Para “devorar” a imprensa independente e líder da Renamo
Presidência da República tem 2 milhões para pagar os articulistas do regime (#canalmoz)
Página web da Canalmoz vandalizada por detractores da verdade
Beira (Canalmoz) - Uma fonte bem posicionada dentro do regime da Frelimo assegurou ao Canalmoz que um fundo de dois milhões de dólares está à disposição dos analistas do sistema, também conhecidos por “alistados”, pouco ou mais de quarenta elementos escolhidos a dedo pela Presidência da República, que são pagos para lavar a imagem do presidente Armando Guebuza, afectada por desgaste político.
Os analistas desdobram-se em diferentes frentes, concretamente esmiuçando as teses da Renamo, ora em diálogo com o Governo. Todavia, o grupo opera no sentido de desvirtuar a atenção dos citadinos quanto à crise suscitada pela sua sucessão dentro da Frelimo e, ao mesmo tempo, minimiza o visível sentimento de infelicidade dos moçambicanos, expressão do mal-estar social e geral em relação à Frelimo que lidera o país há cerca de quarenta anos).
Entretanto, reagindo à questão de alocação de dois milhões de dólares para a desestabilização da mídia independente, o porta-voz da presidência da República, Edson Macuácua, foi lacónico ao afirmar ser “total e absolutamente falso”.
Vítimas até dentro da Frelimo
Os referidos fundos estão a ser usados não só para combater vozes alheias ao partido Frelimo, mas sim como aqueles que dentro da Frelimo têm assumido uma postura distante e contrária ao regime de Armando Guebuza, conforme avançam as nossas fontes. Dentro do partido Frelimo já foi alvo destes a Graça Machel, viúva do primeiro presidente de Moçambique que perante o secretário-geral das Nações Unidas afirmou recentemente que o país é hoje mais pobre do que antes. Ao nível da sociedade civil Alice Mabota é alva dos mesmos detractores.
O jornal Savana avançara que os alvos preferenciais a serem “devorados” são os semanários Canal de Moçambique e o “@ Verdade”, mas o apetite dos escribas do regime não deixa de fora a rádio da mediacoop, a quem apelidam de “Radio Mille Collines”.
Diálogo Governo/Renamo
A incidência dos analistas não só se faz sentir na imprensa escrita (“Notícias” e “Diário de Moçambique), na radiofónica e áudio-visual, como no facebook e outras redes sociais, onde os analistas do regime garantem uma viva presença de 24 horas para contrapor as vozes críticas ao regime, conduzindo diálogos ou participando deles, não os deixando progredir. É uma estratégia de bloqueio tendente a não deixar avançar a discussão.
Os analistas do sistema (que nada têm a ver com o nome a que se dá aos do sistema informático) têm como arma de arremesso o enaltecimento de Armando Guebuza, da esposa deste e da filha do mesmo, traçando um retrato impecável do presidente no que tange a sua política de “auto-estima” do povo moçambicano, numa transcendência recorrente na ilusão histórica do nacionalismo político e económico daquele dirigente.
A postura dos referidos analistas consiste na elaboração de análises corrosivas e que a título de lixívia desmontem as convicções sociais de que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, seja pela democracia e paz, evidenciando-se num canibalismo assente na desqualificação do mesmo e de todo o jornalista que dê ênfase às suas reivindicações, a partir de Sadjundjira. Os mesmos têm suporte teórico alicerçado no que qualificam a ida de Dhlakama a Sadjundjira como resultado da autodestruição deste e da “Perdiz”, não lhe poupando a humilhação e expondo-o à mediocridade. É nesta esteira que surge a queda em desgraça de Rogério Sitoe, por alegado desalinhamento editorial, num artigo que evidenciava as situações insólitas da Renamo, para desvirtuar o canibalismo frelimista que lhe levou a perca de certo conforto no seio popular.
Portanto, qualquer cidadão hoje, que dê enlevo e substância às reivindicações da Renamo, nomeadamente no que diz respeito à paridade, que a Frelimo usando da sua astúcia e do sentido de oportunidade as qualificou como válidas, claras, pertinentes e urgentes, é alvo de conotações por parte dos analistas do sistema. Mas a preocupação da Frelimo tem em vista a não permitir a recuperação da legitimidade e autoridade moral que Dhlakama tem ganho visivelmente, sabido que em Outubro de 2012 era muito baixa.
