Pelo menos 200 bovinos morreram nas últimas semanas nos distritos de Moamba e Magude, província de Maputo, na sequência da seca que está a afectar a região sul do país, constatou a vice-ministra da Agricultura e Segurança Alimentar, Luísa Meque, na visita que efectuou a estes locais durante a semana finda.
Para além destes animais, a seca colocou milhares de famílias numa condição de insegurança alimentar, o que, segundo o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) resulta das alterações climáticas que são cada vez mais evidentes no mundo e em particular no nosso país numa escala nunca antes vista.
Porque o país está a viver um contraste de eventos naturais, com o sul abraçado à seca e o norte mergulhado em chuvas destruidoras, o Conselho Técnico de Gestão de Calamidades (CTGC) reuniu na sexta-feira e, com base nas informações que recebeu das diferentes instituições do Estado que lidam com a situação, constatou que o país está já a registar chuvas intensas no norte, saturando os solos e causando inundações localizadas.
O CTGC constatou ainda a ocorrência de escassez de precipitação em algumas zonas do centro e em quase toda região sul, agravando a situação da seca que se regista desde a época chuvosa passada.
Na mesma sessão, o CTGC constatou que a presente época chuvosa e ciclónica tem sido caracterizada pela ocorrência de vagas de calor, com maior incidência nas zonas centro e sul do país, situação que resulta na deterioração da situação da seca, causando danos na agricultura e na pecuária, e que as principais bacias hidrográficas do centro e sul país continuam a registar escoamentos baixos.
Perante este quadro, aquele organismo decidiu activar o Alerta Laranja Institucional para todo o território nacional, como forma de incrementar maior operacionalização das acções do Plano de Contingência, evitar perdas de vidas humanas e destruição de infra-estruturas sociais e económicas, bem como prestar maior atenção aos grupos mais vulneráveis (crianças, mulheres grávidas, idosos e doentes crónicos).
Assim sendo, os Centros Operativos de Emergência (COEs) e aos Comités Locais de Gestão do Risco de Calamidades (CLGRC) deverão proceder ao pré-posicionamento de meios de busca, salvamento e assistência humanitária, inventariar o estado das infra-estruturas essenciais, rotas de evacuação e locais de abrigo, coordenar com as instituições competentes, acções preventivas pertinentes e sensibilizar as populações para se retirarem das zonas de risco e escutarem atentamente os avisos emitidos pelas autoridades competentes através dos meios de comunicação social.
As populações que vivem nas margens dos rios Maputo, Umbeluzi, Incomáti, Limpopo, Inhanombe, Mutamba, Govuro, Save e Zambeze foram orientadas para a praticar agricultura do ciclo curto perto das margens dos rios e fixação de abrigos temporários.
Na mesma toada, estão a ser lançados apelos para as populações criarem reserva de alimentos e uso racional da água nas zonas com escassez, incluindo a redução de áreas de rega em função da disponibilidade e a conscicialização dos pequenos, médios e grandes agricultores para migração tecnológica (Gota a Gota e Aspersão).
De forma organizada e cuidadosa, segundo o CTGC, deve-se estimular a construção de poços ao longo das margens dos rios para captação de água apenas para o consumo humano e abeberamento do gado, fornecer produtos para a purificação da água quando retirada de locais impróprios (potenciais zonas de contaminação) e educar a população sobre a sua utilização, monitorar todos os fenómenos susceptíveis de colocar em risco vidas humanas, infra-estruturas e outros bens, e ainda manter-se em Estado de Alerta máximo.
CULPA DO AQUECIMENTO GLOBAL
Segundo o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), tudo isto está a acontecer porque “o aquecimento global está a provocar uma diminuição da precipitação anual, sazonal, padrões climáticos mais erráticos e fenómenos climatéricos mais frequentes, intensos e extremos, incluindo vagas de calor, secas, cheias e tempestades”.
O MASA refere ainda que a diminuição da humidade relativa devido a decréscimo da precipitação favorece o aumento de doenças nas culturas provocadas pelos insectos e vírus, enquanto o aumento da humidade provocada pelas chuvas excessivas favorece a eclosão de doenças bacteriológicas e fúngicas. “Na pecuária, as alterações climáticas tem impacto na produção devido a qualidade de pasto e forragem, disponibilidade de água e aumento do calor”.
