Entrevista
A esta Assembleia Constituinte que Nicolás Maduro impõe, com as
eleições deste domingo, "vai dar tempo ao regime, para poder voltar a
comprar o apoio das pessoas", disse ao PÚBLICO o analista Raúl Gallegos.
O analista Raúl Gallegos está muito pessimista quanto às
possibilidades de intervenção da comunidade internacional na crise
venezuelana.
Há alguma hipótese de o Presidente Nicolás Maduro recuar face à pressão internacional e desistir da Assembleia Constituinte?
O regime vai eleger a sua constituinte, repleta de pessoas muito radicais e muito leais a Maduro. E essa assembleia vai adiar as eleições, vai mudar e criar leis, o que permitirá ao chavismo deter quem se lhe opõe e fazer tudo o que lhe apetecer no futuro próximo. Até porque será a assembleia a decidir por quanto tempo terá autoridade.
O tempo suficiente para o ciclo do petróleo se reverter e voltar a haver dinheiro para gastar?
Precisamente. Ao adiar eleições, esta assembleia constitucional vai dar tempo ao regime, para poder voltar a comprar o apoio das pessoas. Embora ache que já estamos para lá disso. Neste ponto, o jogo do “vamos usar o dinheiro para nos mantermos populares” já não funciona. O jogo agora é: temos uma ditadura. Este Governo está disposto a recorrer a tudo para se manter no poder. O Presidente tem sido muito cândido ao admitir que usará as armas para recuperar o poder. Ele disse-o literalmente. O que vamos ver nos próximos anos é um regime a mudar a natureza de como o governo funciona: provavelmente vai distorcer as eleições ou mudar o sistema de eleger líderes para servir os seus propósitos.
Se queremos saber o que vai acontecer na Venezuela, basta olhar para o exemplo de Cuba, que aliás tem estado a aconselhar o regime sobre como se manter no poder, sobrevivendo até a um embargo norte-americano. Não me admiraria se o chavismo tentasse criar alguma coisa semelhante ao Congresso cubano na Venezuela.
Neste momento temos os EUA, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos, o Mercosul, a ONU, estão a ameaçar a Venezuela com sanções e expulsões. No caso de um desenvolvimento tão radical não seria de esperar uma intervenção ainda mais pesada?
O chavismo vai continuar a ignorar o que quer que saia da OEA, da ONU ou de qualquer outra organização. O chavismo é um animal que não se rege pelas mesmas regras das instituições que acreditam na democracia, na separação de poderes, na liberdade de expressão… O regime não acredita nisto. Por isso será muito difícil que um pronunciamento vindo da OEA tenha algum impacto. É uma ilusão pensar que este Governo vai aceitar sentar-se à mesa com a oposição ou a comunidade internacional e, de forma racional, negociar uma solução para a crise que passe pela sua saída de cena. A oposição não é suficientemente forte, e não tem nenhum poder para ameaçar o regime ou pelo menos amedrontar Maduro o suficiente para ele considerar a opção de negociar.
Nem mesmo se o país fosse totalmente isolado pela comunidade internacional?
De um lado temos um regime que não tem nenhuma intenção de sair, e do outro temos uma comunidade internacional que, apesar das questões da democracia, já não acredita numa intervenção armada. As sanções seguramente são possíveis – já vimos sanções ser adoptadas contra o Irão, e o Iraque, e Cuba. Mas essas sanções conduziram a uma mudança de regime? Não.
Não acredita que possa acontecer uma mudança na Venezuela?
Parece-me que a Venezuela tem um caminho muito difícil pela frente. Isso não quer dizer que seja impossível depor este Governo. Penso que a oposição está a fazer exactamente o que devia estar a fazer: a chamar a atenção para o que este regime realmente é; a expor tudo o que o Governo fez de errado e de como essas políticas foram as causadoras da situação actual; a mostrar à população que existe uma forma legal de sair desta crise. Esse papel da oposição é muito difícil e ingrato, os resultados nunca são imediatos. Mas quando se desiste de fazer isso, mais vale apagar as luzes e fechar a porta à chave e ir embora. Certamente existe uma possibilidade de aparecer uma dinâmica, por exemplo no Exército, que pressione uma mudança. Vimos isso nos anos 50 quando as Forças Armadas se viraram contra o ditador Pérez Jiménez [deposto em 1958].
As eleições de 2015 mostraram que o chavismo não é imbatível nas urnas.
Se voltarmos a um ponto em que as urnas são uma opção honesta e livre, concordo. Com tudo o que se passou desde então, o chavismo seria facilmente derrotado. Agora, duvido muito que volte a haver eleições livres e justas tão cedo. Poderemos ter eleições, mas sem a mínima hipótese de a oposição conquistar uma maioria no Parlamento e muito menos a presidência. Esse é o meu medo. Olhando para os 18 anos de chavismo, constatamos sempre que eles conquistam um centímetro, não voltam a abrir mão dele. Por exemplo, quando inicialmente implementaram os controlos de capital e preços subsidiados, eram medidas para seis meses e aqui estamos nós mais de 13 anos depois. Ou o estado de emergência que Maduro invocou no início de 2016 e que eram temporário. E aqui estamos. De cada vez que conseguem uma vitória, esqueçam. Essa é a minha preocupação. Penso que neste ponto será muito difícil voltar a uma situação em que a oposição consiga, de forma livre e justa, voltar a vencer uma eleição.