As vozes que dos analistas do sistema que tem vindo à luz estão na vanguarda quanto ao esvaziamento das pretensões da Renamo, reduzindo-as como fundadas em ameaças e chantagem belicistas. E qualquer opinião racional sobre a paridade é para ser “devorada” mesmo ao nível da liberdade de expressão, pelos listados mais aguerridos que desfilam no Grande Debate e Quinta à Noite, ambos programas da TVM. Qualquer manifestação de liberdade humana e de pensamento, qualquer manifestação de independência ideológica relativamente ao regime é catalogada como alvo do “canibalismo” das instituições poderosas como o partido Frelimo e da Presidência da República, que tendem cada vez mais a “devorar” e de forma impiedosa as vozes que se manifestam contra os fracassos das políticas de revolução verde, da jetrofa, da corrupção na aquisição de bens do Estado, onde as “holdings” de Guebuza “mamam” até a menor migalha.
A melindrosa sucessão de Guebuza
A sucessão de Guebuza é o busílis deste clima que se vive. Segundo apuramos, a crispação do regime em relação ao diálogo e à sucessão do presidente da Frelimo tem degenerado num crescente sentimento de infelicidade e mal-estar da sociedade moçambicana, bem assim no seio de certos sectores do “batuque e maçaroca” defraudados com as expectativas que criaram à volta daquele. Ao mesmo tempo, sabe-se que Armando Guebuza tem se desdobrado em acções em dois polos, jogando cartadas para controlar o partido e abafar as vozes internas incómodas. O cerne desta questão é o limite constitucional que impõe dois mandatos, contra as ambições de Guebuza de controlar o poder executivo nacional, depois de 2014.
A criação do polo do poder na dependência da presidência do partido Frelimo, onde ele é a instância máxima, para manejar e manietar as marionetes que ele já tem preparado e que garante estarão aos seus serviços depois da sua retirada não o deixa confortado. O sentimento geral da sociedade moçambicana é de desconforto em relação a este pressuposto, tido como fundado nas pretensões empresariais do presidente e no advento do petróleo e outros minérios que ele pretende garantir e ao mesmo tempo manter as suas receitas, para que os “holdings” e as “testas de ferro” sobrevivam à sua sucessão.
“Se a sucessão Chissano/Guebuza ocorreu com antecedência de dois anos, Guebuza tem estado a preparar a transmissão do testemunho de forma meticulosa, tendo em conta todos os detalhes que lhe garantam uma forte influência depois da sua retirada e que não reduza a uma figura cosmética como foi o caso do seu predecessor. Neste momento ele teme mais a oposição dentro do partido do que propriamente a oposição política nacional”, diz uma fonte bem posicionada no receio do partido Frelimo, explicando assim a razão porque no 10º Congresso de Pemba Guebuza pôs fora da Comissão Política e Comité Central figuras de referência, tidas como radicais, que ameaçam tomar o controlo do partido.
A preocupação das hostes da Frelimo na lavagem da imagem de Guebuza visa garantir certa idoneidade que Guebuza perdeu em certas esferas do partido nos últimos tempos, em parte devido ao isolamento a que ele promoveu contra as figuras carismáticas do partido que ele afastou das zonas de influência da Comissão Política e do Comité Central, conforme garantiu-nos a fonte, que pediu anonimato para não sofrer eventuais represálias.
“Estou a falar de veteranos de luta armada de libertação nacional, hoje em lutas intestinais para afastá-lo do controlo do partido Frelimo e reaverem as suas posições influentes. A estes não se excluem os desmobilizados liderados por Hermínio dos Santos, que foram repreendidos nos cerca de dez anos do mandato de Guebuza, e a estes juntam os antigos combatentes residentes da Zona Militar, que estão a ser afastados para dar lugar a um empreendimento da “princesa milionária”, como é tratada a filha do presidente Guebuza. Estes estão numa campanha contra Guebuza, o que por tabela desgasta politicamente a Frelimo, que perdeu muito da sua influência na cidade de Maputo, que pode cair nas mãos do MDM”, afirmou a nossa fonte, que deplorou o nervosismo do presidente, que agora empurra as culpas da sua impopularidade e do partido para os jornais independentes que mais o advertiram do seu nepotismo.