A título de exemplo, aponta-se que desde a campanha agrária 2014-2015, o país vem sendo assolado pela irregularidade de chuvas que provocam estiagem e stress hídrico nas culturas nas regiões sul e parte de centro, e chuvas excessivas e inundações nas regiões centro e norte. Tudo isto é atribuído às alterações climáticas e relacionado com o fenómeno El-Nino (seca) e La Nina (cheias).
Conforme referimos na edição passada, a avaliação recentemente divulgada pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN) estimou que cerca de 180 mil pessoas encontravam-se em insegurança alimentar aguda distribuídas pelas províncias de Gaza, Inhambane, Sofala e Niassa devido ao impacto dos eventos extremos registados na campanha transacta.
“A magnitude das perdas está associada ao elevado nível de vulnerabilidade aos eventos extremos que esta relacionado a localização do país, aliado a uma longa faixa costeira, extensas planícies de inundação, localização a jusante dos principais rios partilhados e pela insuficiência de infra-estruturas hidráulicas para a regulação dos caudais dos rios causando inundações e cheias”, indica o MASA.
Por outro lado, e segundo a mesma fonte, a região sul e parte da região centro é caracterizada por chuvas irregulares e escassas com uma precipitação anual acumulada inferior a 500milimetros (mm), o que influencia negativamente as actividades agrárias, aumentando a vulnerabilidade das populações.
Verifica-se que no período de 1980 até 2012 houve 24 eventos de cheias, 12 de secas e 16 ciclones tropicais e em média, o país sofreu um evento de cheia a cada um ou dois, uma seca a cada dois ou três anos e um ciclone a cada dois ou três anos.
GOVERNO ATENTO
A vice ministra da Agricultura e Segurança Alimentar, Luísa Meque escalou na semana passada os distritos de Moamba e Magude para se inteirar da situação de estiagem que assola a província de Maputo onde observou que há falta de pastos e água para abeberamento do gado nalguns pontos visitados.
Do arrolamento feito pela Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar de Maputo (DPASA), cerca de 200 cabeças morreram em Moamba e Magude. Porém, e como contraste, foram vistos também casos de produtores que estão a produzir hortícolas diversas com recurso a água ainda existente no rio Incomati, o que oferece algum alento.
Aliás, também foi visitado um criador em Magude que está usar a tecnologia de produção de feno para a suplementação do gado bovino e com bons resultados e visíveis no índice massa corporal dos animais.
Em Moamba, a vice ministra deparou-se com a situação de conflito entre os areeiros e os produtores dos regadios, devido às escavações que tem sidos feitas no leito do rio Incomati para a exploração de inertes (areia), facto que cria a estagnação das águas, impede o escoamento normal do rio e o desvia o curso de água dos locais ondes localizam se as motobombas impossibilitando o rega normal dos campos.
Para por cobro a esta situação, o governo distrital reuniu com os areeiros e deu lhes uma semana para remover as barreiras criadas pela exploração irregular as areias, decisão que alegrou aos agricultores de Moamba que há muito se viam privados do acesso à água.
Naquela ocasião, a vice ministra deixou recomendações para os técnicos da DPASA, Instituto Nacional de Irrigação (INIR), Administração Regional de Aguas do Sul (ARA-Sul) continuarem a monitorar o processo de remoção das barreiras pelos areeiros e fomentar técnicas de produção de feno. Igualmente recomendou para que haja uma intensificação da produção nas zonas com potencial hídrico e transferência dos animais das zonas críticas para aquelas com melhor pasto.
Em paralelo, o MASA destacou brigadas técnicas para o terreno que estão a trabalhar com os órgãos locais desde o dia 14 e por um período de quatro dias as quais, dentre vários objectivos, irão avaliarda situação actual e real da campanha agrária 2015/2016.
Por outro lado, estas equipas deverão recomendar medidas que devem ser tomadas pelos produtores e criadores das áreas afectadas para minimizar os efeitos da situação climática e identificar melhores estratégias a adoptar para garantir que as zonas não afectadas produzam excedentes para cobrir as zonas deficitárias
Estas brigadas irão igualmente aferir o nível de impacto da situação climática prevalecente (secas e cheias) no sector, mapear as províncias e distritos afectados e avaliar os níveis de produção nos distritos não afectados para ter a magnitude da produção esperada e em que medida a mesma poderá responder para zonas em crise.
Também vão avaliar os diversos cenários que o MASA/DPASA deve considerar ao longo do ano para mitigar os efeitos da seca e das cheias assim como recomendar medidas concretas para minimizar os efeitos das calamidades em termos de acções imediatas, de curto, médio e longo prazo.
