quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A Democracia em Chamas

 

A Democracia em Chamas

por Paulo Guilherme *

2.5 mil milhões de meticais era o valor do contrato de marcação de combustíveis posto a concurso pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) de Moçambique. Aproximadamente, 35 milhões de dólares. O suficiente para gerar uma intensa disputa entre elites políticas próximas da FRELIMO, nas últimas semanas. Como, aliás, é habitual em contratos e concessões semelhantes. O tráfico de influências em torno do concurso foi enorme, gerando suspeitas sobre a adjudicação. A história foi contada na última edição do semanário Canal de Moçambique e o MIREME foi obrigado a anular o concurso. A democracia a funcionar.

Quatro dias depois, o "Canal" estava a arder: desconhecidos incendiaram as suas instalações. Por volta das 20:00 de domingo, as instalações foram arrombadas, o material informático queimado e, aparentemente, uma bomba artesanal foi detonada. A democracia a arder.

O "Canal" é dos jornais mais críticos em relação ao Governo da FRELIMO. Responsáveis da FRELIMO gostam até de desvalorizar o jornal como um meio da oposição. Muitas têm sido as denúncias de casos de nepotismo e corrupção feitas pelo "Canal". Tantas que, apesar da coincidência do incêndio com a publicação da denúncia sobre o concurso dos combustíveis, a lista de autores potenciais do crime é vasta.

Na verdade, este não é um caso isolado, nem deve ser tratado como tal. Carlos Cardoso, o corajoso jornalista de investigação, foi assassinado em 2000. Nos meses anteriores ao seu assassínio, Carlos Cardoso havia publicado notícias sobre o desaparecimento, em 1996, de 14 milhões de dólares em subsídios para a privatização do Banco Comercial de Moçambique (BCM). Cardoso continua, aliás, a ser uma referência nas redacções moçambicanas.

E a ameaça nunca deixou de pairar. Nos últimos anos, Moçambique tem assistido a uma vaga de violência mortal contra sectores independentes e críticos dos Governos Guebuza e Nyusi. E críticos dos serviços secretos, o SISE. Desde o assassinato de Gilles Cistac em 2015, ao baleamento de José Jaime Macuane, no ano seguinte. Em 2019, foi Anastácio Matavel, líder de um grupo de observação eleitoral, a pagar com a vida o preço da luta pela democracia. São casos atribuídos aos "esquadrões da morte", a que temos vindo a dar atenção no Africa Monitor Intelligence, há vários anos.

Em comum, o "Canal", Cistac, Macuane, Matavel e outros têm uma coisa: ousaram denunciar o controlo do aparelho do Estado - e dos negócios do Estado - pela FRELIMO e pela elite política.

Seria seguramente injusto responsabilizar a FRELIMO no seu todo por estes crimes. Mas será ao Governo, à procuradoria e à polícia criminal que compete esclarecer cabalmente os casos e colocar os mandantes - não apenas os autores materiais - perante a Justiça. Algo que não tem feito, talvez porque os mandantes são pesos-pesados do regime. Inimputáveis. E é no seio do partido-Estado - mais concretamente, em meios dos serviços de informações - que se alojam aqueles que têm dificuldade em conviver com a democracia e a crítica: Provavelmente nalguma reminiscência dos tempos do partido único.

* Editor do África Monitor Intelligence

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Yorumlar
  • Pedro Levy Levy Este é que é o Moçambique real.
  • Alexandre Jorge Mano Caro Joao Cabrita o seu discurso é sempre o mesmo., acho incrível. Resumes o trabalho de uma nação toda ao acto de uns inergumenos. Tens de mudar. Nunca lhe vi a dar boas noticias do pais? Enfim
    30 Yanıtı Gizle
    • Joao Cabrita Alexandre Jorge Mano, não é obrigado a ler. Se não gosta, paciência. Há quem goste, a julgar pelos "likes".

      Mas o presente texto até nem é meu, caso o Alexandre J Mano tenha lido apressadamente. Gostei do texto, por isso transcrevi-o. A ilustração é m
      inha. Infelizmente, um pouco desfocada.

