quarta-feira, 26 de junho de 2013

Edward Snowden: um herói, um traidor ou um excêntrico? : Voz da Rússia

Edward Snowden, EUA, escândalo

Uma pessoa psicologicamente desequilibrada, um traidor ou um simples maluco? Ao ter publicado em uníssono uma porção de dados comprometedores dos serviços secretos norte-americanos proporcionados por Edward Snowden, a principal mídia ocidental logo a seguir começou, com a mesma unanimidade, a açoitar a imoralidade de seu comportamento e desmascarar as causas profundas deste. No entanto, os peritos sérios estão certos: este indivíduo, ao opor-se conscientemente e ainda com a cara descoberta aos serviços secretos, está demonstrando um extraordiário autodomínio.

 Edward Snowden rasgou o véu de sigilo que encerrava o sistema de espionagem organizado na Internet pelos EUA. O empregado, de 29 anos, da companhia Booz Allen a atuar sob a cobertura da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), divulgou a informação de que as atividades dos utilizadores das redes sociais, particularmente, Facebook, Google e Skype, são registradas e escutadas.
 Serviço similar é amavelmente concedido às agências especiais norte-americanas ainda por algumas operadoras de telefonia, em particular a companhia Verizon. Tornou-se público o fato de que na NSA não têm escrúpulos em escutar inclusive conversas de primeiros dignitários de outros Estados durante distintos fóruns e reuniões de cúpula.
 Os principais meios de comunicação americanos e europeus com muito gosto publicaram os documentos facilitados por Snowden, sem perderem a oportunidade de elevar suas tiragens e a popularidade. E ato contínuo, ao escutarem a seu respeito as palavras pouco agradáveis provenientes dos mesmos serviços secretos e da Casa Branca, procederam a elaborar o “retrato psicológico” do fugitivo (antes de publicar suas revelações, Snowden escondeu-se prudentemente em Hong Kong).
 Segundo a versão do New York Times, o futuro agente secreto ainda na adolescência demonstrava uma instabilidade psicológica. Foi expulso de vários colégios, sua comunicação com a mãe era esporádica e às vezes inclusive não respondia aos cumprimentos dos vizinhos. Segue-se a conclusão: Snowden é um traidor que não entende a importância da confiança recíproca na sociedade. “Ele traiu a privacidade de todos nós!” – exclama o autor do artigo, psicólogo David Brooks. Para ele, Snowden é um típico freak: solitário que parece ter moral e razão, mas carece de vínculos sociais adequados. Outros meios de comunicação foram ainda mais além e publicaram estórias de uma doença psiquiátrica do paciente.
 É pouco provável que essa sorte de conclusões tenha algo a ver com a realidade, acredita o senador russo Igor Morozov:
 "Esse passo, esse ato em si caracteriza Snowden como uma personalidade muito forte e psicologicamente estável. Agora está seguindo, eu acho, uma linha anteriormente planejada. Não foi puro acaso que ele optou por Hong Kong: penso que especialistas do WikiLeaks o ajudaram a programar uma rota de segurança para partir. Ele encontra-se em estado psicológico normal, como qualquer agente de inteligência que continua executando a seguinte fase da operação."
 Nem todo o indivíduo psicologicamente são e preparado é capaz de lidar com aquilo que Snowden está vivendo agora, ressalta o veterano da inteligência exterior Lev Korolkov:
 "É uma sobrecarga extraordinária. Nem todo o ser humano a poderia suportar. Ele já deu esse passo, portanto, já foi preparado para fazê-lo. A pessoa que se decidiu por um tal passo moral deve ficar absolutamente consciente do grau de responsabilidade. O outro assunto é que alguém lhe deve assegurar o encobrimento. Creio que em Hong Kong foram os serviços secretos da China que o encobriam."
 Não é de se estranhar como foram mudando as atitudes da mídia norte-americana em relação a Snowden. É uma réplica exata da história controversa do WikiLeaks. Os jornais tinham publicado com um mesmo entusiasmo as revelações de Julian Assange e mais tarde com um mesmo empenho o encharcavam com lama.
 No que diz respeito às acusações de Snowden de "trair os interesses nacionais", é um assunto de natureza moral, e não o tocamos agora. No entanto, o próprio protagonista chama de traidores exatamente os serviços secretos que atentaram contra a privacidade da vida pessoal.
 Quanto à estabilidade psicológica, o nosso fugitivo a demonstra de uma maneira mais que convincente, escondendo-se com êxito dos onipotentes serviços secretos. Hong Kong, Rússia, Cuba, Equador? Onde se encontra agora Snowden? A julgar por tudo, o desconhece não só o amplo público, mas também os que estão farejando a pista. De acordo com certas fontes, foi Julian Assange quem lhe aconselhou procurar asilo político em países latino-americanos.

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