MEDIDAS CONTRA A SECA
Coma crise hídrica a fazer das suas, o governo orientou as diferentes instituições do Estado a procederem, de forma imediata à monitoria permanente da situação, oferecer assistência alimentar através do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) e parceiros aos grupos vulneráveis nos distritos assolados por estiagem prolongada, assim como disponibilizar água potável nos bairros e aglomerados de população através de camiões cisternas e tanques moveis.
A médio prazo deverá ser feita a monitoria permanente da situação, disponibilização de material vegetativo (estacas de mandioca, socas de ananaseiro) e variedades tolerantes ao stress hídrico e seca nos distritos áridos e semi-áridos;
Devem igualmente ser disponibilizadas ramas de batata-doce nos locais onde existe o decurso de rios e humidade para a diversificação alimentar e melhoria de estado nutricional das crianças, disponibilizar blocos de sais minerais e proceder-se à abertura de furos multiusos para o consumo humano, abeberramento do gado e produção de pequenas hortas.
O governo orientou ainda para a expansão de áreas com agricultura de conservação, difusão de boas práticas agrícolas que incluem a o uso adequado de pesticidas, fertilizantes, aproveitamento de adubos orgânicos, uso racional de água para a rega e gestão de floretas e solos, assim como a difusão de técnicas de produção de feno e aproveitamento de restolhos de culturas (milho) para o consumo do gado e produção sustentável.
Lá mais adiante deverá ser feita a difusão de culturas e variedades tolerantes a seca, reabilitação e construção de diques de protecção resilientes às cheias e barragens para fins múltiplos, incluindo o amortecimento das ondas de cheias, mitigação de efeitos de secas, captação e conservação de água, pecuária e irrigação de pequena escala.
Deverão ser construídos, reabilitados e expandidos sistemas de drenagem das águas pluviais e saneamento das águas residuais nas zonas urbanas, expansão de áreas irrigadas para culturas alimentares e montagem de pequenos sistemas de irrigação baseados no uso racional de água (gota-a-gota, micro aspersão, entre outros.
Por fim, deverão ser reabilitadas e construídas represas, principalmente nos distritos com chuvas irregulares, fomento de pequenos ruminantes e aves nas zonas áridas e semi-áridas, assim como o estabelecimento de micro climas com base nas estufas e garantir a produção de hortícolas ao longo de todo o ano nos distritos com potencial e com acesso aos mercados.
Moçambique aposta
em infra-estruturas de qualidade
Moçambique pretende aproveitar a experiência do Japão na área de tecnologia para garantir a construção de infra-estruturas de qualidade e que respondam às necessidades do País a curto, médio e longo prazos.
Este objectivo foi manifestado pela vice-ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Joaquim Rebelo, que falava na passada terça-feira, na cidade de Maputo, durante a cerimónia de abertura da Conferência Público-Privada para Infra-Estruturas de Alta Qualidade, organizada em parceria com o Governo do Japão.
De acordo com Manuela Joaquim Rebelo, é importante que o País tenha infra-estruturas competitivas e eficientes pois, para além de estar a registar grandes investimentos, Moçambique deve responder às necessidades dos Países do Interland que usam as nossas ferrovias, rodovias, etc.
Foi a pensar nisso que “o Governo moçambicano aprovou, em 2009, a Estratégia para o Desenvolvimento Integrado do Sistema de Transportes, que preconiza, essencialmente, a construção de infra-estruturas para responder à demanda nacional e regional”.
Por seu turno, o Vice-Ministro da Terra, Infra-Estruturas, Transportes e Turismo do Japão, Takatoshi Nishiwaki, considera que Moçambique deve investir nas infra-estruturas pois só assim poderá manter o actual nível de crescimento económico, que se situa nos 7.5 por cento.
Segundo Takatoshi Nishiwaki, “o Japão está disponível para ajudar o País nesse sentido, sendo prova disso a vinda de representantes de diversas companhias japonesas ligadas à área das infra-estruturas, que poderão transmitir a sua experiência e tecnologia e, desse modo, contribuir para o desenvolvimento de Moçambique”.
Importa realçar que nesta conferência, o sector privado moçambicano esteve representado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que, através do seu Vice-Presidente, Rui Monteiro, considera que as actuais infra-estruturas que o País possui são insuficientes para satisfazer as necessidades básicas quer internas, quer da região.
Rui Monteiro referia-se a infra-estruturas tais como a rede eléctrica, estradas, ferrovias, fontes de água, saneamento, telecomunicações e rede de internet.
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