A unidade de análise da agência de informação financeira Bloomberg considera que a economia de Angola vai cair para quinto lugar das maiores economias da África subsaariana, sendo ultrapassada pelo Quénia e Etiópia até 2022. Lá vai o Presidente João Lourenço ter de alargar o âmbito das operações “Resgate” e “Transparência” ou, talvez, lançar uma nova iniciativa do tipo “Operação Competência”…
“A economia de Angola emergiu da recessão no último trimestre do ano passado, mas vai-se debater para evitar outro abrandamento económico este ano devido ao declínio da produção de petróleo”, escreveu o analista Mark Bohlund, considerando que “é provável que escorregue dois lugares na lista das maiores economias da África subsaariana nos próximos dois anos, atrás do Quénia e Etiópia.
Na base desta previsão está a desvalorização que a Bloomberg diz que vai continuar a existir em Angola: “Ao contrário dos seus pares, como o Gana, esperamos que as autoridades deixem o kwanza depreciar-se ainda mais, num esforço para equilibrar a balança corrente e devido às baixas receitas petrolíferas”.
A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) deixa implícito um valor de 336 kwanzas para cada dólar este ano, o que compara com a previsão de 314 kwanzas por dólar em Outubro, explica Mark Bohlund, concluindo que “em conjunto com uma revisão em baixa de 11% ao Produto Interno Bruto nominal em moeda local, isto significa que o FMI espera agora que Angola seja ultrapassada pelo Quénia como a segunda maior economia da África subsaariana este ano”.
No último trimestre do ano passado, “o PIB real subiu 2,2% face ao último trimestre de 2017, recuperando de quedas de 5,1% e 1,6% no segundo e terceiro trimestre, respectivamente”, acrescenta o economista da unidade de análise da Bloomberg.
“O ajustamento sazonal face aos dados oficiais mostra uma expansão de 1,7% nos últimos três meses do ano passado face ao trimestre entre Julho e Setembro, com o petróleo a recuperar e a actividade não petrolífera a expandir-se”, acrescenta o economista na nota divulgada pela Bloomberg.
O sector dos hidrocarbonetos dará uma ajuda à recuperação económica, mas Mark Bohlund avisa que “Angola ainda vai debater-se para sair da recessão” e admite que a perspectiva de evolução “vai contra a tese do Fundo Monetário Internacional, que prevê um crescimento de 0,4%, face aos 3,1% previstos em Outubro e a média de 2,3% prevista pelos inquéritos da Bloomberg.
A consultora Bloomberg Intelligence (uma espécie de marimbondo que de vez em quando teima em azucrinar o superior qualidade governativa da equipa de João Lourenço/MPLA) já no dia 12 de Dezembro de 2018 alertava hoje que novas desvalorizações do kwanza, no seguimento do acordo com o FMI podiam fazer com que Angola tombasse para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana, sendo ultrapassada pelo Quénia e Etiópia.
Mal sabia a consultora que, nessa altura, estava já a ser escolhida uma comissão técnica e multissectorial para encontrar matéria de facto que justifique que o Presidente emita um Decreto para a sua… exoneração.
“O Fundo elenca a flexibilidade da taxa de câmbio para recuperar competitividade como um pilar crítico do programa; uma desvalorização adicional do kwanza deve fazer com que Angola escorregue para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana”, escreveram os analistas da Bloomberg Intelligence.
A Nigéria e a África do Sul lideram a lista das maiores economias apontadas pelo FMI nas Previsões Económicas Mundiais de Outubro, seguido de Angola, Quénia e Etiópia, sendo que estes dois últimos ultrapassariam Angola na lista se as desvalorizações do kwanza continuarem, segundo a Bloomberg Intelligence.
Sobre a redução do valor do programa do FMI, várias vezes apontado pelo Executivo (4,5 mil milhões de dólares) para 3,7 mil milhões de euros, esta consultora dizia que este valor “deve ajudar a redimensionar a sua economia para uma produção de petróleo mais baixa”.
No princípio de Dezembro de 2018, o administrador do Banco Nacional de Angola, Pedro Castro e Silva, garantiu que a pressão sobre as divisas em Angola “terminou”, após as medidas que geraram uma maior previsibilidade no mercado cambial e de uma melhor comunicação com os bancos comerciais.
O facto de, desde Janeiro de 2018, o kwanza ter-se depreciado significativamente estava previsto no âmbito do Programa de Estabilidade Macroeconómica (PAM), que passou por uma maior liberalização da taxa de câmbio.
“Esta tarefa está cumprida e já não temos mais nenhum ajustamento a fazer”, sublinhou Castro e Silva, para justificar a relativa estabilidade da moeda angolana nas últimas semanas.
Castro e Silva disse acreditar que, nos próximos tempos, a tendência será a de Angola entrar numa fase em que a moeda nacional “vai assumir comportamentos como se vêem nas outras moedas”, com movimentos de depreciação, quando a procura for maior que a oferta, e de apreciação, quando suceder o contrário.
Previsões à medida de quem encomenda
As Nações Unidas reviram em baixa a previsão de crescimento de Angola para 2018, de 2,7% para 2%, devido à dependência da economia do petróleo, cuja subida de preço não deverá compensar a descida da produção. Ou seja, tudo como dantes. Falta apenas levar em conta a versão do MPLA/Estado que, como habitualmente, vai apresentar números mais aliciantes.
“O Produto Interno Bruto (PIB) de 2018 em Angola foi revisto em baixa para 2% no relatório sobre a Situação Económica Mundial, comparando com 2,7% anteriormente, no seguimento de vários dados recentes incluindo o facto de que o PIB em 2017 cresceu apenas 1%”, explicou uma analista de assuntos económicos com o pelouro de África nas Nações Unidas.
A explicação é, aliás, sempre a mesma. O desempenho da economia angolana “continua bastante dependente das exportações de petróleo que, por sua vez, dependem do preço internacional e volume de produção no país”, vincou Helena Afonso, notando que “apesar do país estar a beneficiar de um aumento moderado no preço, a produção continua a diminuir e, com ela, a escassez de moeda estrangeira, a qual prejudica o sector das importações”.
Para esta economista responsável pelo acompanhamento das economias africanas nas Nações Unidas, “a rápida desvalorização do kwanza no final de 2017 continuou em 2018 contribuiu para o elevado nível de inflação”, sendo que “o influxo de migrantes da República Democrática do Congo constitui um desafio acrescido para o país”.
No entanto, admitiu, “uma continuação da subida do preço do petróleo poderia suscitar uma revisão em alta do crescimento nas nossas próximas previsões” sobre Angola, país que é responsável por 3,3% das exportações de crude no mundo e é o segundo maior exportador de petróleo em África.
Quanto ao continente, as economias africanas cresceram em média 3,6% em 2018 e devem acelerar ligeiramente para 3,9% em 2019, de acordo com o mesmo relatório das Nações Unidas.
Entre as principais tarefas urgentes para a generalidade dos países africanos está “aumentar o potencial de crescimento do médio prazo”, disse Helena Afonso, acrescentando que “urge também atender às vulnerabilidades que se estão a formar em muitos países, sobretudo no que se refere à dívida pública, e atender às várias crises humanitárias no continente”.
A dívida pública nos países africanos tem subido de forma significativa nos últimos anos, tendo atingido, em média, um rácio de 50% face ao PIB, o que é considerado demasiado elevado face às necessidades de despesas de investimentos em infra-estrutura na generalidade destes países.
Folha 8 com Lusa
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