quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Fim de ano e novo ano, um pouco a mesma coisa?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Não se vislumbram mudanças para já.
E tudo porque se fabricam braços-de-ferro onde não há motivos e justificações de vulto. As questões patrimoniais continuam a ditar posições e decisões.
Moçambique anda a passo lento e regride a olhos vistos porque batalhões de políticos não se entendem em assuntos que ultrapassam o que trazem a público. Há muita “mentira em nome da verdade”.
Perdeu-se capacidade de visualizar o importante e de colocar as coisas no seu devido lugar. Estamos numa fábrica de verbos que nada têm a ver com a realidade do país.
Há um sentimento de que fortes interesses de grupos de pessoas se estão sobrepondo àquilo que seria, ou é, a verdadeira agenda nacional.
Não é que se esteja numa encruzilhada ou algo que pareça.
É tudo uma questão que está intrinsecamente ligada à existência, ou não, de liderança.
Passaram-se dez anos dizendo que estávamos no “mar alto” e que o desenvolvimento de Moçambique estava imparável. Havia uma fábrica de sonhos relacionados com descobertas e redescobertas de minerais.

O xadrez era jogado em função de cargos que controlavam os recursos minerais e naturais. O PR era o coordenador de uma máquina que assinava contratos de exploração, e isso era equiparado ao que normalmente se denomina “governação”.
Uma demagogia populista tomou as rédeas do país e com ela criou-se um ambiente para que a mediocridade triunfasse.
Onde o Estado deveria ir buscar receitas que financiassem áreas sociais e de infra-estruturas públicas, instalou-se um sistema que drenava fundos em nome da atracção de investimentos.
Compatriotas, a promiscuidade de que muitas vezes se fala é real e concreta.
Quando não se diferenciava coisa pública da privada e quando o braço económico-financeiro de um partido ganha proeminência à custa de sua relação com o Executivo governamental, perturba-se o mercado e ganha o nepotismo. Este modelo de economia de favores e através de favores enfraquece a economia e mina o ambiente político do país.
É preciso descobrir as causas da crise política naquilo que se faz na esfera económica. Há um fosso crescente entre os que tudo têm e os que quase não têm nada.
Políticos de proa e gente com um passado histórico muito importante estão sendo incapazes de emprestar a sua experiência e saber para abordar e resolver os problemas nacionais.
Cada vez que falam, dizem ou repetem o mesmo. Violência, embora de forma localizada, já eclodiu e promete regressar com outros contornos.
Numa política obtusa e realmente suja, esgrimem argumentos irrelevantes e incapazes de convencer os seus adversários, catalogados como inimigos, quando convém.
Política policial do passado possui o potencial de regressar com força e alento, pois com qualquer agudizar dos ânimos os detentores do poder vão decerto recorrer ao que antes se chamava “vigilância popular”.
Foi um 2014 sem honra nem glória, pois, de uma crise eminentemente política sem resolução atempada, entrou-se para uma crise financeira grave e com saída desconhecida.
Quando se pensava que os políticos em conflito possuíam poder real para resolver os problemas em mão, conhecidos, somos confrontados com uma realidade que indica que existem os que possuem o poder real e os que representam tal poder. Ser chamado PR não coincide nem significa possuir o poder executivo no presente caso.
Quando se substitui sensatez, responsabilidade política e governamental por verbos ocos, insensatos e reveladores de vontade de manter tudo na mesma.
Parece haver convergência sobre o que preservar, embora agora se registem diferenças quanto à forma de alcançar esse desejo. Um presidente honorário, um ex-presidente que agora não possui cargo oficial digladiam-se em surdina pretendendo que os seus pontos de vista pontifiquem. O actual PR parece ainda perdido e incapaz de ver o caminho a seguir. Ou será tudo uma questão de poder tutelado, como se diz em alguns quadrantes?
Ano velho e ano novo podem ser ocasiões para que os homens façam alguma coisa tendente a resolver problemas concretos que tenham.
Mas entre nós parece reinar a ideia de que uns são mais importantes e que o que digam deve ser lei ou instrução a seguir escrupulosamente.
Deve-se insistir e dizer aos interlocutores nacionais que não aceitamos que falhem, pois o que está em jogo é superior aos seus interesses de grupo. Queremos paz e queremos viver em paz. Não é a interpretação legalista de pretensos especialistas que deve colocar os moçambicanos reféns do que não querem.
Não há como negar que é teimosia injustificada que põe em perigo a paz. Quem estava habituado a impor sente-se “tremido” quando se aventa a possibilidade de passar a ser oposição. Compatriotas, “alguém” está complicando a nossa situação por razões sinistras. Mas ninguém tenha dúvidas de que as proclamações supostamente sábias de algumas pessoas são reflexo de interesses egocêntricos inqualificáveis.
O ano de 2016 está à porta, e nele os moçambicanos são chamados a repudiar a insensatez política e a pressionar os políticos para que sem mais demoras se assine ou se reassine um acordo político vinculativo de cumprimento obrigatório. Há que dar passos para a frente e não para atrás.
É responsabilidade de cada de um de nós tudo fazer para que a democracia efectiva triunfe. Basta de compra de votos, de adulteração de votos, de enchimento de urnas, de falcatruas, de abusos de poder e repressão politicamente motivada. Que 2016 seja aquele ano desejado, em que a concórdia volte a reinar, e que os complexos de superioridade sejam lançados para o caixote do lixo.
Queremos todos ser “empresários de sucesso” de forma competitiva e em campo nivelado.
Vamos deixar grandezas que não possuímos e que não correspondem à verdade…
Qualquer mudança significativa que tenhamos em 2016 só será por causa do que tenhamos feito como cidadãos deste Moçambique. Os nossos parceiros externos só estarão esperando e espreitando. Se falharmos, vamos ficar presas fáceis e baratas dos especuladores internacionais.
As desejadas fortunas não se concretizarão, e os que já as possuem podem estar cientes de que começarão a perdê-las. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 24.12.2015

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