Na tarde de terça-feira supostos hackers foram presos pela Polícia Federal em São Paulo e Araraquara. Grande parte das notícias já publicadas na imprensa se limitaram a reproduzir informações vazadas de fontes da PF.
O Intercept não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas. O sigilo de fonte é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988.
A tentativa de ligar supostos hackers ao nosso trabalho é mais um entre tantos ataques desde que começamos a publicar a série "As mensagens secretas da Lava Jato". Nós alertamos em editorial publicado em 15 de julho que esta era a estratégia do ex-juiz Moro e dos membros da força-tarefa diante da abundância de provas da autenticidade do material obtido pelo Intercept. Dizia o editorial:
Diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto “hacker”, que hipoteticamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a “confessar” ter enviado o material ao Intercept e o adulterado.
Moro e seus aliados querem abafar as revelações da #VazaJato, desviar o foco da sociedade e deslegitimar o jornalismo sério e contundente. É por conta dessa estratégia injusta e falsa, que tem como objetivo parar nosso trabalho, que eu estou escrevendo para você.
Desde a primeira reportagem publicada foram muitas as tentativas de criminalizar o que fazemos. Promotores foram a público pedir a prisão dos profissionais que trabalham com o material da #VazaJato, disseminou-se a informação de que esses profissionais seriam alvo de investigações ilegais. Eles mentiram — e foram desmentidos inúmeras vezes — sobre a veracidade do material.
Ontem, Moro, apesar de o inquérito da Polícia Federal estar em andamento, precipitou-se e publicou no Twitter que os supostos hackers presos seriam a nossa fonte — uma declaração que foi contrariada por um delegado graduado da PF para nosso colega Rafael Moro Martins, em Brasília. Além disso, alguémpassou o dia inteiro vazando informação para O Antagonista, que publicou tudo com alegria e sem qualquer questionamento. Tempos estranhos esses em que um ministro da Justiça comenta sobre investigações em andamento, investigações nas quais, aliás, ele tem interesse direto.
A deputada Joice Hasselmann, por sua vez, não teve pudor ao atacar Glenn Greenwald e insinuar que algo aconteceria com um jornalista que exerce seu direito de noticiar livremente. O mesmo foi feito pelo deputado Filipe Barros que foi a público pedir apreensão do passaporte de Glenn e sua família.
As condutas de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e da força-tarefa demonstrada nas reportagens da #VazaJato são indefensáveis. E com essa afirmação concordam diversos analistas independentes, juristas, jornalistas e (ex-) apoiadores da Lava Jato. Constatada a inegável autenticidade do material e a gravidade do que foi revelado não restou outra estratégia aos envolvidos: decidiram afirmar que somos “aliados de criminosos” e criminalizar o ato de noticiar. Seu exército de bots nas redes sociais tratou de disseminar essa mentira (e nos perseguir).
Enganar os cidadãos, desviar o foco do debate público que realmente interessa (os abusos cometidos pela operação Lava Jato) e atacar jornalistas são golpes baixos com implicações sérias. Os ataques contra a #VazaJato, na realidade, não têm apenas o Intercept como alvo. Mas toda a imprensa autônoma e aqueles que prezam pela democracia.
Nós continuaremos fazendo exatamente o que essa galera mais teme: exercendo nosso trabalho com o rigor jornalístico que sempre pautou nossa redação. Ele é instrumento essencial em qualquer democracia e só existe com independência, coragem e transparência. Suas táticas de intimidação não vão abafar a verdade.
Esta luta será longa e eu espero, sinceramente, não deixar de contar com seu apoio. Atualmente temos mais de 10,300 pessoas corajosas ao nosso lado, gente que contribui mensalmente com o que pode para fortalecer o trabalho do Intercept e garantir que as reportagens não parem.
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