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Escrito por Adérito Caldeira em 02 Outubro 2017 |
Sofia Mussá reside num dos muitos povoados dispersos pela província de Nampula, há dois anos concluiu a 5ª classe, com boas notas, contudo para fazer o 2º ciclo primário tem de percorrer pelo menos 100 quilómetros por uma estrada de areal onde não circula nenhum tipo de transporte de passageiros. O caminho pode ser encurtado em cerca de metade, pelos carreiros que cortam o cerrado mato, mas para uma menina que se está a tornar mulher esses caminhos ser podem muito perigosos! Num outro povoado, também na mais populosa província do nosso País, o @Verdade encontrou Manuel António que além de ter de percorrer dezenas de quilómetros a pé tem pelo meio do caminho um rio que deve atravessar de barco e a passagem é proibitiva para os parcos rendimentos do seu pai camponês. “Até consegui começar a 7ª classe mas depois acabou o dinheiro da colheita e não tenho como passar o rio com os livros” lamentou o jovem que sonha tornar-se funcionário público. O professor Édson Abacar vive um drama similar dos dois estudantes, precisa de caminhar quase 100 quilómetros para exercer a profissão que escolheu. “Nem sempre consigo chegar no primeiro tempo, outros dias prefiro dormir aqui mesmo durante a semana para não ter de pear toda esta estrada”, conta-nos este jovem docente que além de quase abandonar a família pelo trabalho lamenta que quando chegar altura de receber o magro salário ele e os colegas precisam de associar-se para alugar uma mota para que um deles vá a sede do distrito levantar o dinheiro na conta de cada um deles.
Absentismo e a fraca capacidade dos professores não explicam tudo
“Apesar
dos avanços sólidos registados nas taxas de admissão e conclusão do
ensino primário entre 2000 e 2010, a taxa de admissões estagnou desde
então em 88 por cento e a taxa de conclusão reduziu de 56 por cento para
48 por cento. No que diz respeito à conclusão do ensino primário, em
2014 (ano mais recente em relação ao qual existem dados completos)
Moçambique encontra-se surpreendentemente a 19 pontos percentuais da
média dos seus pares em países de baixa renda e a 26 pontos dos seus
pares regionais da África Subsaariana” pode-se ler no Informe do Fundo
das Nações Unidas para a Criança(UNICEF) sobre a Educação no nosso País.“No relatório pioneiro do Banco Mundial, Mozambique Service Delivery Indicators for Education (Indicadores de Prestação de Serviços de Moçambique para a Educação) (2015), tanto o absentismo como a fraca capacidade dos professores foram assinalados como as principais ameaças aos resultados do sector. O estudo que sustenta o relatório indica que quando se realizam visitas inesperadas, constatou-se que, em média, 56 por cento dos alunos não estavam presentes, 45 por cento dos professores não estavam presentes na sala de aula e 44 por cento dos directores não se encontravam na escola” refere ainda o UNICEF acrescentando que “ao testar as capacidades dos professores nos programas que eram responsáveis por ensinar, o estudo constatou que apenas 1 por cento dos professores teve uma pontuação acima dos 80 por cento, sendo a pontuação média de apenas 29 por cento”. Mas mesmo na capital do nosso País as crianças que residem nos bairros periféricos e/ou de expansão quando completam a 5ª classe têm de caminhar longas distâncias até a escola do 2º ciclo mais próxima, pois o custo do transporte semi-colectivo de passageiros é todos os dias mais proibitivo.
“Para aquilo que Moçambique gasta por aluno, o País revela resultados bastante fracos”
Paradoxalmente,
num País com uma densidade populacional muito baixa como é o nosso e
onde a rede de transportes não existe, sequer funciona devidamente na
capital, a distância entre as habitações dos professores e alunos não
parece ser tida em consideração nos estudos que são realizados.Aliás este drama da distância, que claramente é uma das causas do absentismo escolar de professores e alunas, afecta também o ensino secundário. De acordo com o Informe do UNICEF “em relação às admissões no ensino secundário, o país melhorou de 3 por cento em 2000 para 18 por cento em 2014 (dados mais recentes)” contudo, “no que concerne a conclusão do ensino secundário, o país passou de 4 por cento em 2000 para 22 por cento em 2011 e em seguida estagnou até 2014 (dados mais recentes)”. “Para aquilo que Moçambique gasta por aluno, o País revela resultados bastante fracos em termos de admissão e conclusão, à excepção da admissão no ensino primário. Não obstante, dados empíricos referentes a Moçambique e a outros países referem que o gasto efectivo por aluno pode conduzir à melhoria nas taxas de admissão e conclusão”, conclui o UNICEF. Se a estes factores adicionarmos os custos do fardamento escolar, cadernos, esferográficas e das contribuições que as escola continuam ilegalmente a cobrar cada vez mais moçambicanos continuarão a ser excluídos do acesso à Educação. |
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