      Sou, juntamente com o Fernando Veloso, sócio da empresa que publica os dois jornais. Se acha que devia aplaudir o ataque terrorista, lamento informar, mas está no local errado.

      O direito a uma opinião e de expressá-lá livremente e sem pedir licença a ninguém, é uma tara minha, que julgo ter apanhado em miúdo quando, por mera casualidade, li um livro que, como apêndice, trazia um documento interessante, que me fascinou e hoje consigo citar de cor e salteado, sentido um enorme prazer em reproduzir partes do mesmo sempre que pela frente deparo com tiranos, políticos vigaristas, carrascos e verdugos, engravatados ou de farda, que têm o péssimo hábito de falar em meu nome e no de milhões de concidadãos, sem que lhes tivéssemos passado procuração.

      P. S. O documento a que me referi é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não posso assegurar se quem o redigiu também sofria de qualquer tara.
    • Alexandre Jorge Mano Joao Cabrita como disse o seu discurso é sempre o mesmo. Como é óbvio sou totalmente contra e abomino o que se passou. Mas a sua narrativa é sempre a mesma,atacar a frelimo e o governo. Todos nós somos contra o que se passou,alias já deixei isso claro. Só mesmo o João para achar que eu aplaudo tal acto bárbaro. Quanto aos likes não faço comentários. Já agora não sabia que era sócio, nessa condição desejo que recuperem o mais rápido possível e muita força.
    • Fernando Veloso Alexandre Jorge Mano deve estar a "comer" com eles, não? Parece...
    • Alexandre Jorge Mano Fernando Veloso com todo o respeito isso não admito. Não me conhece e não tem o direito disso. Quer dizer que não estar de acordo com o João Joao Cabrita é estar a comer com eles. É o que digo essa narrativa não ajuda. Não acho que fique bem dizer isso.
    • Fernando Veloso Alexandre Jorge Mano "perguntar não ofende"...
    • Alexandre Jorge Mano Fernando Veloso com todo o respeito que tenho por si e pelo seu jornal ofende, estou convosco nesta hora difícil. Pois todos nós lutamos e acreditamos num Moçambique cada vez melhor. Mas não pode Dizer isso. Dá mesma forma que dizem e acredito que querDaha Fazlasını Gör
    • Linette Olofsson Alexandre Jorge Mano o quê que de boas noticias temos, senão a realidade que vivemos e bem descrita pelo João ? O que de bom temos é a nossa terra, a nossa gente, o resto? A desgraça que vivemos.
    • Alexandre Jorge Mano Linette Olofsson temos muitas boas notícias como bem sabe, ainda ontem uma. Agência internacional reconheceu o esforço e empenho do governo na economia somos os únicos na África Austral. Outra boa notícia reconhecida pela OMS a forma como estamos a lutar contra esta pandemia. O trabalho do governo em áreas como a agricultura, promoção da. Cultura, programas económicos. A forma como as FDS estão a lutar contra os insurgentes apesar de todos os problemas e outras mais. Moçambique é muito mais que o João Cabrita disse.
    • Alexandre Jorge Mano Linette Olofsson Mas que temos problemas temos, mas não é com essa narrativa que se resolvem. A minha opinião
    • Linette Olofsson É incrivel duvidar de tudo que o João Cabrita descreve.....
    • Linette Olofsson Quem com ferro mata, com ferro morre. A justiça Divina pode demorar a chegar, mas ela chega. Acredito e tenho fé que é justiça Divina é mais poderosa que a justica dos homens. A justiça neste País é conivente com regime autoritário e esquizofrênico . Muitos assassinatos ainda estão por serem desvendados ...entretanto outros, como exemplo do criador de frangos..
      Nem 1 ano levou. Deus é grande !
    • Alexandre Jorge Mano Linette Olofsson sabe com esse tipo de discurso a linette fica tão esquizofrenia...que não tenho resposta. Eu sou contra o radicalismo seja do que for e neste caso, com o seu post fica claro que não vale a pena falar mais.
    • Armando Cuna Alexandre Jorge Mano eu gosto tanto de ler o que pessoas tao sabias e informadas como o Joao Cabrita produzem que nao percebo a que proposito pode vir este teu comentario.
    • Shandy Tsinine Estimo imenso a lucidez de Joao Cabrita.
    • Alexandre Jorge Mano Armando Cuna o meu comentário é o meu ponto de vista, apenas isso. Respeito o João como é óbvio, mas tenho uma opinião/visão do nosso país.
    • Alexandre Jorge Mano Shandy Tsinine também apenas penso diferente.
    • Alexandre Jorge Mano "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Evelyn Hall
    • Shandy Tsinine Alexandre Jorge Mano, realmente mas, há uma flagrante intenção de repreender e maniatar a liberdade do pensar de outrem.
    • Valdemar Usta Shandy Tsinine faço das suas palavras as minhas.
    • José Maurício Alexandre Jorge Mano , na minha opinião o Sr, não tem uma noção do Moçambique real.
    • Nhamazana Paia Alexandre Jorge Mano que é membro da FRELIMO não nega?
    • Alexandre Jorge Mano José Maurício respeito a sua opinião. Mas considero que tenho tenho-a uma noção real de moçambique
    • Alexandre Jorge Mano Nhamazana Paia não, não nego. Sou membro sim.
    • Angela Maria Serras Pires Alexandre Jorge Mano olhe que temos toda a informação é este regime está há 45 anos a cometer barbaridades por isso se calhar não sabe bem em que águas navega
    • Angela Maria Serras Pires Alexandre Jorge Mano então é cúmplice dos bilionários a custa do sangue do povo
    • Alexandre Jorge Mano Angela Maria Serras Pires sabe Angela esse tipo de discurso não leva o país a lado nenhum e com todo o respeito a senhora não me conhece e não admito que faça esse tipo de comentários.
    • Alexandre Jorge Mano Angela Maria Serras Pires não cúmplice de ninguém. A senhora não me conhece e não pode dizer isso.
    • Angela Maria Serras Pires Alexandre Jorge Mano posso sim provar que a frelimo rouba e destrói há 45 anos e quem é conivente também é culpado , se quiser vamos a justiça e levo todos os dossiers
    • Alexandre Jorge Mano Angela Maria Serras Pires assim não é possível, com o devido respeito. Quando quiser ter uma conversa sem agressões desde tipo estou disponível assim não faz sentido. Tenha uma boa quarta feira.
    Yanıt yaz...

