sábado, 1 de julho de 2017

Papa Francisco afasta Cardeal Müller e coloca jesuíta à frente da doutrina da Igreja


ATUALIZADO
O Papa Francisco não renovou o mandato do Cardeal Müller enquanto líder da Congregação para a Doutrina da Fé. O braço direito de Francisco passa a ser o jesuíta Dom Luis Ladaria.
O Cardeal Gerhard Müller era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé desde 2012
Getty Images
O Papa Francisco não renovou o mandato do cardeal alemão Gerhard Müller enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que ocupava desde 2012. O braço direito do líder da Igreja Católica é agora o jesuíta Dom Luis Ladaria, informou o Vaticano em comunicado enviado às redações.
O atual prefeito tinha sido escolhido por Bento XVI para ocupar um cargo que ele próprio desempenhara. Tal como Joseph Ratzinger, Gerhard Müller é alemão, teólogo e académico, e são conhecidas as diferenças de opinião que tem com o Papa Francisco.
Em entrevista ao Observador, antes da vinda do Papa a Fátima, o cardeal disse que “a circunstâncias da vida e formação da razão e as experiências [de Francisco] são muito diferentes das de alguém oriundo da Alemanha, com uma vida académica, virada para o nível académico que existe na teologia alemã há vários séculos. O Papa Francisco tem uma espiritualidade que lhe vem dos Jesuítas, enquanto a do Papa Bento XVI lhe chega mais de Santo Agostinho, São Boaventura e da tradição da teologia existencial. Seguramente que a realidade do Papa Francisco, vindo de um contexto latino-americano, é muito diferente da história e da cultura europeias. No entanto, somos a mesma Igreja e a Fé não divide as pessoas. É a base da unidade”.
No comunicado deste sábado, o Vaticano explica que está muito agradecido pelo trabalho do cardeal alemão nos últimos cinco anos, mas que o seu mandato terminava este fim de semana. Müller completa 70 anos em dezembro, faltando-lhe ainda cinco anos para atingir os 75, idade para a reforma dos bispos. Por isso, ainda poderia ocupar o cargo durante um novo mandato, mas o Papa Francisco decidiu não renovar o mandato com um dos cardeais com quem teve mais diferendos e chamar Luis Ladaria, um cardeal que tem agora 73 anos.
Um dos pontos mais fraturantes entre o cardeal e o Papa Francisco é a questão dos católicos divorciados que querem casar novamente. Para Gerhard Müller, “o sacramento do matrimónio é indissolúvel por vontade de Deus. Ninguém pode mudar isso. Uma possibilidade é voltar para o esposo legítimo ou então desistir das relações que não são válidas. A questão está apenas em perceber se as condições para aquele matrimónio estavam reunidas, de acordo com os preceitos da Igreja. O casamento civil não é exatamente igual ao sacramento do matrimónio. Seguramente que há muitas pessoas que não conseguem entender isto.”
Müller será agora substituído pelo espanhol Luis Francisco Ladaria Ferrer, de 73 anos, que até agora ocupava o cargo de secretário na Congregação. Natural de Maiorca, Ladaria tem sido um dos membros mais ativos da Congregação para a Doutrina da Fé e também da Comissão Teológica Internacional. Além dos cargos na Cúria, Ladaria é atualmente professor de Escatologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
O novo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entrou para a Companhia de Jesus em 1966, já depois de se ter formado em Direito em Madrid. Só depois é que se voltou para a vida sacerdotal. O Papa João Paulo II nomeou-o para a Comissão Teológica Internacional em 1992, e Bento XVI viria a escolhê-lo para secretário na Congregação para a Doutrina da Fé em 2008.
Além disso, Ladaria faz ainda parte de uma outra comissão muito importante da Santa Sé: a comissão para o diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, uma sociedade de vida apostólica que o bispo francês Marcel Lefebvre criou em 1970 para manter os preceitos tradicionalistas da Igreja católica anteriores ao Concílio Vaticano II. É uma das organizações mais polémicas da Igreja, continuando a celebrar a Missa Tridentina (prática anterior ao Concílio Vaticano II, celebrada em latim), e com quem a Santa Sé tem procurado aproximar o diálogo, sobretudo através desta comissão.

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