunca percebi como é que a Josina conseguia namorar um homem de barba…” sic. Quer Filipe S. Magaia, quer Samora usavam barba.
Dai até ao casamento, continua Janet cita por Rosa Langa “…aquele assunto deu muita polémica porque antes a Josina tinha sido namorada de Samuel Magaia, assassinado, e o Samora tinha sido acusado de ter ficado com a posição do Filipe como Comandante e de tirar também a mulher do outro.”.
Era mais um dado inédito, que qualquer resgate a história até então omitira. Mais um fragmento surgia assim para alimentar a História de verdades.
Filipe Samuel Magaia é referido na História oficial como tendo sido assassinado por uma bala “de um agente do inimigo infiltrado nas fileiras da Frelimo quando estava de regresso à sede da organização, na Tanzania”.
Outras correntes, hoje do lado marginal no desenfreado processo de acumulação de riqueza absoluta que se seguiu à morte de Machel – que faz daqui a 9 dias 20 anos que deixou este mundo, referem que Filipe Magaia teria “mandado passear” as teorias de guerrilha de Che Guevara, aquando da passagem deste guerrilheiro pelos zonas libertadas. Era um homem com outra visão do processo…
“Internacionalista”, para uns, “aventureiro” para outros, Che Guevara defendia a teoria do «foquismo» (que consistia em desencadear a insurreição armada sem preparação política, esperando envolver as massas camponesas na luta pelo exemplo da atracção), o que, segundo outras fontes, o “comandante Magaia achava perigoso”. Magaia defendia avanços faseados.
Convidada pela jornalista-escritora a comentar o «love story» de Samora Machel e Josina Muthemba que resultaria em casamento e um filho, Janet Mondlane começou por falar nestes termos:
“Rosa, você quer saber muitas coisas num único dia! (Risos…)” sic.
E, continuou Janet, algo estupefacta: “Eu nunca percebi como é que a Josina conseguia namorar um homem de barba…” sic. Quer Filipe S. Magaia, quer Samora usavam barba.
Dai até ao casamento, continua Janet cita por Rosa Langa “…aquele assunto deu muita polémica porque antes a Josina tinha sido namorada de Samuel Magaia, assassinado, e o Samora tinha sido acusado de ter ficado com a posição do Filipe como Comandante e de tirar também a mulher do outro.”.
Era mais um dado inédito, que qualquer resgate a história até então omitira. Mais um fragmento surgia assim para alimentar a História de verdades.
Filipe Samuel Magaia é referido na História oficial como tendo sido assassinado por uma bala “de um agente do inimigo infiltrado nas fileiras da Frelimo quando estava de regresso à sede da organização, na Tanzania”.
Outras correntes, hoje do lado marginal no desenfreado processo de acumulação de riqueza absoluta que se seguiu à morte de Machel – que faz daqui a 9 dias 20 anos que deixou este mundo, referem que Filipe Magaia teria “mandado passear” as teorias de guerrilha de Che Guevara, aquando da passagem deste guerrilheiro pelos zonas libertadas. Era um homem com outra visão do processo…
“Internacionalista”, para uns, “aventureiro” para outros, Che Guevara defendia a teoria do «foquismo» (que consistia em desencadear a insurreição armada sem preparação política, esperando envolver as massas camponesas na luta pelo exemplo da atracção), o que, segundo outras fontes, o “comandante Magaia achava perigoso”. Magaia defendia avanços faseados.
Resgate
aos heróis e o trânsito que se lixe
«Meio país», com destaque para funcionários públicos e estudantes, acompanharam ontem de perto a homenagem a Filipe Samuel Magaia na «Praça do Heróis» em Maputo. Em 18 anos da governação de Joaquim Chissano esteve, ele e outros, votado ao ostracismo.
O tráfego, como tem sido habitual noutras datas comemorativas, esteve na manhã de ontem um autêntico caos no prolongamento das avenidas que desaguam na Praça dos Heróis.
Centenas e milhares do sector privado e informal, viram o tempo a fugir-lhes nesta inesperada recordação do comandante Magaia, natural da Zambézia onde daqui a dias vai haver congresso da Frelimo.
Quem usa as rotas das avenidas de Angola, Acordos de Lusaka, FPLM, e Joaquim Chissano, para ir ao serviço ou aos seus afazeres, sentiu na pele o congestionamento. A confusão voltou às avenidas. A Policia de Trânsito esteve imponente para controlar a situação e impedir o caos. Quem fosse viajar também viu a rota para o Aeroporto Internacional de Maputo impedida. Tudo porque em dia de trabalho e sem aviso prévio havia que garantir a qualquer preço o trânsito pela avenida Acordos de Lusaka, dos altos dignitários de Estado a caminho da «Praça dos Heróis».
Estudantes das escolas Noroeste I e II fizeram-se ao local da homenagem. Estavam em peso na cripta. Disseram ao «Canal» que estavam ali porque “mandaram na Escola».
A tarde de ontem continuou preenchida com «o país dos políticos» em peso no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Nesse acto o presidente da República, Amando Guebuza descreveu Magaia de “nobre filho de Moçambique”. Na esteira dos seus discursos, Guebuza não deixou de referir que este facto é também um “resgate da nossa auto-estima”. A “Luta contra a pobreza” também foi acoplada no discurso de Guebuza quando falava da vida e obra de Magaia.
(Luís Nhachote) –CANAL DE MOÇAMBIQUE – 11.10.2006
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