  • Benedito Marime Lido tudo quanto antecede, uma achega a Alexandre Jorge Mano: tem o Alexandre pleno direito a pensar e a expressar-se como o fez, nesta refrega, tal como o Cabrita e outros também o têm de o fazer, de modo diferente do seu. Apenas um reparo: o Cabrita, a lInette e outros, entre os quais me incluo, quando expressam o que pensam, assumem-no. Porquê, então, Alexandre Jorge Mano, se acobarda, não assumindo, frontalmente, que apoia o status quo nacional de implantação e fortalecimento do fascismo - com os seus princípios, métodos e práticas -, ao abrigo do qual tem sido possível a reedição de cenários que nós, os jovens de há 50 e mais anos para trás, julgávamos impossíveis de voltar a ver no solo moçambicano, pois contra eles havíamos lutado, cada um a seu modo, em maior ou menor grau?! Assuma-se aderente (militante ou simpatizante) neo-fascista e aí, respeitando-lhe nós o direito a essa opção - contra ela ensaiaremos lutar, com o pouco de forças que ainda nos restam, a bem dos nossos netos e bisnetos, sobre cujos ombros recairá o Moçambique de amanhã, que já não veremos, mas ardentemente desejamos muito diferente do actual, para bem melhor, sob todos os pontos de vista.
  • John Wetela Heenn?
  • Mickey Rebelo Dos Santos 😱 un dia a chuva vai chegar e apagará as chamas
  • Maria Fernanda Cabrita Wamumenha maningui.
  • Angela Maria Serras Pires Organizar torneios de golfe para os pais dos sócios das boladas , a filha do boss dos frelos e o filho da manacage que ele elegeu para o CC, já entenderam Joao Cabrita , Fernando Veloso e Linette Olofsson ? Tudo boladas de tugas

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