Há alguma hipótese de o Presidente Nicolás Maduro recuar face à pressão internacional e desistir da Assembleia Constituinte?
O regime vai eleger a sua constituinte, repleta de pessoas muito radicais e muito leais a Maduro. E essa assembleia vai adiar as eleições, vai mudar e criar leis, o que permitirá ao chavismo deter quem se lhe opõe e fazer tudo o que lhe apetecer no futuro próximo. Até porque será a assembleia a decidir por quanto tempo terá autoridade.
O tempo suficiente para o ciclo do petróleo se reverter e voltar a haver dinheiro para gastar?
Precisamente. Ao adiar eleições, esta assembleia constitucional vai dar tempo ao regime, para poder voltar a comprar o apoio das pessoas. Embora ache que já estamos para lá disso. Neste ponto, o jogo do “vamos usar o dinheiro para nos mantermos populares” já não funciona. O jogo agora é: temos uma ditadura. Este Governo está disposto a recorrer a tudo para se manter no poder. O Presidente tem sido muito cândido ao admitir que usará as armas para recuperar o poder. Ele disse-o literalmente. O que vamos ver nos próximos anos é um regime a mudar a natureza de como o governo funciona: provavelmente vai distorcer as eleições ou mudar o sistema de eleger líderes para servir os seus propósitos.
Se queremos saber o que vai acontecer na Venezuela, basta olhar para o exemplo de Cuba, que aliás tem estado a aconselhar o regime sobre como se manter no poder, sobrevivendo até a um embargo norte-americano. Não me admiraria se o chavismo tentasse criar alguma coisa semelhante ao Congresso cubano na Venezuela.
Neste momento temos os EUA, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos, o Mercosul, a ONU, estão a ameaçar a Venezuela com sanções e expulsões. No caso de um desenvolvimento tão radical não seria de esperar uma intervenção ainda mais pesada?
O chavismo vai continuar a ignorar o que quer que saia da OEA, da ONU ou de qualquer outra organização. O chavismo é um animal que não se rege pelas mesmas regras das instituições que acreditam na democracia, na separação de poderes, na liberdade de expressão… O regime não acredita nisto. Por isso será muito difícil que um pronunciamento vindo da OEA tenha algum impacto. É uma ilusão pensar que este Governo vai aceitar sentar-se à mesa com a oposição ou a comunidade internacional e, de forma racional, negociar uma solução para a crise que passe pela sua saída de cena. A oposição não é suficientemente forte, e não tem nenhum poder para ameaçar o regime ou pelo menos amedrontar Maduro o suficiente para ele considerar a opção de negociar.
Nem mesmo se o país fosse totalmente isolado pela comunidade internacional?
De um lado temos um regime que não tem nenhuma intenção de sair, e do outro temos uma comunidade internacional que, apesar das questões da democracia, já não acredita numa intervenção armada. As sanções seguramente são possíveis – já vimos sanções ser adoptadas contra o Irão, e o Iraque, e Cuba. Mas essas sanções conduziram a uma mudança de regime? Não.
Não acredita que possa acontecer uma mudança na Venezuela?
Parece-me que a Venezuela tem um caminho muito difícil pela frente. Isso não quer dizer que seja impossível depor este Governo. Penso que a oposição está a fazer exactamente o que devia estar a fazer: a chamar a atenção para o que este regime realmente é; a expor tudo o que o Governo fez de errado e de como essas políticas foram as causadoras da situação actual; a mostrar à população que existe uma forma legal de sair desta crise. Esse papel da oposição é muito difícil e ingrato, os resultados nunca são imediatos. Mas quando se desiste de fazer isso, mais vale apagar as luzes e fechar a porta à chave e ir embora. Certamente existe uma possibilidade de aparecer uma dinâmica, por exemplo no Exército, que pressione uma mudança. Vimos isso nos anos 50 quando as Forças Armadas se viraram contra o ditador Pérez Jiménez [deposto em 1958].
As eleições de 2015 mostraram que o chavismo não é imbatível nas urnas.
Se voltarmos a um ponto em que as urnas são uma opção honesta e livre, concordo. Com tudo o que se passou desde então, o chavismo seria facilmente derrotado. Agora, duvido muito que volte a haver eleições livres e justas tão cedo. Poderemos ter eleições, mas sem a mínima hipótese de a oposição conquistar uma maioria no Parlamento e muito menos a presidência. Esse é o meu medo. Olhando para os 18 anos de chavismo, constatamos sempre que eles conquistam um centímetro, não voltam a abrir mão dele. Por exemplo, quando inicialmente implementaram os controlos de capital e preços subsidiados, eram medidas para seis meses e aqui estamos nós mais de 13 anos depois. Ou o estado de emergência que Maduro invocou no início de 2016 e que eram temporário. E aqui estamos. De cada vez que conseguem uma vitória, esqueçam. Essa é a minha preocupação. Penso que neste ponto será muito difícil voltar a uma situação em que a oposição consiga, de forma livre e justa, voltar a vencer uma eleição.
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