“Todavia, a crença da parte de Guebuza de que alguma imprensa é hostil à sua pessoa em muito tem que a ver com a ilusão produzida por laboratórios ideológicos do “partidão”, posição sustentada pelos analistas ao serviço do regime, que se tem exacerbado fundando no pressuposto de que a crítica resulta de manifestada inveja ao império que construiu debaixo do tecto da presidência da República, logo que as vozes a serem silenciadas são uma reminiscência de escribas anti-patriotas e com uma segunda nação”, afirmou a fonte que disse não ser um sentimento novo, porquanto dominou o pensamento do partido Frelimo em 1989, aquando da remissão então, pelos jornalistas da petição, intitulada “O Direito do Povo à Informação”.
“O presidente está em muitas frentes, e confronta-se com o factor de ter pouco tempo para resolver todos os assuntos que saíram às catadupas. Daí os seus conselheiros não o estão informado com seriedade de que não existe uma atitude deliberada para o ostracisar, mas é uma questão de uma sociedade que está em mutação, não é a mesma de 1975 nem de 1989. O perigo disso é que o seu núcleo mais restrito não colabora no sentido de aproximá-lo dos que ele tem por inimigos, o que cria um clima de revanche e rancor da parte do presidente”, afirmou o nosso depoente.
Do mal-estar geral da sociedade
“O mal-estar geral da sociedade moçambicana encontrou na crise Governo/Renamo o busílis, porquanto os últimos cinco anos de Guebuza têm sido marcados por desgaste do seu Executivo que não tem correspondido às expectativas, senão através de paliativos e promessas insatisfeitas como o combate à pobreza, que tem sido ineficaz e em vez de resultados há um crescente fosso entre ricos e pobres”, conforme adiantou a nossa fonte.
A todas as manifestações populares e de direitos políticos o regime respondeu com violência. Reina por isso uma crescente descrença em relação ao Estado, a quem os cidadãos transmitiram a sua soberania em troca de segurança. “Era aqui onde residia a esperança no Guebuza, que fosse verdadeiro implementador de um moderno Estado de Direito”, disse a fonte, que sem ter papas na língua frisou que, ironicamente, “ali onde o povo tinha mais esperança nele foi onde mais o desiludiu”.
De acordo com a fonte que temos vindo a citar, não se equacionou a desmilitarização da Renamo num contexto de abertura política, mas de crispação do diálogo com este partido antigo beligerante que nos últimos dez anos sofreu às mãos da máquina repressiva de Guebuza através da Força de Intervenção Rápida. “A repercussão destes factos teve eco nos órgãos independentes, enquanto os órgãos públicos foram instruídos a abafá-los. E não só, as manifestações de 1 e 3 de Setembro de 2010, que saldou em treze mortos e cem feridos, foi o epicentro da desilusão em relação à Guebuza, que depois foi decrescendo em cascata”, disse a fonte.
Aliás, os órgãos de comunicação públicos têm orientações para manter certa crispação em torno das baixas recorrentes nas forças de segurança governamentais. Os corifeus do regime, geralmente enfurecidos, não só são contrários a divulgação destes confrontos, como também fazem apologia de redundância de qualquer manifestação cidadã da Renamo, apodada, segundo a fonte, de partido “não nacionalista”, por contraposição ao MDM e Frelimo, “verdadeiramente nacionalistas”.
“Ora, qualquer cobertura que se faça ao partido “não nacionalista”, e mormente a relevância que se dá às suas hipotéticas operações de legítima defesa contra ataques da FIR e FADM será apodada pela corrente de analistas como manifesta má utilização da lei de imprensa que os jornalistas independentes desfrutam graças à Frelimo. Este é o sentimento dentro da Frelimo”, conforme esclareceu o nosso depoente, que afirmou que perante este cenário reina o ceptismo de que o legislador distraiu-se quando deu provimento à lei de imprensa em vigor no país e que se acautela a não permitir que se faça o mesmo com relação à lei de acesso à fonte. Esta posição textualiza com as afirmação de Armindo Ngunga, presidente do Conselho Superior de Comunicação Social, que afirmou uma aprovação da lei de acesso à fonte “será o mesmo que dar fogo a um maluco”.
