EDITORIAL
Durante todo o ano de 2016 e em 2015, quando se verificou que o novo ciclo de governação era desprovido de qualquer ideia, não se lhe conhecendo qualquer iniciativa de governação ou marca de introdução do tal novo ciclo, foi lançada, a título de justificativa, uma conversa avulsa segundo a qual o novo timoneiro não estava a implementar as suas ideias simplesmente porque estava a ser bloqueado pelos resquícios da administração anterior, que ainda se faziam sentir.
Logo cedo, desconstruímos e desmentimos essa narrativa, porque, na nossa modesta opinião, e perante as evidências que sempre estiveram disponíveis, a justificação de bloqueio, para além de ser um instrumento de disfarce de incompetência, era um expediente fraudulento a tentar indicar que o actual grupo não se revê no grupo anterior, o que, em si, é uma grande mentira, porque o grupo actual foi rigorosamente seleccionado pelo grupo anterior como entidade capaz de dar seguimento às acções daqueles.
E porque o tempo é suficientemente paciente, também foi contribuindo, à sua maneira, para que os bloqueios imaginários saíssem do caminho. Desde Março de 2015 que Armando Guebuza, o suposto e imaginário bloqueador, não é presidente do partido Frelimo, e, desde então, não há registo de que as tais ideias que eram bloqueadas tenham florescido. Zero! Não se conhece nenhuma ideia, se não a ideia de que há, de facto, um deserto de ideias.
E tentou-se introduzir uma nova conversa segundo a qual as tais ideias bloqueadas não podiam fluir agora, mesmo com a queda do empecilho, porque o país está agora bloqueado pelos parceiros internacionais do apoio programático, os que financiam o Orçamento do Estado, os chamados “doadores”.
Os doadores, por sua vez, fizeram um roteiro claro e curto para a retomada da ajuda financeira: a investigação séria ao escândalo das dívidas ocultas e ilegais e a responsabilização exemplar dos seus autores. Até aqui, não se conhece nenhuma acção do Estado moçambicano para a responsabilização dos autores da dívida.
O que se viu até aqui foi uma Procuradoria-Geral da República a agir a contragosto e às ordens dos estrangeiros, que, curiosamente, estão mais interessados no esclarecimento do paradeiro do dinheiro do povo moçambicano do que propriamente o nosso Ministério Público.
E o resultado está aí disponível à vista de todos: institucionalizou-se um refrão presidencial “vamos deixar a Justiça fazer o seu trabalho”, quando, na verdade, sabemos todos que a mesma Justiça foi costurada para nunca fazer o seu trabalho, e tratou-se de arranjar rapazes e raparigas de recados que pudessem levar a cabo e com sucesso a agenda de “inutilidade pública”.
Fica claro que o país está parado não porque existem bloqueios.
Todos os caminhos estão limpos para o país voltar à normalidade e o Estado moçambicano recuperar a credibilidade junto dos doadores, e os processos seguirem o seu curso normal. O que falta ao senhor Filipe Nyusi para dirigir o país? Quem é que está agora a bloquear o país? O que justifica que, em dois anos após a tomada de posse, se passe a vida apenas em discursos da carochinha, puramente de treta, com quantidade zero no campo de acções concretas?
O que nos parece, a nós, é que o único bloqueio que os moçambicanos estão a enfrentar, agora, é só um e está bem identificado, e é preciso equacionar removê-lo, para que o país não continue estagnado.
O bloqueio chama-se Filipe Nyusi. É a única entidade que tem todos os meios ao seu dispor para que o país funcione, mas prefere gastar mais tempo a inventar histórias com discursos adocicados, para esconder a sua inacção. O senhor Nyusi sofre de um problema sobre o qual, provavelmente, as pessoas que o rodeiam têm receio de o informar, ou talvez partilhem também da mesma patologia. Tem um nome, aquilo que o senhor tem: chama-se “incompetência”.
E é preciso realçar aqui um aspecto. Uma coisa é ser incompetente porque faz mal o seu papel. Outra coisa é ser incompetente porque simplesmente não sabe o que fazer. Esta última parece ser a mais grave das situações e, para nosso azar, é o caso de Moçambique e da sua Direcção.
Um incompetente é um exímio contador de desculpas. Um incompetente tem sempre nos outros a justificação do seu fracasso. Primeiro foi Guebuza o culpado, hoje o culpado são os doadores e, pelos vistos, nunca será quem está neste momento no poder. Isto é uma narrativa científica para a demonstração da manifestação da incompetência.
Vamos a caminho do terceiro ano, e não está a acontecer nada neste país. Há um verdadeiro vazio de ideias, e o que mais assusta é que estão todos convencidos de que estão mesmo a governar. Tomamos a liberdade de vos informar que não estão a fazer absolutamente nada, e essa agenda cheia de nada está a empurrar o povo para o desespero.
A economia doméstica do povo está estrangulada com a inflação, os verdadeiros empresários pararam de operar e empurraram a sua força de produção para o desemprego, porque não há certeza de nada. E não há quem invista na incerteza. E todos aqueles empresários que se aperceberam de que isto não passa de um circo governamental estão a equacionar outras latitudes e a pensar em tirar o seu dinheiro da economia.
E a lógica que sustenta esse vazio total de ideias encontra forma nas mexidas governamentais sem sentido que vão sendo feitas, típico mesmo de quem está a apalpar e entregou o seu destino à obra do acaso. As últimas indicações governamentais transportam consigo a mensagem do vazio que nos (des)governa. A coisa chegou a tal ponto que não nos vamos admirar quando a selecção dos governantes começar a ser feita por rifa, nas praças e mercados, do tipo “quem quer ser dirigente levanta a mão”.
Para já, está claro um critério: para ser dirigente, neste novo ciclo, basta ser maior de idade e gostar de aventuras interessantes. Não precisa de ter ideias e não precisa nem de ser tímido, desde que seja movido por um espírito interior de tentador, para se compatibilizar com o chefe. De resto, é só meter uma conversa de que alguém o está a bloquear. Os moçambicanos, compreensíveis que são, vão entender.
(Canalmoz / Canal de Moçambique)
CANALMOZ – 04.12.2017
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