A derrota do chavismo sob a liderança de Nicolás Maduro, do partido Socialista da Venezuela nas últimas eleições parlamentares em Novembro passado, onde perdeu a maioria absoluta, está intimamente ligada à falta de capacidade do governo venezuelano: primeiro em satisfazer a apetência consumista dos venezuelanos,segundo por alheamento ao poder dos mercados,terceiro à queda do preço do petróleo, e quarto a subida do dólar americano.
E a incapacidade de saber lidar com a economia diluíu o seu eleitorado, sendo que a derrota está também associada ao fim do populismo, como um ritual, uma espécie de regime de endeusamento político caído em desuso, com o desaparecimento de Hugo Chavez.Quando me refiro ao culto, falo do ritual messiânico, que em tempos passados dominou o espectro político mundial, como pólo central catalisador do conhecimento absoluto, ao serviço de certa matriz política ideológica, existente apenas na Coreia do Norte.
Hugo Chaves enquanto viveu fez as delícias do seu povo, prometendo o que ninguém humanamente na Venezuela poderia dar, mas fazia-o com convicção, de que a Venezuela estaria já a viver o autêntico socialismo à latino América.
O petróleo é a maior riqueza da Venezuela, e responde por 90% de suas exportações, 50% de sua arrecadação federal em impostos, e 30% do seu PIB.A economia em 2012 chegou a crescer 5.6 por cento com Chavez,e o desemprego caiu de 49.4 para 27.7 por cento, dando a falsa sensação que o modelo de desenvolvimento socialista Bolivariano poderia expandir-se a toda a America Latina,puro engano.
O mundo mudou, e com ele a percepção de ver a política.Hugo Chaves teve um difícil relacionamento com os Estados Unidos.No contexto da América Latina, no tempo de Chavez houve um clima de fricção com a Venezuela, com Colômbia e Bolívia.Com o Brasil também houve problemas referentes à nacionalização de indústrias brasileiras, contudo sanado o diferendo, o Brasil tornou-se um aliado precioso, assim como a Argentina, a quem Chavez saldou parte da dívida externa.Entretanto a nível interno Chavez ordenou o encerramento de canais venezuelanos de televisão abertos, e também a cabo. Estabeleceu ainda um horário diário de pronunciamento em rádio e TV, que é obrigatóriamente transmitido em todo o país. Ainda no seu mandato Chaves mandou nacionalizar refinarias, companhias aéreas,refinarias americanas, espanholas e mexicanas, assim como venezuelanas.O país quase se fechou do mundo,tornando o regime autoritário, restringindo os direitos da população, e determinando a sua conduta.
Sendo verdade que o número de pobres diminuíu à custa de programas sociais, os encargos do estado aumentaram de forma assutadora.O salário mínimo chegou a dar um salto de US$ 47 em 1999 para US$ 371). Os beneficiários da saúde, habitação e programas sociais) passaram a receber uma ajuda média de US$100. Parte dos recursos obtidos com o petróleo foi distribuída por meio desses programas.
Tudo se pode controlar menos a economia, quando a conjuntura não ajuda.Efectivamente parecia tudo andar pelos carris, mas Nicolás Maduro que substitui Hugo Chavez, não tinha as mesmas armas e carisma de Chavez, nem podia viver de petróleo, cujo preço de centena de dólares desceu para os míseros 38 por barril.
Aprendemos que as revoluções têm o seu tempo, e duram o seu tempo.A nossa permitu-nos consolidar a independência nacional.
Numa era de mercado em que as marcas pagam tudo,Nicolas Maduro não podia criar a sua própria marca, nem impedir que as marcas tomassem conta do mercado, quando somos o alongamento desses mercados.A apontar erros de gestão económica à ingerência dos americanos,é desculpa esfarrapada.A verdade porém é que num mundo global não existem inimigos no campo da cooperação internacional, e quando Maduro prescindiu da cooperação com a maior economia do mundo, condenou a Venezuela a viver como numa ilha.As sanções americanas acabaram com o resto da resistência de Maduro, e dos seus.Maduro havia escolhido a via oposta de outros países da região, o confronto ideológico.
Uma economia não pode depender apenas de um só produto, como era o caso do petróleo, mesmo havendo parceiros económicos como a Russia e o Irão. A economia desses países também produtores de petróleo sofrem do mesmo efeito da queda do preço de petróleo, agravado das sanções económicas, impostas pelos Estados Unidos e seus parceiros. Diversificar a economia poderia ser a resposta adequada, e os países africanos particularmente devem aprender a lição.Temos gás natural, carvão, pedras preciosas e petróleo, mas se trabalharmos a agricultura, damos de comer à Africa inteira, e ainda dá para exportar o excedente.
A luta continua entre Nicolás Maduro e oposição, pelo controlo do poder judicial.A oposição vencedora das eleições legislativas, nomeou o presidente da Assembleia Nacional.E este que pertence à ala mais dura da oposição,tentou usar a maioria de dois para alterar a constitiuição, mas falhou na intenção.O objectivo seria destituir Nicolás Maduro do poder, alegando esbanjamento de fundos públicos, num processo impeachment, idêntico ao instaurado contra Dilma Rousseff,do Brasil.
As perspectivas económicas são sombrias.Segundo o FMI a Venezuela verá sua economia encolher mais do que a de qualquer outro país no mundo, neste ano porque os preços mais baixos do petróleo estão atrelados às receitas do governo.A projecção é de que a Venezuela irá enfrentar uma profunda recessão em 2016, disse o FMI na sua Perspectiva Económica Mundial, tal como o Brasil e a Argentina.
A consagração política do homem e dos países está associada à boa condução da sua economia.O mundo parece dizer que não necessita mais de políticos carismáticos, mas de políticas macroeconómicas pragmáticas.Os programas sociais criados por Chaves, e abraçados por Maduro, eram económicamente incomportáveis para os cofres vazios do estado venezuelano.E nem se tratava de colocar o socialismo na gaveta.
Tirando algumas excepções, as pessoa de hoje estão mais interessadas num bom emprego, que lhes garanta consumir do bem e do melhor para a família, do que distribuir panfletos, pintar murais, ou fazer barulho na rua.Em todo o mundo assiste-se paulatinamente ao aburguesamento da esquerda, tal como uma amiga espanhola recentemente confidenciou.Quanto a colar cartazes e comícios populares, continuam pratos fortes, apenas servidos aquando de eleições.
Num mundo em competição, o estado necessita de bons gestores de economia, tal como o sector privado,por uma questão de competição.Um bom gestor público ganha tanto ou mais do que no sector privado, além do mais com provas dadas no sector público, outras portas se abrem a nível de organizações internacionais.
Inácio Natividade
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