“Em se tratando de um período de crise, devo recordar que o posicionamento deste grupo de analistas não foge a regra do ataque desferido em 30 de Julho de 1986 pelo falecido ministro de comércio interno Aranda da Silva, que qualificou sobre a existência de “infiltrados” nos média, a ponto de dizer que esta servia “objectivamente a contra-revolução”, numa altura em que esta levantava o véu sobre os maus serviços daquele sector, com a consequência da fome no país. Assim, uma postura objectivamente fora do controlo e do pensamento do Governo do dia é atribuída como servir ao inimigo. A atitude da Frelimo visa ter a imprensa ao seu serviço, e ter a mesma como seu instrumento para retratar hoje a natureza hipoteticamente criminosa e terrorista da Renamo”, explicou o nosso depoente.
Dos louros “esquecidos” sobre a lei de imprensa
O site ou página web da publicação do Canalmoz tem sido vítima de restrição movida por interesses da Frelimo. A correspondência que tem sido emitida sobre os confrontos entre a Frelimo e a Renamo em Muxúnguè não agrada nem os generais nem à direcção do topo do partido Frelimo. Basta lembrar a 25 de Junho passado o demitido chefe do Estado Major Macaringue a qualificar alguns jornais de agitadores.
Mas os tentáculos do partido Frelimo não visam apenas controlar a média independente, como também o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), que mantém um silêncio inglório nos últimos meses, face estas atitudes do partido Frelimo. Quando em Julho passado o jornalista Edwin Hounnou foi detido não se ouviu nenhuma reacção deste organismo. O mesmo silêncio se repetiu quando foi da “decapitação” de Rogério Sitoe. O silêncio do SNJ é interpretado como de quem pactua com a linha oficial, daí que alguns segmentos de opinião fazem apelos sobre a necessidade da criação de um sindicato de jornalistas mais distanciado do actual.
A Frelimo, através dos seus corifeus, tem chamado para si o mérito da presente lei de imprensa, mas o mentor dela foi o falecido jornalista Leite de Vasconcelos. Foi Vasconcelos e o seu núcleo duro (Carlos Cardoso, Albino Magaia, Fernando Lima e Ricardo Rangel) que em 1989 redigiram a referida petição intitulada “O Direito do Povo à Informação” que apanhou em contrapé a direcção do partido Frelimo, o então Ministério de Informação e a Organização Nacional de Jornalistas (ONJ). Numa altura em que se discutia a nova Constituição do país, não fosse esse jeito inusitado e sem precedente o povo continuaria vedado ao Direito à Informação.
Ainda hoje a falta de vontade política da parte da Frelimo constitui o “calcanhar de Aquiles” no concernente ao acesso às fontes oficiais, cuja proposta de lei foi reprovada pela bancada maioritária no parlamento. Os órgãos públicos sofrem interferências nas decisões editoriais e os mesmos não estão isentos de pressão que descamba em auto-censura dos responsáveis editoriais e dos jornalistas.
O objectivo desta limitação é de criar “zonas tabu da nossa realidade”, radicando numa omissão deliberada dos acontecimentos, enquanto aqueles que posicionam como comprometidos com “O Direito do Povo à Informação” são tratados por agitadores e desligados da realidade nacional. Daí, os analistas, o Governo e o partido Frelimo passam à acção, desvalorizando os factos e interpretando-os como mera distorção da realidade.
“Da mesma forma que o grupo de analistas hoje afirma que a agitação nos média é promovida por expatriados e jornalistas que têm uma segunda pátria, no passado a tentativa de impor a necessidade da lei de imprensa foi considerada como uma conspiração dos “brancos”. Todavia, Salomão Moyana é também um dos jornalistas que manifestou com certa persistência sobre a necessidade do regime jurídico da imprensa que hoje vigora”, disse a referida fonte do partido Frelimo que afirma-se bastante perplexa com estes sinais de regresso ao passado.
“Em suma, devo dizer que a presente lei de imprensa, cujo mérito os paladinos da verdade atribuem à Frelimo, deveu-se a uma imposição cuidadosamente pensada dos profissionais que colocaram o anterior presidente, Joaquim Chissano, perante uma barragem intransponível, esvaziando toda e qualquer tentativa de desacreditação da petição”, rematou a fonte. (Adelino Timóteo)
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